sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

AMIZADE & CONFRATERNIZAÇÃO



Tem-se como natural, em cada fim de ano, um olhar para trás a fim de se avaliar os acontecimentos vivenciados. Nesse olhar, é comum a aferição das parcerias afetivas e o propósito imediato de criar um evento festivo para agregar, de forma acolhedora, os/as parceiros/as de fato. Pode ser também um chamamento presencial àqueles/as que passaram o ano todo a se comunicar virtualmente. Daí somam-se os termos amizadee confraternização. Por amizade sentimos na pele quem se aproximou de nós com provas de carinho e nos tocou com afeição e simpatia, sem se tornar uma figura subserviente, mas acolhedor/a e sem cobranças. É uma pessoa cuja faculdade de conhecer o outro caminha na dimensão do respeito e da fidelidade à condição de amigo/a.
Aliás, o Dia do Amigonão se condicionou a ser comemorado no dia de Natal ou no Ano Novo em termos internacionais. Passou a ter uma data especial em 20 de julho, a propósito da chegada do homem à lua. Ideia de um argentino que foi aceita mundialmente. Mas antes disso, e por natural efetividade, comemora-se a amizade nas festas de fim de ano não à toa chamadas de confraternização. Este termo vem de frater(irmão) e quer dizer a reunião dos que se consideram irmãos. Roberto e Erasmo Carlos selaram a pulsão fraterna ao criarem a canção “Amigo”: “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada. Sorriso e abraço festivo da minha chegada. Você que me diz as verdades com frases abertas. Amigo você é o mais certo das horas incertas”(...). Esse é um dos testemunhos mais plenos do que realmente representa esse elo entre as pessoas. Porque é sabido que nem sempre o sangue familiar aproxima os parentes numa relação de acolhimento e dedicação. As vezes o sentimento de um familiar se choca com a contradição entre o que espera de sua outra “pele” e com o que recebe dela. Trata-se de uma política humana identificar quem é quem nesse tipo de relacionamento a manter-se entre as pessoas um sentimento de lealdade e de proteção. Não que sejam exatamente iguais em gostos e vontades, mas as vezes são as ideias compartilhadas, sentimentos divididos, carências superadas.
O nascimento de Jesus, para os cristãos de todos os matizes, tem sido usado como a festa dos amigos. E os gestos de saudação que entre si são trocados pelas pessoas demonstram o reconhecimento de que alguma coisa poderá ser repartida em nome de quem teve a missão de salvar o mundo da mesquinhez de atitudes hostis. No tempo de celebração, há exemplos de superação dessas estreiteza de espírito, como visto no que escreveu Charles Dickens (1812-1870) em 1843, no clássico “Christmas Carol”, o mais festejado “conto de Natal” em que Ebenezer Scrooge, um homem avarento que abomina essa época, procura se redimir ao saber, por passe de mágica, que na sua posição de avaro, e por isso mesmo isolado de todos, estaria desperdiçando bons momentos na vida e se encaminhando para um triste fim.
Neste século persiste a comemoração na confraternização natalina com as mesmas virtudes e defeitos do passado, seja no espaço de boa vontade a lembrar o epilogo da história de Dickens seja pela amnésia crônica refletida logo que se retire a marca da folhinha.
A frase “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” vem do Evangelho de Lucas 2/14. Os pastores que receberam a boa nova do nascimento de Jesus viram os anjos cantarem dessa forma. Obviamente é o momento da união pelo bem, pelo amor a Deus e pelas palavras divinas do amor ao próximo.
Em plano geral, observa-se, no mundo moderno, a perene ameaça de guerras, sejam conflitos entre países, seja o medo de um embate mundial com as armas de destruição em massa. O progresso nesse ponto parece muito pouco, ressaltando-se apenas a estreita relação entre nações por conta de avanços no terreno geográfico.
É hora, portanto, de união para festejar a amizade. Em diversas categorias profissionais as pessoas marcam encontros para agradecer a chance de estar juntas em mais uma etapa de vida. Pode ser que nessa hora ninguém lembre de um momento em que a própria amizade tenha se experimentado num embate ou numa desconfiança. E o melhor da festa está justamente na capacidade de perdoar senões e aquilatar que há uma base de união, há um trabalho em comum por diversos fatores de atividade.
Sabemos de nossas viscerais diferenças com uns e outros, do mesmo modo como se expressam nossas impressões orgânicas. Mas o valor da confraternização é sobrepujar essas diferenças e rever o que de melhor se tem de cada um. Esta valorização de carater é capital no instinto que preza o abraço de Boas Festas. Que assim seja a todos nos próximos dias. Como disse Madre Teresa de Calcutá: “As palavras de amizade e conforto podem ser curtas e sucintas, mas o seu eco é infindável”.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 20/12/2013)


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