(Imagem extraída do Correio das Manifestações Políticas do Brasil)
Hoje
não tenho a “muleta” de um clássico da política, mas vou tratar da política que
se mostra viva nas ruas a partir das manifestações populares que há duas
semanas se fizeram públicas num demonstrativo de insatisfação ao status quo estabelecido nas instituições
no poder.
Nos
primeiros momentos de uma nova era com evidências de que a democracia
brasileira está com suas bases amadurecidas – apesar de alguns discordarem
desse estado de desenvolvimento de nosso sistema politico – mostram-se
insatisfeitos pelos rumos da distribuição de políticas públicas, os cidadãos e
cidadãs do país com maior desempenho de jovens embora, pelo que se observa, sem
que se possa estreitar em termos de um marcador geracional. Assentados em um
bem maior mecanismo comunicacional onde as novas tecnologias como a internet e
midias sociais extrapolam as antigas formas de manifestação e demonstram-se
eficazes para se apoderarem de maneiras de exercitarem a democracia direta, essa
população nas ruas tem procurado estabelecer suas próprias demandas – embora
suscitadas por uma específica em outro local (SP) – mantendo-se no eco politico
mais profundo e constante de mostrarem a que vieram.
Se
nas cidades em que o aumento das tarifas dos transportes coletivos os
manifestantes fizeram suas primeiras incursões, saindo às ruas para reinvidicar
a reavaliação dessa medida, os chamados “flash
mobs” – ou seja, as aglomerações instatâneas organizadas pelas midias
(emails, redes sociais, blogs) – mantiveram constância e tomaram as rédeas
nacionais. E em cada cidade do país iniciou-se uma revisão de quais serviços
públicos estavam “desativados” pela inércia do sistema em suas localidades e se
detiveram com as mesmas bandeiras de luta visando o ato de gritar pela demanda
de melhorias.
Mas
outras questões vieram a lume, consideradas responsáveis pela trama emperrada
do funcionamento da educação, saúde e segurança pública etc.: os aparelhos do
Estado responsáveis pela gestão das políticas de acesso a esses serviços.
Os
questionamentos ecoaram em um gradual reconhecimento sobre as disposições legais
e os aparelhos definidores dessas políticas e, então, a perspectiva de que
recursos maiores eram deslocados para bens supérfluos passaram a ser
incorporados nos apelos populares: o sistema executivo, o sistema
representativo e o sistema judiciário (alías, este com pouco menos evidência de
cobranças, não sei a razão, quando se sabe de intercorrências de corrupção e
impunidade desse sistema) teriam que ser chamados às falas porque se quedavam
inertes diante das falhas sobre o sistema social e por isso necessitavam
enxergar melhor onde estavam essas fraturas. E, além disso, a revisão dos
gastos públicos subsumidos pela corrupção deveria se tornar um elemento
prioritário a ser cobrada dessas instituições democráticas e sumariamente
extirpada do cenário político.
O
que me causa estranheza quando se trata de lutar contra a corrupção ou
assenhoreamento de recursos públicos é que só é pensado nos milhões de reais
que são desviados das verbas públicas necessários ao beneficiamento da melhoria
e/ ou implantação dos bens públicos de melhoria da saúde, educação etc. É que
pessoalmente vejo um tipo de corrupção que não é observado a olho nú (não sei
se os manifestantes estão pensando sobre isso). Trata-se de materiais de
consumo & outros bens que são consumidos
por certos servidores a seu uso próprio. E/ ou desconhecem horários de trabalho
a que estão sujeitos (mas recebem os salários), tratam mal os usuários e por ai
vai o processo de corrupção que se implanta em pequenas coisas e não é levado
em conta no grito popular. Porque ir às ruas buscar o que outros não fazem é
muito fácil, o problema é uma reflexão sobre como estou me portando para ser aquele
eficaz manifestante.
O
sistema representativo brasileiro está num dos eixos mais criticados nessas
manifestações. Se são representantes do povo que os elegeu para legislar e tratar
dos interesses dos cidadãos e cidadãs porque, a maioria das vezes, legislam em
causa própria e/ou de seus grupos, a revelia de estarem atentos à defesa do bem
estar da coletividade que delegou poderes para que assim fosse? O mais grave é
a observação de que certos parlamentares estão mais propensos em pensar em sua
reeleição do que em avaliar que medidas poderiam tomar sobre o funcionamento do
serviço público em nivel precário. Essa inércia, aliada aos altos salários que
recebem e a ausência de defesa dos interesses populares demonstram que uma
parte dos atores assentados no cenário do congresso nacional precisa ser
revitalizada, novos nomes devem ser sufragados tomando-se como medida de valor
a Lei da Ficha Limpa. Caso contrário há possibilidade de um retorno das mesmas
peças.
O
sistema partidário, peça-chave no regime democrático, também está sendo
questionado. Sem dúvida cada partido se institucionaliza através de um programa
e de um estatuto onde são expostas a filosofia ética e as bases dos direitos e
deveres dos/as filiados/as. Mais uns do que outros foram se adequando às
conformidades de partidos de massa injetando compromissos com as forças
populares. Contudo, no exercício do poder como partidos efetivos e/ou partidos
parlamentares desoneram-se dos compromissos estatuidos e seguem determinados a lançar
a candidatura de suas lideranças e serem sistematicamente exitosos nas urnas.
Em
cada canto do país as vozes ecoam pela melhoria do sistema social englobando-se
as denúncias contra os serviços precários. Esse grito é justo e benéfico porque
aquelas instituições que deveriam espaldar essa função deixaram no caminho suas
lutas, por alguma razão. Contudo, não sou favorável ao grito violento onde as
palavras de ordem tomam a forma de imprópérios chulos e o gestual carrega a
força da pedra que machuca. Como não sou favorável também à defesa violenta do
aparato policial que se mostra despreparado para manter esses desvios
agressivos. A mudança virá, tenho certeza, assim como as mulheres conseguiram a
cidadania ao denunciarem a exclusão política democrática, atacando a legislação
e as normas.
(Originalmente publicado em "O Liberal", de 28/06/2013)
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