Papa Francisco
A
presença do Papa Francisco no Brasil, na recente Jornada Mundial da Juventude, foi
marcada por posições ambivalentes refletidas em suas históricas frases e/ou
argumentos transformados em alocuções que correm o mundo em admirados processos
de análise sobre o que está representando essa mudança na igreja católica. Como
todas as pessoas, eu também estou avaliando esta sintonia entre o discurso
curto por vezes lacônico pronunciado por Francisco e o conhecimento que a
humanidade processou ao longo de dois séculos em torno de normas do catolicismo
– religião que agrega dogmas e preceitos institucionalizados mantém uma
teologia, doutrinas, liturgia, principios éticos que caracterizam e exigem
comportamentos específicos de seus adeptos e fiéis com harmonia universal. Segundo
Raucsh, Thomas, professor de estudos teológicos, o termo é "usado geralmente para uma
experiência específica do cristianismo compartilhada por cristãos que vivem em
comunhão com a Igreja de Roma”.
Nessa
perspectiva tratada pelo teólogo vejo duas linhas que se aderem – catolicismo e
cristianismo (este, de um dado lugar, Roma). Então é nessas duas dimensões que
estou presenciando discursos diferenciados de Sua Santidade. O cristianismo é
uma religião monoteista centrada na vida e ensinamentos de Jesus de Nazaré
(segundo o Novo Testamento) – sendo creditado como o Filho de Deus, o Salvador,
o Cristo ou, no
grego, Khristós que significa "Ungido" ou, no hebraico, Māšîaḥ, no português, Messias. A religião cristã apresenta três vertentes
principais – o catolicismo, a ortodoxia oriental (apartada deste desde 1054,
com o grande cisma do Oriente) e o protestantismo (surgido pela reação contra
as doutrinas e práticas do catolicismo no Século XV). Estes aspectos (não vou
tratar de História das Igrejas) são para situar o diferencial entre catolicismo
e cristianismo. Ao longo de milênios, com as mudanças sociais e religiosas, o
primeiro foi configurando metas e recursos da igreja católica para manter o
poder hegemônico universal dentro dos principios canônicos e do direito romano
que amoldaram atitudes e comportamento em novas regras, tanto dos doutores da
Igreja quanto para a submissão dos fiéis adeptos ou não. Sua expansão tornou-a
religião dominante no Imperio Romano, seguindo para a Europa, Oriente Médio,
África, partes da Índia e mais detidamente, e com as descobertas de novos
mundos, a colonização e a missionarização, tornou-se o elám nas Américas.
O catolicismo cristão
vem se mantendo por mais de dois mil anos devido a sua capacidade de apoiar uma
autoridade moldada na crença em Jesus Cristo especialmente no que Ele teria
dito ao pescador Simão, o apostolo que chamou de Pedro – e a quem outorgou a
criação de Sua igreja. Esta manutenção, ao longo da história, traduziu-se em
uma forma de autoritarismo como o meio de passar incólume pelas mudanças
acontecidas nas diversas áreas de atividade humana. E como a Historia é cíclica
e transformadora traduz-se em descobertas científicas muitas vezes dramáticas para
a condição humana, e muito do que foi intentado manter incólume em regras e preceitos
ganhou a essência do autoritarismo com momentos que hoje procura-se esquecer
para melhor sentir a base da doutrina cristã. O caso, por exemplo, da chamada Santa
Inquisição, um tribunal religioso criado pelo papa Gregorio IX levou muita
gente a morrer queimada numa fogueira como praticante de bruxaria,
visionarismo, ou o mais que viesse se contrapor aos postulados da igreja
católica. Nos diversos periodos de mais de um milenio alguns mandamentos foram
desobedecidos em nome de uma organização que se dizia apoiada na fé. Havia exércitos
e até mesmo autoridade papal em campo de batalha apagando o preceito de “não
matar”. E a luxuria presente até mesmo quando um Borgia esteve no sacro comando
.
É fato a
situação de Hipátia (350/370 – 415 dC), de Alexandria,
com trajetória brilhante, adepta da corrente neoplatônica, a primeira mulher
matemática da Academia de Atenas, que ao ascender o patriarca cristão Cirilo,
acusou-a de herege (o saber das mulheres) sendo perseguida, torturada e morta e
seu corpo lançado na fogueira.
Joana D’Arc se
intrometeu em guerras e informava suas visões sobre as batalhas nas quais era
um dos soldados e vestia “trajes masculinos” por isso – heresias e “assassinatos”
– foi acusada, presa, torturada e submetida à morte na fogueira como bruxa.
Outro queimado
vivo acusado de blasfêmia, heresia em matéria de teologia dogmática e outros crimes foi Giordano
Bruno, frade dominicano italiano versado em ciências e cosmologia por ter
questionado o saber dos doutores da Igreja sobre esta questão.
Ao passar anos
ministrando uma disciplina da Ciência Política – História das Idéias Políticas
e Sociais – HIPS, percebi o diferencial que ocorreu com a revolução cristã e a
linha doutrinal do catolicismo ampliado mundialmente (dá outro texto).
Nas alocuções papais atuais como:
"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para
julgá-la?" Ou: “vejo as
mulheres como semelhantes, mas não iguais aos homens para assumirem a
ordenação”, inegável não ver ambiguidade entre as duas correntes – cristianismo
e catolicismo: o olhar magnânimo de um e o senso procedimental do outro. Neste
ultimo caso, para as mulheres, a restrição repousa na representação de Eva incitando o pecado original.
Pode ser que permaneça por muito tempo exceto se outras formas de crença
acolherem quem postula uma posição mais dinâmica no âmbito da religiosidade ou
que simplesmente permaneça numa posição crítica mesmo continuando a sua crença.
Em resumo, minha posição é de reconhecimento
de que as alocuções do Papa Francisco são verdades do cristão que avaliou o
quanto a Igreja católica ficou a dever para a humanidade nestes dois mil anos
de consenso universal. Aquela visão de ausencia de direitos humanos que fez
João Paulo II também ser autêntico ao pedir perdão para a humanidade pelos
erros cometidos pela Igreja. Com a posição atual do papado através de Francisco
nessa profusão de novas idéias enquanto cristão, vamos esperar que a Igreja
Católica renove sua disposição em magnanimidades para os /as humanos/as.
(Texto originalmente publicado em 02/08/2013 em "o Liberal/PA)
(Texto originalmente publicado em 02/08/2013 em "o Liberal/PA)
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