sábado, 28 de dezembro de 2013

OS AVANÇOS E AS REFORMAS




O mundo passa por muitas mudanças em um ano e, ao contabilizá-las, sofre-se um impacto ao constatar o que a ciência é capaz de fazer e/ou o que é possivel traduzir em análises quanto a notícias de alterações em determinadas situações que supomos impossíveis de ocorrer. O corre-corre diário não nos deixa tempo para avaliar quantas coisas boas aconteceram, pois, o noticiário da mídia reserva mais tempo para as situações de calamidade, sinistros que infundem medo de viver, ou acontecimentos que são dados como tragédias, algumas extraidas de fatos não tão sinistros. Certa vez cheguei ao RJ tão amedrontada que meu irmão Coriolano que mora por lá há quase 40 anos me disse que devido às noticias veiculadas sobre a violência urbana a “cara” da cidade se transforma, para o mundo, num gueto de horror onde só é possivel ver atos bárbaros. Há violência? Sim. É possivel viver na cidade? Sim. E nós, paraenses, perguntamos: o que dizem de nós por ai quando em meio a tantas situações favoráveis a mídia nacional foca apenas num episódio sinistro? Meu colega Cauby Monteiro residiu com a família quase 8 anos em São Paulo. Ao retornar a Belém, na primeira semana em que estava organizando a vida, ao trafegar na Doca, foi assaltado por cinco pessoas, entre as quais uma mulher. Essas assertivas demonstram que São Paulo e RJ são vistos com uma carga de violência maior do que aqui, mas foi nesta cidade que meu amigo foi atacado na via pública.
Vê-se então que há um noticiário ameaçador recorrente na mídia. Por outro lado, há casos aos quais não é dada tanta evidência. Este ano de 2013 foi marcado por grandes descobertas no campo da pesquisa científica em laboratório, possibilitando um futuro melhor para a humanidade. A revista "Science" (https://www.sciencemag.org/) escolheu como o maior avanço científico do ano o uso da imunoterapia contra o câncer. Tema pesquisado desde a década de 1980, entre êxitos e desacertos, os resultados atuais foram satisfatórios: cerca de mil e oitocentos pacientes com cancer de pele (melanoma), ou seja, 22% dos pacientes que usaram a droga desenvolvida por certa empresa continuavam vivos após três anos de terapia.
Para os infectados com a AIDs também foi promissor o ano de 2013. Em março, uma equipe de virologistas norte-americanos anunciou o primeiro caso de cura “funcional” da doença, quer dizer, constataram debilidade no vírus a ponto de o organismo do paciente conseguir controlá-lo sozinho. A evidência foi com uma criança nascida de mãe infectada que recebeu remédios em menos de 30 horas após o parto.
Outra doença que está na vez da cura é o mal de  Alzheimer. Segundo anúncio em outubro, cientistas britânicos realizando pesquisas em camundongos consideraram a primeira substância quimíca vir a evitar a morte do tecido cerebral nessa doença responsável pela degeneração de neurônios. Maior investigação para o desenvolvimento de uma droga capaz de ser usada por doentes ainda está em processo, contudo, há muito otimismo para a consecução da mesma. Outro fato constatado é em relação a pesquisas com possibilidade de diagnosticar essa doença de forma mais simples, “através da análise de células da retina ou de estruturas do sangue”.
A Síndrome de Down está na vez das pesquisas e neste ano de 2013, em julho, a revista "Nature” (http://www.nature.com/, uma das mais antigas revistas científicas do mundo – 1869) publicou estudo sobre o método de silenciar a cópia extra do cromossomo 21 responsável pela síndrome. Feita em laboratório com células-tronco, a pesquisa evidenciou que “um cromossomo 21 extra, além dos dois que todos nós carregamos, pode ser suprimido em células em cultura in vitro”. Embora uma notícia promissora, há certa prudencia dos cientistas alertando sobre se essa técnica poderá ser aplicada em humanos.
Aguardemos, então que a ciência traga beneficios à humanidade e se possa constatar a eficácia desses estudos.
Mas outras notícias são muito interessantes em termos de mudança de comportamento. No Brasil, o número de idosos que moram sozinhos triplicou em 20 anos, segundo o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra em Domicilio- IBGE). Os dados revelam que se em 1992, havia 1.17 milhão de idosos nessa condição, sendo 31,4% de homens em média de 70 anos e 68,6 % mulheres de 71 anos, em 2012 já são 3.70 milhão sendo 34.9% homens na mesma faixa de idade e 65% de mulheres na média de 72 anos a viverem sozinhos. Se os analistas avaliam ser esse um episódio de feminização do envelhecimento, considerando o índice maior de mulheres (30% em relação aos homens) que moram sozinhas, vê-se que entre os homens houve um aumento de 3.5%  e uma queda de 3.6% em relação ás mulheres entre 1994 e 2012. Alexandre Kalache que já dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde e atualmente preside o Centro Internacional de Longevidade diz sobre as mulheres: "Em geral, elas já criaram os filhos, estão viúvas ou separadas e querem manter autonomia". Marília Berzins, doutora em Saúde Pública pela USP e presidente do Observatório da Longevidade, considera que essas mudanças integradas ao aumento da longevidade “têm levado as pessoas a ver com mais naturalidade a decisão de um idoso morar sozinho”.
Entre avanços da medicina e os novos comportamentos dos atores sociais, o momento reserva significativas reformas sociais para os próximos anos. Feliz 2014!


(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 27/12/2013)

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