Na segunda feira, 15, comemorou-se o dia do professor. Lembro
que em outros tempos havia festinhas nas escolas para marcar a data, ou uma
comemoração especial aos mestres. E os/as professores/as, o que fizeram ou
pensaram nesse dia para registrar o evento?
Com as redes
sociais bombando, ao visitar uma dessas
mídias, observei depoimentos interessantissimos sobre essa profissão, alguns
revelando-se ardorosamente convictos de que haviam abraçado esse mister como vocação
interessados pela formação educacional e pela aquisição do saber múltiplo onde
a profusão de conhecimentos tende a levar a novas trajetórias. Maneiras de ser
professor/a também se cruzaram nos post durante o dia inteiro, uns curtindo e/
ou compartilhando pensamentos sempre dignificadores dos educadores. Agradecimentos aos professores com os quais haviam aprendido a
“escrever, a ler, a andar, a abrir as janelas e as portas da vida, e,
principalmente, a pensar e despertar para o universo das escolhas” também
foramaram notas, conforme o dito de Dolores Coelho, em seu post no facebook.
Alguns/as lembraram
o filme “Ao Mestre, Com Carinho”(1967) e, de alguma forma, identificaram, nas
seqüências desse filme, lances de seu próprio cotidiano. As circunstâncias
apresentadas – que mostram um professor negro comandando a revolução
comportamental de jovens de etnias diversas, de baixo poder aquisitivo do East
End, bairro operário londrino, estimulando-lhes o gosto pelo saber e o respeito
por si próprios – catalogaram o filme no gênero comédia, mas é drama mesmo. Os
menos céticos, consideraram a possibilidade de transformar, nas mãos do mestre,
com o látego da tolerância e do reconhecimento das condições específicas, as
cadeias indecifradas da resistência que opera contra os bons princípios.
Do mestre que
se parabeniza pelo feito em sala de aula, ao professor que conseguiu chegar ao
topo de suas práticas e, por isso, é homenageado oficialmente, como demonstra o
personagem de Ingmar Bergman em “Morangos Silvestres”(1957), os tipos povoam as
escolas e o mundo e levam para a multidão um pouco do seu saber. Mas a
profissão já teve seus dias de glória e hoje cai em baixa. Do respeito aos
direitos e da exigência dos direitos em todos os sentidos sente-se que há um
esfacelamento social na postura do poder público em negar a esses profissionais
a dignidade de serem bem tratados, bem pagos e trabalharem em boas condições.
Interessante
observar que na perspectiva de gênero dessa profissão, discriminações são
sofridas de diversas formas. Um exemplo. No dicionário do Aurélio tem-se a
seguinte referência aos verbetes : [Do lat. professore.] S. m. 1. Aquele que professa ou ensina uma ciência,
uma arte, uma técnica, uma disciplina; mestre; 2. Fig. Homem perito ou
adestrado. 3. Aquele que professa publicamente as verdades religiosas.
Professor titular. 1. O que exerce cátedra (3); catedrático. A flexão para o
feminino (professora) o dicionário considera: 1.Mulher que ensina ou exerce o
professorado; mestra. 2. Bras. N.E.
Pop. Prostituta com que adolescentes se iniciam na vida sexual.
No tom da informação nota-se a diferença do enfoque. Do que
professa “uma ciência, uma arte, uma técnica”; etc., ou do que exerce cátedra,
no masculino, desloca-se o verbete para demonstrar que a mulher que é
professora simplesmente “exerce o professorado” ou que é “prostituta” a que
“serve” (o verbo usado por mim tem a expressão que se nota na frase, referente
à submissão da prostituta ao cliente) os adolescentes que se iniciam na vida
sexual”. O sentido popular brasileiro não tem nenhum tom irônico para o
“professor”. Ser catedrático é a compensação maior para aquele que ensina artes
& técnicas. E neste (ensino de artes & técnicas) a sexualidade é vista
como “arte” menor, prostituída. E quem a exerce é a mulher.
Tomei como exemplo o “Aurélio” somente para manter o fio
condutor de uma reflexão sobre a categoria de professor. Neste tom reflexivo
coloco uma outra pergunta: por que a comemoração pálida da mídia no dia do
professor? Veja-se a diferença quando a efeméride registra “dia da mãe”, “do
pai”, “da criança” e tem-se clareza da inexpressiva dimensão que hoje assume a
categoria em nível social e político. No primeiro caso, o reflexo da baixa
expressão acha-se nesse exemplo da mídia, mas também na ausência de referência
das escolas aos seus mestres. No segundo caso, o professor que é funcionário
público e cujos salários são baixos, mas pagando altos impostos a cada dia mais
excorchantes, tende a sair de uma greve sem que suas demandas sensibilizem os
altos escalões.
Por tudo isso,
pela comemoração que não veio, pela homenagem que não considerou o alto nível
de trabalho que cada professor/a realiza no cotidiano, assumindo uma rotina
massacrante e, muitas vezes humilhante (há quem não tenha dinheiro de ônibus
para ir à escola), temos que mostrar que não estamos em baixa estima. Nós
(incluo-me entre as/os colegas, em nome de 34 anos de magistério universitário)
sabemos que pagamos um alto preço na aquisição do saber, sabemos que temos
valor, sabemos que a sala de aula nem sempre é um espaço em evidência, como
sabemos que as noites e os dias de trabalho extrapolam domingos e feriados; nos
reconhecemos como transformadores do mundo. Nossas palavras são fortes para
criar a inflexão da mudança. Nós nos reconhecemos. E isso é o que importa.
Parabéns para todos/as nós !
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