Autor: Max Reis
(Poesia vencedora do II PRÊMIO PROEX DE LITERATURA (Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará- Troféu Inglês de Souza - 27.05.2011)
I
É difícil dizer em cada rima
O que já foi falado pela vida
Desse homem que desce na subida
E de costas dá passos para cima
Quando tudo está triste logo anima
Do gogó tira um som de melodia
E a tristeza sorri na cantoria
Quem se chega assovia e vai cantando
E quem parte se vai cantarolando
Com o peito repleto de alegria
Assanhando as galinhas no poleiro
Que esse homem-menino era o primeiro
A saudar a alvorada da cozinha
E depois do café, rosca e farinha
Já se via no seio da floresta
A pastinha caindo pela testa
E uma faca enfiada no calção
Índio preto, Bai-bai, raio e trovão
Um nativo espreitando pela fresta
Passos curtos, medidos, quase lentos
Como se bafejados pelos ventos
Co’a certeza que dava pra esperar
Fala mansa, pausada e sem gritar
Nas conversas alegres da varanda
Lá crescia o moreno em vida branda
Entre folhas, raízes e igapó
Imitando o cantar do curió
Onde a hora do tempo não desanda
Onde e quando chegar sem nem ter ido
E por ser um valente e destemido
Foi seguir as pegadas de um felino
Bem mais certo dizer - um leonino
Na esperança de uma vida feliz
Lá nas brenhas assim é que se diz
Como se na grandeza da cidade
Estivesse uma tal felicidade
Invisível e a um palmo do nariz
E a faquinha na meia do sapato
Nem olhou para trás pra ver o mato
Transformar a tristeza num chicote
Quando o barco acendeu seu holofote
A saudade brilhou em sua pupila
Gota a gota uma dor fazia fila
E no canto dos olhos virou pranto
Noite escura de puro desencanto
Em que o medo não mata, mas mutila
Entre as pedras do Beco do Cardoso
O pisar era um tanto temeroso
Nem lembrava a figura de um xavante
Cabisbaixo e com rugas no semblante
Adentrou pela casa meio triste
Da janela que a vida tudo assiste
Vislumbrou casarões e a velha igreja
Como em fim de oração disse “assim seja”
Passarinho não vive sem alpiste.
Obs. A imagem é de ademirhelenorocha.blogspot.com
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