sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

VOTO FEMININO NO BRASIL


A potiguar Celina Guimarães foi a primeira mulher a votar no Brasil.

No dia de hoje, as mulheres brasileiras celebram 80 anos da conquista do direito de voto, incluídas como eleitoras e elegíveis. Em 24 de fevereiro de 1932, o chefe do governo provisório da Segunda República, Getulio Vargas, promulgou o 1º Código Eleitoral, pelo Decreto nº. 21.076, adotando o voto direto, obrigatório, secreto e o sufrágio universal, em oposição ao sufrágio restrito. Esse código foi, inicialmente, incorporado à Constituição de 1891, até a nova, de 1934. A geração de hoje desconhece os trâmites legais e a luta das sufragistas pela conquista da cidadania política feminina, interessando que se dêem algumas notas sobre isso.
        Veja-se que até os meados século XIX por "sufrágio universal" compreendia-se apenas o voto de homens adultos. Mas, as discussões sobre o voto feminino no Brasil vislumbram-se desde o Império quando, na Câmara dos Deputados Gerais, José Bonifácio de Andrada e Silva "advogou a causa do sufrágio de qualidade, defendendo o voto para as mulheres diplomadas por uma escola superior. A pretensão não vingou, amortecendo-se, por toda época imperial, em suas duas fases distintas".

A Constituição de 1824 (a primeira elaborada após a Independência), inspirada nos ideais da Revolução Francesa, no Artigo 178, XII, refere sobre o princípio de igualdade. Mas naõ se observa qualquer proibição efetiva ao voto feminino. Nesse período, há ainda uma voz favorável ao direito das minorias à representação: José de Alencar. Em seu livro “O Sistema Representativo” (1868) considera que as barreiras ao sexo, à idade, à doença das pessoas impedem a verdadeira democracia, pois qualquer ente racional tem parte na fração de soberania.

Com a mudança, em 1889, do regime monárquico, unitário, absolutista e representativo, para o regime republicano, federalista, representativo-presidencialista e bicameral, essa forma de governo exigiu um novo desenho de organização política e social, com base nos princípios liberais democráticos. No capítulo referente ao direito de voto, o “Governo Provisório não cogitou de dar voto às mulheres; mas, na comissão dos 'vinte e um', os Srs. Lopes Trovão, Leopoldo Bulhões e Casimiro Jr. tentaram obter que esse direito fosse concedido apenas "às mulheres diplomadas com títulos científicos e de professora, desde que não estivessem sob poder marital nem paterno, bem como as que estivessem na posse de seus bens". A Comissão não aceitou a emenda. Duas outras foram apresentadas aos constituintes, mas apesar dos debates exaustivos sobre a matéria - uns supondo que o termo cidadão não restringia a extensão do sufrágio às mulheres e, outros, considerando uma "idéia anárquica, desastrada fatal" conceder o direito do voto à mulher - ambas foram rejeitadas, possivelmente deixando que a solução viesse através de lei ordinária, visto que não apresentaram nenhuma cláusula incluindo as mulheres entre os inelegíveis.
          Mas o debate continuou entre um grupo nascente de sufragistas e membros parlamentares. Em dezembro de 1919, o senador paraense Justo Chermont apresentou o Projeto nº 102: "Artigo único: São extensivas às mulheres maiores de 21 anos as disposições das leis no 3.139, de 2 de agosto de 1916, e 3.208, de 27 de dezembro de 1916, revogada a legislação em contrário".

         No Parecer nº 21, de 11/05/1921, a Comissão de Constituição e Diplomacia fez um amplo arrazoado em torno da situação sufragista internacional, considerando o nível de desigualdade legal vivida pela mulher, em relação a outras leis de países que incluíu o direito do voto feminino na alçada da legislatura nacional. Desmistifica as regras "naturais" que desconsideravam a real capacidade desse gênero para as atividades intelectuais e exemplifica com fatos heróicos de mulheres que se projetaram nas diversas atividades. E, finalmente, considera constitucional o projeto do senador Chermont para ser incluído na agenda dos trabalhos legislativos, embora indique restrições que devem ser respeitadas, restrições implícitas na normatização dos afazeres públicos das mulheres, constante do Código Civil de 1916 que restringia a entrada da mulher em algumas carreiras, como a de juizes eleitorais e as de cargos eletivos como a de Presidente da República. Estes constrangimentos, como se pode ver, fazem parte das normas da esfera privada cujas raízes se achavam na ordem natural que fundamentava a condição da mulher na sociedade. O projeto do senador Justo Chermont não foi convertido em lei.

Em 1927, a inclusão de lei elaborada pelo então governador Juvenal Lamartine, (Rio Grande do Norte) e votada pela Assembléia, favoreceu o alistamento de mulheres, as quais, no ano seguinte, incluíram-se entre as primeiras votantes brasileiras, sem que seus votos fossem contabilizados para o candidato de sua escolha por ser a lei estadual incompatível com a lei federal.

Até 1932, como se vê, muita luta foi deflagrada pelas mulheres e, em fevereiro, a vitória. Hoje, o eleitorado feminino no Brasil corresponde a 51,95% do total (dados novembro/2011). E temos uma presidente da república.


domingo, 19 de fevereiro de 2012

TUDO É CARNAVAL

Carnaval é uma festa originária da Grécia entre 600 a 520 a.C.. No período, os gregos realizavam cultos em agradecimento aos deuses, pela fertilidade do solo e pela produção. No final do século V, a comemoração foi adotada pela Igreja Católica. O período ganhou o nome de "carne vale"(adeus à carne), termo latino que marcava o inicio da quaresma, ressaltando-se a abstinência de carne. No passado, o carnaval era o tempo das fantasias e dos bailes, com um esplendor gravado em alguns lugares, como Veneza. Naturalmente, chegou ao Brasil com os descobridores. E não tardou a ganhar popularidade, capaz de legar ao país, o adjetivo de “país do carnaval” (assim como sobre o futebol).
Nosso tropismo pelo carnaval é mais amplo do que é possível pensar observando os desfiles de blocos e escolas de samba em diversas cidades. Há uma “carnavalidade” também na politica. E é um fenômeno historico. Quando da indepêndencia, já eramos carnavalescos a ponto de seduzir o primeiro imperador. Mas a adoção do samba, um ritmo que se formou com os negros escravos, derivado do batuque, deu uma roupagem toda especial à festa. É comum dizer para os problemas não resolvidos que “vão dar samba” (sinonimo do hoje “vai dar em pizza”). E a explicação está nas letras das músicas colocadas desde o século XIX que criticavam governos e posturas.

É muito rico o repertório carnavalesco de critica politico-social. E o ritmo lançado no carnaval não é só o samba: é também (e talvez em maior numero) a marcha. Na Primeira Republica tivemos, por exemplo, uma alusão ao presidente Washinton Luís cantando: “Dr Barbado foi se embora e deu o fora,/(e o coro:) Não volta mais (bis)”
Getulio Vargas teve mais sorte. O Estado Novo ganhou simpatia pelas medidas de proteção ao trabalhador. E isso levou a cantar, quando o ditador foi obrigado a deixar o governo: ”bota o retrato do velho outra vez/bota no mesmo lugar/o sorriso do velhinho faz a gente se animar”.

O periodo de Juscelino Kubitschek, na Presidência da República confundiu-se, em música de carnaval, com a inauguração de Brasilia. Cantou-se: “...Palacio da Alvorada bossa nova/de uma nova Canaã/Brasil que trabalha/Brasil de amanhã/ Brasil que se levanta/Brasil de JK.....”
A ilusão de Janio Quadros foi levantada a partir do emblema da campanha desse candidato a presidencia: “Varre, varre, varre, varre vassourinha/ varre, varre a bandalheira...”

Jango não chegou a dar samba e os militares que o sucederam deram menos. O que se cantou no carnaval foi de encomenda ou de bajulação, apoiando os lemas dos governantes (“Pra Frente Brasil”, por exemplo). A redemocratização custou a ganhar um ritmo. “Lu-la-lá” seria a próxima música (ou o “Vermelho, vermelhaço, vermelhão”..na voz de Fafá de Belém). Mas isto não quer dizer que ritmos diferentes de ação politica estivessem de fora do “repertório” popular. Mesmo sem entoar sambas ou marchas, o povo assistiu a “danças de cadeiras”, de posturas, de idéias e reprimendas. O confisco da poupança do governo Collor e a consequente (por denúncia de corrupção partida do próprio irmão do presidente) geraram uma das maiores concentrações populares da historia nacional: o comício pelo “impeachment”. Replay ampliado do que foi visto anos antes pelas “eleições diretas já” ou o fecho da ditadura implantada a partir da deposição de João Goulart, o vice do renunciante Jânio. Muitas CPIs, muitas mudanças em governos, e hoje o povo aprendeu que se tudo pode dar samba este samba pode estar de acordo com o que o povo pensa, sente e deseja.
O pitoresco no “país do carnaval” é que a contravenção patrocinou desfiles de alegorias (o caso do “Jogo do Bicho”) e um paparazzi chegou a tirar uma foto de um Presidente, num desses prestigiados desfiles carnavalescos, ao lado de uma “vamp” sem calcinha. O brasileiro não perdeu o humor com os chamados “anos de chumbo”. Depois das torturas, da censura que proibia músicas (carnavalescas ou não), livros, peças de teatro e filmes, ele continuou cantando. E os “sujos”, os mais espontâneos carnavalescos, ainda continuam vestindo caricaturas de politicos e satirizando posturas. Isso vem desde “o cordão dos puxa-sacos cada vez aumenta mais” . Para manter o título de “país do carnaval” é preciso a exibição da alegria. Felizmente ainda se canta para manter esse patamar. É parte de nossa índole, de uma feição cômica advinda da miscigenação a partir de coloniozadores que não resistiam a encantos de outras etnias. Apesar de Lamartine Babo evidenciar a discriminação naturalizada (“e como a cor não pega mulata/(...)”, também ouvia-se “linda morena/morena que me faz penar/ a lua cheia/que tanto brilha/não brilha tanto quanto o teu olhar!”.

O humor brasileiro ganha gerações e desafia o futuro. Como dizia Moacyr Fenelon na abertura de seu último filme, “Tudo Azul”(1951), ele “não ri da desgraça alheia/mas da própria desgraça”.

 (Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA, em 17/02/2012)



sábado, 11 de fevereiro de 2012

OS TEMAS E OS COMPROMISSOS


Aprendi com meus mestres do IUPERJ (hoje do IESP/UFRJ) no período do curso de doutorado em Ciência Política, que nem sempre somos versados em multiplas teorias. Se para alguns essa assertiva configurava repelir problemas polêmicos, a mim me parece sabedoria. Alguém versado em Marx pode ter lido os teóricos utilitaristas e os liberais, mas o compromisso dele é com o conteúdo mais acumulativo.
O preâmbulo vem à conta de meus compromissos neste espaço, por vezes deslocando de um assunto na “ordem do dia” nem sempre com base em teorias da minha qualificação específica, mas por reconhecer certo compromisso mais afinado com as minhas origens. Este é o caso dos 80 anos do Colégio Santa Rosa celebrado em janeiro deste ano. Se por um lado é um tema afetivo às jovens da minha geração que por lá passaram, não deixa de ter hoje certo grau de avaliação e análise sobre um cotidiano marcado por um modelo de sociabilidade para as mulheres daquela época, dificilmente recuperado pela História devido a falta de incentivo à pesquisa sobre essa situação vivenciada nos colégios de freiras.

Em 2010, elaborei um projeto de pesquisa para ser executado por um grupo de colegas, ex-alunas do ‘Santa Rosa”, que àquela altura celebrava 50 anos de formatura nas áreas do curso pedagógico e de contabilidade. “O Protagonismo das Mulheres de uma Geração. História e memória das formas de sociabilidade de paraenses dos anos 1930 a 1950” foi o titulo dado. O interesse era chegar a uma imagem do que teria mudado para essa geração de estudantes algumas remanescentes do internato, outras externas, em torno de sua vida particular e profissional. A justificativa era a seguinte:
A geração de mulheres brasileiras da classe média dos anos 30-40-50 teve uma formação tradicional cujas marcas fortaleceram a educação e a sociabilidade das meninas e meninos desse período. Seguindo os padrões da sociedade da época, mantinham-se submetidas/os a um modelo que se expressava desde o comportamento na família, na escola, na vida social, na religião, sendo, os “guardiões” do cumprimento dos costumes e das normas, os adultos da geração mais velha, podendo ser os pais, avós, tios e tias, o pároco etc.. O modelo era bipolarizado: o preparo das meninas para o casamento e a vida privada, e dos meninos para a vida pública com o dever de este ser o provedor. Às meninas, ensinava-se a manterem os valores sociais que determinavam o padrão da “boa moça” que deveria conhecer os mais específicos ditames da imagem privada e pública de sua condição de mulher. Ou seja, eram “feitas para o casamento”, deviam conhecer todas as atividades próprias à “carreira doméstica” cujo percurso deveriam seguir se quisessem ser “bem vistas” socialmente. Seu valor era reconhecido na procriação e no cuidado com os filhos, com o marido, sendo orientadas para o trabalho doméstico.

Mas, apesar de todo um controle a que as mulheres eram submetidas, nem sempre seguiam esse padrão. Algumas mais ousadas desafiavam as regras e seguiam em frente. Várias situações sobressaiam: enfrentar as crises doméstico-econômicas e/ou por considerarem que esse padrão não se constituía uma imposição.

O Pará, como um Estado muito fortemente marcado pela cultura da Metrópole, em sua fase de formação cultural e política onde se acentuavam os ditames portugueses e franceses, é possível que tenha mantido as normas sociais próprias desse processo da modernização colonizadora. Assim, a pergunta colocada era: as paraenses dos anos 30-40-50 seguiram o processo hegemônico de manter a padronização cultural e educacional das mulheres da Primeira e Segunda República ou apresentaram um estilo próprio em que outras culturas já circulavam quer nas salas de aulas, nas festinhas e/ ou nos encontros sociais?

O que se pretendia com essa pesquisa? Identificar, a partir da perspectiva da história de vida de uma geração, de que forma as transformações sócio-culturais teriam influenciado e/ou mesmo ditado o modelo de gênero nas décadas de 30, 40 e 50 na capital do Estado do Pará e de que forma as “ousadas” quebraram  o padrão e se profissionalizaram, compondo um cotidiano entre o lar e o trabalho fora de casa – uma evidência daquelas mulheres protagonistas da pesquisa.

Infelizmente esse projeto não foi adiante. Seria uma maneira de as próprias pesquisadoras se auto-retratarem e assim mostrar a força das mudanças instaurando as chamadas “bad girls” porque não totalmente voltadas para o seu “único destino”.

Hoje, nos 80 anos de fundação do “Santa Rosa” olhando para trás, vejo as diferenças. Na área física, na área de convivencia entre os gêneros, nos namoros que começam na sala de aula, enfim, outras tendências de relacionamento. No dizer de Jessica Mota (20 anos), neta de uma das jovens dos anos 1960 (extraido do facebook): “No momento, nós estamos em um interregno. Um interregno que significa, simplesmente, que a antiga maneira de agir não funciona mais, e novos modos de agir ainda não foram inventados. Esse é o interregno. E é por isso que não quero dar previsões sobre o futuro, pois ele pode tender para qualquer direção.”
Outras imagens dos anos 1960

(Texto originalmente publicado em "O Liberal", em 10/02/2012)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

COMEMORAÇÕES DO “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”


Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia E Ciências Humanas
Faculdade de Ciências Sociais
Grupo de Estudos e Pesquisas “Eneida de Moraes” Sobre Mulher e Relações De Gênero – GEPEM
Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal – PROGEP
da Diretoria de Saude Qualidade de Vida /Coordenadoria de Qualidade de Vida e Responsabilidade Social
COMEMORAÇÕES DO “DIA INTERNACIONAL DA MULHER”
TEMA:

MULHERES AMAZÔNIDAS: IMAGENS, CENÁRIOS, HISTÓRIAS,

         Muitas linguagens expressam o tema proposto para homenagearmos o Dia Internacional da Mulher. Cinema, seminários e o lançamento de um livro com a temática mulher e gênero na Amazônia serão nossos caminhos de valorização em mais uma celebração.

           O cinema expressa em imagens, ajudando também a produzí-las, o que a sociedade tem demonstrado em versões sobre as representações sociais evidenciando as relações de gênero no enfoque sobre as mulheres, suas atividades, suas formas de luta, suas conquistas e/ ou os arquétipos tradicionais dos tipos femininos avançando para os mais ousados, em mudanças nem sempre aceitas posto que alguns tipos ferem o reconhecido status quo.

Os debates temáticos em forma de seminários ou mesas redondas são sempre as ferramentas acadêmicas mais recorrentes. Expõem assuntos e ampliam as contribuições do público em forma de questões que se tornam problematizadas nas novas descobertas.

O lançamento de um livro expressa a maneira de prestar contas à sociedade sobre o investimento que faz, em forma de impostos, na possibilidade de os membros da academia apresentarem os resultados da aplicação desses recursos. Um livro é a síntese de um momento em que alguns assuntos foram pensados, problematizados e transformados em estudos teóricos e pesquisas, deixando de ser uma matéria isolada e pessoal para abrir-se às discussões pela comunicação pública.

 A celebração do Dia Internacional da Mulher, neste ano de 2012, pelo GEPEM/UFPA e pela Pro-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal – PROGEP através Diretoria de Saúde Qualidade de Vida/Unidade SIASS/UFPA, espera dialogar com os servidores/servidoras e alunos/alunas da instituição, e com a sociedade externa à academia, usando esses meios de comunicação dos mais ilustrativos e de grande força interativa – o cinema, o seminário o lançamento de um livro  – para que possam dizer alguma coisa sobre o habitus no cotidiano feminino.

 PROGRAMAÇÃO

CINE GÊNERO

 05/03/2012


HORÁRIO: 14 às 18 h
LOCAL: Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (Campus UFPA)
TEMA: Enfoque sobre o cotidiano das mulheres trabalhadoras que têm filhos para cuidar.

FILME: UMA MÃE EM APUROS (Motherhood, EUA, 2009, 90min.) – Diretora e roteirista: Katherine Dieckmann, com: Uma Thurman, Anthony Edwards, Minnie Driver.
Sinopse: O filme se passa em um único dia na vida de Eliza Welch (Uma Thurman), escritora de ficção, mãe e blogueira, que espera dar conta de várias atividades: preparar a festa de aniversário da filha de seis anos, cuidar do filho mais novo, lutar pelo ambiente hostil de circulação da cidade, conviver com outras mães na pracinha, e desfazer equivocos de um post de sua melhor amiga. Eliza espera ainda garantir inscrição num concurso organizado por uma revista, mas para isso precisa escrever uma redação de 500 palavras sobre o sentido da maternidade para ela.

Debatedoras: Profa. Maria Angelica Motta-Maués – PPGCS/GEPEM
Profa. Maria Luzia Miranda Álvares – FCS/GEPEM
Representante da PROGEP/Diretoria de Saúde Qualidade de Vida/Unidade  SIASS/UFPA
Coordenação: Luzia Álvares

 06/03/2012

HORÁRIO: 14h as 18 h
LOCAL: Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (Campus UFPA)
TEMA: Debate sobre a violência doméstica e sexual contra as mulheres.

FILME: PELOS MEUS OLHOS (Te doy mis ojos, 2003, Espanha, 109 min.) de Iciar Bollain 
Sinopse: A jovem Pilar (Laia Marull) foge de casa com o filho, numa noite de inverno, instalando-se na casa da irmã (Candela Peña). Tem medo que o marido (Luis Tosar) a encontre, o que ocorre pouco depois. Mas ela permanece entre os familiares criando-se, inclusive, um quadro que vai mostrar quem é quem na relação. Evidenciam-se os conceitos de lar, amor e proteção confundidos com violência, dor e medo.

Debatedoras : Profa. Adelma Pimentel – PPGP - GEPEM
                        Profa. Vera Lúcia de Azevedo Lima – ICS/EPOTENA
                        Representante da PROGEP/Diretoria de Saúde Qualidade de Vida/Unidade SIASS/UFPA
Coordenadora : Profa. Adelma Pimentel

 07/03/2012

HORÁRIO: 14h as 18 h
LOCAL: Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (Campus UFPA)
TEMA: Debate sobre a relação da familia amazônica da zona rural com o sonho da melhoria de vida na zona urbana.
FILME: Ribeirinhos do Asfalto (Pará, 2011, 25 min.), de Jorane Castro.

Sinopse: Curta metragem sobre Daisy (Ana Leticia Cardoso), garota que mora na Ilha do Combu, desejosa de estudar na cidade grande (Belém). O pai se opõe. Mas a mãe (Dira Paes) acompanha a menina numa viagem de barco à capital do Estado, pensando em se abrigar na casa de uma parenta moradora do bairro da Cidade Nova. Desconhecendo a cidade, passam pelo Ver o Peso, tomam um ônibus que não as transporta para o destino objetivado, caminham com a indicação de outrem até a casa que procuram. O plano da mãe é mudar para melhor a vida da filha.
Debatedoras: Profa. Denise Machado Cardoso –PPGCS/ GEPEM
                        Profa. Edila Arnaud – PPGCS/GEPEM
                       Cineasta Jorane Castro –ICA/Curso de Cinema
                      Representante da PROGEP/Diretoria de Saúde Qualidade de Vida/Unidade SIASS/UFPA
Coordenação: Profa. Denise Machado Cardoso


08/03/2012

MANHÃ

SEMINÁRIO TEMÁTICO

Hora : - 9h30

Local : Auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Campus do Guamá/UFPA

Tema - Mulher e Gênero: Conhecimento e Ação Política

O tema remete à reflexão sobre uma forte relação que permeia a vida universitária, entre a academia e o ativismo nas frentes onde é possivel aplicar o saber aprendido à melhoria da qualidade de vida entre os gêneros.

Expositoras: Profa. Denise Machado Cardoso – PPGCS/ GEPEM

                     Profa.  Luanna Tomaz - ICJ e GEPEM

Coordenadora: Luzia Álvares - FCS / GEPEM
Debate após as exposições.

TARDE

LANÇAMENTO DE LIVRO
Hora : 18:00 h

Local : Cinema Olympia (hall)

"Mulheres Amazônidas: Imagens-Cenários-Histórias”.

 Organizadoras: Professoras Maria Angelica Motta-Maués; Maria Luzia Miranda Álvares e  Eunice Ferreira dos Santos. Editora GEPEM, Gráfica UFPA.

O lançamento do livro demonstra o estado da arte no meio amazônico em que as relações de gênero são o estudo focal de várias temáticas problematizadas pelos/as pesquisadores/as com o olhar comprometido nas evidências do protagonismo das mulheres.

Exibição do filme "Preciosa - Uma História de Esperança" (EUA, 2009), direção de Lee Daniels. Parceira com a ACCPA e a FUMBEL.

Agradecemos a divulgação para estas atividades

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A QUESTÃO MEMÓRIA E O PATRIMÔNIO PERDIDO


Elizabeth Loftus, psicóloga da Universidade da California escreveu que “todos somos susceptíveis a lembranças de algum nível “ referindo-se aos casos chamados de “síndrome de falsas memórias”. É comum você pensar num filme ou num livro que viu/leu há muitos anos e se decepcionar com a revisão quando encontra imagens/textos diferentes. Há pouco assisti a um documentário sobre a necessidade de preservação de filmes, tarefa que o cineasta norte-americano Martin Scorsese abraçou com o seu amor pelo cinema, exaltando o trabalho de recuperação aplicado ao filme ingês “Os Sapatinhos Vermelhos”, cujo destino era a deterioração com as cores esmaecidas. Diz esse pesquisador-cineasta, endossado pelo seu colega Clint Eastwood, que boa parte dos filmes realizados antes de 1950 já se perderam. E isso nos EUA. Aqui no Brasil, o drama na área do cinema é muito maior e alguns filmes populares como “Carnaval no Fogo”(1949) não puderam ser restaurados por ausência do material gravado.
O tema “memória” cabe hoje em vários aspectos da política pública. Prédios históricos de diversas cidades do país tombam até mesmo antes de serem burocraticamente tombados. Não é só o caso dos edifícios que desabaram no Rio. Nosso centro histórico sofre na luta contra o tempo e boa parte está perdendo essa luta. Todos sabem que há necessidade de intervenção do poder público para a recuperação desses documentos de uma época, mas a lentidão de processos que providenciem reformas capazes de preservar esses tesouros do passado acaba por compartilhar com o desgaste natural que o passar dos anos oferece. E com isso propiciar falsas memórias.

Muitas pessoas incluindo-se ai gestores das cidades brasileiras acham que “não se deve perder tempo e dinheiro “com as obras do passado. Mas a História é a base de nossa cultura, é o que faz a nossa diferença, nos caracteriza e explica nossa identidade, o que fomos, como devemos fazer. Nas várias redes sociais capta-se insistentemente a célebre frase lamentando que um país sem História perde suas referências. E a riqueza do passado é às vezes desconhecida da geração presente.
Arquitetura, urbanização, artes plásticas, literatura e cinema precisam daquele olhar para trás que alguns autores, de diversas áreas acharam importante como forma de estudar o presente. No caso de Belém: a nossa cidade é conhecida como a “Cidade das Mangueiras”. Muitas dessas árvores, plantadas no inicio do século passado pelo intendente Antônio Lemos, tombam a cada período de chuvas por falta de uma política de proteção e preservação desse nosso patrimônio histórico e público. Se essas árvores têm um tempo de vida útil, se houvesse uma política real de avaliação desse nosso patrimônio integrado ao meio ambiente da cidade haveria meios de avaliar esse  período, acompanhar a infiltração de “ervas de passarinho”, a baixa qualidade de vida que acarretam os entulhos perto de suas raízes, cortes indevidos nem sempre orientados por técnicos e especialistas, sendo mais aproximados a lenhadores inescrupulosos pouco afeitos a observar os danos provocados por seus machados. Não é, portanto, um mau agouro pensar que dentro de mais alguns anos a capital paraense terá de usar outro adjetivo para fixar-se na lembrança nacional (ou internacional).

Nessa baixa dimensão da preservação do nosso patrimônio, muitos prédios do passado já desapareceram. Alguns, felizmente, sofreram reformas e se apresentam às novas gerações. Mas nem sempre o valor histórico é ressaltado por quem reforma ou pela mídia. É preciso pontuar a memória, pois a citada síndrome de falsidade pode ocorrer e um prédio antigo ser catalogado como pertencente a um período que não foi o de sua construção ou o seu auge.
Nossas ruas e travessas abertas em períodos onde existiam, por exemplo, bondes ou mesmo carruagens, entram no cenário urbano moderno apresentando as dificuldades de encaixe num tempo em que as motos tomaram a vez desses tipos de transporte. O ideal seria preservar esses espaços livrando-os do tráfego moderno, fazendo compreender que veículos dotados dos mais novos artifícios de condução precisariam de outras vertentes para chegar aos seus destinos. Se não podemos ter um metrô subterrâneo, por que não um de superfície estimulando o transporte coletivo em áreas cada vez mais estreitas ao correr de automóveis e ônibus? E os viadutos no centro? Não adianta pensar apenas em moradas distantes se a sede do trabalho de grande parte da população permanece nas áreas centrais. É preciso dar condições para o presente passar pelo passado sem afetá-lo e beneficiar a qualidade de vida dos cidadãos. O antigo e o novo teriam o mesmo efeito sem afetar o cotidiano da cidade.

As redes sociais têm circulado a denúncia da Associação dos Agentes de Patrimônio da Amazônia (ASAPAM) sobre o Palacete Vitor Maria da Silva (Veiga Cabral com Presidente Pernambuco), também conhecido como Casarão do Ferro de Engomar que está sendo vítima de “depredação e ação de meliantes que invadem seu espaço para roubar seus painéis de azulejaria criados por A. Arnoux e Boulanger & Cie”. Haverá, inclusive, no domingo, às 10 h um ato público em frente a esse prêdio para suscitar o poder público a investir em garantias a esse patrimônio.
Finalmente, penso no centenário do cinema Olympia, salvo pela Prefeitura Municipal quando seu proprietário queria transformá-lo em um espaço morto. Com processo de tombamento correndo desde 2002, pergunta-se: sobreviverá até a conclusão do processo?

(Texto originalmente publicado em "O Liberal" em 03/02/2012)