sexta-feira, 26 de outubro de 2012

SEGUNDO TURNO & VARIÁVEIS



No próximo domingo, o eleitorado brasileiro vai retornar às urnas para sufragar os/as canditados/as que permanecem competindo por uma cadeira ao executivo municipal. A Constituição de 1988 introduziu o estatuto dos dois turnos nas eleições majoritárias brasileiras (presidente, governador e prefeito) para cidades com mais de 200 mil eleitores cujos candidatos não tenham atingido a maioria absoluta dos votos (excluindo-se os brancos e nulos), competindo os dois primeiros colocados. Por esses critérios, dos 5.568 municipios brasileiros, 83 teriam possibilidade de ir ao segundo turno, contudo, somente 50 é que estarão voltando ás urnas para a escolha de seus representantes ao executivo, sendo 17 capitais de Estado. Em Belém, os dois candidatos mais votados – Edmilson Rodrigues (PSOL), que obteve 33% e Zenaldo Coutinho (PSDB)  com 31% dos votos válidos – se enfrentarão para a decisão final.

Para analistas do comportamento eleitoral, há variáveis importantes que estão sendo articuladas neste período de enfrentamento daqueles que seguiram para o segundo turno. Uma primeira é o formato das coligações costuradas com os partidos, mesmo aqueles que competiram no primeiro turno e seus candidatos não alcançaram os votos suficientes para chegar aos primeiros lugares. Nesse aspecto, o “vale tudo” se torna uma necessidade para a arregimentação de votos, e as lideranças partidárias se encarregam de levar os eleitores da primeira hora a motivar-se com a nova indicação. Sobre isto, grande parte da literatura considera que o objetivo mais geral tende a ser a ampliação das chances eleitorais dos partidos em competição sendo que a decisão se torna estratégica sobre o ato de coligar-se com base em um cálculo de custos e benefícios. Nesse caso, a meu ver, embora se considere que para as alianças deva prevalecer a afinidade ideológica, emblematicamente, as lideranças partidárias avaliam os custos de uma ruptura com essa afinidade, mas também se os benefícios serão maiores, visto que está em jogo iminente a somatória de votos necessários para o/a candidato/a chegar ao êxito eleitoral.
         Para Carreirão & Nascimento (2008): “Se a realização de coligações com partidos de posicionamentos ideológicos diferentes é percebida pelos dirigentes de um partido como tendo um custo relevante em termos da perda de eleitores, simpatizantes ou militantes, isso pode levá-los a evitar realizar este tipo de coligação. Em caso negativo, ou no caso em que avaliem que a perda de simpatizantes e militantes é compensada pelo ganho em eleitores, pode prevalecer um quadro em que ocorrem os mais diferentes tipos de coligação, em termos ideológicos”. Nesse estudo, os autores classificam essas coligações em: consistentes, semi-consistentes e ou/ inconsistente  para os tipos de cargos em preenchimento.

         Outra variável que está na mira das lideranças & marqueteiros comprometidos com o êxito na campanha é o novo período de exposição na mídia, através do horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE). Segundo Fávila Ribeiro (1999, p. 445) “propaganda é um conjunto de técnicas empregadas para sugestionar pessoas na tomada de decisão.” No caso específico do período eleitoral & HGPE, esse estatuto objetiva centrar o interesse do eleitorado para o/a candidato/a demonstrando os pontos positivos e as vantagens que possam estar inerentes à imagem deste, escolhendo-o como o “produto final” do que está sendo publicizado. Registrar publicamente nome, imagem, planos e programas onde pretende atuar como provável vencedor do pleito garante, ao/a candidato/a, a maior visibilidade sobre quem é quem no processo.

Uma pergunta fica no ar: qual é a influência desta variável sobre o processo de decisão do voto do/a eleitor/a? O cientista político Antonio Fernandes Junior, que em 2001 realizou estudo na FFLCH/USP (restrito ao efeito da TV no processo de decisão do voto), centrado nas eleições de 1998 ao governo de São Paulo, observa que embora seja voz corrente que a maioria das pessoas não acompanha o HGPE, considerando-o tedioso e cansativo, na verdade, o eleitorado decide em quem votar a partir do que assiste através dessa mídia. Este seria um fator de curto prazo da campanha eleitoral, seguindo-se os comícios, as campanhas nas ruas e as conversas com as pessoas mais próximas. Eu colocaria as carreatas, as caminhadas (operação cara-a-cara com o eleitorado), o trânsito nas redes sociais e os vários mecanismos de contato com o “povo internauta”. No médio prazo de influência estão os fatos políticos ocorrentes no período de disputa que podem ser, sim, um meio de decisão objetivo. A ideologia é vista pelo pesquisador como elemento de longo prazo.
          A variável a qual me inclino é a divulgação do resultado das pesquisas de intenção de voto. Pergunta-se: este instrumento de avaliação por amostragem da opinião pública seria capaz de alterar a decisão de escolha a um/a candidato/a? Há uma velha polêmica sobre este ponto e a controvérsia ainda é grande entre as correntes que se consideram contrárias ou a favor da divulgação. Para Marilena Chauí, “a publicação das pesquisas eleitorais não serve apenas para tornar-se conhecida pela opinião pública, mas também, como forma de influenciar a opinião do público.”

Em 2010, o DataSenado (http://www.senado.gov.br) entrevistou 1.315 pessoas com mais de 16 anos, apresentando a seguinte pergunta: você leva em conta o resultado das pesquisas eleitorais na hora de decidir o seu voto? A maioria dos respondentes (59%) disse nunca considerar esse resultado como motivo de influência de sua escolha final. Para 23% sim, às vezes estes levam em conta ao decidir seu voto. Há, entretanto, 16% de respondentes que “sempre” consideram esses resultados de pesquisa.

Neste texto, ficam evidentes que todas essas variáveis vão estar somando aos resultados eleitorais deste segundo turno. Mas há as situações imponderáveis que estão na imprevisibilidade. Só depois da apuração das urnas saberemos o que garantiu o êxito de um dos candidatos.

 

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