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"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você
não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa
qualquer entendimento”. Esta frase é da escritora Clarice Lispector. Ao ler
considerei-a uma idéia para tratar sobre o tema da mudança como condição humana
em todos os vértices e institucionalidades que esta possa se envolver. Surgiu da
constatação de uma situação de adoecimento de uma grande amiga que deixou de
ser a mulher produtiva que antes a fazia a grande guerreira dos enfrentamentos
e hoje tem suas habilidades bastante circunscritas, embora lúcida em todos os
níveis.
Uma constante desde que nascemos é a mudança. A
começar pelas etapas da vida. A ciência afirma que só depois de
3 meses a criança começa a conhecer os que a circundam. O que ela pensa antes,
desde que se sabe que há marcas de ação cerebral no eletroencefalograma do
recém-nato (ou mesmo do feto), não se pode definir ainda. Mas a descoberta de
um ambiente é que leva ao eixo de mudanças que se sucederão ao nível do nascimento/crescimento.
A fase infantil geralmente dimensiona um mundo que faz bem à criança, por mais
que o ambiente não lhe seja lisonjeiro. Muitas criam mecanismos de
sobrevivência ainda infantes, às vezes no nível onírico, para fugir ao que não
suportam viver. Mas na adolescência há uma gana por mudança. É só reparar agora
na onda de protestos sobre diversos assuntos. Quem está na rua protestando são
os jovens. E sempre foi assim. Há um ímpeto de idealismo muitas vezes utópico
sacudindo uma faixa etária que se sente suficientemente forte para exigir o que
e como mudar.
Depois chega uma fase de acomodação. Com a idade, a
pessoa segue o que pôde seguir. Quem adquiriu um padrão de vida que acha
satisfatório é quem menos propõe mudanças sabendo-se que se o fizer é em nome
de outros. E nesse caso, “os outros” esboçam suas demandas a partir de suas
próprias necessidades de viver a cidadania envolvendo toda uma comunidade (e
aqui lembramos o conceito da ação coletiva de Mancur Olson). E aí é que entra a
área da política, emergindo de vivências personalistas e da biofisiologia.
Os candidatos a cargo eletivo, de um modo geral,
clamam por mudanças. Dificilmente um/a postulante afirma que vai continuar um
programa, especialmente de concorrente. Quando se trata de reeleição, o/a
candidato/a afere o que fez de mais significativo em seu entender (ou é
assessorado para isso). Esta aferição muitas vezes se faz por detalhes
utópicos, baseada no que “ainda pode fazer se tiver tempo”. Esclarecendo-se: às
vezes o sentido do que este chama de mudança explica-se pelo tom eleitoreiro da
trama do jogo eleitoral.
A reeleição em países como os EUA existiu “ad infinitum” até 1946 quando
o presidente Franklin Roosevelt conseguiu se reeleger por 4 vezes. No Brasil, a
reeleição seguida a um cargo foi proibida até “as emendas constitucionais n.º 5, de 1994, vetando a reeligibilidade, e n.º
16, de 1997, que passou a permitir apenas uma vez para um mandato a cargo
majoritário subseqüente e sem restrição para um pleito não-consecutivo. Os
textos originais das Cartas anteriores (1937,1946 e 1967) não fazem menção ao
tema”.
Mudar é sempre a fórmula preferida nos diversos
discursos. E mesmo na vida de alguns cidadãos. Quantos casais que vivem em
choque prometem mudar para continuar juntos? E, naturalmente, cada parceiro
promete uma mudança. O que é dificil é a conciliação entre pessoas que
pretendem alterar alguma coisa. Se uma rua muda de nome nem sempre os cidadãos
comungam da idéia dos legisladores que o fizeram/fazem sem consulta prévia ao
coletivo da comunidade. Se a mudança é no trânsito não é simples a adaptação
popular a isso. Porque nem sempre o usuário tem ciência da motivação que faz
surgir essa nova rota da sua caminhada. Partes de um processo relacional que
não vê o outro lado da relação e a responsabilidade da comunicação. O costume,
a rotina e o medo do desconhecido sempre atacam a mudança especialmente pela
força do hábito em seguir ad infinito uma perspectiva a qual já se acostumaram
a conviver.
No plano politico internacional as mudanças
propostas por preceitos idearios geraram conflitos tragicos. Os termos
"esquerda" e "direita" apareceram durante a Revolução
Francesa (1789), e o império de Napoleão Bonaparte quando os membros da
Assembléia Nacional dividiam-se em partidários do rei sentados à direita do
presidente e simpatizantes da revolução à sua esquerda. Com o tempo se
configurou a esquerda como a área progressista, advogada de mudanças e a direita
como conservadora. Mas há casos de uma ala se assemelhar com a outra em certos
momentos. Por aí se concebe que mudar não é facil embora seja um processo
natural da condição humana. Uma adaptação a uma condição relacional entre
conviventes e suas posições, sejam elas personalizadas ou institucionais.
Voltando ao que iniciei neste artigo, mudar faz
parte de uma certeza em fazer/viver. Só quem se acomoda sabendo que podia
melhorar é quem se deixa ultrapassar pelo tempo. Por isso eu senti a
dificuldade de minha amiga em mudar o seu estado mórbido. Sadia, ela foi de uma
permanente luta por mudanças. Uma guerreira que enfrentou o que muitas pessoas,
especialmente mulheres, jamais encararam frente-a-frente. Na doença chega a
pensar na acomodação. E é justamente na doença, na luta pela vida, que se deve
mudar. Pelo menos é o que se deve desejar aos que nos são caros.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal/PA, em 31/01/2014)
É Lu, eu particularmente não vejo luz no fim do túnel em relação a concepção e exercício de cidadania consciente, parece que a cada dia se perpetua e se dissemina o nepotismo, a propina, as sinecuras os fichas sujas e etc.; como se não bastasse alguém defendendo o fim dos partidos, isso tu sabes que alem de uma democracia capenga, só faltava isso. Mesmo que tenhamos uma democracia burguesa, constitui da pelo alto, precisamos aperfeiçoá-la, não eliminar o que é a razão de ser de um processo democrático___os partidos.___.
ResponderExcluirAh! parabéns pela aprovação da neta no vestibular.
Eta criançada que cresceu né Luzia.
Beijos Altair
Oi Altair, que bom que vc leu este post no blog e me encontro. Sim, com todas essas situações ainda acredito em nossa democracia. Vamos melhorá-la, sim, fazendo de nós pessoas conscientes de nossos direitos. Obrigada pelos parabéns à neta Paulinha. Beijo grande. Luzia
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