domingo, 5 de janeiro de 2014

RETROSPECTIVAS E AGENDAS - 2014



Sem que eu me veja vivendo o “complexo de Polyana” (aceitar e ficar satisfeita com tudo), ou como dizem “ver o mundo por lentes cor de rosa”, creio que os otimistas não se restringem a reconhecer somente esse lado bom da vida. Ou seja, o que há por trás desse sentimento não é de todo a aceitação incondicional do status quo ou considerar tudo o que está feito muito bom porque poderia ser pior. Embora haja reconhecimento de que muitos créditos podem ser contabilizados às situações pouco visíveis de descobertas, novos comportamentos e atitudes ostensivas levam todos nós a considerar que há desacertos em certas ações que a nosso ver poderiam ter tomado outro rumo. Embarcamos, muitas vezes, em declarações que são feitas sobre casos e descasos da administração pública & outras ações de eminências no poder, sem levar em conta algumas variáveis que se enredam no grande “polvo” criado com braços díspares. Estes, geralmente conseguem camuflar visões internas de seus grupos políticos que embora possam se erguer para deixar clara uma idéia, prendem-se nas artimanhas da alteração das cores aplicando suas células especializadas próprias para isso (o polvo se camufla ao expelir tinta quando foge, alterando sua cor). Daí porque importante se torna o acesso à informação correta, embora não seja negada nossa opção de seguir a representação que criamos. Hoje temos a Lei de Acesso à Informação – LAI - Lei nº 12.527/2011, que  “regulamenta o direito, previsto na Constituição, de qualquer pessoa solicitar e receber dos órgãos e entidades públicos, de todos os entes e poderes, informações públicas por eles produzidas ou custodiadas”.
Mas voltando aos otimistas, também eles sofrem ao constatar a má utilização do recurso público e condenam a aplicação de grandes financiamentos em setores que bem poderiam ser avaliados em segunda instância para receberem verbas públicas. Por outro lado, mesmo a aplicação desses recursos em tal programa básico previsto na Constituição, alguns membros do poder executivo deixam de fazê-lo, sabendo das consequencias que podem vir a incorrer se tal não for seu procedimento de aplicação. Mas, para estabelecer um controle permanente do gasto público no Brasil há um ente importante que é o Poder Legislativo (representação parlamentar nas três instâncias) cuja ação na fiscalização desse gasto deve ser tarefa fundamental para a garantia de sua aplicação, conforme os interesses coletivos. Outro ente importante é a própria população que se prenuncia como sujeito demandante e receptor das políticas públicas e, a meu ver, o principal elemento do controle. Somente assim é possivel conseguir o desenvolvimento nacional considerando-se a vastidão territorial brasileira.
Legisladores e população precisam então aplicar-se em ações no controle de recursos auferidos da arrecadação de receitas provindas do patrimonio do próprio Estado (comercialização de bens e serviços, transferência de tributos etc) que precisa se ater a esses valores e não projetar suas ações de forma a utilizar recursos de terceiros, como sejam, empréstimos de outras fontes (privadas, externas). Passamos muito tempo nas mãos do F.M.I. (Fundo Monetário Internacional), lembrança amarga de um Brasil que definia suas políticas de base de acordo com as determinadas por outrem, políticas que se apresentavam, contudo, como necessidades de seus cidadãos produzindo menos ênfase. Hoje não estamos mais nesse extremo, embora essa dívida externa (cuja história remete a 1824, com o “empréstimo português”) ainda exista, sendo amortizada por nossas reservas, que se ampliaram.
No ano que passou, os protestos de rua seguiram um tipo de controle social sobre as políticas que poderiam estar sob o modelo clássico de políticas públicas, cujos impactos aos beneficiários e/ ou o papel nas relações sociais, segundo Elenaldo Celso Teixeira (2002: 3) seguem a seguinte linha: “a) distributivas – visam distribuir benefícios individuais; costumam ser instrumentalizadas pelo clientelismo; b) redistributivas – visam redistribuir recursos entre os grupos sociais: buscando certa eqüidade, retiram recursos de um grupo para beneficiar outros, o que provoca conflitos; c) regulatória – visam definir regras e procedimentos que regulem comportamento dos atores para atender interesses gerais da sociedade; não visariam benefícios imediatos para qualquer grupo”.
Nas aglomerações públicas de junho-2013 foram percebidos grandes protestos envolvendo uma parte da população realmente interessada em mudanças dessa forma de aplicação dos modelos. Sem dúvida, as injunções do jogo político não se apresentaram com as evidências somente nesse aspecto teórico (tenho informação da presença de movimentos partidários que investiram forte e não foram percebidos), embora as vozes se mesclassem em protestos por demandas específicas e públicas, por definição de lugares politicos e de patrões e patronagens no poder. No prefácio do livro “Cidades Rebeldes: Passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil”(Boitempo Editoria, 2013) de autoria coletiva composta de 16 artigos escritos por intelectuais nacionais e internacionais (David Harvey et. ali), Raquel Rolnik (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/ USP) avalia a opinião de seus colegas e apresenta a sua própria, conforme o recorte: “Podemos pensar essas manifestações como um terremoto – uma metáfora mais adequada do que o trovão (...) que perturbou a ordem de um país que parecia viver uma espécie de vertigem benfazeja de prosperidade e paz, e fez emergir não uma, mas uma infinidade de agendas mal resolvidas, contradições e paradoxos. (...)”.
Esse é o grande mote para demonstrar que se o controle social não se faz as agendas públicas não mudam. Vamos às ações em 2014. Sem subterfugios partidários nem violências.



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