Datas comemorativas há para tudo hoje em dia. O “Dia do Médico”,
por exemplo, comemora-se hoje, 18/10. O Dia do Professor/a ocorreu no último
dia 15. Ouve-se de louvores a impropérios para estes profissionais. Mas uma
coisa é certa, conforme já li em uma frase em rede social: “Professor: o único
profissional que forma todos os profissionais”. Mais visceral ainda encontra-se
na célebre frase da goiana, poeta e contista Ana
Lins dos Guimarães Peixoto Bretas ou Cora Coralina “Feliz aquele que transfere o que sabe
e aprende o que ensina”. Saber,
ensinar e aprender são ações mantidas pelos três verbos e intimamente
relacionados no seu reverso. Porque para ela estão ligados a um qualificativo
fundante do processo educacional ao tempo em que relaciona a prática formal e a
informal dessa ação: “O saber se aprende com os mestres. A sabedoria, só com o
corriqueiro da vida”.
Outro explicativo sobre
o que é professor/a extraí do dicionário Houaiss. Entre sete referências
objetivas e/ou com significados achei a que tem o indicativo que se conhece
usualmente: professor: “aquele que transmite algum ensinamento a outra pessoa”.
Logo abaixo, para o feminino desse substantivo, encontrei apenas duas
indicações: professora – 1. mulher que ensina ou exerce o professorado (cargo no
magistério). E, no regionalismo do Nordeste do Brasil, o uso informal do termo:
2.“prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual”. Veja-se que
nesse significado já se observa a conotação sexista circulando em um compêndio
coletor de vocábulos e conceitos composto de um “conjunto de unidades lexicais
identificadas, organizadas e codificadas”, algumas (unidades), inclusive,
criadas pela própria população.
Por que 15 de outubro a comemoração
do Dia do Professor? É que nesse dia, em 1827, D. Pedro I assinou o decreto que
criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto
"todas as cidades, vilas e lugarejos deveriam ter escolas de primeiras
letras". E abrangia a descentralização do ensino, o salário
dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender,
além de mencionar a forma de contratos. O problema é que nada foi cumprido.
Somente em 1947 o Dia do Professor passou a ser comemorado com todos os
direitos mencionados 120 anos antes. Esse festejo foi iniciado em São Paulo, na
cidade de Piracicaba, sugerido pelo Prof. Salomão Becker, cuja frase ficou
célebre: “Professor é profissão. Educador é missão”.
Presentemente, por coincidencia, os
mestres do país reclamam por novos contratos de trabalho. Exigem aumento de
salário e disposições que regulem a atividade. Há greve geral e o sindicato da
categoria luta para que a classe seja ouvida. Devido a essa nova postura dos
mestres de intentarem re-conquistar sua posição social e profissional são
tachados de mercantilizar o ofício de educar, herança do clássico tratamento do
magistério como “missionarismo”.
Quem assumiu a profissão e quem foi
aluno/a noutra época pode revelar/tratar as/das varias faces da carreira onde
se vislumbra quem ensinava sem diploma (as/os mestres leigas/os), quem se limitava
ao alunado infantil no interior e na capital (ou grande município), quem
trabalhava porque gostava de ensinar, tinha satisfação em ver um aluno vencer
em carreira profissional.
Creio que o/a bom/boa
professor/a encontra a felicidade no êxito do aluno/a. Ha satisfação em saber
que o ensinado responde corretamente o que aprendeu e, mais ainda, o que partiu
desse aprendizado para as suas próprias conquistas, ganhando um patamar
intelectual que foi apenas sonhado por quem o iniciou no processo educacional.
Hoje a ciência e o
mercado de trabalho exigem de quem ensina um grau de aprimoramento, ou
atualização, que requer um permanente estudo. E o/a próprio/a aluno/a é
bombardeado por diversas mídias com informações que muitas vezes conflitam com
os primeiros ensinamentos, mormente em pequenas comunidades. Mas a sabedoria
está na aferição de valores capaz de discernir o básico do que se acumulou
culturalmente daí em diante. O saber, portanto, parte de uma constante permuta
de informações legadas pelo tempo, embora a base dessa permuta esteja na velha
cartilha que faz escrever o que se aprende formalmente, e também, no
“corriqueiro da vida” (a base informal) como disse Cora Coralina.
Para o/a professor/a,
portanto, as homenagens a que faz jus. A valorização de seu trabalho parte,
primeiramente, do/a aluno/a. É, portanto, um processo relacional. O amor pelo
ensino produz os frutos de uma profissão que se evidencia na felicidade de se
deixar ver. Parabéns, portanto, aos mestres e mestras entre os/as quais me incluo
há 35 anos.
(Texto originariamente publicado em O Liberal/PA em 18/10/2013)
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