quinta-feira, 30 de março de 2017

UMA CARTA : SEXO CASUAL SEM ESPAÇO DE ILUSÃO




Recebi esta carta para publicar no blog. Achei importante o tema. Para este período de celebração do Dia da Mulher. 
Maria Maria

Você é minha namorada, minha mulher
minha amante e, principalmente,
minha amiga!

Essas palavras me falaram de um jeito que eu não me achava capaz de atrair. Elas tocaram fundo no coração de uma mulher que se achava tímida e insegura, há poucos anos saída de um casamento do qual a sexualidade já se havia retirado bem antes. Profissional bem-sucedida, muito bem com seu corpo, porém mal resolvida nas questões do afeto, do amor romântico e do sexo. Eu me permito curtir novidades da vida, procurando manter na medida do possível as rédeas da situação. Sei bem que nada está sob controle. A prova, o “romance” que vivi.
Compareceu na minha vida uma presença nova. Uma voz se tornou habitual durante quase três semanas. Era a voz de um homem de mais de sessenta anos, dizendo-se viúvo, microempresário, que conheci em uma rede de relacionamentos. Afinal, na minha idade, encontros são raríssimos, acho até que não existem, pois, os homens nessa faixa preferem mulheres mais jovens. Insistindo, contudo, nesse desejo, procurei a rede. Quem sabe, iria encontrar um chéri, como diz um amigo francês. Mesmo se breve, mesmo se sem qualquer compromisso, queria uma troca de amor, uma comunicação de corpo e, quem sabe, de alma.
Resolvi compartilhar essa história, porque talvez haja outras - ou outros -como eu, tateando nessa busca. No meu caso, desafiei o padrão de espera e recato. Mas, também, acabei por conhecer outro padrão social. Experimentei o sexo casual. No português sem rodeios, fui para a cama e, no após, virei coisa a se desvencilhar. Sexo casual é terra incógnita para uma mulher com uma história comum como a minha. Entrei sem manual de instruções, tipo adolescente mesmo.
As palavras quase mágicas – “amante, amiga, mulher” - ficaram gravadas no áudio do whatsapp. Pareciam prometer uma relação profunda, mesmo se breve, entre duas almas encontradas dias antes, no acaso de uma rede de relacionamentos. Hoje em dia, para mim, o tempo não conta muito, mas sim a intensidade dos momentos. Momentos podem ter suas eternidades. E, diante das conversas trocadas com aquele homem, permeadas de admiração, bom humor, carinhos, as últimas amarras que o medo do desconhecido me impunha, se soltaram de vez. Controles já meio frouxos... cederam.
Ao ouvir a mensagem no zap, logo digitei minha gratidão, especialmente pela jura da amizade, mas, também, por um amor que se desenhava sem cobranças, no qual não entrava posse, muito menos interesse nos haveres do outro. Sim, a promessa da liberdade mútua. E entre amigos amantes! Que auge!
As palavras certeiras me encantaram; entendi a famosa imagem do cupido e sua flecha. E, portanto, não percebi sinais contrários que ele me dava, tal como o pouco interesse em saber de mim. E, também, não estranhei o convite para “fazer amor” já no segundo encontro. Ele mesmo uma vez me corrigiu, quando usei a palavra transar, pois era amor que ele queria, não transa!
        Fui para o encontro combinado sem disfarces. Vestido colorido, brincos, pouca maquiagem. Decidida, me ofereci por inteiro, sem reprimir a vontade dele e a minha, mesmo consciente de que eu jamais estaria à vontade no primeiro encontro de amor. Eu estava disposta a passar a experiência da primeira vez com alguém que eu praticamente não conhecia. Para mim, o mais importante não seria o primeiro encontro, tenso, mas sim os próximos... Naquela noite eu estava alegremente exorcizando fantasmas da minha história de mulher que se achava sem atrativo, sem desejo e sem ser desejada... inábil no sexo. Jamais “gostosa”! Não precisei de bebida e disso estava orgulhosa. Queria mostrar meu corpo! Na verdade, eu não estava entregando nada. Eu achava estar compartilhando.
        Num certo momento eu percebi – que estranho! - que a preocupação dele era ser “eficiente”, queria me provocar prazer a todo custo. Como se precisasse me mostrar, ou mostrar para si mesmo, que era bom de cama! Para mim não era esse o maior atrativo! Eu até preferiria uma primeira noite só de carinhos, abraços e beijos. Sei que o meu prazer pleno viria com o tempo. Mas eu joguei bem o jogo da cama, fiz e consenti, sem vergonha ou culpa, pensando ser essa a regra a seguir. Eu pensava que no sexo estava expressando o sublime do amor maduro, ainda que ao preço de eu não relaxar de cara. Mas cumpria o que eu achava que devia. E suportei aquele homem que procurava eficiência nos gestos e movimentos. Hoje sei que era ato, não afeto. Era instrumentalidade, não encontro. Talvez ele mereça receber seu troféu nessa seara.
Após o sexo esperei ouvir sobre próximos encontros, um cinema, um jantar... Eles não vieram. Logo ele tinha de voltar ao trabalho. Vamos lá então! Era eu a motorista e o conduzi de volta. Ainda tão cedo de noite. Ele me procuraria, sem fixar quando. E não me conscientizei logo do fato de que a “nossa noite” foi brevíssima, no intervalo do trabalho dele, em um quarto de motel sem adereços. Tudo foi rude. A começar pelo quarto limpo, mas frio, apenas funcional.
Minha maior asneira, comigo mesma, foi aceitar sexo sem prevenção. Estúpida! Assumir comportamento de risco nessa idade! Eu achava que devia agradar para ser aceita. E aí abri uma brecha por causa de meus próprios carecimentos. Permiti, para ser aceita! Talvez até esse comportamento me tenha desvalorizado perante ele. Que fácil! Minhas fantasias de amor não eram as suas. Hoje eu tenho um conselho, se alguém precisar: se estiver carente, não entre em rede de relacionamentos! E, sobretudo, não acredite no interlocutor até mil provas em contrário.
        Após o encontro “quente”, mas seco, voltei para casa. Sensações bizarras. O vazio tomou o lugar da alegria. Que encontro foi aquele? Os telefonemas sumiriam em menos de dois dias. Participei de sexo casual, só carnal. Todos os ditos, imagens, risos, eram apenas preliminares para o sexo pelo sexo. Talvez a paga que ele não queria fazer para uma profissional.
Para onde vão as palavras? Especialmente as ditas com maestria quase poética? Eu nunca consigo dizer com tanta habilidade para um outro, o que não sinto. É como se diminuísse uma parte de mim... Tanto que não cheguei a chama-lo de “amor” como ele fez quase de imediato... É, essa história parece texto repisado, enredo pré-fabricado. Encontrei um expert nesse roteiro de atrair, “comer” e largar.
Consciente do que ocorrera, três dias depois liguei para o ex-amante, ex-namorado e ex-amigo. Eu queria conversar sobre seus exames de saúde, que ele me dissera ter feito. Buscava aplacar o medo que tomou o lugar do encanto. Mas, quando ele finalmente se dignou a atender, não me ouviu, foi grosseiro, dizendo-se ocupado no trabalho. Que entonação estranha! Quase violento quem tinha entrado no meu coração sem pedir licença e me elevado: você é tudo de bom... dito quase à exaustão.
Enquanto o ouvia ao telefone, vi num relance minha história, conquistas, meus anos de estudo, minha independência financeira... Me perguntei, por que estou ouvindo isso? Engoli a fala. Ele estava me arrogando um papel: o de mulher pegando no pé, cobrando amor, cobrando sei lá o que... Descartada. Acabou-se aí qualquer nova tentativa de contato. Tudo que eu faria depois para digerir esse desencontro, seria por mim mesma, com meus próprios recursos.
        Este é só um velho exemplo do cair no conto do amor? É um exemplo, sim. Mas acho que tem um aspecto a mais. Casos assim dizem sobre nossa contínua capacidade para o mal. Mal, por transformamos um dos encontros mais intensos de que somos capazes como seres humanos, a expressão sexual do amor, em ato só material, entre sujeito e objeto.
Chocou-me não ouvir uma gratidão por momentos que, de algum modo, tiveram belezas. Por que não um café para conversar como adultos civilizados? E, então, agradecer? E, depois, cada um seguir seu caminho? Acho que não fazem parte do script no qual toda a cena se inscreve. O script deve terminar com a vitória do macho que abateu a caça. Pensando bem, é pseudo-vitória. Relações desse tipo nos empobrecem a todos. São instrumentais. Parceiros sexuais não são coisas. Eu não estava buscando compromisso nem conto de fadas. Achei uma relação pessoal em que a pessoa não precisa estar.  
A ausência de empatia me leva a pensar que meu parceiro tem um quê de psicopatia. Ele tem seus tormentos e traumas, pois se permite prazer em contatos truncados e emoções distorcidas. Faz de sua inteligência de sedutor uma embalagem vazia. Não lhe guardo rancor. É uma pessoa enredada nas teias de relações mais indigentes de nosso meio. Vive o velho presente.
Este caso reflete um machismo que consagra o sexo como necessidade do homem e desvalor da mulher. Padrão antiquíssimo. As formas do machismo podem ter se abrandado, mas os sentidos permanecem. Sei que tenho um privilégio de poder viver essa história sem a mesma sujeição de mulheres de gerações passadas. Graças, em parte, à crítica feminista da nossa ordem social.  
Não entrei na história como vítima. Ter chegado lá, por certo, decorre das minhas próprias dificuldades, inseguranças, meus fantasmas. Queria ter a autoconfiança e o amor próprio de algumas de minhas melhores amigas. Bravas e independentes. E, por isso, me coloquei nessa posição de encontrar pessoas frágeis também, atormentadas que precisam de sexo para aplacar não sei quantas necessidades.
De um lado, errei feio. Relaxei controles. Mas, de outro lado, acho que é preciso falar sobre as muitas manifestações do machismo e como resistir. Especialmente, o que se dá nos contatos mais íntimos, entre quatro paredes, de onde se pode “quase tocar o céu”. Querendo encontrar um outro em plenitude, topei com a degradação humana. Naquele momento eu dei a ele o que achava lindo de mim. Mas, no texto, eu figurava como objeto.
Mais que nunca, é preciso exercitar a frase batida: gostar de si em primeiro lugar. É condição para bem gostar do outro. Um gostar não egoístico, solidário. Meu ex não gosta de si, não pode gostar do outro. O outro é peça. Nessa perspectiva, é possível pensar que o machismo é, no plano da cultura, a consolidação desse desamor pessoal. As relações de gênero que abrigam dominação e sujeição se estabelecem com base no desamor original.
Sexo casual, não importa a idade, é empresa arriscada.  E, quanto mais idade temos, menos tempo de aprender a se virar nesse meio sem empenhar a autonomia. Por isso eu quis escrever essa minha história. Sei que a trama é conhecida. Mas tenho certeza de que ainda não tiramos todas as suas lições.  E continuamos em busca de amor, em qualquer idade.


Obs. Imagem extraída de https://mejorconsalud.com/sexo-casual 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

PARA ALÉM DO “FAÇA ACONTECER”: POR UM FEMINISMO DOS 99% E UMA GREVE INTERNACIONAL MILITANTE EM 8 DE MARÇO


Por Angela Davis, Cinzia Arruzza, Keeanga-Yamahtta Taylor, Linda Martín Alcoff, Nancy Fraser, Tithi Bhattacharya e Rasmea Yousef Odeh.


As grandes marchas de mulheres de 21 de janeiro [nos Estados Unidos] podem marcar o início de uma nova onda de luta feminista militante. Mas qual será exatamente seu foco? Em nossa opinião, não basta se opor a Trump e suas políticas agressivamente misóginas, homofóbicas, transfóbicas e racistas. Também precisamos alvejar o ataque neoliberal em curso sobre os direitos sociais e trabalhistas. Enquanto a misoginia flagrante de Trump foi o gatilho imediato para a resposta maciça em 21 de janeiro, o ataque às mulheres (e todos os trabalhadores) há muito antecede a sua administração. As condições de vida das mulheres, especialmente as das mulheres de cor e as trabalhadoras, desempregadas e migrantes, têm-se deteriorado de forma constante nos últimos 30 anos, graças à financeirização e à globalização empresarial. O feminismo do “faça acontecer”* e outras variantes do feminismo empresarial falharam para a esmagadora maioria de nós, que não têm acesso à autopromoção e ao avanço individual e cujas condições de vida só podem ser melhoradas através de políticas que defendam a reprodução social, a justiça reprodutiva segura e garanta direitos trabalhistas. Como vemos, a nova onda de mobilização das mulheres deve abordar todas essas preocupações de forma frontal. Deve ser um feminismo para 99% das pessoas.
O tipo de feminismo que buscamos já está emergindo internacionalmente, em lutas em todo o mundo: desde a greve das mulheres na Polônia contra a proibição do aborto até as greves e marchas de mulheres na América Latina contra a violência masculina; da grande manifestação das mulheres de novembro passado na Itália aos protestos e greve das mulheres em defesa dos direitos reprodutivos na Coréia do Sul e na Irlanda. O que é impressionante nessas mobilizações é que várias delas combinaram lutas contra a violência masculina com oposição à informalização do trabalho e à desigualdade salarial, ao mesmo tempo em que se opõem as políticas de homofobia, transfobia e xenofobia. Juntas, eles anunciam um novo movimento feminista internacional com uma agenda expandida – ao mesmo tempo anti-racista, anti-imperialista, anti-heterossexista e anti-neoliberal.
Queremos contribuir para o desenvolvimento deste novo movimento feminista mais expansivo.
Como primeiro passo, propomos ajudar a construir uma greve internacional contra a violência masculina e na defesa dos direitos reprodutivos no dia 8 de março. Nisto, nós nos juntamos com grupos feministas de cerca de trinta países que têm convocado tal greve. A ideia é mobilizar mulheres, incluindo mulheres trans, e todos os que as apoiam num dia internacional de luta – um dia de greves, marchas e bloqueios de estradas, pontes e praças; abstenção do trabalho doméstico, de cuidados e sexual; boicote e denuncia de políticos e empresas misóginas, greves em instituições educacionais. Essas ações visam visibilizar as necessidades e aspirações que o feminismo do “faça acontecer” ignorou: as mulheres no mercado de trabalho formal, as que trabalham na esfera da reprodução social e dos cuidados e as desempregadas e precárias.
Ao abraçar um feminismo para os 99%, inspiramo-nos na coalizão argentina Ni Una Menos. A violência contra as mulheres, como elas a definem, tem muitas facetas: é a violência doméstica, mas também a violência do mercado, da dívida, das relações de propriedade capitalistas e do Estado; a violência das políticas discriminatórias contra as mulheres lésbicas, trans e queer, a violência da criminalização estatal dos movimentos migratórios, a violência do encarceramento em massa e a violência institucional contra os corpos das mulheres através da proibição do aborto e da falta de acesso a cuidados de saúde e aborto gratuitos. Sua perspectiva informa a nossa determinação de opormo-nos aos ataques institucionais, políticos, culturais e econômicos contra mulheres muçulmanas e migrantes, contra as mulheres de cor e as mulheres trabalhadoras e desempregadas, contra mulheres lésbicas, gênero não-binário e trans-mulheres.
As marchas de mulheres de 21 de janeiro mostraram que nos Estados Unidos também um novo movimento feminista pode estar em construção. É importante não perder impulso. Juntemo-nos em 8 de março para fazer greves, atos, marchas e protestos. Usemos a ocasião deste dia internacional de ação para acertar as contas com o feminismo do “faça acontecer” e construir em seu lugar um feminismo para os 99%, um feminismo de base, anticapitalista; um feminismo solidário com as trabalhadoras, suas famílias e aliados em todo o mundo.
Nota:
* “Faça acontecer” [Lean-in] é uma referência ao movimento inspirado no livro de Sheryl Sandberg, Lean in: Women, work, and the will to lead (New York: Random House, 2013. Versão em português Faça acontecer: mulheres, trabalho e a vontade de liderar. São Paulo: Companhia das Letras, 2013). A principal característica do movimento é a ênfase no empreendedorismo feminino (N. Da T.).
Cf.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A TRAGÉDIA ANUNCIADA DURANTE UMA DÉCADA


(imagem extraída de http://ondda.com/noticias/2016/08/rio-grande-do-norte-sofre-com-onda-de-feminicidio

Nota coletiva de posição sobre a ‘Chacina de Campinas’, 04.01.2017. Organizações feministas de todo o país e organizações aliadas somam-se na dor e no repúdio ao assassinato coletivo de mulheres, seguido de suicídio, ocorrido na madrugada do 1 de janeiro, em Campinas-SP. Nesta nota lançam novo alerta feminista ao sistema de justiça, de educação, de assistência social e à mídia.

A tragédia anunciada durante uma década

Era fim de ano, tempo de comemorar a chegada de um novo janeiro e o alento para os horizontes que estavam por vir. O Brasil, porém, amanhecia impactado com a forte repercussão de um crime violento cometido por um homem inconformado com o fim de uma relação. Entre os argumentos para assassinar, o agressor usou, em sua defesa, a vida da mulher e o desejo dela por liberdade. Era 1976, exatamente 30 de dezembro; e a vítima, Ângela Diniz.
Quarenta anos depois, em 1 de janeiro de 2017, tivemos nossa esperança no novo ano abatida por um feminicídio, que levou a violência a outro patamar. Ao assassinar nove mulheres de um mesmo círculo de relações em Campinas (SP), Sidnei Ramis de Araújo indicou que, para lavar sua honra, não bastava apenas matar a ex-companheira, o alvo de seu ódio. Foi necessário acabar com a vida de parentes e amigas.
Além da quantidade de vítimas fatais no crime, a carta deixada pelo agressor confirma a potência letal do ódio a mulheres. Se nos 40 anos que separam os crimes de Doca Street e Sidnei Ramis de Araújo, nós mulheres brasileiras avançamos em direitos, a estrutura de dominação patriarcal – responsável por matar 13 mulheres diariamente no país – conseguiu criar barreiras para que ainda não tenhamos conquistado uma vida plena de direitos.
Uma consulta a arquivos sobre feminicídios indicou esse como primeiro caso em que o assassino constrói uma narrativa em relação à lei que protege mulheres e crianças das agressões domésticas. “Filho, não sou machista e não tenho raiva das mulheres (essas de boa índole, eu amo de coração, tanto é que me apaixonei por uma mulher maravilhosa, a Kátia) tenho raiva das vadias que se proliferam e muito a cada dia se beneficiando da lei vadia da penha!”
Além das investigações e a responsabilização de eventuais envolvidos no crime (por ação ou negligência), é necessário refletir sobre como os poderes públicos têm colocado em xeque a Lei Maria da Penha. Apesar de ser uma das nossas maiores conquistas, junto com a a aprovação da lei do Feminicídio, a punição dos agressores e a prevenção concreta dos crimes ainda demandam mobilização social. Uma avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) apontou que a Lei conseguiu reduzir em 10% os homicídios de mulheres por violência doméstica, mas que ainda há diferentes graus de institucionalização dos serviços protetivos às vítimas pelo país.
Isamara Filier, ao longo de 10 anos, período que coincide com a aprovação da Lei Maria da Penha, registrou cinco boletins de ocorrência contra o ex-companheiro por agressão e ameaça, e também por abuso sexual contra seu filho. Sua morte se anunciava desde 2005. Onze anos depois, com o Estado falhando na prevenção e na proteção, o crime se concretiza.
O desejo de exterminar a maior quantidade possível de mulheres da mesma família – como ficou claro na carta divulgada pela imprensa – é um alerta. O ódio dos agressores de mulheres têm sim potencial para construir grandes tragédias. É com essa realidade que todos os atores sociais – os sistemas de Justiça, de assistência social, e também os de educação e os meios de comunicação – precisam lidar com a violência contra as mulheres. Somos o quinto país que mais assassina mulheres no mundo. Na visão de agressores como Sidnei, esta semana, ou Doca Street, 40 anos atrás, vadias somos todas nós mulheres que lutamos por liberdade e autonomia.
A morte de Isamara, seu filho, amigas e familiares demostra que as Leis não findam em si mesmas. A violência contra as mulheres é um problema estrutural da cultura machista, racista e homo-lesbo-transfóbica, que nega às mulheres o direito a uma vida livre e plena.
Nós – mulheres do movimento feminista organizado – não podemos deixar que a impunidade se perpetue. Comprometemo-nos a cobrar punições de imediato. Em paralelo aos avanços nas legislações, que precisam ser implementadas verdadeiramente, seguimos também na luta pela transformação da sociedade voltada à construção de um país que proteja todas as cidadãs e todos os cidadãos.

Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB)
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB)
Coordenação Nacional da Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ)
Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas
Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste
Movimento de Mulheres Camponesas
Partida nacional – Construindo a Democracia Feminista
Rede Nacional de Pessoas com HIV e Aids
Rede de Mulheres Negras do Nordeste
Coletivo Nacional de Mulheres do PSOL
AMB Rio, Rio de Janeiro (RJ)
AMB São Paulo (SP)
Articulação Aids Pernambuco, Recife (PE)
Articulação de Mulheres do Amapá (AP)
Articulação de Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA, MA)
Associação Catarinas, Florianópolis (SC)
Associação de Mulheres Buscando Libertação, Cariacica (ES)
Associação de Mulheres da Serra (ES)
AMB-Mato Grosso do Sul (MS)
Coordenação e Articulação dos Povos Indígenas do Maranhão (MA)
Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM/Brasil)
Diretoria de Políticas para Mulheres da Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco (PE)
Fórum de Mulheres do Sertão do Araripe (PE)
Fórum de Mulheres de Jaboatão (PE)
Fórum Cearense de Mulheres (CE)
Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense (PA)
Fórum de Mulheres Maranhense (MA)
Fórum de Mulheres de Imperatriz (MA)
Fórum de Mulheres do Amapá (AP)
Fórum de Mulheres do Distrito Federal (DF)
Fórum de Mulheres do Espírito Santo (ES)
Fórum de Mulheres de Pernambuco (PE)
Fórum Permanente das Mulheres de Manuas (AM)
Fórum de Mulheres do Rio Grande do Norte (RN)
Movimento e Articulação de Mulheres do Estado do Pará (PA)
Movimento Ibiapabano de Mulheres (CE)
Movimento de Mulheres Solidária do Amazonas (AM)
Movimento de Promotoras Legais Populares de Mauá (SP)
Movimento de Mulheres da Floresta – Dandara (AM)
Rede de Mulheres Negras de Pernambuco (PE)
Rede de Mulheres de Terreiro (PE)
Casa da Mulher do Nordeste, Recife (PE)
Casa Chiquinha Gonzaga, Fortaleza – CE
Centro de Direitos Humanos Pe. Josino, Imperatriz (MA)
Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), Brasília (DF)
Coco de Mulheres, Recife (PE)
Cidadãs Positivas de Pernambuco (PE)
Coletivo Marcha das Vadias Recife (PE)
Coletivo de Mulheres do Calafate, Salvador (BA)
Coletivo de Mulheres de Jaboatão (PE)
Coletivo Maria Vai com as Outras, ES
Coletivo Mulher Vida, Olinda (PE)
Coletivo Alumiá, Mauá (SP)
Cunhã Coletivo Feminista, João Pessoa (PB)
Coletivo de Mulheres Casa Lilás, Reife (PE)
Coletivo de Mulheres Passirenses, Passira-PE
Grupo Cidadania Feminina, Recife (PE)
Espaço Feminista URI HI (AM)
FASE
Grupo Curumim, Recife (PE)
Grupo de Mulheres Jurema, Ouricuri (PE)
Grupo Cultural Femini Nação (PE)
Grupo Mulher Maravilha, Recife e Afogados da Ingazeira (PE)
Grupo Alternativo de Geração de Renda da Economia Solidária, Belém (PA)
GEPEM/UFPA
GTP+, Recife (PE)
IMAIS, Salvador (BA)
Instituto Papai, Recife (PE)
Instituto Inegra (CE)
Mirin Brasil, Recife (PE)
NEPEM-UFMG, Belo Horizonte (MG)
Núcleo de Mulheres de Roraima, Boa Vista (RR)
N30 Pesquisas, RJ
Redeh, Rio de Janeiro (RJ)
Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pernambuco, Recife (PE)
Sítio Agatha – Espaço de Agroecologia Militante Feminista Étnico-Racial
SOS Corpo - Instituto Feminista para Democracia, Recife (PE)
Secretaria Estadual de Mulheres do PT (PE)
Secretaria de Mulheres da CUT (CE)
Uialá Mukaji Sociedade de Mulheres Negras, Recife (PE)
Zalika – Maternidade, Parto e Infância, ES
Grupo de Pesquisa/Uepa: Movimentos Sociais, Educacao e Cidadania na Amazonia - GMSECA, PA

Instituto Paulo Fonteles de Direitos Humanos , PA