sábado, 29 de setembro de 2012

ESTRATÉGIAS DE SEDUÇÃO POLÍTICA




       Ainda criança, acompanhava o movimento político da minha cidade, Abaetetuba. Meus pais eram líderes de ativismos variados, quer religioso, quer partidário e então, a família toda ia junto “pedir” recursos para as festividades, no primeiro caso, e voto para os candidatos em época de eleição, no segundo. Desse tempo lembro os comícios em praça pública, das caminhadas em montaria pelos rios que margeavam a cidade, procurando sensibilizar o eleitorado para o nosso candidato, pela oratória da minha mãe, ela uma autêntica líder. A ênfase maior era para os candidatos ao cargo majoritário, prefeito, governador e presidente da república. As animosidades partidárias se cruzavam nos célebres foguetes de assobio quando uns e outros se estavam no espaço público (preferencialmente em comícios). O mais aguerrido dos embates foi em 1950, na eleição municipal de Joaquim Mendes Contente, da coligação, contra Pedro Pinheiro Paes, do PSD, ao cargo de prefeito, na estadual, Magalhães Barata contra Zacarias de Assumpção, ao governo do Estado, e à presidência, Getúlio Vargas, contra Cristiano Machado, Eduardo Gomes, entre outros. Nesses casos, os correligionários se integravam na estratégia de convencimento do eleitorado mostrando aos interlocutores os motivos de se votar neste e não naquele candidato.
Ao longo dos anos eleitorais essas estratégias foram mudando, deslocando-se do simples “tête-a-tête”, embora este ainda seja usado com frequência  havendo hoje um padrão legal normatizado pelo TSE. Contudo, as invenções de acesso ao eleitor/a para atingir a meta de êxito seja/esteja ancorada em qualquer aspecto de sedução. Candidatos/as mantém o corpo-a-corpo como meio de visibilizar a si próprios, procurando o contato direto com o público, não só com o eleitor, mas com os formadores de opinião. Também os do seu grupo político exploram esse contato diário com a população, principalmente agora com a facilidade do uso das redes sociais e a divulgação maciça de imagens de todos os tipos e formas desde o célebre “santinho” aos “posts” com indicação da agenda dos candidatos/as sobre os locais aonde serão oferecidas as informações a propósito de um programa de gestão a ser aplicado na cidade pelo concorrente exitoso, conforme as demandas colhidas em pesquisas, em denúncias de fragilidade da administração em vigor.
O enredo da campanha exige um discurso de metas do/a futuro/a gestor (e/ou parlamentar) que deve apresentar-se colado à imagem do/a candidato/a e, com isso, demonstrar aonde se acham os diferenciais entre eles/as. Em uma pesquisa realizada em 2002 (tese de doutorado) o script de questões privilegiou os temas recorrentes observados num programa de campanha eleitoral geralmente acompanhando o tom das demandas públicas. O resultado da observação delineou um quadro de questões repetitivas nos percentuais oferecidos, com os/as candidatos/as apostando na confiança emanada de suas figuras em aparições na mídia ou em conversa face-to-face com o eleitorado. Nessa perspectiva, saúde, educação, segurança, emprego e renda, por serem políticas de demanda inesgotável entre a população que vota, conduziram a maior opção entre os que estavam à procura de cargos. A diferença era o vigor da confiabilidade daquele que verbalizava o programa. Verificou-se que o enfoque sobre as questões da Amazônia (a luta contra a pauperização da região com a exploração mineral pelos grandes projetos) foi mais bem colocado que o relativo à soberania nacional (a preocupação com o processo de globalização).
         Difundir este enredo programático é outro fator que passa pela experiência dos que estão na competição e desejam seduzir. Qual o melhor meio de veiculação do programa e das imagens pessoais que poderiam ser responsáveis pela repercussão do valor dos/as candidatos/as com reflexos na urna eletrônica? As principais estratégias de campanha que os/as candidatos/as julgaram ter mais eficácia para seduzir o eleitorado a votar em seu nome  e o chamariz de voto recaíram no corpo-a-corpo. Os dois outros recursos ficaram no uso da mídia e na criação do marketing político para promoção da imagem pessoal. Não houve profundas diferenças nos percentuais entre homens e mulheres, podendo ser uma explicação, a luta eleitoral mais que o conflito de gênero pela conquista do eleitorado.
Neste estágio da competição eleitoral, num sistema em que o voto personalizado privilegia o ator individual (os/as candidatos/as) e não o ator coletivo (partidos), o modelo explicativo envolve dois principais atores: o eleitor médio e o/a candidato/a. Enquanto o primeiro, para escolher o/a candidato/a terá que obter uma quantidade de informações necessárias à sua decisão, o candidato/a vai ter que suprir as necessidades deste eleitor para obter o voto de que precisa para eleger-se ao cargo esperado. O nível de racionalidade de um tomador de decisão na arena política passa, necessariamente, pela quantidade de informação que este recebe e os custos para obtê-la num mundo de incertezas (cf.Antony Down). Para uma decisão racional, a posição do eleitor seria: a) ter conhecimento sobre as metas do/a candidato/a; b) saber como vai alcançá-las; c) e caso ele escolha a ou b, saber quais as conseqüências prováveis. Para isto, ele precisa de conhecimento contextual e da informação nos três estágios da pré-escolha e como um e outro são dispendiosos, podem ser tratados como informação.
As metas do/a candidato/a esperam ser asseguradas pela forma de transferir as informações, tanto do enredo programático quanto da confiabilidade da sua imagem a este eleitor médio. Daí considerar entre as estratégias de campanha o contato face-to-face (o corpo-a-corpo) por ser o mais seguro para a transferência da imagem, pois é possível gerar a confiança desejada.

(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 28/09/2012)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DONAS DE CASA NA POLÍTICA





Nos estudos que fiz na tese de doutorado sobre “Mulheres na Competição Eleitoral, Seleção de Candidaturas e o Padrão de Carreira Política no Brasil” (IUPERJ, 2004), um dos capítulos tratava dos antecedentes sociais e as trajetórias pessoais de candidatos e candidatas nas eleições de 1998-2002, no cenário partidário nacional e paraense. Interessava avaliar o perfil daquele ou daquela que aspirava a um cargo eletivo. Entre as variáveis adicionais (idade, escolaridade e estado civil) que constavam das fichas de inscrição dos/as candidatos/as junto ao TSE, a situação ocupacional se constituiu muito importante por evidenciar a presença de donas de casa que competiam. Esses perfis possibilitaram esclarecer que tipo de filiado/a no Brasil concorria a uma cadeira parlamentar (câmara de deputados e assembléia legislativa), tanto no Brasil quanto no Pará. Em 2002, as donas de casa estavam inscritas como candidatas em um número reduzido.

Continuando a pesquisar sobre esses assuntos, fiz o levantamento de dados das eleições 2012 (site do TSE) e dentre as diversas ocupações inscritas pelos concorrentes aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador mantém-se a de donas de casa. No Brasil, o total é de 20.274 candidatos aptos nessa ocupação, sendo 52 homens e 20.222 mulheres. Deve-se considerar a condição de candidato apto como um dado importante, pois alguns resultados podem sair equivocados quando o/a pesquisador/a esquece de extrair a situação do/a candidato/a.

No Pará há 3 donas de casa pleiteando o cargo de prefeita, nas cidades de Bannach, Juruti ( PMDB) e Mojuí dos Campos (PSC); 6 de vice-prefeita – em Senador José Porfírio (PSDB), Parauapebas (PTB), Tracuateua (PSOL), São João da Ponta (PSD), Ananindeua (PT) e São João de Pirabas (PHS). Para vereador há 1 homem, Alberto Vieira (PMN, inclusive, com um site para divulgar a candidatura constando a sua ocupação) e 641 mulheres distribuidas em diversos partidos, sendo os que apresentam maior número de candidatas donas de casa são:  PMDB (69), PSDB (48) e PSB e PSC (41 cada).

Num primeiro olhar (ainda não tratei os demais dados) observa-se que as atividades antes definidas como de homens e de mulheres estão perdendo a força.Evidenciam-se, por exemplo, percentuais de mulheres candidatas empresárias, comerciantes, áreas vistas anteriormente como fora dos “padrões” estabelecidos para elas. Trata-se de profissões nas quais as mulheres, com a conquista de uma posição mais destacada de atividades no mercado de trabalho, têm ingressado de forma expressiva, inclusive criando suas próprias associações, a exemplo, a Associações de Mulheres de Negócios agregando as que se acham nestas categorias ocupacionais. Há as que fazem  parte das Associações Comerciais estaduais, um lugar  que se restringia aos comerciantes e empresários do comércio em geral.

       A atribuição da categoria ocupacional dona de casa por mulheres que tem se candidatado nestas e em outras eleições (gerais e municipais) merece atenção devido o peso cultural discriminatório que as atividades relacionadas a esta categoria têm proporcionado às que se acham nesta situação. Ser “dona de casa” sempre representou o “não-trabalho produtivo” para a economia e o conservadorismo feminino contraposto às idéias avançadas das outras mulheres com atividades fora do lar. Ou seja, ser dona de casa induzia a reconhecer, nas tarefas domésticas, um trabalho desqualificado da mulher, fornecendo subsídios para caracterizar a cultura do apoliticismo entre aquelas que se consideravam e/ ou que se encontravam nesta ocupação. Por duas razões, chama atenção o fato de uma atribuição dessa natureza constar num quadro de demanda a um cargo eleitoral: primeiro, pelas idéias do apoliticismo feminino serem ainda hoje emblemáticas, quando é analisada a baixa oferta de candidaturas de mulheres para o preenchimento das cotas partidárias; segundo, pela atribuição ocupacional propriamente dita em um quadro de candidaturas.

Embora haja explicações para a inserção das donas de casa como aspirantes aos cargos eletivos tanto como demanda partidária às cotas de sexo e/ ou por se constituirem “candidatas laranja”, na verdade, é preciso analisar a situação considerando-as como um novo agente político e social. Elas passaram a fazer parte do cenário político nacional organizando-se em associações estaduais – entre as mais antigas acha-se o Movimento de Donas de Casa e Consumidores do RS, que desde 1988 atua em defesa da causa e das informações para as associadas através do site www.donadecasa.org.br. Outras associações atuantes: a de Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás. Elas já criaram uma confederação compondo parcerias diversificadas, tanto entre instituições públicas quanto privadas, com demandas específicas de cidadãs, lutando pelos direitos de proteção e defesa do consumidor, e pelo reconhecimento da identidade de trabalhadoras e da garantia previdenciária.

Hoje, a dona-de-casa pode ter uma aposentadoria e outros benefícios da Previdência Social, por invalidez, auxílio doença, salário maternidade e licença saúde, recolhendo 5% para o INSS (cf.os dispositivos na Lei  nº 12.470, de 31 de agosto de 2011, mas desde julho/1991 ela estava entre os segurados facultativos). É a nova face das mulheres nessa ocupação procurando reconhecimento público incluindo-se entre as aspirantes a cargos eletivos.
 
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA, de 21/09/2012 )

 

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

D. PEDRO I E AS CARTAS DE AMOR


Dona Domitila de Castro, a Marquesa de Santos e D.Pedro I

Aprende-se, quando criança, que no dia 7 de setembro o Brasil se tornou independente de Portugal. Sabe-se depois, ao consultar não só os livros didáticos de História, mas as diversas publicações de pesquisas em torno do assunto, que o tom épico deixado, ou seja, o grito “Independência ou Morte” foi moldado para enfatizar, com o garbo requerido em épocas passadas, o fato marcante. Fato que a tela de Pedro Americo tão bem sintetizou.

A independência brasileira é rara a considerar que foi proclamada pelo colonizador (um português deixado aqui pelo soberano de Portugal) e sem a carnificina que cerca as campanhas por emancipação de diversas nações.

Quando assumi a cadeira nº 1, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, cujo patrono é o escritor pernambucano Alberto Rangel (anteriormente ocupada por Aylton Quintiliano e Antonio Vizeu da Costa Lima) dissertei, na posse, sobre a obra que ele escreveu em torno do caso de amor entre D. Pedro I e Domitila de Castro: “D. Pedro I e a Marquesa de Santos (À vista de cartas íntimas e de outros documentos públicos e particulares)”, 1ª edição de 1916 (Livraria Francisco Alves). A estrutura dos 15 capítulos mantém um estilo de crônica histórica e biográfica, com narrador na 3a pessoa, num tempo linear embora dialogando com os fatos históricos e com as nuances da vida pessoal de D. Pedro I e da Marquesa de Santos. Paralelamente, cria interlocução entre as várias histórias, explora a historiografia existente sobre os fatos narrados e apõe outros documentos para serem analisados e repensados pelo leitor. Explora o momento do encontro entre os dois, a origem familiar da Marquesa, a sua condição de “teúda e manteúda”, as dimensões políticas da presença íntima da amada e sua condição de matrona, sempre chamando, para cada caso, os efeitos nacionais e internacionais dessa história particular. As cartas subjazem na esfera narrativa, sendo o meio de onde é extraído o subsídio do livro. Partes fragmentadas desses documentos servem de testemunhos para a impressão analítica.

No livro há 154 cartas dos amantes que Rangel vê como “uma literatura de pouca culminância e toda de ocasião” porque ela só “vale e representa para os que as escreveram ou receberam”. Mas reconhece a importância histórica que as acompanha. À vista disso, a narrativa do autor analisa, em forma de nótulas, cada carta escrita pelo Imperador à sua amada, desenvolvendo, a partir das referências que este faz a nomes, assuntos, termos específicos e particulares ou a própria assinatura, uma História paralela, seja de uma situação, seja da situação política luso-brasileira passada, ou daquele momento quando a independência transita como o “novo” no processo de poder político, mas que ainda é motivo de dúvida entre os brasileiros e a Corte. Há, também, a partir dessas nótulas, a construção de uma genealogia familiar dos dois personagens centrais e o perfil de um “homem” convivendo num cotidiano da “vida ordinária” onde se expressa enquanto marido, amante e pai carinhoso. Os termos usados por D. Pedro, para acarinhar a amada, também são repassados pelo olho observador de Rangel, que nessa condição assume múltiplos papéis, quer seja enquanto historiador (o peso maior das observações e comentários, enfim, de toda narrativa), enquanto psicólogo (das relações de gênero e da situação política nacional, internacional e pessoal criadas por essas relações) e enquanto um crítico (de uma certa História) que procura esclarecer o tom escabroso do acontecimento, na versão de outros historiadores e de uma literatura que omitira os fatos. Apresenta então outros documentos que rompem com as nebulosidades do “dito” e do “não dito”.

Os laços amorosos que mantiveram Domitila de Castro enredada ao Imperador durante sete anos (1822 a 1829) são o mote histórico de Rangel. As cartas de D. Pedro à sua súdita brasileira são declarações de amor que referendam, a meu ver, três fases desse envolvimento: a inicial romântica, a da rotina cotidiana e a da separação provocada pelas pressões para um novo casamento de Estado, do Imperador, após o falecimento da imperatriz D. Leopoldina.

Outra fonte de análise foi “Cartas de Pedro I à Marquesa de Santos”, edição de 1984 (Nova Fronteira), um conjunto de cartas de D. Pedro I a Domitila de Castro organizada por autor anônimo e publicada pela Tipografia Morais em 1896, com nótulas de Alberto Rangel. Este livro contém: 98 cartas datadas, escritas entre os anos de 1822 e 1829; 33 não datadas; e 23 que foram acrescentadas sem comentários de Alberto Rangel.

As cartas esclarecem o perfil dos amantes:

“Cara Titilia.

Foi inexplicável o prazer que tive com as suas duas cartas. Tive arte de fazer saber a seu pai que estava pejada de mim (mas não lhe fale nisto) e assim persuadi-lo que a fosse buscar e a sua familia que não há de cá morrer de fome, mui especialmente o meu amor, por quem estou pronto a fazer sacrificios. Aceite abraços e beijos e fo... Deste seu amante que suspira pela ver cá o quanto antes.

O Demonão.

(Santa Cruz, 17 de novembro de 1822.)

 
“Titilia.

Ontem mesmo fiz amor de matrimônio para que hoje, se mecê estiver melhor e com disposição, fazer o nosso amor por devoção. Aceite, meu benzinho, meu amor, meu encanto e meu tudo, o coração constante.

Deste seu fiel amante. O Demonão”. (1824).

 
“Meu bem.

Convindo ao meu decoro que mecê sempre apareça diferente no teatro todos estes tres dias, ai vai o colar de ametistas para hoje levar e amanhã leve o outro que eu lhe dei antes do que levou ontem. (...) Seu amante .

O Fogo Foguinho

(s/d, Cartas, 1974, p. 605)

 

E a última carta dos amantes:

“Marquesa.

Não repare que eu, a bem do meu negócio do casamento, lhe torne a escrever. Minha filha infalivelmente sai até dois de julho, e por isso eu muito desejo que a Marquesa saia pelo menos seis dias antes, o que vem a ser 26, porque muito convém que os que vão possam dizer “a Marquesa ja saiu” e não “está para sair”. Todos acreditarão o que aconteceu e não o que está para ser, que pode não ser, e o negócio é grave e muito grave” (...).de 22 de maio de 1828: (de 22 de maio de 1828. Cartas, 1974, p. 458).

 

Senhor meu senhor,

Eu parto esta madrugada e seja-me permitido ainda esta vez beijar as mãos de V. Majestade por meio desta, já que os meus infortúnios, e a minha má estrela, me roubaram o prazer de fazer pessoalmente. Pedirei constantemente ao céu que prospere e faça venturoso ao meu Imperador enquanto a Marquesa de Santos, Senhor, pede por último a V. M. que, esquecendo como ela tantos desgostos, se lembre só mesmo, a despeito das intrigas, que ela em qualquer parte que esteja saberá conservar dignamente o lugar a que V. M. a elevou assim como ela só se lembrará do muito que deve a V. M. Que Deus vigie e proteja como todos precisamos.”

Marquesa de Santos

Última carta da Marquesa para o Imperador. Na madrugada de 26 de 27 agosto de 1829, ela partiu, definitivamente, para o Rio de Janeiro.

 

sábado, 1 de setembro de 2012

ENTRE A CARREIRA POLÍTICA E A ESCOLHA

 


 
As pesquisas eleitorais conceituadas estão mostrando pêndulos de interesse do/a eleitor/a por este ou aquele candidato ou candidata ao cargo majoritário (executivo municipal) às próximas eleições, num momento que alguns subsidios de capital social estão sendo expostos pelos competidores, em suas campanhas políticas, como sejam bandeirolas, caminhadas nas ruas, nos meios midiáticos em que a imagem leva ao comprador do produto que tem tv aberta, rádio, imprensa e o que dispõem de outras mídias como as redes sociais (facebook, blogs, sites, orkut, twiter, myspace, etc. ), são subsidios que tendem ao reconhecimento desta ou daquela figura publicizada como o/a escolhido/a para sufragar. Aos os cargos parlamentares municipais, a situação é um pouco diferente, haja vista a proporção de candidaturas e o tempo exíguo em exposição pública. Mas em cada distrito eleitoral, os vários campos de exposição dos concorrentes são abertos e, assim, o eleitorado hoje tem mais chances de reconhcer quem é quem no processo, avaliando a carreira política de candidatos/as.

Na minha concepção, uma carreira política tende a acumular três níveis de trajetória pessoal, ou seja, o percurso que um/a cidadão/ã faz em várias áreas de sua vida. Na trajetória política, o capital social acumula-se em práticas sociais e nos movimentos políticos, considerando-se desde a fase estudantil. A trajetória profissional capitaliza valores no âmbito da profissão exercida. E a familiar extrai valores dessa base afetiva quando estes valores são herdados da geração anterior. Assim, um/a candidato/a tem este acúmulo como motivação e interesse na competição eleitoral.

Considerando que cidadãos/as ascendem ou descem esta escada em arranjos formais ou informais, explora-se o como e o porquê uma pessoa se torna “política” (no sentido weberiano), e se para isso há uma escala de valores numa trajetória pessoal que cria um padrão de carreira onde estão centradas as motivações pessoais e  partidárias dos aspirantes que desejam concorrer.

O cientista político David Samuels (1998), ao se perguntar qual a estrutura de carreira política no Brasil e quais conseqüências são observáveis sobre a ambição política dos candidatos, no país, explica, numa tese doutoral, em meio à metodologia qualitativa e fórmulas matemáticas, que os brasileiros não constroem carreiras congressionais porque estão mais interessados nas carreiras no plano local, diferentemente dos parlamentares norte americanos que apresentam alta taxa de candidaturas para reeleição. Diz que os candidatos brasileiros buscam a reeleição, porém não buscam o carreirismo num plano federal porque os benefícios do plano municipal e estadual são maiores em relação aos custos de uma baixa visibilidade congressional num distrito como o Estado e numa representação plurinominal. E que o estudo da estrutura de carreira política não pode se resumir às questões micro, “mas as questões macro do desenvolvimento institucional e político, como mudança de regime e outras questões que interessam os teóricos democráticos”. A maior evidência empírica que o autor apresenta é sobre a ambição política do competidor. Diz ele que esta “...inicia e finda no nível subnacional, com o legislativo nacional servindo meramente como um trampolim para altos cargos tipicamente no ramo executivo do governo municipal e estadual”.

E como o eleitorado observa esses detalhes para chegar às urnas com sua escolha definida? Há também teorias que dispõem, dentro do mainstream de cada área das Ciências Sociais, um enfoque diverso.

A sociologia, por exemplo, explica o comportamento eleitoral através das influências do ambiente sócio-econômico-cultural vivenciado pelos indivíduos, “gerando determinadas clivagens sociais que se expressam através de partidos específicos, com os quais setores do eleitorado se identificam” (Matta-Machado,1992). Corresponde a dizer que o eleitor/a é influenciado pelas interações intergrupais que realiza no ambiente social votando ou não nos candidatos que estão ao seu alcance interacional.

A corrente psicosociológica se baseia em variáveis que privilegiam as atitudes dos cidadãos com outros fatores característicos como etnia, escolaridade e status socioeconômico. Explicando a maior ou menor participação eleitoral “além de fatores institucionais e legais, influências interpessoais e barreiras não psicológicas – dificuldades físicas, por exemplo –, percepções, motivações e atitudes como: a força da preferência partidária, a percepção de que o resultado da eleição será apertado, o interesse com relação à política e à campanha, a preocupação com o resultado eleitoral, os sentimentos de eficácia política e da obrigação de votar.”(idem, 1992)

         A terceira vertente explicativa sobre a decisão do voto tem enfoque da teoria econômica sobre a racionalidade da escolha do eleitor. Os pressupostos de Anthony Downs (1957), baseados no individualismo metodológico, explicam as ações intencionais dos indivíduos para maximizar seus benefícios e otimizar seus ganhos no mesmo diapasão do mercado econômico:“De modo a atingir seus fins privados, eles formulam as políticas que acreditam que lhes trarão mais votos, assim como os empresários produzem produtos que acreditam que lhes trarão mais lucros pela mesma razão. (...) os cidadãos se comportam racionalmente em política.”(Down, p. 313).

         Em todas, a evidência ao personal vote é um fato.
 
 (Texto originalmente publicado em "O Liberal/PA", de 31/08/2012)