Magalhães Barata e a criação de "O Liberal".
Em 12 de
novembro de 1930, Joaquim de Magalhães Cardoso Barata se tornava o interventor do
Pará, recebendo o governo das mãos da Junta Governativa que assumira em 28 de
outubro desse ano, após a deposição dos “carcomidos”, defenestrados pela
Revolução. A preocupação do interventor – para ele uma “missão” - era seguir a
filosofia dos revolucionários desmontando a máquina administrativa do período precedente.
Então, todas as medidas que tomou a partir daí visavam criar uma nova estrutura
de poder articulada com os elementos do ideário político liberal. O atrelamento
das massas populares ao Estado era uma delas, franqueando a entrada ao Palácio a
qualquer pessoa, ouvindo as queixas do povo, desde problemas domésticos até as
denúncias mais graves, procurando interferir e apresentando soluções. Mas houve
também atos político-partidários adotados, como o de confiscar o edifício onde
estava situada a sede do Partido Republicano Federal (PRF) e o órgão de imprensa
desse partido, o "Correio do Pará". A luta anti-oligárquica das
propostas do ideário das classes comprometidas com a revolução de trinta tinha
por convicção, entre outras coisas, quebrar com a desordem política e eleitoral
atribuída às agremiações partidárias existentes na República Velha, chefiadas
pelas oligarquias regionais. E o PRF integrava-se a essa classe decaida. Destarte,
o interventor estava convencido de que o regime ditatorial de governo era a
melhor forma de eliminar para sempre os desmandos das administrações passadas.
Daí porque somente em 06 de dezembro de 1931 é criado o Partido Liberal, sob coação
dos constitucionalistas liberais que pressionavam por eleições diretas e pela
criação de partidos políticos.
Essa
postura autoritária e centralizadora do Interventor Magalhães Barata tende a
criar, desde os primeiros momentos da vitória do movimento de trinta, algumas
fraturas no bloco dos revolucionários no poder. Em junho de 1931 há
dissidências internas nesse bloco, motivando graves indisposições entre os
próprios companheiros de lutas e, a cada situação, as hostes dos
revolucionários deixavam de apresentar a coesão dos primeiros momentos.
Nesse
clima se inscrevem as tensões entre o governo da interventoria e a imprensa
local, mais enfaticamente o Jornal “Folha do Norte”(1896-1974), fundado por Eneas
Martins, Cypriano Santos e outros, tendo na direção o jornalista Paulo
Maranhão, anteriormente um antagonista ferrenho de Eneas (governador do Pará
eleito com mandato de 02/1913 a 02/1917). Este jornal passou a ser o veículo
opositor do governo de Magalhães Barata, deixando de noticiar os feitos deste à
frente do Estado, ao tempo em que publicava editoriais violentíssimos contra o
interventor. O recurso aplicado foi utilizar o Diário Oficial do Estado como
instrumento veiculador das políticas implantadas pelo governo e/ou publicar as
medidas punitivas contra os/as que dissentiam de suas ordens.
Há
inúmeros casos que remetem a essa situação, usados pela “Folha do Norte”, demonstrando
o autoritarismo de Barata. Nesse jornal, na coluna "Ecos e Notícias",
do dia 21 de dezembro de 1934 há o seguinte registro: "Com a nota 'por
conveniência do ensino' foram exoneradas as seguintes professoras: Maria de
Lourdes Santos, da Escola Mista da Colônia Inglês de Souza; (...) transferidas as
normalistas Gervásia Alves Ferreira, professora do Grupo Escolar Barão do Rio
Branco, desta capital, para servir no Grupo Escolar de Marabá, e Angeolina
Barroso Pereira, para o Grupo de Vizeu". Este dispositivo representava as
justificativas incluídas nos decretos das exonerações e/ou transferências ou nomeações
de professoras feita pela Interventoria. O governo poderia requisitar uma
professora de Belém para Marabá, transferindo-a "por conveniência do
ensino", mas, nesses termos, estaria incurso uma medida coercitiva, no
caso de a referida professora ter se insurgido contra determinações do
Interventor e o meio de afastá-la obedecia à "conveniência do
ensino". Este detalhe coercitivo constatei em entrevistas (e cartas à
“Folha do Norte”) de várias mestras punidas com esses atos, como Naide
Vasconcelos, Maria Helena Coelho, Anunciada Chaves e Helena Sousa.
Magalhães
Barata deixou a interventoria na crise política deflagrada em abril de 1935,
quando os deputados de seu partido se aliaram aos opositores não o indicando ao
governo do estado. Ele ficaria de fora da política ostensiva até 1943 quando
retornou ao Pará numa segunda interventoria. Procurou estabelecer as regras
eleitorais sob as bases de sua conduta de líder, mantendo a organização
partidária com uma postura autoritária. O multipartidarismo implantado em 1945
conduziu Magalhães Barata ao PSD, articulando o processo que garantiu o domínio
desse partido durante todo o período em que esteve na liderança. É nesse período
que novas articulações se acham em jogo para calar a voz de seu opositor, Paulo
Maranhão, na “Folha do Norte”, considerando-se que a redemocratização do Brasil
se tornara uma exigência internacional a Getúlio Vargas.
A ideia
dos líderes baratistas agregados ao novo partido era criar um jornal que se
tornasse o seu porta-voz, uma tribuna pública e partidária reagindo à ofensiva
da “Folha”. É nesse momento que surge “O Liberal” para defender seu líder.
Magalhães Barata convoca seus correligionários mais fiéis para a criação do
jornal que circula em Belém e maior parte do Pará desde novembro de 1946, tornando-se
o veículo político desse grupo. Depois da morte de Barata, em 1959, e destituido
de suas caracteristicas inciais, “O Liberal” passou a integrar, em 1966, a
Delta Publicidade, de Rômulo Maiorana.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal", em 15/11/2013)
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