terça-feira, 27 de novembro de 2012

GÊNERO, HISTÓRIA E COTIDIANO: 18 ANOS GEPEM/UFPA


                                SIMPÓSIO

GÊNERO, HISTÓRIA E COTIDIANO: 18 ANOS GEPEM/UFPA

28, 29 e 30 de novembro de 2012
Auditório do CAPACIT

Campus Básico da UFPA

Belém – PA



PROGRAMAÇÃO

 
Dia 28 de novembro de 2012 (quarta feira)

Local : Auditório do CAPACIT às 9:00 h

ABERTURA – Expositores:
      Reitor
·         Pró-Reitoria de Pesquisa - PROPESP
·         Pró-Reitoria de Ensino – PROEG
·         Pró-Reitoria de Extensão – PROEX
·         Diretor do IFCH
·         Diretora da FFCS
·         GEPEM/UFPA
Tema: Pensar os grupos de pesquisa como integrantes do processo de reflexão-ação-crítica  para a formação acadêmica, educacional e social.
Coordenadora:
·         Profa. Dra. Maria Angélica Motta-Maués – PPGCS/GEPEM
11:00h
Palestra – Tema: Os movimentos sociais e de mulheres e a interlocução com os grupos de pesquisa acadêmicos.
Expositor/a:
·         Representante de Movimento de Mulheres no Pará – Eneida Guimarães
 
Coquetel – 12 h
 
TARDE

Local : CAPACIT   - 14:30 h – às 18:30 h

 
1. Linha de Pesquisa Mulheres, Gênero e Participação Política.
Seminário: Mulheres na República Brasileira: Cem Anos de Participação Política no Pará.
 
Expositores/as
•Luzia Álvares – Os 100 anos das Ligas Femininas Partidárias Paraenses (1912-2012) e o parlamento republicano com a presença das mulheres.
•Roberto Corrêa – A situação das parlamentares no momento atual – votos e concentração de espaços de votação para as mulheres paraenses.
•Josinete Almeida/ Ana Cristina Soares – As pesquisas sobre as mulheres pescadoras e as parlamentares paraenses.
•CarlaMoreira/MuriloFigueira/ThiagoPaiva/ManuelaRodrigues/NilsonFilho/ThaisPinheiro – As pesquisas do GEPEM sobre movimentos de mulheres, partidos políticos, histórias de vida e antecedentes pessoais das parlamentares paraenses.


Dia 29 de novembro de 2012 (quinta feira)
9:00 h às 12:30 h
Local  - Auditório do CAPACIT
 
2. Linha de Pesquisa Gênero Saúde e Violência
Mesa Redonda: Resolução não violenta de conflitos entre o casal
·         Adelma Pimentel: Metodologias de grupos reflexivos de gêneros
·         Edilza Lobato: Psicoterapia gestaltica breve: uma ferramenta clinica a serviço do cuidado
·         Roberta Flores: Casais adolescentes: repetição de modelos conjugais adultos?
11:00h  -Cofee break
 
Debate
 
TARDE
 
14h 30 –  às 18:30 h
Local  - Auditório do CAPACIT
 
Mesa Redonda: Enfrentando a Violência Doméstica e Sexual contra as Mulheres
·         Maria Lúcia Lima – Identidades de gênero e violências.
·         Luanna Tomaz – Dinâmicas de enfrentamento à violência conjugal no Poder Judiciário
·         Lorena Fabeni – A Justiça Restaurativa como ferramenta complementar de enfrentamento à violência cometida contra a mulher.
 
16:30h  -Cofee break
 
Debate
 
Dia 30 de novembro  de 2012 (sexta feira )
9:00 h às 12:30 h
Local  - Auditório do CAPACIT
3. Linha de Pesquisa: Gênero, Identidade e Cultura
Mesa Redonda: Gênero, Família, Amor e Crime: o debate acadêmico e estudos atuais
Expositoras:
·         Denise Machado Cardoso – Estudos sobre gênero e sexualidade
·         Lana Cláudia Macedo da Silva – Mulheres provedoras no município de Belém
·         Telma Amaral Gonçalves – Seis mulheres, três histórias de amor: Marguerite Yourcenar/Grace Frick, Gertrude Stein/Alice B. Toklas e Elizabeth Bishop/Lota Macedo.
·         Ana Paula Palheta – "O maior erro da minha vida ..." – Gênero e crime no encarceramento feminino.
11:00h  -Coffee break
Debate
TARDE
14h 30 –  às 17:30 h
Local  - Auditório do CAPACIT
4) Linha de Pesquisa : Gênero, Arte/Literatura e Educação.
 Palestra: As mulheres em cena: autoria Feminina na História literária do Pará.
·         Luzia Álvares – A Literatura de Eneida de Moraes & suas parceiras paraenses.
Coffee-break
17:00h
Lançamento oficial do Jornal IARAS e da Revista Científica “Gênero na Amazônia” (on line) – Editora GEPEM. Responsável: Eunice Ferreira dos Santos.
 

APRESENTAÇÃO

 
Em agosto de 2012 o GEPEM comemorou 18 anos de criação e presença em atividades acadêmicas - ensino, pesquisa e extensão junto à UFPA.
Articulação pioneira no âmbito dos estudos sobre a questão da mulher e a perspectiva de gênero, este Grupo construiu suas atividades em cinco linhas de pesquisa, agregando pesquisadoras, pesquisadores, bolsistas e demais pessoas com o objetivo de somar esforços para a disseminação desses temas.
O processo de construção de saberes num espaço onde o conhecimento científico tem um padrão tradicional, o GEPEM manteve a presença constante desses/as pesquisadoras/es em atividades múltiplas e formatou a transversalidade entre as grandes teorias das Ciências Sociais e Ciências Humanas aos enfoques contemporâneos, expondo diferenciais nos marcadores sociais, quando interrelacionados com a teoria de gênero. Essa conquista de espaços pelo GEPEM, convergindo para a problemática da diversidade social, pode ser evidenciada na ampliação de seus intercâmbios com instituições locais, regionais, nacionais e estrangeiras, além da contribuição que tem propiciado aos movimentos organizados sociais e de mulheres, em suas demandas sociais.
Inscritas nas linhas de pesquisa, as associadas do Grupo têm recuperado a história das lutas e conquistas das mulheres paraenses e a proposta deste SIMPÓSIO: GÊNERO, HISTÓRIA E COTIDIANO – 18 ANOS GEPEM/UFPA espera evidenciar as nossas atividades, expondo as produções que têm sido representativas nesses caminhos tanto acadêmicos quanto sociais.
           Nossas atividades, neste Simpósio, aliam-se à CAMPANHA DOS 16 DIAS DE ATIVISMO PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES, iniciadas em 25/11/12 com a Campanha do Laço Branco, na Praça da República às 09:00.

domingo, 25 de novembro de 2012

CONSCIÊNCIA NEGRA


 O Dia Nacional da Consciência Negra celebrada no dia 20 de novembro foi criado pelo Projeto-Lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003 (Art. 79-B), estabelecendo “as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira"(...)”. Nesse dia, no ano de 1695, morrera Zumbi dos Palmares, o líder e chefe do mais famoso quilombo da história da escravidão no Brasil. A sua morte, resistindo contra o opressor branco, marcou a luta pela emancipação de uma etnia imposta como escrava no Brasil desde os primórdios da colônia portuguesa na América.
A escravatura existiu desde a origem da civilização. Tratava-se de povos conquistados, prisioneiros de guerra, escravizado por dívida, por pirataria ou por mau comportamento cívico, com evidências ainda àqueles com características físicas e de língua diferente dos conquistadores.

Em termos de Brasil, a escravidão iniciou-se na primeira metade do século XVI, com a produção de açúcar. Os colonizadores portugueses capturando os negros nas suas colônias na África utilizavam-os no trabalho nos engenhos de açúcar no Nordeste. Comerciantes de escravos, mercadoria humana, escolhas entre os sadios, condições desumanas, mortes e submissão aos grilhões de ferro nos porões fétidos dos navios negreiros e/ ou quando nas senzalas eram acorrentados para evitar as fugas e submetidos a torturas físicas são evidências de um passado infausto desse povo cuja vida marcou a sua presença desde o Brasil Colônia. A história desse período é um dos mais cruéis momentos da humanidade e deste país. Da compra da liberdade por alguns, no Século do Ouro (XVIII) e da resistência política de outros, esse povo conseguiu manter sua cultura, exercitar seus rituais e falar sua própria língua ao organizar comunidades de quilombos.
Isto quer dizer que a abolição da escravatura tão festejada não foi algo dado para eles. Eles lotaram para chegar até ela. Historicamente se desenvolveu com a transição da Corte Portuguesa para o país e do Tratado de Aliança e Amizade de 1810, época em que o príncipe regente se comprometeu com a Inglaterra a abolir o tráfico negreiro. Esse tráfico só foi extinto quarenta anos depois, com a aprovação da Lei Eusébio de Queiroz e teve como reflexo a redução gradual da escravidão. Nessa época, o mundo conhecia as primeiras teorias cientificas de base racista. Surgiu, por exemplo, o“darwinismo social” e, no Brasil, começou a “preocupação com o branqueamento da população”. Essa ideia que se desdobrava entre a radicalização da diferença étnica, afinal um dos fatores da teoria nazista, e o estimulo à miscigenação como um meio de “diluir a cor negra”, caminhou com seu flagrante confronto na aceitação dos filhos de proprietários de terra com suas escravas. Segundo a professora Mary Del Priore em um artigo denominado “Entre a Casa e a Rua”(Revista “Aventura na História”/Ed. Abril, ), o conde Suzanet ,em 1825, afirmava que “as mulheres brasileiras (...) casavam-se cedo, logo se transformando, pelos primeiros partos, perdendo os poucos atrativos (...) e os maridos apressavam-se em substituí-las por escravas”. Mas sabe-se que não era só assim. Estas escravas eram estupradas, algumas mortas e a convivência com as“matronas” brancas submetia-as a uma outra forma de opressão e castigo por parte destas que se vingavam ao se sentirem em segundo plano na base de sedução do marido.

O livro “A Cabana do Pai Tomás”(escrito em forma de série, de 1950 a 1852) da escritora, filantropa e antiescravagista Harriet Beecher-Stowe teve ampla repercussão no processo de abolição da escravatura na América do Norte. Há versões de que ele ajudou na declaração da Guerra da Secessão rebelando, naquele país, o sul escravocrata. A autora foi uma das fundadoras do Partido Republicano que abraçou a causa do abolicionismo e o livro, por ser impulsionador da liberdade étnica, foi muito lido pelos donos de escravos, inclusive no Brasil. As mulheres desses comerciantes & industriais, especialmente na zona rural, tinham “A Cabana...” como leitura predileta. Isso valeu uma citação no romance “Sinhá Moça”(1950), de Maria Dezone Pacheco Fernandes, uma visão romântica do abolicionismo.
Mas, sabe-se que não foi fácil extinguir o estigma da escravidão a partir de um juízo de graus de etnia. O movimento abolicionista surgiu com o Iluminismo no século XVIII. O legado brasileiro da emancipação do negro contou com a colaboração de nomes famosos nas artes e letras. O poeta baiano Castro Alves chegou a bradar :”_Não pode ser escravo/ quem nasceu no solo bravo/da brasileira região”. O pernambucano Joaquim Nabuco impulsionado pela experiência na infância, com escravos, lançou a obra “O Abolicionismo”, em 1883. José do Patrocínio, filho de um padre com uma negra, fez campanha contra a escravidão ao lado de Ruy Barbosa, Teodoro Sampaio, Aristides Lobo, André Rebouças e outros. Mesmo assim, com tantos nomes de vulto, inclusive políticos, dedicados ao abolicionismo, o Brasil foi o país que mais demorou em libertar oficialmente escravos. Havia forte pressão, especialmente dos proprietários sediados no campo. D.Pedro II temia um quadro bélico semelhante ao que aconteceu na América do Norte do governo Lincoln. Mas a Câmara era a favor da lei que afinal foi assinada pela filha de D. Pedro, a princesa Isabel, na sua fase de governante provisória em 1888.

Hoje ainda há luta pela queda de qualquer preconceito racial. Affonso Arinos lançou a lei que considera crime o racismo. E muitos espaços públicos, como universidades, abrem vagas para negros, inserção no mercado de trabalho, e valorização da cultura e da identidade negra.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A FESTA DA REPÚBLICA


 

Na minha infância, nas festas colegiais, fazia coro neste que para mim representava um hino cívico: “Princesa Dona Isabel/mamãe disse que a senhora/perdeu o seu lindo trono/mas tem um mais lindo agora./No céu está este trono/que agora a senhora tem/que além de ser mais bonito/ninguém o tira, ninguém”.
Havia simpatia pelo império. D.Pedro II era estimado e sua filha deificada pela ousadia de libertar os escravos contra a vontade de forças da produção, em especial dos fazendeiros. Tanto que ao chegar à república, Aristides Lobo disse: “O povo assistiu bestializado” (há, inclusive, um livro de José Murilo de Carvalho com esse título, “Os Bestializado: O Rio de Janeiro e a República que não foi”, 1987).

Por outro lado dizia-se que o império prejudicava o progresso do país. Falava-se do papel da igreja na abolição (argumento dos contra o abolicionismo), falava-se de atraso industrial & comercial, argumentava-se com vista ao “progresso de outras nações” que passaram a adotar o regime republicano.
A mídia da época, centralizada nos jornais, ajudava na mudança de governo. D. Pedro II, por mais querido que fosse de uma faixa da população, era alvo de muitas caricaturas. E se dizia que o progresso econômico, social, cientifico e político limitava-se à família real. Isso e mais a antipatia alimentada contra o marido da princesa Isabel, o Conde D’Eu, sempre conhecido como “o francês”, a irritar os brios nacionalistas. Mesmo sabendo que o conde lutou pelo país na Guerra do Paraguai. Sabe-se que os problemas do império eram muito maiores do que esses comentários ligeiros aqui referidos, mas a opção agora foi essa.

No final do século XVIII, as comunicações não eram céleres e os acontecimentos políticos levavam algum tempo para cobrir o vasto território nacional. Mesmo assim, a Proclamação da Republica instaurada no dia 15 de novembro, no Rio de Janeiro, alcançou o Grão Pará no dia seguinte. A motivação do movimento foi a mesma e já se fazia sentir em revoltas populares como a Revolução Farroupilha (1835-1845). Os que propagavam os benefícios da mudança de regime citavam até Tiradentes embora este tenha vivido, atuado e submetido à forca muitos anos antes. O interesse era fomentar o patriotismo com os mais variados argumentos.
Sabe-se que em 5 de setembro de 1850 a província do Grão-Pará foi desmembrada em duas unidades, formando as províncias do Pará e do Amazonas (antiga capitania de São José do Rio Negro). Na época da Proclamação da República essas províncias eram beneficiadas com a borracha nativa advinda da goma elástica extraída do látex das seringueiras (Hevea Brasiliensis). Dizia-se, por exemplo, que o aumento populacional em cidades como Belém era ocasionado pela “belle époque” criada a partir do comércio da borracha, por sua vez uma forma de expulsar os pobres e criar uma elite. A monarquia privilegiava a nova atração econômica. E os adversários afirmavam que era um privilegio socialmente dirigido. Os ricos ficavam mais ricos.

Imediatamente à instituição do novo governo republicano foram sistematicamente mudados os nomes de ruas incentivando a lembrança de lideres do movimento que derrubou a monarquia. Nesse tempo de transição não se ouviu cantar a “generosidade” de Isabel e sim o fato de seu marido ser sempre um estrangeiro. Nem mesmo adiantou a religiosidade expressa da princesa, uma católica fervorosa, na porfia pela mudança. Isto não quer dizer que o país tenha desde esse tempo formado um estado laico. O catolicismo norteava os mandos. Mas os padres não colaboraram na manutenção de Pedro II ou seus familiares. De repente todos saudavam o marechal Floriano Peixoto e passavam a se preocupar com quem iria dirigir o novo estado.
O que mudou com a república não pareceu imediato aos olhos do cidadão comum. A repartição de renda não se estabeleceu como se propagava, os “barões da borracha” ganhariam campo e o Pará seria um exportador de estudantes filhos de famílias abastadas para estudo no exterior, o comércio passou a adotar a ideia de ser europeizado para seguir o que parecia moda aos olhos de quem se via com maior riqueza.

O sistema republicano trouxe a ideia de que Belém poderia imitar Paris uma vez que perdera a chance de ser uma Veneza com os seus rios entrecortando ruas como queriam engenheiros europeus aqui chegados (os portugueses de antes de 1822 aterraram esses espaços líquidos). Seria, como passou a ser denominada uma loja do comércio local, a “Paris na América”. Não à toa um “terrasse” no principal hotel (Grande Hotel), um luxuoso teatro para abrigar óperas e grandes companhias de comédia, os nomes franceses como “matinê”, “soirée” e “chic” nos programas sociais, deixando com os ingleses (que construíram “pelo amor” à borracha) o porto (Porto of Pará), a central telefônica (Pará Telephone) e a central de eletricidade (Pará Eletric), a indumentária própria para o clima quente, sistema que esses ingleses adotavam nas suas possessões africanas (afinal, o endereço para as sementes de nossas seringueiras e o fim de um tempo de fantasia).
Pergunta-se se houve um saudosismo imperial. O plebiscito de 1993 provou que não. A família imperial ficaria na história. Interessante é que “o francês”, ou Conde D’Eu, morreu quando viajava de volta ao Brasil para os festejos do centenário da independência. A ironia passa pelo esquecimento de alusões datadas e hoje não há quem troque o regime em que vive apesar de criticá-lo.