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O que é o tempo? Na voz corrente, o
tempo foi tratado como um conceito adquirido a partir da nossa vivência, sem
que haja uma definição expressa em palavras. A concepção de tempo é discutida
intensa e sistematicamente desde os primórdios da cultura ocidental. Trata-se
de uma discussão filosófica, desde Parmênides (530-460 a.C.) ao defender suas
idéias de que todas as transformações do mundo físico são percepções,
resultantes de um processo mental. Ou seja, não seriam reais, visto que para
ele a realidade seria indivisível, destituída do conceito de tempo. Platão (427-348 a.C.) considerava
o nascimento do tempo a partir da ordem ao caos primitivo dado por um ser
divino, uma origem cosmológica. Para Aristóteles
(384-322 a.C) a noção do tempo era intrínseca ao Universo, ao considerar
importante o mundo observado. Incorporada pelos crstãos, a idéia do tempo
linear, sem retornos, foi defendida pelos hebreus e persas zoroastras.
Neste prólogo, o registro considera a existência da concepção do tempo
na dimensão filosófica (sem profundidade), mas a intenção é tratar do tempo
real, do não tempo para a realização das coisas. Assim, diz-se
que “o tempo é sábio, o tempo é de ouro”. A queixa atual é da “falta de tempo”.
A modernidade leva a uma vida célere dizendo-se, comumente, que não se tem
tempo para fazer todas as coisas que se pretende.
Interessante
observar que atualmente as pessoas vivem mais. A chamada expectativa de vida
aumenta em crescendo mundialmente levando-se em consideração, entre outros, o
progresso da medicina e, com isso, o controle de doenças antes consideradas
mortais. No Brasil, de
acordo com os dados da tábua de mortalidade projetada para o ano de 2012, divulgada pelo IBGE, a expectativa de vida ao nascer passou de
74,1 anos, em 2011, para 74,6 anos, com acréscimo de 5 meses e 12 dias. Em 2013
houve outro avanço. Com isso, entra em cena o Fator Previdenciário que norteia
o tempo de aposentadoria do/a trabalhador/a considerando que ele/a devem viver
mais tempo usufruindo de um salário afixado a partir de dois fatores: a idade e
o tempo de serviço. A nova tabela do fator previdenciário vale até 30 de
novembro deste ano, estima
aposentadorias dos 40 aos 80 anos, numa expectativa de vida dos segurados
aumentada, em média, 144 dias entre 2011 e 2012, que corresponde à perda média
de 1,67%. Em 2025 serão 64 milhões
e, em 2050, um em cada três brasileiros será idoso.
Se
o tempo é um fator que pauperiza alguns, posto que o ganho do trabalhador/a aposentado/a
não segue a inflação e se distancia do percentual anual a partir do salário
mínimo, por outro lado é um ganho físico se for comparado a um tempo mais distante
onde a média de vida mal chegava aos 40 anos.
Envelhecendo,
a pessoa consegue criar a sua família e ver o seu trabalho dar bons frutos. Por
outro lado, ingressa numa faixa etária que hoje requer um cuidado todo
especial. Cada vez mais a geriatria, abrangendo o lado social do aspecto
orgânico, merece cuidados ganhando especialistas e tratamento específico.
Aumenta o número de idosos ingressando em casas especializadas em hospedagem e
tratamento como surgem derivados dessas casas como os “lares” onde muitas
pessoas são locadas ainda em condições de manter todas as suas atitudes,
formando grupos de amigos como se estivessem em uma nova escola. No Brasil este
núcleo da chamada “3ª Idade” cresce e a tendência é seguir exemplo de outros
países.
Mas
o que me levou a tratar do tempo hoje não é só a questão do “peso da idade” no
quadro social. É a resposta que se dá aos outros e a si mesmo como “falta de
tempo”. Um estudo, um serviço braçal, uma trabalho intelectual, muitos e muitos
encargos são adiados ou suprimidos por “falta de tempo”. Na luta pela
sobrevivência há quem desaprenda a dizer “não”. E mesmo que não se trate de
necessidade básica, há casos de postergar um trabalho importante porque está
mergulhado em outro – ou que chegue distanciado da tarefa já assumida. Acumulam-se compromissos preenchendo horários livres, o
lazer e a vida social são adiados, dando a impressão da rapidez do tempo.
Há
muitos fatores curiosos em que o tempo é considerado o culpado. Casais que se
desentendem, antes de optarem pelo divorcio, dizem que vão se “dar um tempo”.
Um serviço de rua ou de casa fica aguardando “melhorar o tempo”. A reposta ao
adolescente curioso é, via de regra, “que espere o seu tempo”. Até na escola, o
aluno não satisfaz a sua curiosidade, pois o tema “não está no tempo”. Vale
dizer que o tempo é o que amadurece, não só a fruta.
Estamos
entrando num período pré-eleitoral e os governantes que desejem mostrar algum
trabalho realizado devem pensar duas vezes, pois podem ser interpretados como
fazendo propaganda fora do tempo (afinal um crime a ser, antes de punido, uma
arma dos opositores).
Este
ano vai se realizar a Copa do Mundo no Brasil. O fato que parecia ser de
incentivar festas pela escolha de nosso país em um certame mundial, com muitos
turistas e com eles injeção na economia, está sendo criticado, pois se diz que o
tempo é de pensar, primeiro, nos gastos públicos em saúde, segurança e educação
deslocados para a construção de estádios. Como os temas são perenes, a
reclamação se veste do tempo como subsidio.
Como
se vê, é muita complexidade avaliar o fator tempo nas diversas esferas da vida
em sociedade. O que deve subsistir a isso é a necessária consciência de que se
“o tempo é ouro e sábio”, o ser humano, na sua falibilidade, deve ser inteligentemente
analista do que pode fazer de bom, de útil e de produtivo antes que se esgote o
tão falado...tempo.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA, de 06/02/2014)
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