segunda-feira, 30 de julho de 2012

MÁQUINA MORTÍFERA


 O ator Christian Bale (Batman) depositando flores para homenagear os mortos do Colorado

Repercute internacionalmente o massacre ocorrido num cinema em Aurora, Colorado (EUA), semana passada, na pré-estreia de meia-noite de “Batman, O Cavaleiro das Trevas Ressurge”. O acusado, James Holmes, flagrado saindo do cinema para apanhar seu carro na confusão gerada pelo pânico que se apossou dos espectadores, foi descrito como um introvertido, sem amigos (mesmo em facebook), estudioso (já cursava pós-graduação) e voluntariamente solitário (embora possuísse família). Pergunta-se o motivo de ter atirado nas pessoas que assistiam ao filme, assumindo a personagem de Coringa, um dos vilões da série Batman, morto no filme anterior dessa série (papel do falecido ator Hetch Laeder). Há quem culpe o rapaz por uma crise paranoica de incorporar o vilão do cinema e achar que atirando no público estava se “vingando” do fim do personagem, assim como do alijamento do super-herói no final de “O Cavaleiro das Trevas”, do mesmo diretor, Christopher Nolan, depois da morte de um cientista que ele poderia ter evitado.

O problema ganha múltiplos enfoques e não apenas na área psiquiátrica. O primeiro, evidenciado por jornalistas e cientistas, refere-se à facilidade com que armas de fogo são vendidas nos EUA. Michael Moore fez um documentário sobre um crime semelhante (“Tiros em Columbine”) onde ele entrevista o presidente do Clube do Rifle, o ator Charlton Heston, sobre a tragédia numa escola( próxima do cinema onde se deu o massacre atual). Heston recebeu o colega cineasta, mas não demorou na entrevista. Aborreceu-se com a acusação de Moore sobre o uso fácil de qualquer tipo de arma por qualquer pessoa. E sabe-se ainda hoje que o tema é tabu em política. Os dois atuais candidatos à presidência da república, o republicano Mitt Romney e o atual presidente Barak Obama em tentativa de reeleição, não tocaram no assunto em seus comentários sobre a questão, ambos expressando, apenas, pesar aos parentes das vitimas do atentado. Eles sabem que a proibição de armas faz perder votos. Mesmo que se chorem os mortos de tantas tragédias patrocinadas por doentes mentais (ou não) em momentos de fúria.

Os psicólogos examinam o jovem Holmes e a população do Colorado pede a pena de morte para ele. O uso de revólveres automáticos e o modo como ele entrou no cinema portando mais de uma arma estimulam as conversas sobre a efetivação do plano diabólico que engendrou. E se de fato pretendia explodir o prédio onde morava mais alusão se faz ao Coringa, do filme de 2010, morto na fogueira que provocou com a explosão de um edifício. Todos os detalhes cabem na analise da mente que os concebeu. E amplia-se esta investigação comparando Holmes com os matadores de diversos outros cenários não só norte-americanos (os noruegueses rezaram agora pelo aniversário do massacre no acampamento da juventude trabalhista em Oslo). Os casos ganham confissões díspares, uns criminosos afirmam convicção política como o caso da Noruega, outros reclamam de bullyng sofrido em escola, outros simplesmente se calam (como o assassino atual). O que se passa nessas mentes só tem um denominador comum: revolta. Contra uma comunidade, meio de expressar, de certa forma, uma autoafirmação que acham necessária em meio ao desconhecimento social de sua inteligência. Recentemente assisti ao filme “Footnote”, produção israelense, candidato ao Oscar/2012, onde um veterano cientista sempre ignorado em suas pesquisas ao longo de anos, sente ciúmes do filho que seguiu a mesma profissão e ganha mérito imediato. Ele não chega à violência física, mas o comportamento introspectivo dá a entender que tudo poderia fazer para ganhar a fama que estavam lhe devendo.

No mundo moderno, com a rápida propagação das noticias, os casos de atentados civis (excluindo os terroristas que se julgam em luta armada por suas nações), podem gerar imitações por pessoas com distorções neuropsíquicas semelhantes. É muito difícil vigiar quem entra armado em cinema, em jogos, em acampamentos, em colégios. Mas é certo que a arma mais usada pelos matadores é de fogo (revolver, rifle, bomba e se possível até metralhadora). Se a vigilância em lugares públicos é difícil, pode sair mais en conta o controle da venda de armamentos. Holmes comprou suas armas e munição pela internet. Esta facilidade pode ser usada pelos seus irmãos de idéias. Se o mundo alcançou um notável avanço tecnológico pode pensar num meio de bloquear o alcance de qualquer um a armamentos. Isto sem falar em vendas em lojas que pedem um currículo muitas vezes sem laudo médico. Assim como há exame para dirigir veiculo, renovável em períodos que variam de 2 a 4 anos, poderia haver exigência para os compradores de armamentos. É possivel que isso ocorra em algumas cidades do mundo, mas a continuidade dos crimes em massa faz sentir que algo não está funcionando. E há quem pense que realmente não adianta: marginal rouba arma. Os assaltos nas esquinas das metrópoles indicam a proliferação da violência como um paradigma do mundo moderno. Então cabe proferir “salve-se quem puder” e, pricipalmente, a ajuda de Deus.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de  27/07/2012)

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