sábado, 19 de outubro de 2013

PROFESSORES/AS E SEU DIA




Datas comemorativas há para tudo hoje em dia. O “Dia do Médico”, por exemplo, comemora-se hoje, 18/10. O Dia do Professor/a ocorreu no último dia 15. Ouve-se de louvores a impropérios para estes profissionais. Mas uma coisa é certa, conforme já li em uma frase em rede social: “Professor: o único profissional que forma todos os profissionais”. Mais visceral ainda encontra-se na célebre frase da goiana, poeta e contista Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Saber, ensinar e aprender são ações mantidas pelos três verbos e intimamente relacionados no seu reverso. Porque para ela estão ligados a um qualificativo fundante do processo educacional ao tempo em que relaciona a prática formal e a informal dessa ação: “O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o corriqueiro da vida”.
Outro explicativo sobre o que é professor/a extraí do dicionário Houaiss. Entre sete referências objetivas e/ou com significados achei a que tem o indicativo que se conhece usualmente: professor: “aquele que transmite algum ensinamento a outra pessoa”. Logo abaixo, para o feminino desse substantivo, encontrei apenas duas indicações: professora – 1. mulher que ensina ou exerce o professorado (cargo no magistério). E, no regionalismo do Nordeste do Brasil, o uso informal do termo: 2.“prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual”. Veja-se que nesse significado já se observa a conotação sexista circulando em um compêndio coletor de vocábulos e conceitos composto de um “conjunto de unidades lexicais identificadas, organizadas e codificadas”, algumas (unidades), inclusive, criadas pela própria população.
Por que 15 de outubro a comemoração do Dia do Professor? É que nesse dia, em 1827, D. Pedro I assinou o decreto que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto "todas as cidades, vilas e lugarejos deveriam ter escolas de primeiras letras". E abrangia a descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender, além de mencionar a forma de contratos. O problema é que nada foi cumprido. Somente em 1947 o Dia do Professor passou a ser comemorado com todos os direitos mencionados 120 anos antes. Esse festejo foi iniciado em São Paulo, na cidade de Piracicaba, sugerido pelo Prof. Salomão Becker, cuja frase ficou célebre: “Professor é profissão. Educador é missão”.
Presentemente, por coincidencia, os mestres do país reclamam por novos contratos de trabalho. Exigem aumento de salário e disposições que regulem a atividade. Há greve geral e o sindicato da categoria luta para que a classe seja ouvida. Devido a essa nova postura dos mestres de intentarem re-conquistar sua posição social e profissional são tachados de mercantilizar o ofício de educar, herança do clássico tratamento do magistério como “missionarismo”.
Quem assumiu a profissão e quem foi aluno/a noutra época pode revelar/tratar as/das varias faces da carreira onde se vislumbra quem ensinava sem diploma (as/os mestres leigas/os), quem se limitava ao alunado infantil no interior e na capital (ou grande município), quem trabalhava porque gostava de ensinar, tinha satisfação em ver um aluno vencer em carreira profissional.
Creio que o/a bom/boa professor/a encontra a felicidade no êxito do aluno/a. Ha satisfação em saber que o ensinado responde corretamente o que aprendeu e, mais ainda, o que partiu desse aprendizado para as suas próprias conquistas, ganhando um patamar intelectual que foi apenas sonhado por quem o iniciou no processo educacional.
Hoje a ciência e o mercado de trabalho exigem de quem ensina um grau de aprimoramento, ou atualização, que requer um permanente estudo. E o/a próprio/a aluno/a é bombardeado por diversas mídias com informações que muitas vezes conflitam com os primeiros ensinamentos, mormente em pequenas comunidades. Mas a sabedoria está na aferição de valores capaz de discernir o básico do que se acumulou culturalmente daí em diante. O saber, portanto, parte de uma constante permuta de informações legadas pelo tempo, embora a base dessa permuta esteja na velha cartilha que faz escrever o que se aprende formalmente, e também, no “corriqueiro da vida” (a base informal) como disse Cora Coralina.
Para o/a professor/a, portanto, as homenagens a que faz jus. A valorização de seu trabalho parte, primeiramente, do/a aluno/a. É, portanto, um processo relacional. O amor pelo ensino produz os frutos de uma profissão que se evidencia na felicidade de se deixar ver. Parabéns, portanto, aos mestres e mestras entre os/as quais me incluo há 35 anos.

(Texto originariamente publicado em O Liberal/PA em 18/10/2013)

Nenhum comentário:

Postar um comentário