domingo, 26 de janeiro de 2014

DA BLOGOSFERA ÀS ELEIÇÕES





Há algum tempo a ordem das coisas determinava a presença e a comunicação oral como o meio mais fácil de um candidato (era masculino, mesmo) chegar à esfera pública e se tornar mais conhecido. Ou seja, embora esse cidadão fosse alguém notório da comunidade, o período eleitoral criava para ele outra identidade, o de se tornar um “político”. Ele deixava de ser visto somente como o comerciante da esquina, o médico, o compadre e tantas outras titulagens, para uma investidura provisória em uma atividade que ele já iniciava com a “carteirinha” profissional, projetando-se para o futuro o seu “que fazer”. Mas esta característica temporária necessitava de um cadastro técnico que era o formato do acesso ao eleitorado com essa nova roupagem. O discurso, as visitas personalizadas nas várias formas de contato pessoal, se ampliavam à medida que a necessidade de alargar-se para um público maior entronizava o palanque real como a tecnologia de maior acesso aos votantes. Essa ocorrência, se antes era conveniente, já caducou. Houve também um reordenamento da massa passiva para um novo protagonismo da política e o cidadão tem se avaliado no mesmo nível social dos governantes.
Presentemente, o foco de exposição do “político” para o eleitorado tomou outro desenho. Se os panfletos, a imprensa escrita, o rádio, a televisão vieram aos poucos transformando a forma de exibição e publicização da figura interessada em se tornar pública e assumir um cargo de representação política (legislativo ou executivo) através do sufrágio, ou seja, no processo de escolha por votação, hoje, além de outras regras de propaganda eleitoral, a tecnologia favorece o surgimento de novos artifícios para atingir vários públicos. Sim, porque se houve inventividade das mídias houve também o surgimento de uma diversidade de público que tende a se instalar em variados canais de acesso externo cujos formatos estão aproveitando não só a tecnologia das redes sociais, mas uma linguagem que beneficie o protagonista da classe política, a exemplo, o marketing.
A internet tem sido um inegável espaço de socialização e a cada dia os serviços dessa tecnologia têm sido responsáveis em chamar a atenção para valores, pendores e mesmo tendências favorecedoras (ou não) para um perfil sedutor ao “político”. O seu uso projeta determinado candidato/a através de um design que se torne “marca registrada” do usuário, seja uma cor, um jingle, um modo de expressão diferenciando-o dos demais concorrentes. Ela se constitui, também, num “ambiente de comunicação que tenderia a transformar o padrão atual de baixa participação política por parte da esfera civil nas democracias contemporâneas” (Wilson Gomes, 2004). Destarte, se se avaliar que a revolução digital criou um impacto estrondoso no mundo atingindo diversos aspectos da sociedade percebe-se que ainda há muito a aferir em torno do público usuário (considerar a classe social) e/ou desses personagens interessados em chegar até a esse público desferindo suas mensagens através desse mecanismo.
Facebook, Twiter, Orkut, Badoo e outras redes sociais públicas on line (há também as privadas e as comunidades de redes fora da internet) têm contribuído, conforme cada tecnologia seja/esteja a serviço de uma linha de comunicação como mediadoras de grupos diversos e comunidades, para a formação de uma cibercultura, conforme Raquel Recuero em seu livro “Redes Sociais na Internet” (2011).
Mas essas mídias também colaboram com a exposição pública dos “políticos” que vêem nesses recursos os meios de explorar o tipo de imagem que querem projetar, favorecendo a apresentação de seus antecedentes sociais, além de suas propostas de campanha transformadas em projetos para o tempo da vitória nas urnas e o assento no cargo de representação política. Fugindo ao tradicional palanque, esses/as cidadãos/ãs (agora, sim, com a entrada das mulheres como aspirantes aos cargos eleitorais) têm então uma maneira própria de se expor configurando um tipo de competidor/a na medida interativa com um público que vai se ampliando cada vez que um/a amigo/a aceita o convite para participar do quadro em que estes se agregam na página específica. No caso das mídias onde o apoio da imagem reflete o visual do/a “político/a” essa presentificação tende a estabelecer um link com a impressão emocional (simpatia/antipatia) que seja possível ter com a pessoa.
E os blogs repercutem também os discursos que antes eram proferidos oralmente em palanques reais (em “Blogs.com: estudos sobre blogs e Comunicação” organizado por Adriana Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo, há matéria interessante sobre essa tecnologia). Comemorando 10 anos em 2007, hoje esta ferramenta faz parte dos demais meios comunicacionais entre os “políticos” e além deles, entre os partidos, entre pessoas de todos os matizes, aliás, sendo ferramenta para imprimir mais claramente as intenções pessoais dos competidores e suas propostas sobre o processo de participação política. Como dizem os organizadores do livro referido: “Os blogs refletem a liberação do polo da emissão característico da cibercultura. Agora, todos podem (com mínimos recursos) produzir e circular informação sem pedir autorização ou o aval a quem quer que seja (...)”. São eixos fortes mostrando a independência e autonomia que um/a cidadão/ã pode auferir através do uso dessas tecnologias. Os “posts” dos blogs podem garantir aos/às “políticos/as” a conexão entre as ideias que têm e as que provocam reações, mas o mínimo que estes podem querer é a arregimentação de eleitores.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA de 24/01/2014)



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