O dia 25 de novembro foi denominado o Dia Internacional da Não Violência
contra a Mulher homenageando três irmãs, ativistas políticas: Pátria, Minerva e
Maria Teresa Mirabal, brutalmente assassinadas pela ditadura de Leonidas
Trujillo, na República Dominicana. O fato que culminou nesse episódio trágico
originou-se de um agravo sofrido por Minerva, assediada por Trujillo durante o
“Baile do Descobrimento”, em 12 de outubro de 1949, para o qual fora convidada
toda a família. Impulsiva, a jovem repele injuriada o ditador e, então, toda a
familia foge do baile antes do final, atitude vista pelos órgãos oficiais como
afronta dos Mirabal ao governo. A partir desse incidente as três mulheres e
seus familiares passam a sofrer forte repressão. Perdem a casa e os recursos financeiros, contudo, num olhar pelo país
percebem o abalo no sistema econômico em geral, com o governo de Trujillo levando
ao caos financeiro. Elas formam, então, um grupo de oposição ao regime
tornando-se conhecidas como Las Mariposas. Por diversas vezes foram presas e
torturadas, mas não deixaram de lutar contra a ditadura. Decidido a eliminar
essa oposição, Trujillo manda seus homens armarem uma emboscada às três
mulheres, interceptando-as no caminho da prisão onde iam em visita aos maridos.
Conduzidas a uma plantação de cana de açucar foram apunhaladas e estranguladas
em 25 de novembro de 1960. Esse fato causou grande impacto entre os dominicanos
que passaram a apoiar as idéias das jovens, reagindo às arbitrariedades do
governo e, em maio de 1961, o ditador foi assassinado.
Em 1981, durante o Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e
Caribenho, realizado em Bogotá, Colômbia, o episódio foi relembrado sendo a
data proposta pelas participantes do encontro para se tornar o Dia
Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência à mulher. A Assembléia
Geral das Nações Unidas (em 17 de dezembro de 1999) também declarou o 25 de
novembro o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, em
homenagem ao sacrificio de Las Mariposas.
A tragédia que se abateu sobre as irmãs Mirabal há 51 anos se por um
lado configura-se um ato de violência política, também pode ser visto como
violência institucional (embora esta inclua outros aspectos infringidos às
mulheres), haja vista que foi cometido por forças de um governo constituido. E
a partir dele fez eclodir entre os movimentos sociais mundiais o combate às
demais formas de violência que se abatiam contra esse gênero.
A
violência é um termo polissêmico e o seu uso aponta para as formas
diferenciadas de constrangimentos morais, coativos ou através da força física
explícita, aplicada por uma pessoa contra outra, num ambiente que pode ser
tanto público - no contexto social e político – como privado, no espaço
familiar.
Esta
percepção levou ao reconhecimento de que certos comportamentos nas relações
sociais, embora fossem vistos como “naturais” tramavam contra a dignidade
humana. A denúncia dos movimentos de mulheres ao tratamento que muitas mulheres
recebiam nos locais de convivência, impedidas de participar de determinada
atividade, e/ou em casa, quando agredidas pelo marido, pelos filhos ou pais por
não fazerem as tarefas domésticas e/ ou por ciúmes, essas atitudes passaram a
ser denunciadas como atos de violência recebendo o tratamento devido de
entidades governamentais e ONGs ao considerarem essas condutas destrutivas da
condição humana.
Conferências,
convenções, acordos, cartas constitucionais e demais documentos internacionais
foram abrigando discussões e fundamentos legais para a erradicação das formas
de violência que acometiam as mulheres. A Conferencia Mundial de Direitos Humanos de Viena
(1993) criou o slogam considerando que "os direitos da mulher também são
direitos humanos". E em 9 de junho de 1994 foi assinada pela ONU a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher, mais conhecida como Convenção de
Belém do Pará porque a Assembléia Geral desse
órgão foi realizada nesta cidade. O documento levou em consideração “o amplo processo de consulta realizado pela
Comissão Interamericana de Mulheres desde 1990 para o estudo e a elaboração de
um projeto de convenção sobre a mulher e a violência”.
Os dados
sobre a violência doméstica no Brasil são muito sérios. E já são bem visíveis
entre a população. As evidências de que os/as brasileiros/as já reconhecem
diferentes formas de agressão como sendo violência doméstica são apontadas na pesquisa do Instituto Avon-IPSOS
– “Percepções Sobre A Violência Doméstica Contra A
Mulher No Brasil” – realizada de 31/01 a 10/02 de 2011, em 70 municipios das 5 regiões brasileiras, entre homens e mulheres
com 16 anos ou mais. Segundo o relatório: “entre os
diversos tipos de violência doméstica sofridos pela mulher, 80% dos entrevistados citaram violência física, como: empurrões,
tapas, socos e, em menor caso (3%), até a morte. Ou seja, a violência física é
a face mais visível do problema, mas muitas outras formas foram apontadas. 62% reconhecem agressões verbais,
xingamentos, humilhação, ameaças e outras formas de violência psicológica como violência doméstica, assim como a
sexual e a moral”. Para a maioria, esses atos são vistos como uma questão cultural (50%), e consideram que o homem ainda se acha “dono” da mulher (41%) (cf.www.institutoavon.org.br
)
A REDEH e o Instituto Magna Mater lançaram o ano passado
a campanha “Quem ama abraça” objetivando a atenção da população para o
seguinte quadro: “a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil; seis
em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência
doméstica; 30% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência
doméstica; a cada dois minutos, cinco mulheres são violentamente agredidas no
Brasil”. Isso ainda é alarmante.
(Texto já publicado em O Liberal-2012 e neste blog, em 2012)
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