Há
algum tempo a ordem das coisas determinava a presença e a comunicação oral como
o meio mais fácil de um candidato (era masculino, mesmo) chegar à esfera pública e se tornar mais conhecido. Ou seja,
embora esse cidadão fosse alguém notório da comunidade, o período eleitoral
criava para ele outra identidade, o de se tornar um “político”. Ele deixava de
ser visto somente como o comerciante da esquina, o médico, o compadre e tantas
outras titulagens, para uma investidura provisória em uma atividade que ele já
iniciava com a “carteirinha” profissional, projetando-se para o futuro o seu
“que fazer”. Mas esta característica temporária necessitava de um cadastro técnico
que era o formato do acesso ao eleitorado com essa nova roupagem. O discurso, as
visitas personalizadas nas várias formas de contato pessoal, se ampliavam à
medida que a necessidade de alargar-se para um público maior entronizava o
palanque real como a tecnologia de maior acesso aos votantes. Essa ocorrência,
se antes era conveniente, já caducou. Houve também um reordenamento da massa
passiva para um novo protagonismo da política e o cidadão tem se avaliado no
mesmo nível social dos governantes.
Presentemente,
o foco de exposição do “político” para o eleitorado tomou outro desenho. Se os
panfletos, a imprensa escrita, o rádio, a televisão vieram aos poucos
transformando a forma de exibição e publicização da figura interessada em se
tornar pública e assumir um cargo de representação política (legislativo ou executivo)
através do sufrágio, ou seja, no processo de escolha por votação, hoje, além de
outras regras de propaganda eleitoral, a tecnologia favorece o surgimento de novos
artifícios para atingir vários públicos. Sim, porque se houve inventividade das
mídias houve também o surgimento de uma diversidade de público que tende a se
instalar em variados canais de acesso externo cujos formatos estão aproveitando
não só a tecnologia das redes sociais, mas uma linguagem que beneficie o
protagonista da classe política, a exemplo, o marketing.
A internet tem sido um inegável espaço de
socialização e a cada dia os serviços dessa tecnologia têm sido responsáveis em
chamar a atenção para valores, pendores e mesmo tendências favorecedoras (ou
não) para um perfil sedutor ao “político”. O seu uso projeta determinado
candidato/a através de um design que
se torne “marca registrada” do usuário, seja uma cor, um jingle, um modo de expressão diferenciando-o dos demais
concorrentes. Ela se constitui, também, num “ambiente de comunicação que
tenderia a transformar o padrão atual de baixa participação política por parte
da esfera civil nas democracias contemporâneas” (Wilson Gomes, 2004). Destarte,
se se avaliar que a revolução digital criou um impacto estrondoso no mundo
atingindo diversos aspectos da sociedade percebe-se que ainda há muito a aferir
em torno do público usuário (considerar a classe social) e/ou desses
personagens interessados em chegar até a esse público desferindo suas mensagens
através desse mecanismo.
Facebook, Twiter, Orkut, Badoo e outras redes sociais públicas on
line (há também as privadas e as
comunidades de redes fora da internet) têm contribuído, conforme cada
tecnologia seja/esteja a serviço de uma linha de comunicação como mediadoras de
grupos diversos e comunidades, para a formação de uma cibercultura, conforme
Raquel Recuero em seu livro “Redes Sociais na Internet” (2011).
Mas essas mídias também colaboram com a exposição
pública dos “políticos” que vêem nesses recursos os meios de explorar o tipo de
imagem que querem projetar, favorecendo a apresentação de seus antecedentes
sociais, além de suas propostas de campanha transformadas em projetos para o
tempo da vitória nas urnas e o assento no cargo de representação política. Fugindo
ao tradicional palanque, esses/as cidadãos/ãs (agora, sim, com a entrada das
mulheres como aspirantes aos cargos eleitorais) têm então uma maneira própria
de se expor configurando um tipo de competidor/a na medida interativa com um
público que vai se ampliando cada vez que um/a amigo/a aceita o convite para
participar do quadro em que estes se agregam na página específica. No caso das
mídias onde o apoio da imagem reflete o visual do/a “político/a” essa
presentificação tende a estabelecer um link com a impressão emocional (simpatia/antipatia)
que seja possível ter com a pessoa.
E os blogs repercutem também os discursos que
antes eram proferidos oralmente em palanques reais (em “Blogs.com: estudos sobre
blogs e Comunicação” organizado por Adriana
Amaral, Raquel Recuero e Sandra Portella Montardo, há matéria interessante sobre essa tecnologia). Comemorando 10 anos
em 2007, hoje esta ferramenta faz parte dos demais meios comunicacionais entre
os “políticos” e além deles, entre os partidos, entre pessoas de todos os
matizes, aliás, sendo ferramenta para imprimir mais claramente as intenções
pessoais dos competidores e suas propostas sobre o processo de participação
política. Como dizem os organizadores do livro referido: “Os blogs refletem a liberação do polo da emissão
característico da cibercultura. Agora, todos podem (com mínimos recursos)
produzir e circular informação sem pedir autorização ou o aval a quem quer que
seja (...)”. São eixos fortes mostrando a independência e autonomia que um/a
cidadão/ã pode auferir através do uso dessas tecnologias. Os “posts” dos blogs podem
garantir aos/às “políticos/as” a conexão entre as ideias que têm e as que
provocam reações, mas o mínimo que estes podem querer é a arregimentação de
eleitores.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA de 24/01/2014)
(
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