quinta-feira, 23 de junho de 2011

A POLÍTICA DA CONVIVÊNCIA




O termo política remete a várias formas de enfocar um assunto em múltiplas áreas. A definição que possa ter para uma dessas áreas reflete determinadas maneiras de traduzir os desenhos de um jogo que pode ser de soma zero. A palavra em si tem múltiplas significações, desde a arte de governar, ao método de gerenciar os negócios públicos ou privados, passando pelos mecanismos de influenciar a opinião pública, ou a habilidade no relacionamento intra e interpessoal com um objetivo de alcançar determinados resultados e, na sapiência maquiaveliana – é a astúcia do “príncipe” para a obtenção de seu interesse próprio que na verdade define o governante ou a ética deste nas ações que promove para a manutenção do Estado e o bem da comunidade. Assim, não seria uma atitude boa ou má deste, mas construída conforme a perspectiva histórica.

A política tende a englobar vertentes variadas que vão da parceria com a filosofia que explora os vínculos com as argumentações conceituais e seus significados e a dimensão ontológica do mundo real despojado da mera opinião vinda do senso comum, presa às aparências e a realidade empírica. E a ciência da política arquitetada de várias formas, seja inscrita na teoria seja na base empírica.

Na verdade, meu interesse é argumentar como as nossas ações são marcadas pela política no seu cotidiano. E a convivência nessa trama engloba tanto o ser político da base pública quanto o do espaço privado.

No primeiro caso, ao olharmos a relação dos partidos políticos brasileiros inscritos formalmente e avaliarmos seus programas e estatutos vemos que a maioria não apresenta um diferencial que possa dar opções aos eleitores de escolher dentre eles um que se afine com seus princípios e interesse pessoal. O significado da diferença está na ação/atitude das lideranças que dirigem o partido. De 28 siglas partidárias apenas uns seis ou sete são partidos efetivos e parlamentares, ou seja, têm um grande volume de votos em eleições para variados cargos parlamentares ou majoritários. São partidos relevantes porque também apresentam o maior quadro de parlamentares nas casas legislativas. Ou na versão de W.G. dos Santos “ ...o effetive number off parties passou a ser considerado o “verdadeiro” número de partidos produtivos em contraste com a profusão de legendas puramente decorativas” (FGV, 2007).

O que faz nascer o que Jairo Nicolau chama de “partidos de cidadãos anônimos” é justamente a falta de acertos no jogo da convivência entre os líderes, pois a decisão vem de cima e não de uma deliberação de eleitores/as e/ou simpatizantes do partido pretendente do divórcio. Numa certa política da convivência quem é sábio discute democraticamente o programa desfeito e as possibilidades para reaver credibilidade, ou seja, verifica quais motivos levaram às divergências. É possível que o multipartidarismo encolhesse e só tivéssemos então os resultados de um quadro não decorativo, mas com agentes no poder atuando com resposividade, determinando com convicção a qualidade de suas práticas e com prontas respostas dessas ações ao eleitorado que os elegeu. O retorno de credibilidade aos “políticos” seria de confiabilidade na administração da res-pública que eles juraram realizar, tão esperada pelos cidadãos de um modo geral e não só pelos eleitores.

No atual “imbrólio” da ALEPA onde é possível verificar que uma minoria de parlamentares na gerência dos atos administrativos perdeu-se na designação de atitudes inescrupulosas de malversação das verbas públicas, a “convivência política” do “bem-estar” pessoal determinou as “normas” da corrupção e esta só emergiu pela quebra do “convívio político afetivo” de um casal. A grande soma de recursos repassados indevidamente a outras pessoas através de mecanismos da alteração de funções nos cargos ocupados pelos subordinados resultou no acúmulo de poder de uns auferindo regalias de qualquer tipo – influências e benefícios próprios - afetando a moralidade da administração pública. Corrupção ativa – oferecer/prometer benefício – e passiva – aceitar/receber as vantagens – mostram que ambos são atos criminosos.

Creio que há outra forma de convivência política nesse meio – a daquele/a do mais alto posto que diz não ter conivência com o crime e se supõe impedido de sua perpetração porque desconhecia o feito. Não há coerência nisso visto que ao assinar um documento que determina uma ação fraudulenta sem ler os termos do mesmo está incorrendo em mais um crime. O do desrespeito pela representação política recebida pelo apoio popular, se é parlamentar, pois violou os princípios básicos de sua função. O da irresponsabilidade com a coisa pública se é funcionário/a. São as multifaces do crime que por mais maquiladas que estejam acabam sendo descobertas e condenadas. Mesmo com os reclamos dos criminosos que preferem se fantasiar de vitimas.




(Texto originalmente publicado em "O Liberal" em 17/06/2011)


Um comentário:

  1. A política da convivência encerra então muitas facetas, incluindo a convivência que nada tem a ver com o interesse público, interesse dos representados em uma perspectiva ampla, não dos representados como uma panelinha. Interessante que poucos políticos parecem se preocupar com essa multiplicidade que tem facetas ilegítimas, que se afastam do político como interesse pelo público, interesse pelo destino e bem estar da coletividade representada.

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