domingo, 27 de janeiro de 2013

OBAMA, LINCOLN E OS PRECONCEITOS



Barack Obama toma posse para o segundo mandato na presidência dos EUA
A posse de Barack Obama, presidente reeleito dos EUA e o lançamento do filme “Lincoln” de Steven Spielberg, exprimem uma coincidência que de certa forma nos diz respeito.
Obama, em seu discurso de posse, ressaltou: “o que nos une como nação não são as cores da nossa pele ou os princípios de nossa fé ou as origens de nossos nomes. O que nos torna excepcionais - o que nos faz americanos - é a nossa fidelidade a uma ideia, articulada numa declaração feita há mais de dois séculos”. E prosseguiu: "Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre eles a vida, a liberdade e a busca da felicidade."
Lincoln lutou contra a escravatura negra. O filme, ora em cartaz, descreve o seu trabalho, nos últimos dias de mandato e de vida, pela promulgação da lei que libertava os escravos, justamente no final da guerra civil quando os estados do sul pugnavam pela continuação da escravatura atendendo à mão de obra que os fazendeiros da região usavam para a plantação e colheita do algodão, sua matéria prima no processo econômico.
E o que esses fatos têm a ver com o Brasil? Em 1865, ano em que os EUA libertaram os escravos, os nossos abolicionistas incentivaram a luta que vinham mantendo conseguindo que o gabinete conservador do visconde de Rio Branco promulgasse a Lei do Ventre Livre, isto em 1871. Em represália, fazendeiros, como os do Vale do Paraíba, retiraram o apoio ao imperador D. Pedro II. Além dessa luta na área diplomática aconteciam no Brasil fatores que iam da importação ilegal de escravos de origem africana, aos reclamos insistentes dos cafeicultores de que, sem os escravos, diziam-se impossibilitados de mover a base econômica do país. Muitos fazendeiros ricos compraram escravos contrabandeados, mesmo desafiando a oposição da Inglaterra que desde a proclamação da independência brasileira vinha atuando, por motivos de interesse comercial dela, contra o tráfico negreiro que era feito para os Estados Unidos, Brasil e Cuba (então possessão espanhola).( Cf. Entrevista de Tâmis Parron, à Marlucio Luna, em “História Viva”, nº 111).
A batalha contra a escravidão no Brasil ganhou impulso com a atitude (e assassinato) de Lincoln e com as medidas parlamentares que se seguiram até a Lei Aurea que afinal se tornou elemento forte para depor a monarquia.
Mas qual a lição que a História nos legou dessas lutas pela igualdade de direitos humanos? A lei assinada pela princesa Isabel teve o mesmo efeito da embasada por Abraham Lincoln mais de dez anos antes? Bem, se o presidente norte-americano acabou morto pelas mãos de um confederado escravocrata, a filha de D. Pedro II e regente do império brasileiro impulsionou a chegada da Republica que já vinha sendo arquitetada não só pelos prejudicados pela falta de negros para a lavoura, mas por outros atores com ideologia positivista e alguns que trataram do caso como situação pessoal.
Hoje, Barack Obama discursa lembrando a igualdade pregada por Deus. Embora a “religião só se tenha manifestado em termos pessoais” contra a escravidão no Brasil, o tempo trouxe reformas edificantes. Mesmo assim, se ganhamos a miscigenação que gerou o que um autor chamou de “raça brasileira”, ainda porejam preconceitos de cor. E como pediu o presidente norte-americano na sua fala contra qualquer tipo de marginalização, preconceito a etnias e orientação sexual.
O Brasil, hoje, chega a apresentar uma medida que dispõe de vagas em escolas superiores para as etnias que ainda se têm como marginalizadas. Nos EUA há uma quota para negros, latinos e de outras orientações sexuais até em indústrias & artes como o cinema.
Como a escravidão sempre representa um motivo de reação popular (felizmente a maioria contra), ainda agora se está vendo nas telas um quadro nada lisonjeiro de escravos torturados e levados a sentimento de vingança no filme “Django Livre” de Quentin Tarantino. Nesse caso, a exposição se faz antes da Guerra Civil e se detém no sul eminentemente escravocrata. O negro é não só alijado da sociedade como torturado e morto quando deixa de cumprir as ordens de seu dono. E o herói da história é um revoltado que expande seu ódio, com a exposição disso colocada de forma a contar com a participação anímica da plateia que o vê.
A escravidão contra os/as humanos/as atravessa a História. Ela se qualifica também na porfia nazista que exclui quem não pertença a uma “raça” advinda dos preceitos eugênicos que teriam formado os heróis germânicos. Felizmente a loucura do preconceito tende cada vez mais a ser considerada uma manifestação que deve ser extinta com os emblemas da diversidade social e do apoio formal. Que as falas de agora, do mandatário negro de uma nação que abrigou falange cruel de racismo como a Ku Klux Kan, e da lembrança do ilustre colega dele que no passado lutou pela liberdade étnica, sigam influenciando nações e abençoando as pessoas de boa vontade.
Quanto ao imperialismo norte-americano que se dissemina pelos discursos de paz, direito internacional e diálogo, espera-se que Obama no poder quebre a vertente belicista da ideologia do país e negue aparatos militares contra os povos. É a hora e vez de rever o processo de um outro tipo de escravidão.
(Texto originalmente publicado em "o Liberal/PA, em 25/01/2013. Imagens de http://ffw.com.br/ )

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