sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SEGUNDO TURNO & VARIÁVEIS



No próximo domingo, o eleitorado brasileiro vai retornar às urnas para sufragar os/as canditados/as que permanecem competindo por uma cadeira ao executivo municipal. A Constituição de 1988 introduziu o estatuto dos dois turnos nas eleições majoritárias brasileiras (presidente, governador e prefeito) para cidades com mais de 200 mil eleitores cujos candidatos não tenham atingido a maioria absoluta dos votos (excluindo-se os brancos e nulos), competindo os dois primeiros colocados. Por esses critérios, dos 5.568 municipios brasileiros, 83 teriam possibilidade de ir ao segundo turno, contudo, somente 50 é que estarão voltando ás urnas para a escolha de seus representantes ao executivo, sendo 17 capitais de Estado. Em Belém, os dois candidatos mais votados – Edmilson Rodrigues (PSOL), que obteve 33% e Zenaldo Coutinho (PSDB)  com 31% dos votos válidos – se enfrentarão para a decisão final.

Para analistas do comportamento eleitoral, há variáveis importantes que estão sendo articuladas neste período de enfrentamento daqueles que seguiram para o segundo turno. Uma primeira é o formato das coligações costuradas com os partidos, mesmo aqueles que competiram no primeiro turno e seus candidatos não alcançaram os votos suficientes para chegar aos primeiros lugares. Nesse aspecto, o “vale tudo” se torna uma necessidade para a arregimentação de votos, e as lideranças partidárias se encarregam de levar os eleitores da primeira hora a motivar-se com a nova indicação. Sobre isto, grande parte da literatura considera que o objetivo mais geral tende a ser a ampliação das chances eleitorais dos partidos em competição sendo que a decisão se torna estratégica sobre o ato de coligar-se com base em um cálculo de custos e benefícios. Nesse caso, a meu ver, embora se considere que para as alianças deva prevalecer a afinidade ideológica, emblematicamente, as lideranças partidárias avaliam os custos de uma ruptura com essa afinidade, mas também se os benefícios serão maiores, visto que está em jogo iminente a somatória de votos necessários para o/a candidato/a chegar ao êxito eleitoral.
         Para Carreirão & Nascimento (2008): “Se a realização de coligações com partidos de posicionamentos ideológicos diferentes é percebida pelos dirigentes de um partido como tendo um custo relevante em termos da perda de eleitores, simpatizantes ou militantes, isso pode levá-los a evitar realizar este tipo de coligação. Em caso negativo, ou no caso em que avaliem que a perda de simpatizantes e militantes é compensada pelo ganho em eleitores, pode prevalecer um quadro em que ocorrem os mais diferentes tipos de coligação, em termos ideológicos”. Nesse estudo, os autores classificam essas coligações em: consistentes, semi-consistentes e ou/ inconsistente  para os tipos de cargos em preenchimento.

         Outra variável que está na mira das lideranças & marqueteiros comprometidos com o êxito na campanha é o novo período de exposição na mídia, através do horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE). Segundo Fávila Ribeiro (1999, p. 445) “propaganda é um conjunto de técnicas empregadas para sugestionar pessoas na tomada de decisão.” No caso específico do período eleitoral & HGPE, esse estatuto objetiva centrar o interesse do eleitorado para o/a candidato/a demonstrando os pontos positivos e as vantagens que possam estar inerentes à imagem deste, escolhendo-o como o “produto final” do que está sendo publicizado. Registrar publicamente nome, imagem, planos e programas onde pretende atuar como provável vencedor do pleito garante, ao/a candidato/a, a maior visibilidade sobre quem é quem no processo.

Uma pergunta fica no ar: qual é a influência desta variável sobre o processo de decisão do voto do/a eleitor/a? O cientista político Antonio Fernandes Junior, que em 2001 realizou estudo na FFLCH/USP (restrito ao efeito da TV no processo de decisão do voto), centrado nas eleições de 1998 ao governo de São Paulo, observa que embora seja voz corrente que a maioria das pessoas não acompanha o HGPE, considerando-o tedioso e cansativo, na verdade, o eleitorado decide em quem votar a partir do que assiste através dessa mídia. Este seria um fator de curto prazo da campanha eleitoral, seguindo-se os comícios, as campanhas nas ruas e as conversas com as pessoas mais próximas. Eu colocaria as carreatas, as caminhadas (operação cara-a-cara com o eleitorado), o trânsito nas redes sociais e os vários mecanismos de contato com o “povo internauta”. No médio prazo de influência estão os fatos políticos ocorrentes no período de disputa que podem ser, sim, um meio de decisão objetivo. A ideologia é vista pelo pesquisador como elemento de longo prazo.
          A variável a qual me inclino é a divulgação do resultado das pesquisas de intenção de voto. Pergunta-se: este instrumento de avaliação por amostragem da opinião pública seria capaz de alterar a decisão de escolha a um/a candidato/a? Há uma velha polêmica sobre este ponto e a controvérsia ainda é grande entre as correntes que se consideram contrárias ou a favor da divulgação. Para Marilena Chauí, “a publicação das pesquisas eleitorais não serve apenas para tornar-se conhecida pela opinião pública, mas também, como forma de influenciar a opinião do público.”

Em 2010, o DataSenado (http://www.senado.gov.br) entrevistou 1.315 pessoas com mais de 16 anos, apresentando a seguinte pergunta: você leva em conta o resultado das pesquisas eleitorais na hora de decidir o seu voto? A maioria dos respondentes (59%) disse nunca considerar esse resultado como motivo de influência de sua escolha final. Para 23% sim, às vezes estes levam em conta ao decidir seu voto. Há, entretanto, 16% de respondentes que “sempre” consideram esses resultados de pesquisa.

Neste texto, ficam evidentes que todas essas variáveis vão estar somando aos resultados eleitorais deste segundo turno. Mas há as situações imponderáveis que estão na imprevisibilidade. Só depois da apuração das urnas saberemos o que garantiu o êxito de um dos candidatos.

 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

COMEMORAR O DIA DO PROFESSOR


 
         Na segunda feira, 15, comemorou-se o dia do professor. Lembro que em outros tempos havia festinhas nas escolas para marcar a data, ou uma comemoração especial aos mestres. E os/as professores/as, o que fizeram ou pensaram nesse dia para registrar o evento?

Com as redes sociais bombando, ao visitar uma dessas mídias, observei depoimentos interessantissimos sobre essa profissão, alguns revelando-se ardorosamente convictos de que haviam abraçado esse mister como vocação interessados pela formação educacional e pela aquisição do saber múltiplo onde a profusão de conhecimentos tende a levar a novas trajetórias. Maneiras de ser professor/a também se cruzaram nos post durante o dia inteiro, uns curtindo e/ ou compartilhando pensamentos sempre dignificadores dos educadores. Agradecimentos aos professores com os quais haviam aprendido a “escrever, a ler, a andar, a abrir as janelas e as portas da vida, e, principalmente, a pensar e despertar para o universo das escolhas” também foramaram notas, conforme o dito de Dolores Coelho, em seu post no facebook.

Alguns/as lembraram o filme “Ao Mestre, Com Carinho”(1967) e, de alguma forma, identificaram, nas seqüências desse filme, lances de seu próprio cotidiano. As circunstâncias apresentadas – que mostram um professor negro comandando a revolução comportamental de jovens de etnias diversas, de baixo poder aquisitivo do East End, bairro operário londrino, estimulando-lhes o gosto pelo saber e o respeito por si próprios – catalogaram o filme no gênero comédia, mas é drama mesmo. Os menos céticos, consideraram a possibilidade de transformar, nas mãos do mestre, com o látego da tolerância e do reconhecimento das condições específicas, as cadeias indecifradas da resistência que opera contra os bons princípios.

Do mestre que se parabeniza pelo feito em sala de aula, ao professor que conseguiu chegar ao topo de suas práticas e, por isso, é homenageado oficialmente, como demonstra o personagem de Ingmar Bergman em “Morangos Silvestres”(1957), os tipos povoam as escolas e o mundo e levam para a multidão um pouco do seu saber. Mas a profissão já teve seus dias de glória e hoje cai em baixa. Do respeito aos direitos e da exigência dos direitos em todos os sentidos sente-se que há um esfacelamento social na postura do poder público em negar a esses profissionais a dignidade de serem bem tratados, bem pagos e trabalharem em boas condições.

Interessante observar que na perspectiva de gênero dessa profissão, discriminações são sofridas de diversas formas. Um exemplo. No dicionário do Aurélio tem-se a seguinte referência aos verbetes : [Do lat. professore.] S. m.  1. Aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina; mestre; 2. Fig. Homem perito ou adestrado. 3. Aquele que professa publicamente as verdades religiosas. Professor titular. 1. O que exerce cátedra (3); catedrático. A flexão para o feminino (professora) o dicionário considera: 1.Mulher que ensina ou exerce o professorado; mestra. 2.     Bras. N.E. Pop. Prostituta com que adolescentes se iniciam na vida sexual.

         No tom da informação nota-se a diferença do enfoque. Do que professa “uma ciência, uma arte, uma técnica”; etc., ou do que exerce cátedra, no masculino, desloca-se o verbete para demonstrar que a mulher que é professora simplesmente “exerce o professorado” ou que é “prostituta” a que “serve” (o verbo usado por mim tem a expressão que se nota na frase, referente à submissão da prostituta ao cliente) os adolescentes que se iniciam na vida sexual”. O sentido popular brasileiro não tem nenhum tom irônico para o “professor”. Ser catedrático é a compensação maior para aquele que ensina artes & técnicas. E neste (ensino de artes & técnicas) a sexualidade é vista como “arte” menor, prostituída. E quem a exerce é a mulher.

         Tomei como exemplo o “Aurélio” somente para manter o fio condutor de uma reflexão sobre a categoria de professor. Neste tom reflexivo coloco uma outra pergunta: por que a comemoração pálida da mídia no dia do professor? Veja-se a diferença quando a efeméride registra “dia da mãe”, “do pai”, “da criança” e tem-se clareza da inexpressiva dimensão que hoje assume a categoria em nível social e político. No primeiro caso, o reflexo da baixa expressão acha-se nesse exemplo da mídia, mas também na ausência de referência das escolas aos seus mestres. No segundo caso, o professor que é funcionário público e cujos salários são baixos, mas pagando altos impostos a cada dia mais excorchantes, tende a sair de uma greve sem que suas demandas sensibilizem os altos escalões.

Por tudo isso, pela comemoração que não veio, pela homenagem que não considerou o alto nível de trabalho que cada professor/a realiza no cotidiano, assumindo uma rotina massacrante e, muitas vezes humilhante (há quem não tenha dinheiro de ônibus para ir à escola), temos que mostrar que não estamos em baixa estima. Nós (incluo-me entre as/os colegas, em nome de 34 anos de magistério universitário) sabemos que pagamos um alto preço na aquisição do saber, sabemos que temos valor, sabemos que a sala de aula nem sempre é um espaço em evidência, como sabemos que as noites e os dias de trabalho extrapolam domingos e feriados; nos reconhecemos como transformadores do mundo. Nossas palavras são fortes para criar a inflexão da mudança. Nós nos reconhecemos. E isso é o que importa. Parabéns para todos/as nós !

 (Texto publicado em 19/10/2012 em "O Liberal"/PA)
 
(Imagem extraida de : escolaedineagarcia.blogspot.com)

 


sábado, 13 de outubro de 2012

AS PROSAS DAS FESTAS


 
O tempo é de festas. A maior celebração da comunidade católica paraense, o Círio de Nazaré, está no seu ápice. Cada paraense, mesmo aquele/a que não se alinha nessa ideologia religiosa, com certeza já reservou um tempo livre para arrumar a casa, comprar os patos & os demais ingredientes para o preparo da comida típica e, sem dúvida, não deixou de encomendar a maniçoba para um/a especialista dessa iguaria. Nesse tempo, também, os familiares vão chegando de todas as paragens. Recebê-los e prestigiá-los também faz parte da festa, alguns retornando, outros chegando pela primeira vez para louvar a santinha e ao mesmo tempo rever a terrinha, os parentes que não conhece, os lugares de Belém que foram incorporados à fisionomia da cidade. E ao chegar o dia da grande procissão, as vozes paraenses solidarizam todo o seu afeto nos dois lados que embelezam a romaria, o sagrado e o profano. De pés descalços, caminham pelas ruas acompanhando os carros e a santinha amada até o santuário. De lá para a casa e a mesa, os votos e as preces se transformam em novos cantares combinando a degustação das iguarias com os abraços e a memória de outro tempo de festa, no ontem saudoso onde tantos parentes dividiam sua presença agora só na lembrança querida.
Este ano, outra festa está no ar: a realização das eleições municipais que se torna, também, motivo de nossa prosa hoje. Recuso-me a achar que eleições são mero pretexto para eleger pessoas sem caráter como representantes políticos. Isso seria dar testemunho de nossa incompetência democrática. No domingo passado escrevi o seguinte post no facebook: “Neste dia de eleições minha constatação é de que somos mesmo um país democrático, todos/as construimos e fizemos por onde expor nossas posições políticas sem que houvesse censura, corte de nossas opiniões e/ou palavras hostís, pelo menos entre os meus amigos e amigas que compõem o quadro do face (mais de mil). Quero dizer que no dia de hoje faremos a nossa festa democrática votando naqueles que escolhemos como nossos/as candidatos/as fichas limpas, e, com certeza, cientes de que a política ainda é um dos eixos motores de nossa vida quer seja pública ou privada. Dai minha satisfação em amar essa área do saber. Às urnas, amigos/as, e bom momento de voto para cada um/a”.

Nesse pensamento, enquanto cidadã, convivo bem com a política, tenho meus próprios candidatos/as na hora de votar e tenho clareza dos equívocos ancestrais da base prática dessa área estudada há, aproximadamente, 26 anos, dos 34 de UFPA, época em que aprovei e realizei o primeiro projeto de pesquisa sobre as mulheres paraenses na representação política. Neste momento, não poderia deixar de estar à frente de mais uma pesquisa sobre o tema, embora o interesse por avaliar mais rapidamente os resultados, considerando a emergência dos fatos, tenha me levado à observação e extração de alguns dados agrupados interessantes, tanto no Brasil quanto no Pará, com ênfase sobre as mulheres.

Os dados do TSE com a última atualização em 10/10/2012 (muito mais eficientes do que no inicio de meus estudos) apontam, no Brasil, para 671 mulheres eleitas ao cargo de prefeita, de 2023 candidatas (33,16% destas) e 7.654 vereadoras, de 126.230 que se candidataram (ou seja, 6.06%). Não estou comparando pelo recorte temporal (2008) nem em gênero (eleitas em 2008), apenas evidencio um demonstrativo de que as mulheres estão saindo do espaço doméstico e profissional e adentrando num ambiente no qual ainda são sub-representadas. Os partidos que mais elegeram, para os dois cargos, foram: o PMDB, PSDB e PT, nessa ordem.

No Pará, para esse cargo majoritário, candidataram-se 68 mulheres, sendo que somente 22 foram exitosas (32,35%). Quanto ao cargo parlamentar, elegeram-se 256 vereadoras às câmaras municipais, de 5.044 candidatas (5.07%). Os partidos que mais elegeram mulheres acham-se entre os três já citados, incluindo-se, com boa representatividade, o PTB, PR, PSC e PDT, nessa ordem.

Devido a uma pesquisa em andamento, examinando a história de vida de prefeitas e vereadoras paraenses, a bolsista do GEPEM-PIBIC/UFPA Thais Pinheiro extraiu elementos interessantes sobre 2008-2012, em relação às prefeitas. Analisando os dados verificou-se que dos municípios  governados por homens e que agora estão sob o comando de mulheres constam os seguintes: Augusto Corrêa, Brasil Novo, Cachoeira do Piriá, Chaves, Cumaru Do Norte, Curuá, Curuçá, Faro, Itaituba, Maracanã, Marapanim, Nova Esperança do Piriá, Novo Repartimento, Ponta De Pedras, Prainha, Rondon do Pará. Os municipios onde havia prefeitas e estas ou não se candidataram e/ ou não conseguiram reeleição: Acará, Altamira, Aveiro, Belterra, Bujaru, Peixe-Boi, Santa Maria do Pará e São João do Araguaia. E os municípios que já havia mulheres no comando e que lograram a reeleição: Abaetetuba, Capitão Poço, Igarapé-Açu, Palestina do Pará e Primavera.

Num texto anterior, referi neste espaço a presença das donas de casa candidatas a prefeitas e vereadoras, no Brasil e no Pará. Constata-se no primeiro caso, que das 96 candidatas nessa ocupação, foram eleitas 28, sendo que no Pará, das 5 que se apresentaram, nenhuma foi exitosa. Quanto ao cargo de vereadoras, havia 20.323 candidatas, elegendo-se 449. No Pará, de 635 donas de casa candidatas elegeram-se 8 vereadoras e para prefeitas constando 5 candidatas, nenhuma foi eleita.

Da Nazica às eleitas aos cargos majoritários e proporcionais, tratei de mulheres. Espero as bençãos da primeira e, das segundas, que façam um bom governo de respeito e representatividade.

Obs. O G1 (globo.com/politica /eleições) contabilizou 26 prefeitas vitoriosas entretanto,  seguimos o sistema de estatísticas do TSE informa um outro número: 28.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA em 12/10/2012)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AUMENTO DO NÚMERO DE MULHERES ELEITAS EM 2012


 
José Eustáquio Diniz Alves

Doutor em Demografia

IBGE/ENCE


Ter, 09 de Outubro de 2012 19:28

 

O ano de 2012 marca o aniversário dos 80 anos do direito de voto feminino no Brasil e as eleições de 7 de outubro possibilitaram um pequeno aumento do número de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais e um aumento maior para as Prefeituras. Mas o avanço tem sido pequeno e o país ainda continua muito longe da paridade de gênero na política (50%/50%).

A Tabela 1 mostra que foram eleitas menos de 4 mil vereadoras nos municípios brasileiros em 1992, representando apenas 7,4% do total de vagas ns representações municipais de todo o país. Com a introdução da primeira política de cotas, em 1995, os resultados apareceram nas eleições seguintes. O número de mulheres eleitas passou para 6,5 mil vereadoras, representando 11,1%, em 1996. Foi o maior salto ocorrido entre duas eleições na história brasileira.

Nas eleições seguintes, em 2000, o número de mulheres eleitas chegou a 7 mil vereadoras, representando 11,6%. Em 2004, houve uma redução no número geral de vagas de vereadores e o número de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais decresceu para 6.555 vereadoras, mas houve um aumento do percentual, que foi para 12,7%. Nas eleições de 2008 houve uma pequena redução no número absoluto e no percentual de eleitas, pois 6.504 mulheres conquistaram vagas de vereadoras, representando 12,5% do total. Nas eleições de 2012 o número de mulheres eleitas chegou a 7.648 vereadoras, representando 13,3% do total de vagas. Estes números, embora baixos, são recordes na história brasileira.

Tabela 1

Número e percentual de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais (Brasil: 1992-2012)

Ano
Número de vereadoras eleitas
Percentagem de mulheres eleitas
1992
3.952
7,4
1996
6.536
11,1
2000
7.001
11,6
2004
6.555
12,7
2008
6.512
12,5
2012
7.648
13,3

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

Um dos fatores que explicam o aumento do número de vereadoras eleitas foi a mudança da política de cotas. A Lei 12.034, de 29/09/2009, substituiu a palavra "reservar" por "preencher" e a nova redação da política de cotas ficou assim:

"Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo".

A alteração pode parecer pequena, mas a mudança do verbo "reservar" para "preencher" significou uma alteração no sentido de forçar os partidos a dar maiores oportunidades para as mulheres. O ideal é que fosse garantido a paridade de gênero (50% para cada sexo) nas listas de candidaturas. Mas diante do baixo número de mulheres candidatas, a mudança da Lei em vigor já representou um avanço, mesmo que limitado. O primeiro resultado foi visto nos números de candidaturas femininas em 2012, conforme pode ser observado na Tabela 2. O número de mulheres candidatas passou de 72,4 mil em 2008, representando 21,9% do total, para 133 mil em 2012, representando 31,5% do número de candidaturas.

Tabela 2

Número e percentual de mulheres candidatas nas Câmaras Municipais (Brasil: 2008 e 2012)

Ano
Número de mulheres candidatas
Total de candidatos
% mulheres candidatas
2008
72.476
330.630
21,9
2012
133.868
419.633
31,9
% de aumento
84,7
26,9
-

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

O aumento do número de mulheres candidatas deveria ser fundamental para aumentar o percentual de mulheres eleitas. Porém, a maioria dos partidos lançou candidatas “laranjas”, ou seja, registrou candidatas apenas para compor a lista, mas sem condições efetivas de ganharem eleições. Faltaram apoio e investimento na formação política das mulheres. Faltou também apoio financeiro para sustentar as campanhas femininas.

 

A Tabela 3 mostra o número de mulheres e homens eleitos para vereadores e o percentual de mulheres eleitas, por Unidades da Federação (UF) e Regiões do Brasil, em 2008 e 2012. Nota-se que o percentual de vereadoras cresceu em todas as regiões, sendo que o Norte e o Nordeste continuam sendo as duas regiões com maior percentual de mulheres eleitas. Em 2008, o estado com maior percentual de mulheres eleitas vereadoras foi o Amapá e, em 2012, o Rio Grande do Norte tomou a dianteira na participação feminina nas Câmaras Municipais. A região Sul, especialmente o estado de Santa Catarina, apresentou o maior aumento entre as duas eleições. Mas a região Sul ainda continua atrás do Norte e Nordeste. A menor percentagem de vereadoras continua na região Sudeste, com o Rio de Janeiro e Espírito Santo ficando na lanterninha do ranking de participação política.

 

Tabela 3

Número de mulheres e homens eleitos para vereadores e percentual de mulheres eleitas
(Unidades da Federação e Regiões, em 2008 e 2012)

UF e Região
Homens
Mulheres
Total
% feminino
Homens
Mulheres
Total
% feminino
GO
1984
276
2260
12,2
2193
296
2489
11,9
MS
628
93
721
12,9
720
113
833
13,6
MT
1120
164
1284
12,8
1213
181
1394
13,0
CO
3732
533
4265
12,5
4126
590
4716
12,5
AC
175
29
204
14,2
193
32
225
14,2
AM
518
66
584
11,3
626
82
708
11,6
AP
122
30
152
19,7
134
32
166
19,3
PA
1173
195
1368
14,3
1435
266
1701
15,6
RO
425
57
482
11,8
469
64
533
12,0
RR
124
16
140
11,4
130
21
151
13,9
TO
1082
175
1257
13,9
1080
211
1291
16,3
NO
3619
568
4187
13,6
4067
708
4775
14,8
AL
781
151
932
16,2
880
167
1047
16,0
BA
3409
490
3899
12,6
3978
568
4546
12,5
CE
1445
292
1737
16,8
1782
365
2147
17,0
MA
1652
334
1986
16,8
1933
438
2371
18,5
PB
1718
317
2035
15,6
1865
320
2185
14,6
PE
1539
212
1751
12,1
1796
266
2062
12,9
PI
1749
284
2033
14,0
1776
360
2136
16,9
RN
1251
276
1527
18,1
1287
331
1618
20,5
SE
589
103
692
14,9
668
120
788
15,2
NE
14133
2459
16592
14,8
15965
2935
18900
15,5
PR
3265
424
3689
11,5
3424
440
3864
11,4
RS
4013
560
4573
12,2
4181
688
4869
14,1
SC
2426
271
2697
10,0
2477
385
2862
13,5
SU
9704
1255
10959
11,5
10082
1513
11595

 Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

A Tabela 4 mostra o total e o número de mulheres candidatas às Prefeituras do Brasil e o número e o percentual de mulheres eleitas em 2008 e no primeiro turno em 2012. Nota-se que o aumento do número de mulheres candidatas às Prefeituras (21,3%) foi menor do que o aumento do número de mulheres candidatas à vereança (84,7% segundo a Tabela 2). Mas o aumento do número de mulheres eleitas foi bem superior, chegando a 31,5%.

Ou seja, mesmo sem haver uma política de cotas para o Executivo municipal, o aumento foi maior do que o ocorrido no Legislativo muncipal, que já conta com uma política de ação afirmativa desde 1995. Contudo, o percentual de mulheres prefeitas passou de apenas 9,1% para 11,8%, continuando abaixo do percentual de mulheres vereadoras (13,3%).

 

 

 

Tabela 4

Total de mulheres candidatas e candidatos a prefeitos e número e percentual de mulheres eleitas
(Brasil, 2008 e 2012)

Eleição
Total de candidatos
Mulheres
Eleitas
% prefeitas
2008
15142
1670
504
9,1
2012
15128
2026
663
11,8
Variação
-0,1
21,3
31,5
-

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado 08/10/2012)

Podemos concluir que, neste ano de 2012, no momento em que se comemora os 80 anos do direito de voto feminino no Brasil, as mulheres deram um passo à frente na participação política em nível muncipal. Porém, de 1992 a 2012 o avanço foi, em média, de 1% no percentual de eleitas a cada eleição. Neste ritmo, a paridade de gênero nos espaços de poder municipais vai demorar 148 anos no Brasil.

A baixa participação feminina na política não corresponde ao papel que as mulheres desempenham em outros campos de atividade. Elas são maioria da população, já ultrapassaram os homens em todos os níveis de educação e possuem uma esperança de vida mais elevada. Nas duas últimas Olimpíadas (Pequim e Londres) as mulheres brasileiras conquistaram duas das tres medalhas de Ouro. Portanto, a exclusão feminina da política é a última fronteira a ser revertida, sendo que o déficit político de gênero em nível municipal não faz justiça à contribuição que as mulheres dão à sociedade brasileira.

 

Contato:

José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo

Professor Titular do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE)
jed_alves@yahoo.com.br
(21) 2142.4689 ou 2142.4696 / 9966.6432

 

(Texto publicado anteriormente em http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/)