Siglas partidárias brasileiras.
Na
ultima quarta feira, 02/10, as mídias exploraram o fato de a criação da Rede de
Sustentabilidade, partido proposto pela ex-senadora Marina Silva ter recebido
parecer contrário da Procuradoria-Geral Eleitoral
devido não ter conseguido a comprovação das assinaturas mínimas apoiadoras para
a sua criação, que é de 492 mil nomes. Ou seja, faltariam cerca de 50 mil
assinaturas, haja vista que as lideranças conseguiram validar apenas 442.500, embora haja questionamento
sobre cerca de 95 mil delas que foram anuladas pelos cartórios, dizem os
proponentes. Para o vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão,
"provar a autenticidade das assinaturas é ônus do partido e não dos
cartórios".
O processo entrou no plenário do TSE nesta quinta feira (03/10) e
para o Ministro Marco Aurélio que integra a corte desse órgão seria muito dificil
que este aprovasse o registro como ele está. No entanto, diz que esse colegiado
é “uma caixa de surpresas”.
Como
afirmei na semana passada, o Brasil-2013 está com 32 partidos credenciados a
concorrer nas próximas eleições de 2014 e, se a
REDE for aprovada aumentará para 33. O quadro é visto como desesperador pelas
siglas já existentes porque a cada novo partido legalizado há uma série de
implicações em benesses normativas para os que chegam como: distribuição de
tempo de TV e recursos do Fundo Partidário. Entre essas benesses veem-se também
recursos de barganha circulando entre os novos e os velhos partidos para a
criação de coligações às indicações aos cargos majoritários das próximas
eleições.
Tradicionalmente,
no imaginário social e político, cunharam-se as incertezas sobre a
instabilidade da democracia brasileira apontando como responsável pela suposta
baixa governabilidade, a fragilidade do sistema partidário, tanto em função do
multipartidarismo quanto pela idéia de que esse ator – o
partido – devido às rupturas sofridas pelo sistema brasileiro nos anos
republicanos é acusado de expressar mais os interesses privados de seus
dirigentes e não se integrar aos interesses da instância pública.
Diz-se ainda
que as regras estatutárias não respondem pelo desempenho integral dos membros
dos partidos, contudo, pelo que se observa, elas têm linhas definidas de
atuação como normas de recrutamento político e exposição do relacionamento
entre o partido, as lideranças e o/a filiado/a sendo aplicado pelo instrumental
partidário para a maior implementação desse vínculo.
Angelo
Panebianco (2005:13) com base na mais recente literatura sobre partido enquanto
organização, opondo-se aos vários modelos evidencia o modelo racional que admite
o “paradigma dos fins”, quer dizer:
(...) tanto as atividades quanto a
fisionomia, a ordem interna de cada organização, são compreensíveis somente à
luz dos objetivos organizativos”.
Com isso diz
que: a) uma organização jamais determina seus objetivos reais ‘a priori’, e
espera maximizar seus lucros em qualquer situação; b) realiza uma pluralidade
de objetivos “as vezes tantos quantos são
os agentes que compõem a organização”, ou seja, metas variadas explicam a
organização; c) pela necessidade da “manutenção
da própria organização, da sobrevivência organizativa ( e com ela a salvaguarda
das próprias posições de poder”) os partidos demonstram muito mais o verdadeiro
alvo dos dirigentes das organizações.
O autor faz
objeções ao modelo racional abrindo espaço para o que chama de modelo de
organização como sistema natural proposto por B. Abrahamsson
(1977) : “....a perspectiva sistêmica não
vê a organização principalmente como instrumento para a realização dos
objetivos dos seus titulares. Mais do que isso, a organização é percebida como
uma estrutura que responde e se adapta a uma multiplicidade de demandas por
parte dos vários jogadores e que procura manter um equilíbrio conciliando essas
demandas”.
O sistema natural implica três
conseqüências: 1) os objetivos efetivos da organização são, a maioria das
vezes, encobertos pelos objetivos organizativos “oficiais”; 2) só serão
concebidos como resultados dos equilíbrios, aqueles efetivamente alcançados
entre demandas e objetivos específicos
em competição; 3) a sobrevivência da organização é a meta comum dos diversos
participantes sendo esta a condição continuada da busca individual dos
objetivos específicos de cada qual.
A referência a
Angelo Panebianco(2005) nesta abordagem sobre a criação de novos partidos tende
a demonstrar que a organização partidária tem múltiplas eficiências e que não
leva a uma consequencia trágica de fragilidade do sistema partidário porque está
mais a fim de se adaptar às multiplas demandas dos “jogadores” procurando
equilibrar-se ao conciliar essas demandas principalmente às proximidades de um
processo eleitoral onde as forças antagônicas estão em cruzamentos conflituosos.
Nesse aspecto, estou considerando que seja avaliado o interior da organização
partidária para averiguar o controle ou não das lideranças, com isso
evidenciando se a estrutura organizatória se acha centralizada ou
descentralizada.
Os partidos
criados e/ou em criação recente no Brasil são extração de adeptos de varios
partidos com representação significativa de filiados/as, de votos recebidos em
eleições majoritárias e proporcionais. Os nomes de seus propositores derivam de
lideranças cujo capital político tem certo peso nas estratégias de participação
na arena eleitoral, mas, possivelmente, sem poder decisório na direção
partidária. No Partido Verde, Marina Silva demonstrou a força nas urnas no
embate majoritário de 2010, mas não conseguiu o controle de decisões internas
desse partido, preferindo seduzir apoiadores insatisfeitos com suas siglas. Há
mais: há propositores que já estão na arena eleitoral barganhando coalizões
para suas novas conquistas de poder. Mas, o trânsito intrapartidário
viabilizará o controle interno dessas decisões?
(Texto originalmente publicado em O Liberal/PA, em 04/10/2013)
Agora a questão que ficará pairando no ar: QUAL PARTIDO VAI SERVIR DE TAMPÃO PARA MARINA? Será que será aliada ou contra ao atual quadro governista
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