Um pôster
norte-americano pede que se vote em “Mr. Nobody” (Sr. Ninguém) “porque Ninguém
faz o que promete”. O objeto de ironia revela o disparate internacional dos
regimes democráticos onde se vê e ouve candidato a cargos majoritários
prometendo a seus eleitores o que nem sempre é possível cumprir.
Neste novo ano em que os
eleitos nos municípios brasileiros assumem seus postos é hora dos que lhes
propiciaram a representação aos cargos cobrarem o que prometeram em campanhas.
E muitos desses eleitores compreendem que é impossível exigir tanto. Querem ao
menos um pouco desse tanto.
O comum nas lutas
eleitorais é repisar benefícios sobre uma tríade obviamente importante: saúde,
educação e segurança. Certamente ninguém trabalha sem saúde, sem educação não
se ganha o que se entende no outro espaço da tríade que é segurança nas ruas e
nos lares. Mas se tratar desses itens requer recursos muitas vezes impossíveis
de serem locados a contento é comum promessas de projetos faraônicos, obras
imaginosas que se destinam a impressionar os/as eleitores/as.
As anedotas sobre
projetos basicamente inviáveis lotam os espaços que vão dos jornais e revistas
aos sites e à literatura de cordel. Não é anedota, mas um candidato a um posto
municipal chegou a prometer uma ponte sobre o oceano. Os pescadores e os
turistas agradeceriam. O que é muito difícil é achar quem meça a sua pretensão
e se fosse comparado a um romeiro no nosso Círio estaria apenas portando uma
gravura de Nossa Senhora. Este se arriscaria a perder votos. A simplicidade
parece ser desconhecida pelos que confundem um politico com um santo. Ou mesmo
um anjo.
Finda as eleições e
empossados os eleitos, o comum é um discurso que prega a restrição de verbas
para diversos investimentos. Observando de perto a realidade do erário público,
o eleito sabe que muito do que disse ou mesmo prometeu em campanha é impossível
de ser realizado.
Os eleitos respondem não
só por preferência pessoal do eleitor como de uma opção contra o que esse
eleitor, queria ver fora do páreo, ou seja, incapaz de satisfazer o seu
objetivo (seja dele, eleitor, seja de quem se lança à candidatura). E há um
grupo intermediário que se guia pelo comodismo ou pela absoluta negação de
ideais, achando que não é possível melhorar o cenário administrativo e sim
piorar o ruim. É o grupo que atende às ditaduras. Lembro que o cineasta Claude
Lellouch colocou uma frase em um de seus filmes em que sentenciava essa
postura: ” O melhor dos regimes é uma ditadura mas as pessoas inteligentes não
querem ser ditadoras”.No Brasil, nós tivemos a Era Vargas onde o ditador era
saudado até nas apoteoses de teatros de variedades onde cantavam elevando o seu
retrato, a marcha carnavalesca de Haroldo Lobo e Marino Pinto “Retrato do
Velho” (na voz de Francisco Alves). Atraente das massas por eloquência verbal e
medidas como o salario mínimo (além de pressões e violência), Getúlio foi alvo
do humorismo menos contundente. A índole do brasileiro permanece otimista mesmo
com a moderação causada em tantas dificuldades (e crueldades se viajarmos ao
tempo de repressões drásticas). Se pesquisarmos o repertorio da música popular
em tantos anos encontraremos composições alusivas a quase todas as fases da
política – das eleitorais às do período de governo – algumas até mesmo,
driblando a censura, no caso, na época dos militares que estiveram em cena por
mais de vinte anos.
Mas se os eleitos
populares pagaram suas promessas de campanha é outro ritmo. O mais “faraônico”
de nossos presidentes, JK, cumpriu Brasília e estradas utópicas em seu tempo
como a que liga a nova capital à nossa Belém (entre tantas outras coisas). Se
tudo estivesse no cardápio da campanha seria visto como ficção. Como ficção
amarga foi a reforma moral saudada por Jânio Quadros e sua vassoura. Proibir
biquíni ao invés de tratar de assuntos básicos é uma forma de como se falar de
bobagens antes de se atacar prioridades.
E as prioridades estão sendo
mostradas diariamente através dos canais de televisão aberta sobre a situação
em que as cidades se encontram em termos de saneamento básico, esgotos, lixo,
falta de água, luz, carência de médicos nos pronto-socorro e/ou
irresponsabilidade de plantonistas ausentes dos hospitais colocando em risco a
vida das pessoas necessitadas de atendimento. Não só no Pará, mas em todas as
cidades os habitantes estão implorando aos novos governantes que ataquem
primeiramente as carências da comunidade em seus planos emergenciais. Que se
alinham em grandes expectativas pelo que supõem de mudança ao avaliarem os
novos mandatários da gestão municipal.
Desempenhando as suas
funções por meio de um aparelho administrativo, o poder executivo municipal
constitui-se de secretarias, departamentos, serviços, etc., além de autarquias,
fundações e empresas estatais que tendem a orientar as especificidades locais
considerando as necessidades de bens e serviços públicos, como prioridades da
gestão.
Hoje a cultura cidadã
engloba novos conhecimentos e pede substancia. Que se ataque o mais sério, o
mais viável. E cultura está no âmago da tríade básica. Sem ela seriamos
anônimos títeres de um mundo potencialmente malvado.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA de 30/12/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário