Michelle Obama e a "emoção" na entrega, de Melhor Filme a "Argo" /Oscar 2013
O impacto da presença de Michelle Obama através das câmeras diante de um
público que lotava o auditório de Los Angeles na 85ª premiação dos Oscar, pela
Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EEUU, no último domingo, foi
tomado como uma prova do atual prestígio da indústria cinematográfica pelo
governo norte-americano. No primeiro momento dessa aparição sentia-se que a
Primeira Dama vinha em uma missão cultural. Três filmes diziam muito sobre a
política norte-americana. Mas seu “grito” ao abrir o envelope que tinha em mãos
com o nome do vencedor abrigou suspeita sobre a euforia de quem supostamente
estava motivada pela dimensão cultural. Não era possível deixar de demonstrar o
vigor do imperialismo norte-americano assegurando uma forte perspectiva naquele
momento em que “zilhões” de pessoas no mundo todo estavam em frente aos
aparelhos de TV vibrando pelos seus filmes preferidos em concorrência.
E por que “Argo” teria sido o escolhido para a “mis-en-scene”?Não teria
sido melhor deixar a apoteose para a premiação de “Lincoln”?
Tenho algumas deduções que me forçam a explorar levantando a dúvida
sobre a figuração de Michelle e a confirmação de que esse momento teria que ser
um indicativo mais político do que histórico e bem mais político-ideológico.
“Lincoln”, baseado no livro de Doris Kearn Goodwin, explora as
articulações do presidente Abraham Lincoln (1809-1865) com os congressistas de
sua época para conseguir a aprovação da emenda n° 13 que proibia a escravidão.
Republicano reeleito, numa época de guerra entre norte e sul do país, o
presidente precisava de votos da oposição (Democratas) e mesmo de alguns
membros de seu próprio partido (Republicanos) para que a emenda fosse aprovada.
Pessoalmente circula nos espaços vulneráveis, ou seja, entre os congressistas
que poderiam mudar de ideia desde que seduzidos a isso.
Opositores políticos e outros oponentes à guerra
civil criticaram Lincoln por se recusar a chegar a um denominador comum no que
se refere à escravidão. Também Republicanos radicais, uma facção abolicionista
do partido, o criticou pelo avanço lento desse processo. Contra essas opiniões
foi capital o seu discurso em Gattysburgh, palco de etapas finais da guerra.
A tarefa do presidente norte-americano em 1863 mostra as estratégias
existentes na relação entre executivo e legislativo e as formas de barganha que
são lançadas na mesa das negociações para a garantia do voto favorável a certos
projetos do governo considerando-se essa medida de coalizão como troca de favor
e/ou privilégios antiéticos, negócio orquestrado por meios escusos e
aviltantes.O filme de Steven Spielberg, portanto, colocou à mostra e certamente
reviveu comentários sobre “compras de votos” ou estratégias mil para que se
aprovem ideias e leis nas casas legislativas.
Muito se pensou que “Lincoln” fosse o vencedor do Oscar. Mas, ao que
parece, não era o tempo de lembrar um Chefe de Estado em atitudes jamais
evidentes enquanto mandatário do país, em circunstâncias tratadas como espúrias
diante do mito que ele sempre foi, lembrado em outros filmes e na própria
história. Levantar o véu da “política de bastidores” segundo a versão do livro
e na visão de Spielberg deixou à mostra um Lincoln real e, ignorado, o filme.
Num primeiro momento, na minha visão, Michelle Obama ao rasgar o
envelope contendo o nome do melhor filme seria para demonstrar a figura de um
lutador contra a escravidão no seu país. Mas a racionalidade foi outra, dizia
mais sobre os fatos e as estratégias que um governo promove contra os inimigos
pela salvaguarda de seus governados. Interessava mostrar a estes, em particular, e ao mundo, no geral, que os EUA têm de sobra a criatividade e os benefícios de
suas “invenções” para derrubar qualquer pressão política. E o grito foi
para.... “Argo”.
O filme de Ben Affleck narra um episódio real quando diplomatas dos EUA
atuantes no Irã se refugiaram na embaixada do Canadá, evitando a reação popular
contra seu país quando este abrigou o governo deposto, o Xá Rezha Pahlavi, doente
e em busca de tratamento no exterior. O prólogo do filme de Afflleck mostra o
governo cruel do Xá e sua milícia ditatorial, prendendo, torturando e matando
pessoas. A mudança para uma forma de governo ligada à religião (assumira o
aiatolá Komehini) foi uma revolução. E a hora da vingança havia chegado.
“Argo” seria o nome de um filme de ficção cientifica imaginado por um
agente da CIA como forma de tirar seus compatriotas de Teerã. Figurando como
técnicos de cinema, poderiam sair pelas ruas com câmeras, no faz-de-conta de
filmagens em locação, registrada oficialmente por Hollywood mediante a um
contato prévio com as novas forças.
O caso real foi registrado em livro do ex-agente da CIA Tony Mendez. No
cinema imprimiu-se o suspense e, com isso, mostra a eficiência da
“inteligentzia” institucional norte-americana, conveniente para o“happy-end”
das autoridades.
No final, o agente criador da estratégia chega em casa
vitorioso, compondo-se um plano onde a bandeira nacional tremula nessa
emblemática chegada.
Como se vê, a política imperialista norte-america tem sempre a sua vazão
na propaganda cinematográfica, firmando-se como grande fonte de divisas. É o
mundo que assiste à dicotomia bons e maus, nas imagens comparativas entre povos
que são vistos como democratas e os anti, ou aqueles que precisam “virar” de
qualquer forma um sistema propício à formação de divisas comerciais. E a
disseminação dessas ideologias favorece insistentemente a plataforma de
reformador desse sistema político.
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