segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A CRISE AMERICANA E O EFEITO POLÍTICO



O sistema capitalista se alimenta de crises, dizem alguns analistas da economia política que estudam as relações entre a economia e o poder no interior das nações. Em 1929 os Estados Unidos conheceram o que é vista ainda como a sua maior crise econômica, a chamada Grande Depressão. Culpou-se, entre outras situações, a euforia da vitória na Primeira Guerra Mundial. Produzia-se mais, como o caso do trigo que gerou uma super-safra a sobrar no consumo, consumia-se menos (o poder aquisitivo da população não acompanhava o aumento da produção), e quem pensava em ganhar mais na Bolsa de Valores passou a comprar ações de firmas que não se sustentaram no mercado. Veio a conhecida Quinta Feira Negra (24 de outubro de 1929) quando a Bolsa sofreu a maior queda da história e patrocinou suicídios de empresários.

Neste século os norte-americanos estão diante (pois ainda não foi extinta) de uma nova crise. Culpa-se o “boom” imobiliário, com pessoas comprando casas, financiando hipotecas por conta dos juros baixos e acabando por não ter como pagar, “estourando” bancos (que o governo obrigava-se a cobrir dívidas para não fechar casas de crédito tradicionais). Isto e a chegada das negociações pela internet a ponto de criar o NASDAQ, um índice especial de valorização apontado pela Bolsa de Valores de Nova York.

Na verdade, o processo de vai-e-vem da economia, alastrando-se para o plano mundial alavancado pela liderança que os EUA alcançaram depois de 1918 (quando venceram a Primeira Guerra), é muito complicado para ser demonstrado em detalhes percebíveis por quem não é economista nem expert em política de relações internacionais. Uma frase de Henry Ford é sugestiva: “É bom que o povo não entenda nosso sistema bancário e monetário, porque se entendesse, acho que haveria uma revolução antes de amanhã”.

O que me parece curioso agora é ver a receptividade de um problema de outra nação poder afetar a tantas, inclusive a nossa. Semana passada, o governo norte-americano lutou para que o Congresso aprovasse uma dilatação de seu crédito para evitar a moratória. Ganhou a luta e a margem de se endividar aumentou. Aquela assertiva: “devo não nego, pago quando puder”. E enquanto a grande nação do norte se coloca diante da batalha pelo equilíbrio financeiro, cortando gastos como se viu agora com a NASA onde literalmente foram “para o espaço” programas importantes como a volta à lua e a viagem a Marte (com os rescaldos técnicos que chegariam a todos, posto que esse programa espacial criou a chance da TV transmitida para todo mundo e no mesmo instante e/ ou a telecomunicação de longa distância), há uma queda de braço para manter o dólar como a moeda de referência mundial. Hoje, por exemplo, acontece o fato inédito de a moeda brasileira lutar para que o dolar americano passe na dianteira, dando alivio às nossas exportações.

O mundo ficou menor depois de guerras amplas ou/e setorizadas. É verdade que o aumento da produção bélica, gerando empregos no governo de Franklin Roosevelt, amenizou a crise gigante da virada das décadas de 1920 para 1930. E o governo de George W. Bush apostava na guerra pelo petróleo (mais do que a suposta vingança por um ato terrorista, segundo o documentário “Fahrenheit 11/9”de Michael Moore) por seu potencial econômico. Seu assessor do ramo econômico, Alan Greenspan (que vinha desde Reagan, Bush senior e Clinton), do Federal Reserve - FED foi considerado “o guru da globalização financeira”. Juros baixos contrariavam a expectativa de um futuro “boom”. Um documentário sobre o FED e as implicações que levaram ao problema repercutindo agora no governo Obama ganhou o Oscar da categoria em 2009: “Trabalho Interno” (Inside Job), do diretor Charles Fergunson. O filme inicia traçando a arquitetura da crise desde o governo Reagan, quando uma euforia propagandista exibia uma economia acima de qualquer ataque. E acusava pessoas. São vários os nomes citados que sobreviveram governos ganhando até mesmo respaldo de oposição (quem estava num governo republicano prosseguia no democrata).

Das lições dessas coisas, que se refletiram em países emergentes como o nossos (o presidente Lula chegou a chamar de “marolinha”), aprendeu-se que os ricos, no regime capitalista, não podem se considerar eternamente ricos. E os pobres cada vez mais pobres. Embora os EUA tenham fama de ser “a terra da oportunidade” nem sempre os menos aquinhoados (da sorte ou do dinheiro) conseguem subir na escala social.

A ironia ganha corpo agora quando, os cinemas ocidentais, exibem “Capitão America, O Primeiro Vingador”, ícone da xenofobia norte-americana, super-herói que nasceu na 2ª Guerra e hoje é “ressuscitado” até mesmo como porta-estandarte de valores alardeados por otimistas. Digo ironia, pois o herói que se veste com a bandeira americana não deve ser tão valente em economia. Os homens do dólar podiam colocar no lugar dele, agora, o Tio Patinhas. Este sim, sempre foi rico. E “pão duro”. Qualidade que os norte-americanos de hoje devem aprender para sair de uma perigosa lombada.

(Texto originalmente publicado em "O LIberal" de 5/08/2011. Imagem extraída de aveiro-aveiro.olx.pt)

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