sábado, 13 de outubro de 2012

AS PROSAS DAS FESTAS


 
O tempo é de festas. A maior celebração da comunidade católica paraense, o Círio de Nazaré, está no seu ápice. Cada paraense, mesmo aquele/a que não se alinha nessa ideologia religiosa, com certeza já reservou um tempo livre para arrumar a casa, comprar os patos & os demais ingredientes para o preparo da comida típica e, sem dúvida, não deixou de encomendar a maniçoba para um/a especialista dessa iguaria. Nesse tempo, também, os familiares vão chegando de todas as paragens. Recebê-los e prestigiá-los também faz parte da festa, alguns retornando, outros chegando pela primeira vez para louvar a santinha e ao mesmo tempo rever a terrinha, os parentes que não conhece, os lugares de Belém que foram incorporados à fisionomia da cidade. E ao chegar o dia da grande procissão, as vozes paraenses solidarizam todo o seu afeto nos dois lados que embelezam a romaria, o sagrado e o profano. De pés descalços, caminham pelas ruas acompanhando os carros e a santinha amada até o santuário. De lá para a casa e a mesa, os votos e as preces se transformam em novos cantares combinando a degustação das iguarias com os abraços e a memória de outro tempo de festa, no ontem saudoso onde tantos parentes dividiam sua presença agora só na lembrança querida.
Este ano, outra festa está no ar: a realização das eleições municipais que se torna, também, motivo de nossa prosa hoje. Recuso-me a achar que eleições são mero pretexto para eleger pessoas sem caráter como representantes políticos. Isso seria dar testemunho de nossa incompetência democrática. No domingo passado escrevi o seguinte post no facebook: “Neste dia de eleições minha constatação é de que somos mesmo um país democrático, todos/as construimos e fizemos por onde expor nossas posições políticas sem que houvesse censura, corte de nossas opiniões e/ou palavras hostís, pelo menos entre os meus amigos e amigas que compõem o quadro do face (mais de mil). Quero dizer que no dia de hoje faremos a nossa festa democrática votando naqueles que escolhemos como nossos/as candidatos/as fichas limpas, e, com certeza, cientes de que a política ainda é um dos eixos motores de nossa vida quer seja pública ou privada. Dai minha satisfação em amar essa área do saber. Às urnas, amigos/as, e bom momento de voto para cada um/a”.

Nesse pensamento, enquanto cidadã, convivo bem com a política, tenho meus próprios candidatos/as na hora de votar e tenho clareza dos equívocos ancestrais da base prática dessa área estudada há, aproximadamente, 26 anos, dos 34 de UFPA, época em que aprovei e realizei o primeiro projeto de pesquisa sobre as mulheres paraenses na representação política. Neste momento, não poderia deixar de estar à frente de mais uma pesquisa sobre o tema, embora o interesse por avaliar mais rapidamente os resultados, considerando a emergência dos fatos, tenha me levado à observação e extração de alguns dados agrupados interessantes, tanto no Brasil quanto no Pará, com ênfase sobre as mulheres.

Os dados do TSE com a última atualização em 10/10/2012 (muito mais eficientes do que no inicio de meus estudos) apontam, no Brasil, para 671 mulheres eleitas ao cargo de prefeita, de 2023 candidatas (33,16% destas) e 7.654 vereadoras, de 126.230 que se candidataram (ou seja, 6.06%). Não estou comparando pelo recorte temporal (2008) nem em gênero (eleitas em 2008), apenas evidencio um demonstrativo de que as mulheres estão saindo do espaço doméstico e profissional e adentrando num ambiente no qual ainda são sub-representadas. Os partidos que mais elegeram, para os dois cargos, foram: o PMDB, PSDB e PT, nessa ordem.

No Pará, para esse cargo majoritário, candidataram-se 68 mulheres, sendo que somente 22 foram exitosas (32,35%). Quanto ao cargo parlamentar, elegeram-se 256 vereadoras às câmaras municipais, de 5.044 candidatas (5.07%). Os partidos que mais elegeram mulheres acham-se entre os três já citados, incluindo-se, com boa representatividade, o PTB, PR, PSC e PDT, nessa ordem.

Devido a uma pesquisa em andamento, examinando a história de vida de prefeitas e vereadoras paraenses, a bolsista do GEPEM-PIBIC/UFPA Thais Pinheiro extraiu elementos interessantes sobre 2008-2012, em relação às prefeitas. Analisando os dados verificou-se que dos municípios  governados por homens e que agora estão sob o comando de mulheres constam os seguintes: Augusto Corrêa, Brasil Novo, Cachoeira do Piriá, Chaves, Cumaru Do Norte, Curuá, Curuçá, Faro, Itaituba, Maracanã, Marapanim, Nova Esperança do Piriá, Novo Repartimento, Ponta De Pedras, Prainha, Rondon do Pará. Os municipios onde havia prefeitas e estas ou não se candidataram e/ ou não conseguiram reeleição: Acará, Altamira, Aveiro, Belterra, Bujaru, Peixe-Boi, Santa Maria do Pará e São João do Araguaia. E os municípios que já havia mulheres no comando e que lograram a reeleição: Abaetetuba, Capitão Poço, Igarapé-Açu, Palestina do Pará e Primavera.

Num texto anterior, referi neste espaço a presença das donas de casa candidatas a prefeitas e vereadoras, no Brasil e no Pará. Constata-se no primeiro caso, que das 96 candidatas nessa ocupação, foram eleitas 28, sendo que no Pará, das 5 que se apresentaram, nenhuma foi exitosa. Quanto ao cargo de vereadoras, havia 20.323 candidatas, elegendo-se 449. No Pará, de 635 donas de casa candidatas elegeram-se 8 vereadoras e para prefeitas constando 5 candidatas, nenhuma foi eleita.

Da Nazica às eleitas aos cargos majoritários e proporcionais, tratei de mulheres. Espero as bençãos da primeira e, das segundas, que façam um bom governo de respeito e representatividade.

Obs. O G1 (globo.com/politica /eleições) contabilizou 26 prefeitas vitoriosas entretanto,  seguimos o sistema de estatísticas do TSE informa um outro número: 28.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA em 12/10/2012)

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