domingo, 11 de dezembro de 2011

SEPARATISMO?

Não foi à toa que no século XVII os portugueses chamaram de Gran Pará a região em que moramos. A área, de 1.247.689,515 km², só não é maior do que a do estado vizinho, o Amazonas, o que vale dizer o segundo maior espaço federativo brasileiro. Este “torrão natal” orgulha de há muito quem aqui nasceu. E o orgulho é imbuido da grandeza humana além da mineral e florestal de há muito reconhecida e explorada.
Esta semana os paraenses vão votar pela divisão ou não de seu estado. Dois projetos foram apresentados, um promulgado em 5 de maio deste ano pelo presidente do Congresso Nacional, José Sarney, criando o Estado de Carajás, outro aprovado pela Câmara dos Deputados criando o Estado do Tapajós. Com essa divisão, o Grão Pará, que não será defintivamente acertada com o atual plesbiscito (ainda há tramites nas casas legislativas e governo federal), ele perde o titulo de “Grão”. E o plebiscito que convida a população a se expressar sobre o assunto requer mais do que uma simples opinião divisionista: gera um notório desconforto entre os moradores do (ou dos) espaços fisicos.
Além de se pensar seriamente no saldo negativo para a União que representa o divisionismo-e que seria de apoximadamente R$ 2 bilhões (um desafio nesta época de crise economica mundial, mesmo com o Brasil conseguindo uma certa imunidade até agora) - há um problema espelhado na competição que passou a existir com a idéia da escolha popular. Como se comportarão no futuro os paraenses do “Gran” e os almejantes tapajônicos e carajaenses? Qualquer motivo alegado para uma disputa requer duas “torcidas”, requer um divisionismo animico com sequelas semelhantes às existentes entre torcidas por times de futebol.
Pergunta-se com sinceridade: por quê a idéia divisionista além de uma feição extremamente politica e fatalmente ligada ao empreguismo, ao campo aberto para realização de desejos não satisfeitos nas urnas dos espaços consagrados ?
A noção de que a grandeza expõe o esquecimento de flancos é irrisória numa época em que a tecnologia estreita o mundo. Se antes os municipios paraenses distavam um do outro a ponto de um gasto expressivo de tempo para percorrê-los, o que se dirá hoje quando não só se alcança esses municipios só pelas vias naturais (ou maritima) como por estradas e comunicação digital (internet) ? Não seria mais simples as reivindicações municipais se dirigirem a um governo estadual único? Obviamente há rivalidade partidária em pauta. Mas o que representa a disparidade politica diante de um ideal nacional ? Os cabanos lutaram por um Pará livre. Estão esquecidos?
É importante observar o cada vez mais evidente “encolhimento” mundial. A visão planetária foi motivo de obras de ficção no passado que colocava a Terra como um todo ambicionado ou lamentado por uma comunidade cósmica. É claro que isso ainda é obra de ficção, mas o alerta do aquecimento global, do futuro catastrófico do planeta desde que não sejam efetuadas medidas profiláticas como o que se votou no Protocolo de Kyoto, esse final trágico diz respeito a todos. Ora, se um denominador comum aproxima os seres humanos, apelando para a razão que muitas vezes é esquecida por uma cupidez internacional, que exemplo podemos dar querendo divisões mais próximas? Nos ultimos anos quantos municipios foram criados em cada estado da federação ? Cada municipio traja um uniforme emancipativo mostrando sua fonte de renda. Mas todos serão realmente necessários ou servem muito mais a que se tenham mais prefeitos, vereadores e as despesas correlatas? Naturalmente que o caso da criação de municipios é um programa diferente do que se quer fazer com a divisão de um estado. Há quem advogue um melhor controle de seu território com uma vigilância próxima, ou um meio de se alcançar melhor reivindicações ao poder estadual. Sim, pois a regra é se chegar primeiro ao governo estadual e só depois ao federal – desde que o que se requer encaminha uma solicitação, ou um aviso. Nesse tom se tem uma idéia do que seria se todo mundo endereçasse seus pedidos à chefia da nação. Além do problema orçamentário nacional estaria em pauta a questão do tempo. Teoricamente nossos representantes no congresso responderiam por reividicações setoriais. Mas se hoje, como as coisas estão, essas reivindicações são tantas que desafiam pautas, o que se dirá se elas aumentassem astronomicamente?
O separarismo fere, especialmente, a alma popular. Se você nasceu em um municipio que até hoje lhe dá o titulo de paraense como se sentirá se daqui a pouco deixar de ser chamado assim, de se assinar com o pertencimento de outra plaga? Dirá que “tudo é Brasil” mas quem consegue frear certos preconceitos que existem, por exemplo, entre regiões, gerando chistes de moradores ( há quem chame de “paraiba” ou “baiano”em tom pejorativo, os irmãos do norte).
Por muito que se possa pensar, dividir o Pará é uma medida extremamente nociva. A mim ninguém convence o contrário. E não quer dizer que esteja apegada a velhos conceitos (também se costuma dizer que “os velhos odeiam mudanças”). Nada disso. E lembro aquele episódio do filme “Ouro de Nápoles” em que o comediante Totó dividia um espaço de sua casa com um homem que nunca pensara ser despótico. Foi uma luta para reconquistar o lugar de dono de seu lar. A “novidade” reforçou uma certa nostalgia. Noutras palavras, de ufanismo, e por isso relembremos o que diz o nosso hino: “Ó Pará, quanto orgulha ser filho, de um colosso, tão belo e tão forte. Juncaremos de flores teus trilhos, do Brasil sentinela do Norte. E ao deixar de manter esse brilho, preferimos mil vezes a morte!”

(Texto originalmente publicado em "O Liberal" em 09/12/2011)

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