sábado, 5 de janeiro de 2013

PAGADORES DE PROMESSAS


 

Um pôster norte-americano pede que se vote em “Mr. Nobody” (Sr. Ninguém) “porque Ninguém faz o que promete”. O objeto de ironia revela o disparate internacional dos regimes democráticos onde se vê e ouve candidato a cargos majoritários prometendo a seus eleitores o que nem sempre é possível cumprir.

Neste novo ano em que os eleitos nos municípios brasileiros assumem seus postos é hora dos que lhes propiciaram a representação aos cargos cobrarem o que prometeram em campanhas. E muitos desses eleitores compreendem que é impossível exigir tanto. Querem ao menos um pouco desse tanto.

O comum nas lutas eleitorais é repisar benefícios sobre uma tríade obviamente importante: saúde, educação e segurança. Certamente ninguém trabalha sem saúde, sem educação não se ganha o que se entende no outro espaço da tríade que é segurança nas ruas e nos lares. Mas se tratar desses itens requer recursos muitas vezes impossíveis de serem locados a contento é comum promessas de projetos faraônicos, obras imaginosas que se destinam a impressionar os/as eleitores/as.

As anedotas sobre projetos basicamente inviáveis lotam os espaços que vão dos jornais e revistas aos sites e à literatura de cordel. Não é anedota, mas um candidato a um posto municipal chegou a prometer uma ponte sobre o oceano. Os pescadores e os turistas agradeceriam. O que é muito difícil é achar quem meça a sua pretensão e se fosse comparado a um romeiro no nosso Círio estaria apenas portando uma gravura de Nossa Senhora. Este se arriscaria a perder votos. A simplicidade parece ser desconhecida pelos que confundem um politico com um santo. Ou mesmo um anjo.

Finda as eleições e empossados os eleitos, o comum é um discurso que prega a restrição de verbas para diversos investimentos. Observando de perto a realidade do erário público, o eleito sabe que muito do que disse ou mesmo prometeu em campanha é impossível de ser realizado.

Os eleitos respondem não só por preferência pessoal do eleitor como de uma opção contra o que esse eleitor, queria ver fora do páreo, ou seja, incapaz de satisfazer o seu objetivo (seja dele, eleitor, seja de quem se lança à candidatura). E há um grupo intermediário que se guia pelo comodismo ou pela absoluta negação de ideais, achando que não é possível melhorar o cenário administrativo e sim piorar o ruim. É o grupo que atende às ditaduras. Lembro que o cineasta Claude Lellouch colocou uma frase em um de seus filmes em que sentenciava essa postura: ” O melhor dos regimes é uma ditadura mas as pessoas inteligentes não querem ser ditadoras”.No Brasil, nós tivemos a Era Vargas onde o ditador era saudado até nas apoteoses de teatros de variedades onde cantavam elevando o seu retrato, a marcha carnavalesca de Haroldo Lobo e Marino Pinto “Retrato do Velho” (na voz de Francisco Alves). Atraente das massas por eloquência verbal e medidas como o salario mínimo (além de pressões e violência), Getúlio foi alvo do humorismo menos contundente. A índole do brasileiro permanece otimista mesmo com a moderação causada em tantas dificuldades (e crueldades se viajarmos ao tempo de repressões drásticas). Se pesquisarmos o repertorio da música popular em tantos anos encontraremos composições alusivas a quase todas as fases da política – das eleitorais às do período de governo – algumas até mesmo, driblando a censura, no caso, na época dos militares que estiveram em cena por mais de vinte anos.

Mas se os eleitos populares pagaram suas promessas de campanha é outro ritmo. O mais “faraônico” de nossos presidentes, JK, cumpriu Brasília e estradas utópicas em seu tempo como a que liga a nova capital à nossa Belém (entre tantas outras coisas). Se tudo estivesse no cardápio da campanha seria visto como ficção. Como ficção amarga foi a reforma moral saudada por Jânio Quadros e sua vassoura. Proibir biquíni ao invés de tratar de assuntos básicos é uma forma de como se falar de bobagens antes de se atacar prioridades.

E as prioridades estão sendo mostradas diariamente através dos canais de televisão aberta sobre a situação em que as cidades se encontram em termos de saneamento básico, esgotos, lixo, falta de água, luz, carência de médicos nos pronto-socorro e/ou irresponsabilidade de plantonistas ausentes dos hospitais colocando em risco a vida das pessoas necessitadas de atendimento. Não só no Pará, mas em todas as cidades os habitantes estão implorando aos novos governantes que ataquem primeiramente as carências da comunidade em seus planos emergenciais. Que se alinham em grandes expectativas pelo que supõem de mudança ao avaliarem os novos mandatários da gestão municipal.

Desempenhando as suas funções por meio de um aparelho administrativo, o poder executivo municipal constitui-se de secretarias, departamentos, serviços, etc., além de autarquias, fundações e empresas estatais que tendem a orientar as especificidades locais considerando as necessidades de bens e serviços públicos, como prioridades da gestão.

Hoje a cultura cidadã engloba novos conhecimentos e pede substancia. Que se ataque o mais sério, o mais viável. E cultura está no âmago da tríade básica. Sem ela seriamos anônimos títeres de um mundo potencialmente malvado.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA de 30/12/2012)
 

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