Jodie Foster & filhos
O papa Francisco disse uma frase que está repercutindo em vários meios e
me pareceu emblemática: “Não existe mãe solteira, existe mãe”. Isto me lembra
de que a situação levava os “fiscais da fé” a
expulsarem das igrejas as jovens que engravidavam e que procuravam
reconhecimento para si mesmas em mantras confessionais considerando-se duas
vezes “pecadoras”: não haviam casado formalmente e esperavam um filho. Esse
aspecto foi posto deliberadamente em desuso na formulação do novo código civil,
em vigor a partir de 11 de janeiro de 2003 (“mães solteiras formam familia com
seus filhos”) que considerou no termo “bastardo” ou “filho ilegítimo” peças
discriminátórias.
Mas ainda existe discriminação para com a mulher
sem marido que se torna mãe ou, como se diz, “mãe independente”. Lembro, no
plano internacional, o caso da atriz Jodie Foster que assim se considerou
quando gerou uma criança. A mulher, afinal, é dona de seu corpo e da vontade ou
não de procriar. E os filhos, se ditos indesejados, são exemplificados nos
casos de mulheres que sofreram a mais grave violência, o estupro, que de alguma
forma acabam alvo de maltratos aplicados por outra forma de violência, maior ainda, a institucional –
deixar de acolhê-la revidando com as portas fechadas da saúde pública(PLC
03/2013).
A fala de Sua Santidade, o Papa, chegou esta semana
junto aos reclamos médicos contra a medida do Ministério da Saúde de importar
profissionais para lugares sem recursos médicos. O reclamo surgiu em paralelo a
outro pela maior atenção à saúde pública básica, com as vozes que ecoaram das
ruas pedindo em especial cuidados com saúde e educação. Fica um problema
difícil de ser tratado: se há necessidade de uma interiorização da medicina
também há de profissionais que não querem atender aos espaços vazios. Se é
oferecido um lugar nas pequenas comunidades que chegam a ter postos de
atendimento médico mas não possuem profissionais que os movimentem, por que não
se oferecer essas vagas a médicos estrangeiros desde que comprovadamente
competentes? Seria uma afronta aos profissionais da nação? Mas como então eles
resolveriam o problema? Há um plano da categoria para
cobrir o vazio médico ou somente amor próprio ferido?
A revolta também atinge a medida de estagio obrigatório do formando em medicina
em cidades, vilas ou o que exista sem esses profissionais no âmbito
estadual/nacional. No caso, o argumento mais em evidencia é a suposta inexperiência
de quem vai atuar na área, mesmo com um instrutor ao alcance (e, no caso, se é
obrigatório ter um instrutor este profissional veterano está cumprindo a meta
de cobrir a falta de médico). Também se menciona o caráter do especialista, de
formandos guinados a determinados ramos que não cobrem a universalidade clínica
que, em outros tempos, parecia obrigatória (e diriam que o progresso da ciência
implica em detalhes que pedem especialistas). Ouvi do pai de uma médica que
disse ter se sacrificado pela a filha se graduar mas não para vê-la numa
clínica do interior do estado.
O problema da saúde pública
é complexo mas o certo é que não se resolve com
protestos violentos. A exposição clara do que se está estudando é o caminho.
Sempre com argumentos que realmente traduzam o destino do caso e não o que
parece melhor a cada um.
Voltando ao que disse o Papa, pode-se fazer uma
paráfrase do que se relacionou à mulher-mãe com o formado em medicina. Não
existiria médico-diplomado e sim médico na amplitude do termo a seguir Hipócrates.
É claro que atualmente há doutores em áreas tão distintas que dificilmente o de
uma dessas áreas encontra-se capaz de atuar em outra. E não é só em medicina.
Na odontolgia tambem não existe mais um “tiradentes”. Os formados tratar de
canais, próteses, até de aspectos plásticos como limpeza de dentadura. Mais
adiante cabe o bizarro de que se formam especialistas em apertar um tipo de
parafuso; se surgir outro tipo é com outro profissional (cf. Charles Chaplin em
“Tempos Modernos”, 1936, sobre o sistema capitalista industrializado).
O quadro generalizante que se pede num espaço sem
quadros é dramático. As pessoas humildes adoecem, tentam remédios caseiros, mas
até pela midia moderna, especialmente a televisão que hoje chega à brenhas, trocam a fé de um tratamento
artesanal pela necessidade sentida de um tratamento cientifico. Quando surge o
médico, este paciente ingênuo se apega a ele como a um deus. E a confiança
ajuda na cura. Há um processo de reciprocidade entre o que se trata e quem o
trata, um ajudando o outro. No caso da mãe solteira, ela sabe que o filho
depende unicamente dela. E muitas vezes esta criança estará melhor tratada do
que com um pai que não participa de sua educação (ou mesmo de seu
desenvolvimento fisico). Se ela tem alguém por que assim o quis tudo fará para
manter este alguém.
Quero chegar ao ponto em que a vontade é sempre
soberana. Por isso não há espaço para divergências destrutivas. O que se deve
fazer é pesquisar fórmulas conciliatorias que visem a um bem comum. São
caminhos a seguir nas passeatas que não se apeguem ao vandalismo, ou são
orientações que repelem medidas destruidoras.
Não existe, portanto, mãe-solteira ou médico
importado ou quem mais se apegue a um esquema que fuja da indivualidade em
detrimento à uma realidade dramática. Existe o bom senso, por mais dificil que
possa parecer.
(Texto originalmente publicado em O Liberal, de 26/07/2013)
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