Não
foi à toa que no século XVII os portugueses chamaram de Gran Pará a região em
que moramos. A área, de 1.247.689,515 km², só não é maior do que a do estado
vizinho, o Amazonas, o que vale dizer o segundo maior espaço federativo
brasileiro. Este “torrão natal” orgulha de há muito quem aqui nasceu. E o
orgulho é imbuido da grandeza humana além da mineral e florestal de há muito
reconhecida e explorada.
Esta
semana os paraenses vão votar pela divisão ou não de seu estado. Dois projetos
foram apresentados, um promulgado em 5 de maio deste ano pelo presidente do
Congresso Nacional, José Sarney, criando o Estado de Carajás, outro aprovado
pela Câmara dos Deputados criando o Estado do Tapajós. Com essa divisão, o Grão
Pará, que não será defintivamente acertada com o atual plesbiscito (ainda há
tramites nas casas legislativas e governo federal), ele perde o titulo de
“Grão”. E o plebiscito que convida a população a se expressar sobre o assunto
requer mais do que uma simples opinião divisionista: gera um notório
desconforto entre os moradores do (ou dos) espaços fisicos.
Além
de se pensar seriamente no saldo negativo para a União que representa o
divisionismo-e que seria de apoximadamente R$ 2 bilhões (um desafio nesta época
de crise economica mundial, mesmo com o Brasil conseguindo uma certa imunidade
até agora) - há um problema espelhado na competição que passou a existir com a
idéia da escolha popular. Como se comportarão no futuro os paraenses do “Gran”
e os almejantes tapajônicos e carajaenses? Qualquer motivo alegado para uma
disputa requer duas “torcidas”, requer um divisionismo animico com sequelas
semelhantes às existentes entre torcidas por times de futebol.
Pergunta-se
com sinceridade: por quê a idéia divisionista além de uma feição extremamente
politica e fatalmente ligada ao empreguismo, ao campo aberto para realização de
desejos não satisfeitos nas urnas dos espaços consagrados ?
A
noção de que a grandeza expõe o esquecimento de flancos é irrisória numa época
em que a tecnologia estreita o mundo. Se antes os municipios paraenses distavam
um do outro a ponto de um gasto expressivo de tempo para percorrê-los, o que se
dirá hoje quando não só se alcança esses municipios só pelas vias naturais (ou
maritima) como por estradas e comunicação digital (internet) ? Não seria mais
simples as reivindicações municipais se dirigirem a um governo estadual único?
Obviamente há rivalidade partidária em pauta. Mas o que representa a
disparidade politica diante de um ideal nacional ? Os cabanos lutaram por um
Pará livre. Estão esquecidos?
É
importante observar o cada vez mais evidente “encolhimento” mundial. A visão
planetária foi motivo de obras de ficção no passado que colocava a Terra como
um todo ambicionado ou lamentado por uma comunidade cósmica. É claro que isso
ainda é obra de ficção, mas o alerta do aquecimento global, do futuro catastrófico
do planeta desde que não sejam efetuadas medidas profiláticas como o que se
votou no Protocolo de Kyoto, esse final trágico diz respeito a todos. Ora, se
um denominador comum aproxima os seres humanos, apelando para a razão que
muitas vezes é esquecida por uma cupidez internacional, que exemplo podemos dar
querendo divisões mais próximas? Nos ultimos anos quantos municipios foram
criados em cada estado da federação ? Cada municipio traja um uniforme
emancipativo mostrando sua fonte de renda. Mas todos serão realmente
necessários ou servem muito mais a que se tenham mais prefeitos, vereadores e
as despesas correlatas? Naturalmente que o caso da criação de municipios é um
programa diferente do que se quer fazer com a divisão de um estado. Há quem
advogue um melhor controle de seu território com uma vigilância próxima, ou um
meio de se alcançar melhor reivindicações ao poder estadual. Sim, pois a regra
é se chegar primeiro ao governo estadual e só depois ao federal – desde que o
que se requer encaminha uma solicitação, ou um aviso. Nesse tom se tem uma
idéia do que seria se todo mundo endereçasse seus pedidos à chefia da nação.
Além do problema orçamentário nacional estaria em pauta a questão do tempo.
Teoricamente nossos representantes no congresso responderiam por reividicações
setoriais. Mas se hoje, como as coisas estão, essas reivindicações são tantas
que desafiam pautas, o que se dirá se elas aumentassem astronomicamente?
O
separarismo fere, especialmente, a alma popular. Se você nasceu em um municipio
que até hoje lhe dá o titulo de paraense como se sentirá se daqui a pouco
deixar de ser chamado assim, de se assinar com o pertencimento de outra plaga?
Dirá que “tudo é Brasil” mas quem consegue frear certos preconceitos que
existem, por exemplo, entre regiões, gerando chistes de moradores ( há quem chame
de “paraiba” ou “baiano”em tom pejorativo, os irmãos do norte).
Por
muito que se possa pensar, dividir o Pará é uma medida extremamente nociva. A
mim ninguém convence o contrário. E não quer dizer que esteja apegada a velhos
conceitos (também se costuma dizer que “os velhos odeiam mudanças”). Nada
disso. E lembro aquele episódio do filme “Ouro de Nápoles” em que o comediante
Totó dividia um espaço de sua casa com um homem que nunca pensara ser
despótico. Foi uma luta para reconquistar o lugar de dono de seu lar. A
“novidade” reforçou uma certa nostalgia. Noutras palavras, de ufanismo, e por
isso relembremos o que diz o nosso hino: “Ó Pará, quanto orgulha ser filho, de
um colosso, tão belo e tão forte. Juncaremos de flores teus trilhos, do Brasil
sentinela do Norte. E ao deixar de manter esse brilho, preferimos mil vezes a
morte!”
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" em 09/12/2011)
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