Imagem extraida de http://blog.cancaonova.com/fragmentos/
Tem-se como natural, em cada fim de ano, um olhar para trás
a fim de se avaliar os acontecimentos vivenciados. Nesse olhar, é comum a
aferição das parcerias afetivas e o propósito imediato de criar um evento
festivo para agregar, de forma acolhedora, os/as parceiros/as de fato. Pode ser
também um chamamento presencial àqueles/as que passaram o ano todo a se
comunicar virtualmente. Daí somam-se os termos “amizade” e “confraternização”. Por amizade sentimos na pele quem se aproximou de nós com
provas de carinho e nos tocou com afeição
e simpatia, sem se tornar uma figura subserviente, mas acolhedor/a e sem
cobranças. É uma pessoa cuja faculdade de conhecer o outro caminha na dimensão
do respeito e da fidelidade à condição de amigo/a.
Aliás, o “Dia do
Amigo” não se condicionou a ser comemorado no dia de Natal ou no Ano
Novo em termos internacionais. Passou a ter uma data especial em 20 de julho, a
propósito da chegada do homem à lua. Ideia de um argentino que foi aceita
mundialmente. Mas antes disso, e por natural efetividade, comemora-se a amizade
nas festas de fim de ano não à toa chamadas de “confraternização”. Este termo vem de “frater”(irmão) e
quer dizer a reunião dos que se consideram irmãos. Roberto e Erasmo Carlos selaram
a pulsão fraterna ao criarem a canção “Amigo”: “Você meu amigo de fé, meu irmão
camarada. Sorriso e abraço festivo da minha chegada. Você que me diz as
verdades com frases abertas. Amigo você é o mais certo das horas incertas”(...).
Esse é um dos testemunhos mais plenos do que realmente representa esse elo
entre as pessoas. Porque é sabido que nem sempre o sangue familiar aproxima os
parentes numa relação de acolhimento e dedicação. As vezes o sentimento de um
familiar se choca com a contradição entre o que espera de sua outra “pele” e com
o que recebe dela. Trata-se de uma política humana identificar quem é quem nesse
tipo de relacionamento a manter-se entre as pessoas um sentimento de lealdade e
de proteção. Não que sejam exatamente iguais em gostos e vontades, mas as vezes
são as ideias compartilhadas, sentimentos divididos, carências superadas.
O nascimento de Jesus, para os cristãos
de todos os matizes, tem sido usado como a festa dos amigos. E os gestos de
saudação que entre si são trocados pelas pessoas demonstram o reconhecimento de
que alguma coisa poderá ser repartida em nome de quem teve a missão de salvar o
mundo da mesquinhez de atitudes hostis. No tempo de celebração, há exemplos de
superação dessas estreiteza de espírito, como visto no que escreveu Charles
Dickens (1812-1870) em 1843, no clássico “Christmas Carol”, o mais festejado
“conto de Natal” em que Ebenezer Scrooge, um
homem avarento que abomina essa época, procura se redimir ao saber, por passe de
mágica, que na sua posição de avaro, e por isso mesmo isolado de todos, estaria
desperdiçando bons momentos na vida e se encaminhando para um triste fim.
Neste século persiste a comemoração na
confraternização natalina com as mesmas virtudes e defeitos do passado, seja no
espaço de boa vontade a lembrar o epilogo da história de Dickens seja pela
amnésia crônica refletida logo que se retire a marca da folhinha.
A frase “Gloria a Deus nas alturas e
paz na terra aos homens de boa vontade” vem do Evangelho de Lucas 2/14. Os
pastores que receberam a boa nova do nascimento de Jesus viram os anjos
cantarem dessa forma. Obviamente é o momento da união pelo bem, pelo amor a
Deus e pelas palavras divinas do amor ao próximo.
Em plano geral, observa-se, no mundo
moderno, a perene ameaça de guerras, sejam conflitos entre países, seja o medo
de um embate mundial com as armas de destruição em massa. O progresso nesse
ponto parece muito pouco, ressaltando-se apenas a estreita relação entre nações
por conta de avanços no terreno geográfico.
É hora, portanto, de união para
festejar a amizade. Em diversas categorias profissionais as pessoas marcam
encontros para agradecer a chance de estar juntas em mais uma etapa de vida.
Pode ser que nessa hora ninguém lembre de um momento em que a própria amizade
tenha se experimentado num embate ou numa desconfiança. E o melhor da festa
está justamente na capacidade de perdoar senões e aquilatar que há uma base de
união, há um trabalho em comum por diversos fatores de atividade.
Sabemos de nossas viscerais diferenças
com uns e outros, do mesmo modo como se expressam nossas impressões orgânicas.
Mas o valor da confraternização é sobrepujar essas diferenças e rever o que de
melhor se tem de cada um. Esta valorização de carater é capital no instinto que
preza o abraço de Boas Festas. Que assim seja a todos nos próximos dias. Como
disse Madre Teresa de Calcutá: “As palavras de
amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável”.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 20/12/2013)
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