quinta-feira, 12 de agosto de 2010

REDES SOCIAIS E AS INFORMAÇÕES

O eleitorado brasileiro que tem acesso à mídia digital pode se considerar, de certa forma, privilegiado em termos de recepção de informações sobre quem são os atores políticos (candidatos, lideranças, partidos), as normas formais disponíveis para regulamentar os padrões competitivos e, acima de tudo, a possibilidade de contato interativo com todo o manancial de assuntos e temas que formam os enredos pré-eleitorais. Embora o conceito de redes sociais seja muito mais amplo e objetivo do que procuro utilizar aqui, inscrevo neste grupo os blogs, micro-blogs, orkuts, sites que estão sendo criados a cada instante na internet por pessoas do mais variado matiz e tendem a facilitar a “ordem geral” do processo de levar a informação para milhões de cidadãs/aos com acesso ao computador pessoal, ou de seus locais de trabalho ou das lan-houses.
Um eleitor ou eleitora que se disponha a circular nessas redes e procure ler e avaliar o que está sendo dito por políticos, jornalistas, cidadãos anônimos ou experientes analistas políticos em torno de candidaturas, “ficha limpa”, moral de aspirantes a cargos majoritários e representativos, lideranças, “jardins secretos”, “cozinha dos partidos”, etc., terá uma medida do que está ocorrendo no meio eleitoral. Pessoas de várias nuanças ideológicas se posicionam, contradizem certas afirmações de opositores, oferecem perspectivas sobre temas que esperam ser do gosto dos twitteiros/blogueiros/orkuteiros que os seguem, replicam noticiário que os/as interessou extraído de páginas da internet e ou que foi repassado (reply/retweet) de outras pessoas, enfim, alargam o mundo informativo sempre com posições definidas. Algumas vezes, dentro do que no jornalismo é chamado de “reportar fatos”, outras vezes tentando descaracterizar projeções de um/a candidato/a em torno de seu programa de metas se eleito/a e, ainda, explorando, em tom de “fofoca” uma conversa de “pé do ouvido” de uma pessoa “digna de respeito”.
O mundo público abriu-se nessa nova configuração. O que era privado passou a ser “tuitado” e esse novo tom da fábula política tende a convergir para uma visão significante de que a democracia se faz dessa maneira, sem peias nem veias mais enérgicas para demarcar competências. É de supor que todos têm a verdade, que o que é digitado/dito, portanto, deixa de ser uma posição particular e ao ser compartilhado atingindo milhares de outras pessoas se torna pública.
Faço comparações com as formas de transferir informações quando somente a imprensa e o rádio ainda eram os meios eficazes desse repasse. No estudo que fiz sobre as “legionárias” de Magalhães Barata, no Pará, há certas marcas de um processo partidário em voga que se traduzia no corpo-a-corpo dessas mulheres do então PSD e que ainda hoje é capaz de alterar intenções de voto. Tratava-se das “redes sociais” de então. A preocupação das legionárias em criar postos e sucursais, nos bairros, evidenciava a responsabilidade com que cada uma delas realizava as tarefas que lhes cabiam no processo de distribuir informações sobre o partido e os candidatos, empenhando-se na maior arregimentação de eleitores. Isto pode ser deduzido do depoimento da legionária, Francisca do Céu Ribeiro (Santinha) Souza (professora primária, já falecida, 93 anos à época da entrevista):“... Aí eu me embrenhei por ali, perto da Escola de Agronomia, estava caindo o dia, eu olhei e disse: ali é baratista, vamos lá (...), não era. Aí eu disse para a Catarina eu não saio deste bairro derrotada; não vou sair se não fizer ao menos um posto, eu não saio.(...)”. A ousadia de ficar na rua até tarde, para uma jovem professora, respondia por sua aguerrida convicção de que estava ajudando ao chefe Barata a ser reconhecido e ganhar votos.
A criação de um posto eleitoral, em uma determinada área de Belém, facilitava o maior enquadramento dos/as eleitores/as do partido, e servia de base, nos períodos eleitorais, para um tratamento mais personalizado desse eleitorado, uma tarefa clientelística que sempre se salientou na ideologia baratista.
Do outro lado, ou entre os opositores do PSD, havia também redes sociais criadas por mulheres, por jovens e, comerciantes que se dispunham a circular informações para estabelecer o contato indireto e conseqüente mediação com os “políticos”.
O que se vê, hoje, é a presença de candidatos/as criando as suas redes de relacionamento sem intermediários, considerando que os seguidores indiretos também acessarão os seus blogs se uma noticia interessante for blogada de outro local para o seu território pessoal. Essa possibilidade de “toque” não deixa de ser, também, um meio de o “político blogueiro” medir o alcance de sua representatividade ao receber um retorno do leitor/a ao assunto tratado. E/ou verificar que os seus “seguidores” e visitantes estão crescendo.
De tudo isso, pergunta-se: o/a eleitor/a estará satisfeito com as informações a que tem acesso neste tempo eleitoral a ponto de fazer suas escolhas na racionalidade da lógica pessoal criada para esse tempo? Os dados expostos patrocinam a resposta de cada um.

Publicado em "O Liberal" em 12/08/2010

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