sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ELEIÇÕES 2014 E A REPRESENTAÇÃO FEMININA

A presidenta Dilma Rousseff, na abertura da 3a. Conferência de Política para as Mulheres.


O tema da sub-representação das mulheres na política atravessa os processos eleitorais internacionais. E não é de hoje. Nas modernas democracias a ausência da cidadania feminina instituiu uma luta acirrada para incluir esse gênero no direito do voto e, à medida que a visibilidade de novos direitos demonstrava que as mulheres ficavam de fora, estas iam à luta em busca de alcançá-los e, somente dessa forma conseguiram espaços que antes eram de exclusividade masculina.
Se as eleições fizeram a história do Brasil diferenciar-se de muitas outras experiências democráticas, desde o período colonial, as mulheres sempre ficaram de fora, nos primórdios dessa história. Não votar, no império, por exemplo, não era só uma exclusão desse gênero, mas de uma categoria de homens pobres que não alcançava o nível mínimo de renda como uma qualificação para a votação e garantia de sua entrada no censo eleitoral. A exclusão atingia, também, os ex-escravos, embora seus filhos e netos e, também, os analfabetos (estes, até a Lei Saraiva, 1881) se constituíssem votantes. Construindo a história do processo de participação política (ativa e passiva) do brasileiro, essa “trajetória do voto” criou legitimidade aos governantes, antes conselheiros que administravam as cidades e hoje, no Estado republicano, se acham nas representações dos cargos principais do poder executivo e legislativo.
Avaliando as configurações da cidadania política brasileira atual com o olhar na presença feminina tanto na categoria de eleitorado quanto na de demandantes e de eleitas em cargos majoritários e proporcionais, vê-se, a partir dos dados do TSE (acesso em 07/10/2014) que houve crescimento. Por exemplo, na distribuição do eleitorado por gênero, em âmbito comparativo, o percentual de mulheres teve um crescimento significativo no século XXI: 2002 – 50,85%; 2004: 51,21%; 2006: 51,53%; 2008: 51,73%; 2010: 51,82%; 2014: 52,13%. Um fator determinante nesse crescimento sem dúvida foi o aumento da população. É de supor, também, que a idade mínima para se tornar eleitor/a construiu esse crescimento, contudo, ao apresentar as estatísticas de 2014, do IBGE, sobre esse eleitorado na categoria faixa etária, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Dias Toffoli, fez um comentário sobre a queda no número de eleitores jovens de 16 e 17 anos, para os quais o voto é facultativo. Segundo os dados, o número diminuiu de 2.391.352, em 2010, para 1.638.751, em 2014. Outro detalhe para esse recuo, segundo Dias Toffoli: “Há um aumento da faixa etária geral da população brasileira e os dados do IBGE, que também fizemos consulta, indicam isso. Uma baixa do crescimento da natalidade e a perspectiva, em consulta que formulamos, é que a cada eleição diminuirá o número de eleitores em faixas etárias mais baixas, relativamente as mais altas”.
Se considerarmos esse eleitorado na faixa etária por gênero vê-se que as jovens de 16 anos contribuem com 52,79% e as de 17, com 51,5%. Este dado reforça o que foi tratado em termos do aumento das mulheres eleitoras, mesmo nessas faixas que estão diminuindo.
Quanto ao Pará, o eleitorado feminino é de 50,21%, aumentando em relação às eleições de 2010 que era 49,92%. Nesse ano, as faixas etárias de 16 anos (51,03%) e 17 anos (50,35%) estavam acima da apresentada pelo eleitorado masculino.
Em termos de candidaturas, no quantitativo sexo vs. cargo, as mulheres se apresentaram da seguinte forma: 3 candidatas concorreram à presidência da República (27,27%, num total de 11 candidatos); para governador/a 20 ou seja, 12,05% (87,95%, homens); senador/a 19,77% (80,23% homens); deputado federal 29,07% (70,93% homens); deputado estadual/distrital, 29,11% (70,89% homens).
No Pará, considerando apenas as candidaturas de representação parlamentar, vê-se que de um total de 170 candidatos para a câmara federal, 31,76% eram mulheres. Para deputado estadual, de 637, havia 182 candidatas ou 28,57% do total.
Sem fazer um esboço comparativo de outras eleições, mas considerando que para esses cargos parlamentares há a cota eleitoral de gênero alterada pela minirreforma eleitoral de 2009 (Lei 12.034/09) que substituiu, no caso, a expressão anterior “reservar” por “preencher”, significou que a distribuição dos percentuais entre os sexos passou a ser obrigatória e não mais facultativa. Isto quer dizer punição para os partidos que não preencherem os 30%, a garantia de uma maior participação das mulheres na vida política e partidária brasileira.
Embora haja todas as evidências de que houve aumento no número de candidaturas nestas eleições gerais, a situação que está sendo discutida é se o número de eleitas aumentou. Em um gráfico elaborado pelo jornal CFEMEA (http://www.cfemea.org.br/) este cria uma geografia espacial da nova bancada feminina por estado, por partido e o percentual de representação na câmara de deputados numa série histórica desde 2006. Nesse ano, 47 mulheres foram eleitas equivalendo a 9,16% de um total de 512 cadeiras. Em 2010, houve 45 eleitas ou 8,77% e este ano, 51 eleitas perfazem um total de 9,94% deputadas federais, com renovação de 29 e reeleição de 22, sendo estas dos seguintes partidos: PT (9), PMDB (7), PSDB e PSB (5, cada) PP, PTB, PRB, PPS, PTN e PSC (2, cada) e PDT, PTC, PMN, PV e DEM (1, cada). Entre os estados, os que mais elegeram mulheres foram RJ e SP (6, cada), MG (5), e Bahia, Tocantins, Amapá e Pará (3, cada). Nesse caso, este estado que apresentava 5,9% proporcional ao número de cadeiras (17) cresceu para 17,64%, uma vez que elegeu três mulheres, sendo uma reeleita e duas novas.
Quanto às deputadas estaduais, foi uma lástima. Tínhamos 7 mulheres eleitas em 2010 e neste pleito reduziu-se para 3.
Números e percentuais de mulheres eleitas não podem ser vistos como algo insignificante. O fato de três mulheres posarem competitivamente ao cargo máximo do país demonstra avanços nas conquistas, mas ainda assim, a sub-representação política ainda é um fato para este gênero.


(Texto originalmente publicado em O Liberal, em 10/10/2014)

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