Novos
eleitos novas tarefas. Os vencedores do recente pleito para a escolha de
prefeitos/as de diversos municípios brasileiros defrontam-se agora com os
problemas desses municípios que a comunidade eleitora elencou para resolução.
Em Belém, a TV Liberal tem exposto diversos desses problemas em reportagens
ilustrativas, com o repórter correndo ruas em péssimo estado de conservação
mostrando não só o estado físico dessas ruas como entrevistando moradores queixosos
de seus dramas. O jornal “O Liberal” também usou a opinião publica em questões
dedicadas aos candidatos. Essas questões cobriam diversos setores
administrativos sendo, os principais, voltados à tríade segurança + educação +
saúde. Em tese, os itens se equivalem na concepção do bem estar: não se vive
bem sem segurança, não se pode trabalhar esta segurança sem educar (e sabe-se
que a marginalização, até na concepção desse termo, é fruto da falta de uma
educação que leve a um emprego ou a um lugar na sociedade) e nada disso existe
sem saúde, não apenas com o cuidado médico, mas com os meios de tratamento de
doenças que vão do acesso à medicamentos a prontos-socorros e hospitais bem
equipados.
Os/as
novos/as prefeitos/as herdam, muitas vezes, problemas de difícil solução em
curto ou mesmo em médio prazo. Por isso, resta a questão de obras faraônicas
que se adentram a um primeiro plano para “mostrar serviço”. É certo que um
administrador deixa marca no que faz. E este ato de fazer requer o uso de
recursos que muitas vezes são deslocados de um lado para outro, guinados por
uma preferência que pode ser extremamente responsável, ou seja, locados onde
mais se precisa e requer complementação ou no caso de uma aposta que arrisco
chamar de turística, auferindo um plano muito evidente, mas nem sempre coeso,
com uma realidade dramática.
A Belém
do século XIX dirigida por Antonio Lemos procurou dar à cidade um toque europeu
que era pedido pela classe mais alta que explorava o comércio da borracha
nativa. Não à toa o nome de uma casa comercial: “Paris n’América”. Belém seria
esta Paris, com “terrasses”, um grande teatro e ruas do centro bem cuidadas e
ladeadas por arvores que dessem sombra aos transeuntes (as ainda existentes
mangueiras). Essa “belle époque” amazônida ganhou um resultado político
conflitante. Lemos foi escorraçado, banido como um inimigo da terra. E não se
diga que se viu depois, com os cuidados exigidos pelos opositores, a classe
menos favorecida. A cidade era pequena e havia mais campo para um trabalho
social. Mas se houve esse trabalho ele não foi projetado no tempo. No século
XXI, a capital paraense é uma metrópole que se expandiu para os lados e para
cima (além dos muitos novos bairros contam-se mais de uma centena de
edifícios). O que se podia trabalhar nas áreas básicas da comunidade (a citada
tríade que no tempo deu ênfase à segurança) ficou nas questões que passam pelos
administradores, muitas vezes usando-os como magos capazes de milagres que
jamais seriam operados com premência de tempo (4 anos).
O que se precisa resguardar no trabalho árduo que a
comunidade solicita é o aspecto histórico-cultural, o modo de ser dessa
comunidade, consubstanciado em tradições e no processo migratório (um grande
percentual de moradores migrou de outros estados e ou do interior, nos últimos
anos). No bojo da tríade, e além dela, há de se enfocar o modo belenense de
ser. O que fizemos, o que temos, o que podemos ter para o bem comum.
Na educação, lembro a fase das chamadas
“professoras leigas”, mulheres que ensinavam as primeiras letras como uma forma
de apostolado. Hoje nós temos professores formados, concursados e muitos
aguardando nomeação para o exercício do cargo. Temos muitas escolas, mas ainda
é pouco (e muitas estão mal conservadas ou sem uma vigilância que as mantenha
fisicamente sadias ou dê proteção aos alunos). São muitos os novos bairros e
nem sempre há escolas acompanhando esse crescimento. O mesmo se dá com os
postos de saúde. Se o número deles cresceu bastante, os que trabalham nesses
locais nem sempre são suficientes para a demanda. E se os prontos-socorros e
hospitais também cresceram, ainda assim, a necessidade de uma população
crescente faz listas de espera.
Mencionei a preservação de nossa cultura e isso se
dá no cuidado com o nosso patrimônio, com a recuperação de espaços centenários
(e ruas da mesma idade) e a divulgação permanente do que esses espaços
representam para a nossa história. Pode-se dizer, é matéria da educação. E,
tratando disso, lembro de um prefeito que pedia aos donos de casas a edificação
de suas calçadas com o premio de um abatimento no IPTU. É pouco, mas não é
tudo. Cuidar de ruas que nem são pavimentadas, olhando-se para o saneamento
básico (item da saúde), segue um cuidado com o recolhimento do lixo (que nem
sempre é feito a contento). Se as pessoas forem educadas a não jogar lixo na
rua por seu bel prazer o quadro melhora. Mas há resquícios do clima, a
proliferação de lamaceiros, o que parece lutar contra os que já lutam para
subsistir num quadro social menos (ou nada) favorecido.
É muito
trabalho para um prefeito. E como um maestro, precisa de bons elementos em sua
“orquestra” que o venham ajudar. É claro que não darão conta de tudo. Mas o ato
de tentar pode ser percebido.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA em 02/11/2012)
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