Há
54 anos, em 29 de maio, em Belém, falecia Joaquim de Magalhães Cardoso Barata. Interventor
do Pará desde novembro de 1930 tornou-se a evidência maior da liderança
revolucionária desse período e embora estivesse ausente do estado durante o
desfecho das lutas de outubro comandando o levante militar no Espírito Santo,
foi um dos militares paraenses que se destacaram nas revoltas de 1922 e 1924. A
força dessa liderança se evidencia no momento em que, vitoriosa a revolução,
seus pares o indicaram para assumir o cargo de Interventor. Há uma versão que
nega a unanimidade dos chefes revolucionários em apontar o nome de Barata,
entretanto, sua escolha estaria na base do reconhecimento de seu valor militar,
durante os levantes anteriores.
O
sistema de Interventorias vigora após a vitória do movimento de 1930, refletindo
um papel estratégico no mecanismo político-institucional implantado. Este novo
estilo de articulação entre as forças políticas que pretendem combater as
benesses oligárquicas do período anterior, se esforça na garantia da autonomia
do poder federal frente às mudanças que este pretende realizar, na esfera
econômica, nomeando, para a chefia dos governos estaduais, cidadãos que, “embora nativos dos Estados, e mesmo
identificados em suas perspectivas ideológicas aos grupos dominantes, eram ao
mesmo tempo 'marginais', isto é, destituídos de maiores raízes partidárias;
indivíduos com escassa biografia política ou que, se possuíam alguma, a fizera até
certo ponto fora das máquinas partidárias tradicionais nos estados” (cf. Campelo
de Souza, 1976).
Paraense
nascido em 2 de junho de 1888, no distrito de Val-de-Cans, Barata era filho de
Antonio Marcelino Cardoso Barata e Gabrina de Magalhães Barata. Seu pai fora
responsável pela instalação dos serviços de colonização agrícola e implantou o
núcleo de Monte Alegre tornando-se aí um político ligado à facção de Lauro
Sodré. Este, com a esposa Teodora, eram padrinhos de Barata. Interno no Colégio
Progresso Paraense até 1900, o pai tirou-o dali por questões financeiras,
retornando a Monte Alegre. No ano seguinte, voltou a Belém passando a freqüentar
o externato da Profª. Maria Valmont. O avô materno de Barata era militar,
carreira que o jovem queria seguir. Para viajar ao Rio de Janeiro onde cursaria
a Escola Militar de Realengo, sua irmã teve que vender uma jóia de família. Em
novembro de 1904, Barata tomou parte na campanha contra a vacina obrigatória,
liderada, no Rio de Janeiro, pelo paraense, militar e então senador pelo
Distrito Federal, o padrinho Lauro Sodré. Preso e excluído do Exército foi
anistiado um ano depois pelo Congresso Nacional. Como aspirante a oficial, em
1911 retorna a Belém para servir no 47º Batalhão de Caçadores e, nessa
condição, toma parte, em 1912, do incêndio das propriedades de Antonio Lemos.
Recebera ordens para, à frente de um pelotão, garantir o prédio de "A
Província do Pará", mas propositadamente demorou-se a chegar ao local do
conflito, consumando-se o incêndio. Embora sem se assumir partidariamente,
Magalhães Barata era laurista, facção que até 1916 ficara de fora do poder
local. Nos levantes tenentistas de 1922 e 1924 combatera as oligarquias,
comandando as revoltas de Manaus e do Baixo Amazonas. Em 1930, chegara clandestino
a Belém para onde viera fomentar a revolução, entretanto, no dia 4 de setembro,
é preso na capela do Hospício Juliano Moreira, sendo mandado para o Rio de
Janeiro. A 2 de outubro, ele foge para Niterói, seguindo, no dia seguinte, para
Vitória a fim de sublevar o 3º Batalhão dos Caçadores. Com o movimento sendo
deflagrado em Belém, no dia 5 de outubro, somente no dia 24 o governador Eurico
Valle, embora resistindo, entrega o poder aos revolucionários. Magalhães Barata
só chega a Belém no dia 11 de novembro, então nomeado para a Interventoria
Federal.
Umas
das primeiras medidas tomadas pelo Interventor foi a revalidação do decreto da
Junta Governativa Provisória para retornar ao patrimônio estadual os castanhais
da zona do Tocantins, regulamentando os arrendamentos daquela área. Outras
medidas: a cassação das concessões de terras aos Lobos e aos Guimarães,
famílias que detinham grandes áreas urbanas de Belém as quais arrendavam constituindo-se
em foreiros; extinção das concessões e privilégios de um grande número de
indústrias; revogação de contratos com as fábricas de beneficiamento de
borracha, considerados "lesivos à fortuna pública e prejudicial à fazenda
estadual" (Coimbra, p.273); desmontagem das estruturas políticas
organizadas nos anos anteriores pela oligarquia no poder; confisco do edifício
onde ficava a sede do Partido Republicano Federal (PRF) e o órgão de imprensa
desse partido, o "Correio do Pará"; redução em 25% dos aluguéis, na
faixa entre 150$00 e 300$00, determinando a não alteração destes valores
durante o prazo de um ano; proibição da venda de cachaça a retalho,
determinando a venda somente pelos donos de engenhos para fins industriais e
terapêuticos.
Estas
medidas visavam enfraquecer a situação de controle que a antiga elite exercia
sobre a sociedade, conforme proposta das interventorias, desarticulando as velhas
bases de poder. Esses atos do Interventor faziam convergir para a sua pessoa o
prestígio popular, enquanto incompatibilizava-se com os proprietários,
industriais, comerciantes que se consideravam prejudicados com as medidas
adotadas por ele.
A
trajetória política de Barata é extensa. Alguns pontos precisam constar aqui
como sintese histórica. Em dezembro de 1931 criou o Partido Liberal, cindindo-se
este em 1935 ao ser inviabilizada sua eleição para o governo do estado. Foi eleito
senador em 1945, disputando novamente a eleição para o governo em 1950,
perdendo para o candidato de uma coligação partidária (CDP), General Alexandre
Zacharias de Assumpção. Em 1955 concorreu novamente ao cargo contra Epílogo de
Campos, vencendo por uma diferença de 1.743 votos, mas para isso manteve uma batalha
judicial acirrada. Em 1959, ao falecer, estava no exercício do executivo
paraense pelo qual tanto lutou.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA em 31/05/2013)
Muito bom. Particularmente revelador.
ResponderExcluirAmei
ResponderExcluirAmei
ResponderExcluirnão vivi esta época,mas segundo meus pais, que também já não tenho barata foi um governador,uma pena que hoje temos,mais políticos que mostrem,interesse pelo,nosso estado,único interesse é pelo,seu próprio,bolso.
ResponderExcluirVerdade concordo plenamente com tigo o estado esta abandono pelo poder público cada um que governa é mais peor que o outro.
ExcluirAchei muito bom a história de Magalhães barata
ResponderExcluirvdddddddddddddddddddddd
Excluireu adorei eu to fazedo um trabalho bora vem mais eu acho que da pra fazer
ResponderExcluirO unico governo do Pará que prestou , o Pará só vai desenvolver quando o governo paraense não for paraense .pois a maioria é ladrão.
ResponderExcluirReveladora ...e muito exemplar à história desse grande homem, gostei muito...
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