domingo, 4 de novembro de 2012

TEMPO DE TRABALHO


 

Novos eleitos novas tarefas. Os vencedores do recente pleito para a escolha de prefeitos/as de diversos municípios brasileiros defrontam-se agora com os problemas desses municípios que a comunidade eleitora elencou para resolução. Em Belém, a TV Liberal tem exposto diversos desses problemas em reportagens ilustrativas, com o repórter correndo ruas em péssimo estado de conservação mostrando não só o estado físico dessas ruas como entrevistando moradores queixosos de seus dramas. O jornal “O Liberal” também usou a opinião publica em questões dedicadas aos candidatos. Essas questões cobriam diversos setores administrativos sendo, os principais, voltados à tríade segurança + educação + saúde. Em tese, os itens se equivalem na concepção do bem estar: não se vive bem sem segurança, não se pode trabalhar esta segurança sem educar (e sabe-se que a marginalização, até na concepção desse termo, é fruto da falta de uma educação que leve a um emprego ou a um lugar na sociedade) e nada disso existe sem saúde, não apenas com o cuidado médico, mas com os meios de tratamento de doenças que vão do acesso à medicamentos a prontos-socorros e hospitais bem equipados.

Os/as novos/as prefeitos/as herdam, muitas vezes, problemas de difícil solução em curto ou mesmo em médio prazo. Por isso, resta a questão de obras faraônicas que se adentram a um primeiro plano para “mostrar serviço”. É certo que um administrador deixa marca no que faz. E este ato de fazer requer o uso de recursos que muitas vezes são deslocados de um lado para outro, guinados por uma preferência que pode ser extremamente responsável, ou seja, locados onde mais se precisa e requer complementação ou no caso de uma aposta que arrisco chamar de turística, auferindo um plano muito evidente, mas nem sempre coeso, com uma realidade dramática.

A Belém do século XIX dirigida por Antonio Lemos procurou dar à cidade um toque europeu que era pedido pela classe mais alta que explorava o comércio da borracha nativa. Não à toa o nome de uma casa comercial: “Paris n’América”. Belém seria esta Paris, com “terrasses”, um grande teatro e ruas do centro bem cuidadas e ladeadas por arvores que dessem sombra aos transeuntes (as ainda existentes mangueiras). Essa “belle époque” amazônida ganhou um resultado político conflitante. Lemos foi escorraçado, banido como um inimigo da terra. E não se diga que se viu depois, com os cuidados exigidos pelos opositores, a classe menos favorecida. A cidade era pequena e havia mais campo para um trabalho social. Mas se houve esse trabalho ele não foi projetado no tempo. No século XXI, a capital paraense é uma metrópole que se expandiu para os lados e para cima (além dos muitos novos bairros contam-se mais de uma centena de edifícios). O que se podia trabalhar nas áreas básicas da comunidade (a citada tríade que no tempo deu ênfase à segurança) ficou nas questões que passam pelos administradores, muitas vezes usando-os como magos capazes de milagres que jamais seriam operados com premência de tempo (4 anos).

O que se precisa resguardar no trabalho árduo que a comunidade solicita é o aspecto histórico-cultural, o modo de ser dessa comunidade, consubstanciado em tradições e no processo migratório (um grande percentual de moradores migrou de outros estados e ou do interior, nos últimos anos). No bojo da tríade, e além dela, há de se enfocar o modo belenense de ser. O que fizemos, o que temos, o que podemos ter para o bem comum.

Na educação, lembro a fase das chamadas “professoras leigas”, mulheres que ensinavam as primeiras letras como uma forma de apostolado. Hoje nós temos professores formados, concursados e muitos aguardando nomeação para o exercício do cargo. Temos muitas escolas, mas ainda é pouco (e muitas estão mal conservadas ou sem uma vigilância que as mantenha fisicamente sadias ou dê proteção aos alunos). São muitos os novos bairros e nem sempre há escolas acompanhando esse crescimento. O mesmo se dá com os postos de saúde. Se o número deles cresceu bastante, os que trabalham nesses locais nem sempre são suficientes para a demanda. E se os prontos-socorros e hospitais também cresceram, ainda assim, a necessidade de uma população crescente faz listas de espera.  

Mencionei a preservação de nossa cultura e isso se dá no cuidado com o nosso patrimônio, com a recuperação de espaços centenários (e ruas da mesma idade) e a divulgação permanente do que esses espaços representam para a nossa história. Pode-se dizer, é matéria da educação. E, tratando disso, lembro de um prefeito que pedia aos donos de casas a edificação de suas calçadas com o premio de um abatimento no IPTU. É pouco, mas não é tudo. Cuidar de ruas que nem são pavimentadas, olhando-se para o saneamento básico (item da saúde), segue um cuidado com o recolhimento do lixo (que nem sempre é feito a contento). Se as pessoas forem educadas a não jogar lixo na rua por seu bel prazer o quadro melhora. Mas há resquícios do clima, a proliferação de lamaceiros, o que parece lutar contra os que já lutam para subsistir num quadro social menos (ou nada) favorecido.

É muito trabalho para um prefeito. E como um maestro, precisa de bons elementos em sua “orquestra” que o venham ajudar. É claro que não darão conta de tudo. Mas o ato de tentar pode ser percebido.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA em 02/11/2012) 

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