terça-feira, 19 de julho de 2011

ÍNDIO RETIRANTE



Autor: Max Reis

(Poesia vencedora do II PRÊMIO PROEX DE LITERATURA (Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará- Troféu Inglês de Souza - 27.05.2011)

I

É difícil dizer em cada rima

O que já foi falado pela vida

Desse homem que desce na subida

E de costas dá passos para cima

Quando tudo está triste logo anima

Do gogó tira um som de melodia

E a tristeza sorri na cantoria

Quem se chega assovia e vai cantando

E quem parte se vai cantarolando

Com o peito repleto de alegria

II

Era o galo cantar de manhãzinha

Assanhando as galinhas no poleiro

Que esse homem-menino era o primeiro

A saudar a alvorada da cozinha

E depois do café, rosca e farinha

Já se via no seio da floresta

A pastinha caindo pela testa

E uma faca enfiada no calção

Índio preto, Bai-bai, raio e trovão

Um nativo espreitando pela fresta

III

Nesse tempo se andava devagar

Passos curtos, medidos, quase lentos

Como se bafejados pelos ventos

Co’a certeza que dava pra esperar

Fala mansa, pausada e sem gritar

Nas conversas alegres da varanda

Lá crescia o moreno em vida branda

Entre folhas, raízes e igapó

Imitando o cantar do curió

Onde a hora do tempo não desanda

IV

Mas ninguém sabe ao certo o seu destino

Onde e quando chegar sem nem ter ido

E por ser um valente e destemido

Foi seguir as pegadas de um felino

Bem mais certo dizer - um leonino

Na esperança de uma vida feliz

Lá nas brenhas assim é que se diz

Como se na grandeza da cidade

Estivesse uma tal felicidade

Invisível e a um palmo do nariz

V

Pôs o saco de roupa no cangote

E a faquinha na meia do sapato

Nem olhou para trás pra ver o mato

Transformar a tristeza num chicote

Quando o barco acendeu seu holofote

A saudade brilhou em sua pupila

Gota a gota uma dor fazia fila

E no canto dos olhos virou pranto

Noite escura de puro desencanto

Em que o medo não mata, mas mutila

VI

Aportou feito um pobre retirante

Entre as pedras do Beco do Cardoso

O pisar era um tanto temeroso

Nem lembrava a figura de um xavante

Cabisbaixo e com rugas no semblante

Adentrou pela casa meio triste

Da janela que a vida tudo assiste

Vislumbrou casarões e a velha igreja

Como em fim de oração disse “assim seja”

Passarinho não vive sem alpiste.

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Max Reis é natural da Cidade de Abaetetuba, Professor do Instituto de Ciências Biológicas/UFPA. E em sua referência à criação desse poema, me informou: "Fiz a poesia “Índio Retirante” em junho de 2010. Retrata a vida de criança de meu irmão Eugênio Reis (que se mistura com a minha) em nossa casa na cidade de Abaetetuba até a vinda de barco para Belém, com desembarque no famoso “Beco do Cardoso” e morada na praça do Carmo em frente à igreja de mesmo nome. A poesia segue em anexo. Espero que goste.Um grande abraço prima".

Obs. A imagem é de ademirhelenorocha.blogspot.com

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