sexta-feira, 15 de novembro de 2013

AS CRISES POLITICAS E A IMPRENSA PARAENSE


Magalhães Barata e a criação de "O Liberal".

 Em 12 de novembro de 1930, Joaquim de Magalhães Cardoso Barata se tornava o interventor do Pará, recebendo o governo das mãos da Junta Governativa que assumira em 28 de outubro desse ano, após a deposição dos “carcomidos”, defenestrados pela Revolução. A preocupação do interventor – para ele uma “missão” - era seguir a filosofia dos revolucionários desmontando a máquina administrativa do período precedente. Então, todas as medidas que tomou a partir daí visavam criar uma nova estrutura de poder articulada com os elementos do ideário político liberal. O atrelamento das massas populares ao Estado era uma delas, franqueando a entrada ao Palácio a qualquer pessoa, ouvindo as queixas do povo, desde problemas domésticos até as denúncias mais graves, procurando interferir e apresentando soluções. Mas houve também atos político-partidários adotados, como o de confiscar o edifício onde estava situada a sede do Partido Republicano Federal (PRF) e o órgão de imprensa desse partido, o "Correio do Pará". A luta anti-oligárquica das propostas do ideário das classes comprometidas com a revolução de trinta tinha por convicção, entre outras coisas, quebrar com a desordem política e eleitoral atribuída às agremiações partidárias existentes na República Velha, chefiadas pelas oligarquias regionais. E o PRF integrava-se a essa classe decaida. Destarte, o interventor estava convencido de que o regime ditatorial de governo era a melhor forma de eliminar para sempre os desmandos das administrações passadas. Daí porque somente em 06 de dezembro de 1931 é criado o Partido Liberal, sob coação dos constitucionalistas liberais que pressionavam por eleições diretas e pela criação de partidos políticos.
Essa postura autoritária e centralizadora do Interventor Magalhães Barata tende a criar, desde os primeiros momentos da vitória do movimento de trinta, algumas fraturas no bloco dos revolucionários no poder. Em junho de 1931 há dissidências internas nesse bloco, motivando graves indisposições entre os próprios companheiros de lutas e, a cada situação, as hostes dos revolucionários deixavam de apresentar a coesão dos primeiros momentos.
Nesse clima se inscrevem as tensões entre o governo da interventoria e a imprensa local, mais enfaticamente o Jornal “Folha do Norte”(1896-1974), fundado por Eneas Martins, Cypriano Santos e outros, tendo na direção o jornalista Paulo Maranhão, anteriormente um antagonista ferrenho de Eneas (governador do Pará eleito com mandato de 02/1913 a 02/1917). Este jornal passou a ser o veículo opositor do governo de Magalhães Barata, deixando de noticiar os feitos deste à frente do Estado, ao tempo em que publicava editoriais violentíssimos contra o interventor. O recurso aplicado foi utilizar o Diário Oficial do Estado como instrumento veiculador das políticas implantadas pelo governo e/ou publicar as medidas punitivas contra os/as que dissentiam de suas ordens.
Há inúmeros casos que remetem a essa situação, usados pela “Folha do Norte”, demonstrando o autoritarismo de Barata. Nesse jornal, na coluna "Ecos e Notícias", do dia 21 de dezembro de 1934 há o seguinte registro: "Com a nota 'por conveniência do ensino' foram exoneradas as seguintes professoras: Maria de Lourdes Santos, da Escola Mista da Colônia Inglês de Souza; (...) transferidas as normalistas Gervásia Alves Ferreira, professora do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, desta capital, para servir no Grupo Escolar de Marabá, e Angeolina Barroso Pereira, para o Grupo de Vizeu". Este dispositivo representava as justificativas incluídas nos decretos das exonerações e/ou transferências ou nomeações de professoras feita pela Interventoria. O governo poderia requisitar uma professora de Belém para Marabá, transferindo-a "por conveniência do ensino", mas, nesses termos, estaria incurso uma medida coercitiva, no caso de a referida professora ter se insurgido contra determinações do Interventor e o meio de afastá-la obedecia à "conveniência do ensino". Este detalhe coercitivo constatei em entrevistas (e cartas à “Folha do Norte”) de várias mestras punidas com esses atos, como Naide Vasconcelos, Maria Helena Coelho, Anunciada Chaves e Helena Sousa.
Magalhães Barata deixou a interventoria na crise política deflagrada em abril de 1935, quando os deputados de seu partido se aliaram aos opositores não o indicando ao governo do estado. Ele ficaria de fora da política ostensiva até 1943 quando retornou ao Pará numa segunda interventoria. Procurou estabelecer as regras eleitorais sob as bases de sua conduta de líder, mantendo a organização partidária com uma postura autoritária. O multipartidarismo implantado em 1945 conduziu Magalhães Barata ao PSD, articulando o processo que garantiu o domínio desse partido durante todo o período em que esteve na liderança. É nesse período que novas articulações se acham em jogo para calar a voz de seu opositor, Paulo Maranhão, na “Folha do Norte”, considerando-se que a redemocratização do Brasil se tornara uma exigência internacional a Getúlio Vargas.
A ideia dos líderes baratistas agregados ao novo partido era criar um jornal que se tornasse o seu porta-voz, uma tribuna pública e partidária reagindo à ofensiva da “Folha”. É nesse momento que surge “O Liberal” para defender seu líder. Magalhães Barata convoca seus correligionários mais fiéis para a criação do jornal que circula em Belém e maior parte do Pará desde novembro de 1946, tornando-se o veículo político desse grupo. Depois da morte de Barata, em 1959, e destituido de suas caracteristicas inciais, “O Liberal” passou a integrar, em 1966, a Delta Publicidade, de Rômulo Maiorana.


(Texto originalmente publicado em "O Liberal", em 15/11/2013)

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