quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AUMENTO DO NÚMERO DE MULHERES ELEITAS EM 2012


 
José Eustáquio Diniz Alves

Doutor em Demografia

IBGE/ENCE


Ter, 09 de Outubro de 2012 19:28

 

O ano de 2012 marca o aniversário dos 80 anos do direito de voto feminino no Brasil e as eleições de 7 de outubro possibilitaram um pequeno aumento do número de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais e um aumento maior para as Prefeituras. Mas o avanço tem sido pequeno e o país ainda continua muito longe da paridade de gênero na política (50%/50%).

A Tabela 1 mostra que foram eleitas menos de 4 mil vereadoras nos municípios brasileiros em 1992, representando apenas 7,4% do total de vagas ns representações municipais de todo o país. Com a introdução da primeira política de cotas, em 1995, os resultados apareceram nas eleições seguintes. O número de mulheres eleitas passou para 6,5 mil vereadoras, representando 11,1%, em 1996. Foi o maior salto ocorrido entre duas eleições na história brasileira.

Nas eleições seguintes, em 2000, o número de mulheres eleitas chegou a 7 mil vereadoras, representando 11,6%. Em 2004, houve uma redução no número geral de vagas de vereadores e o número de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais decresceu para 6.555 vereadoras, mas houve um aumento do percentual, que foi para 12,7%. Nas eleições de 2008 houve uma pequena redução no número absoluto e no percentual de eleitas, pois 6.504 mulheres conquistaram vagas de vereadoras, representando 12,5% do total. Nas eleições de 2012 o número de mulheres eleitas chegou a 7.648 vereadoras, representando 13,3% do total de vagas. Estes números, embora baixos, são recordes na história brasileira.

Tabela 1

Número e percentual de mulheres eleitas para as Câmaras Municipais (Brasil: 1992-2012)

Ano
Número de vereadoras eleitas
Percentagem de mulheres eleitas
1992
3.952
7,4
1996
6.536
11,1
2000
7.001
11,6
2004
6.555
12,7
2008
6.512
12,5
2012
7.648
13,3

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

Um dos fatores que explicam o aumento do número de vereadoras eleitas foi a mudança da política de cotas. A Lei 12.034, de 29/09/2009, substituiu a palavra "reservar" por "preencher" e a nova redação da política de cotas ficou assim:

"Do número de vagas resultante das regras previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de 70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo".

A alteração pode parecer pequena, mas a mudança do verbo "reservar" para "preencher" significou uma alteração no sentido de forçar os partidos a dar maiores oportunidades para as mulheres. O ideal é que fosse garantido a paridade de gênero (50% para cada sexo) nas listas de candidaturas. Mas diante do baixo número de mulheres candidatas, a mudança da Lei em vigor já representou um avanço, mesmo que limitado. O primeiro resultado foi visto nos números de candidaturas femininas em 2012, conforme pode ser observado na Tabela 2. O número de mulheres candidatas passou de 72,4 mil em 2008, representando 21,9% do total, para 133 mil em 2012, representando 31,5% do número de candidaturas.

Tabela 2

Número e percentual de mulheres candidatas nas Câmaras Municipais (Brasil: 2008 e 2012)

Ano
Número de mulheres candidatas
Total de candidatos
% mulheres candidatas
2008
72.476
330.630
21,9
2012
133.868
419.633
31,9
% de aumento
84,7
26,9
-

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

O aumento do número de mulheres candidatas deveria ser fundamental para aumentar o percentual de mulheres eleitas. Porém, a maioria dos partidos lançou candidatas “laranjas”, ou seja, registrou candidatas apenas para compor a lista, mas sem condições efetivas de ganharem eleições. Faltaram apoio e investimento na formação política das mulheres. Faltou também apoio financeiro para sustentar as campanhas femininas.

 

A Tabela 3 mostra o número de mulheres e homens eleitos para vereadores e o percentual de mulheres eleitas, por Unidades da Federação (UF) e Regiões do Brasil, em 2008 e 2012. Nota-se que o percentual de vereadoras cresceu em todas as regiões, sendo que o Norte e o Nordeste continuam sendo as duas regiões com maior percentual de mulheres eleitas. Em 2008, o estado com maior percentual de mulheres eleitas vereadoras foi o Amapá e, em 2012, o Rio Grande do Norte tomou a dianteira na participação feminina nas Câmaras Municipais. A região Sul, especialmente o estado de Santa Catarina, apresentou o maior aumento entre as duas eleições. Mas a região Sul ainda continua atrás do Norte e Nordeste. A menor percentagem de vereadoras continua na região Sudeste, com o Rio de Janeiro e Espírito Santo ficando na lanterninha do ranking de participação política.

 

Tabela 3

Número de mulheres e homens eleitos para vereadores e percentual de mulheres eleitas
(Unidades da Federação e Regiões, em 2008 e 2012)

UF e Região
Homens
Mulheres
Total
% feminino
Homens
Mulheres
Total
% feminino
GO
1984
276
2260
12,2
2193
296
2489
11,9
MS
628
93
721
12,9
720
113
833
13,6
MT
1120
164
1284
12,8
1213
181
1394
13,0
CO
3732
533
4265
12,5
4126
590
4716
12,5
AC
175
29
204
14,2
193
32
225
14,2
AM
518
66
584
11,3
626
82
708
11,6
AP
122
30
152
19,7
134
32
166
19,3
PA
1173
195
1368
14,3
1435
266
1701
15,6
RO
425
57
482
11,8
469
64
533
12,0
RR
124
16
140
11,4
130
21
151
13,9
TO
1082
175
1257
13,9
1080
211
1291
16,3
NO
3619
568
4187
13,6
4067
708
4775
14,8
AL
781
151
932
16,2
880
167
1047
16,0
BA
3409
490
3899
12,6
3978
568
4546
12,5
CE
1445
292
1737
16,8
1782
365
2147
17,0
MA
1652
334
1986
16,8
1933
438
2371
18,5
PB
1718
317
2035
15,6
1865
320
2185
14,6
PE
1539
212
1751
12,1
1796
266
2062
12,9
PI
1749
284
2033
14,0
1776
360
2136
16,9
RN
1251
276
1527
18,1
1287
331
1618
20,5
SE
589
103
692
14,9
668
120
788
15,2
NE
14133
2459
16592
14,8
15965
2935
18900
15,5
PR
3265
424
3689
11,5
3424
440
3864
11,4
RS
4013
560
4573
12,2
4181
688
4869
14,1
SC
2426
271
2697
10,0
2477
385
2862
13,5
SU
9704
1255
10959
11,5
10082
1513
11595

 Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado em 08/10/2012)

 

A Tabela 4 mostra o total e o número de mulheres candidatas às Prefeituras do Brasil e o número e o percentual de mulheres eleitas em 2008 e no primeiro turno em 2012. Nota-se que o aumento do número de mulheres candidatas às Prefeituras (21,3%) foi menor do que o aumento do número de mulheres candidatas à vereança (84,7% segundo a Tabela 2). Mas o aumento do número de mulheres eleitas foi bem superior, chegando a 31,5%.

Ou seja, mesmo sem haver uma política de cotas para o Executivo municipal, o aumento foi maior do que o ocorrido no Legislativo muncipal, que já conta com uma política de ação afirmativa desde 1995. Contudo, o percentual de mulheres prefeitas passou de apenas 9,1% para 11,8%, continuando abaixo do percentual de mulheres vereadoras (13,3%).

 

 

 

Tabela 4

Total de mulheres candidatas e candidatos a prefeitos e número e percentual de mulheres eleitas
(Brasil, 2008 e 2012)

Eleição
Total de candidatos
Mulheres
Eleitas
% prefeitas
2008
15142
1670
504
9,1
2012
15128
2026
663
11,8
Variação
-0,1
21,3
31,5
-

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral: TSE (visitado 08/10/2012)

Podemos concluir que, neste ano de 2012, no momento em que se comemora os 80 anos do direito de voto feminino no Brasil, as mulheres deram um passo à frente na participação política em nível muncipal. Porém, de 1992 a 2012 o avanço foi, em média, de 1% no percentual de eleitas a cada eleição. Neste ritmo, a paridade de gênero nos espaços de poder municipais vai demorar 148 anos no Brasil.

A baixa participação feminina na política não corresponde ao papel que as mulheres desempenham em outros campos de atividade. Elas são maioria da população, já ultrapassaram os homens em todos os níveis de educação e possuem uma esperança de vida mais elevada. Nas duas últimas Olimpíadas (Pequim e Londres) as mulheres brasileiras conquistaram duas das tres medalhas de Ouro. Portanto, a exclusão feminina da política é a última fronteira a ser revertida, sendo que o déficit político de gênero em nível municipal não faz justiça à contribuição que as mulheres dão à sociedade brasileira.

 

Contato:

José Eustáquio Diniz Alves – demógrafo

Professor Titular do Mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE)
jed_alves@yahoo.com.br
(21) 2142.4689 ou 2142.4696 / 9966.6432

 

(Texto publicado anteriormente em http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/)

 

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