No próximo domingo, o
eleitorado brasileiro vai retornar às urnas para sufragar os/as canditados/as
que permanecem competindo por uma cadeira ao executivo municipal. A
Constituição de 1988 introduziu o estatuto dos dois turnos nas eleições
majoritárias brasileiras (presidente, governador e prefeito) para cidades com
mais de 200 mil eleitores cujos candidatos não tenham atingido a maioria
absoluta dos votos (excluindo-se os brancos e nulos), competindo os dois primeiros
colocados. Por esses critérios, dos 5.568 municipios brasileiros, 83 teriam
possibilidade de ir ao segundo turno, contudo, somente 50 é que estarão
voltando ás urnas para a escolha de seus representantes ao executivo, sendo 17
capitais de Estado. Em Belém, os dois candidatos mais votados – Edmilson
Rodrigues (PSOL), que obteve 33% e Zenaldo Coutinho (PSDB) com 31% dos votos válidos – se enfrentarão
para a decisão final.
Para analistas do comportamento eleitoral,
há variáveis importantes que estão sendo articuladas neste período de
enfrentamento daqueles que seguiram para o segundo turno. Uma primeira é o
formato das coligações costuradas com os partidos, mesmo aqueles que competiram
no primeiro turno e seus candidatos não alcançaram os votos suficientes para
chegar aos primeiros lugares. Nesse aspecto, o “vale tudo” se torna uma
necessidade para a arregimentação de votos, e as lideranças partidárias se
encarregam de levar os eleitores da primeira hora a motivar-se com a nova
indicação. Sobre isto, grande parte da literatura considera que o objetivo
mais geral tende a ser a ampliação das chances eleitorais dos partidos em
competição sendo que a decisão se torna estratégica sobre o ato de coligar-se
com base em um cálculo de custos e benefícios. Nesse caso, a meu ver, embora se
considere que para as alianças deva prevalecer a afinidade ideológica,
emblematicamente, as lideranças partidárias avaliam os custos de uma ruptura
com essa afinidade, mas também se os benefícios serão maiores, visto que está
em jogo iminente a somatória de votos necessários para o/a candidato/a chegar
ao êxito eleitoral.
Para Carreirão
& Nascimento (2008): “Se a realização de coligações com partidos de
posicionamentos ideológicos diferentes é percebida pelos dirigentes de um
partido como tendo um custo relevante em termos da perda de eleitores,
simpatizantes ou militantes, isso pode levá-los a evitar realizar este tipo de
coligação. Em caso negativo, ou no caso em que avaliem que a perda de
simpatizantes e militantes é compensada pelo ganho em eleitores, pode
prevalecer um quadro em que ocorrem os mais diferentes tipos de coligação, em
termos ideológicos”. Nesse estudo, os autores classificam essas coligações em: consistentes,
semi-consistentes e ou/ inconsistente
para os tipos de cargos em preenchimento.
Outra
variável que está na mira das lideranças & marqueteiros comprometidos com o
êxito na campanha é o novo período de exposição na mídia,
através do horário gratuito de propaganda eleitoral (HGPE). Segundo Fávila Ribeiro
(1999, p. 445) “propaganda é um conjunto de técnicas empregadas para
sugestionar pessoas na tomada de decisão.” No caso específico do período
eleitoral & HGPE, esse estatuto objetiva centrar o interesse do eleitorado para
o/a candidato/a demonstrando os pontos positivos e as vantagens que possam
estar inerentes à imagem deste, escolhendo-o como o “produto final” do que está
sendo publicizado. Registrar publicamente nome, imagem, planos e programas onde
pretende atuar como provável vencedor do pleito garante, ao/a candidato/a, a
maior visibilidade sobre quem é quem no processo.
Uma pergunta fica no ar: qual é a influência desta variável sobre o processo de decisão do
voto do/a eleitor/a? O cientista político Antonio Fernandes Junior, que em 2001
realizou estudo na FFLCH/USP (restrito ao efeito da TV no processo de decisão
do voto), centrado nas eleições de 1998 ao governo de São Paulo, observa que
embora seja voz corrente que a maioria das pessoas não acompanha o HGPE, considerando-o tedioso e cansativo, na verdade, o eleitorado
decide em quem votar a partir do que assiste através dessa mídia. Este seria um
fator de curto prazo da campanha eleitoral, seguindo-se os comícios, as
campanhas nas ruas e as conversas com as pessoas mais próximas. Eu colocaria as
carreatas, as caminhadas (operação cara-a-cara com o eleitorado), o trânsito
nas redes sociais e os vários mecanismos de contato com o “povo internauta”. No
médio prazo de influência estão os fatos políticos ocorrentes no período de
disputa que podem ser, sim, um meio de decisão objetivo. A ideologia é vista
pelo pesquisador como elemento de longo prazo.
A variável a qual me inclino é a divulgação do resultado das
pesquisas de intenção de voto. Pergunta-se: este instrumento de avaliação por
amostragem da opinião pública seria capaz de alterar a decisão de escolha a
um/a candidato/a? Há uma velha polêmica sobre este ponto e a controvérsia ainda
é grande entre as correntes que se consideram contrárias ou a favor da
divulgação. Para Marilena
Chauí, “a publicação das pesquisas eleitorais não serve apenas para tornar-se
conhecida pela opinião pública, mas também, como forma de influenciar a opinião
do público.”
Em 2010, o DataSenado
(http://www.senado.gov.br)
entrevistou 1.315 pessoas com mais de 16 anos, apresentando a seguinte
pergunta: você leva em conta o resultado das pesquisas eleitorais na hora de
decidir o seu voto? A maioria dos respondentes (59%) disse nunca considerar
esse resultado como motivo de influência de sua escolha final. Para 23% sim, às
vezes estes levam em conta ao decidir seu voto. Há, entretanto, 16% de
respondentes que “sempre” consideram esses resultados de pesquisa.
Neste
texto, ficam evidentes que todas essas variáveis vão estar somando aos
resultados eleitorais deste segundo turno. Mas há as situações imponderáveis que estão na imprevisibilidade. Só depois da apuração das urnas saberemos o que garantiu o êxito de um dos candidatos.
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