Em termos de Brasil, a escravidão iniciou-se na
primeira metade do século XVI, com a produção de açúcar. Os colonizadores
portugueses capturando os negros nas suas colônias na África utilizavam-os no
trabalho nos engenhos de açúcar no Nordeste. Comerciantes de escravos,
mercadoria humana, escolhas entre os sadios, condições desumanas, mortes e submissão
aos grilhões de ferro nos porões fétidos dos navios negreiros e/ ou quando nas
senzalas eram acorrentados para evitar as fugas e submetidos a torturas físicas
são evidências de um passado infausto desse povo cuja vida marcou a sua
presença desde o Brasil Colônia. A história desse período é um dos mais cruéis
momentos da humanidade e deste país. Da compra da liberdade por alguns, no Século do Ouro (XVIII) e da resistência
política de outros, esse povo conseguiu manter sua cultura, exercitar seus
rituais e falar sua própria língua ao organizar comunidades de quilombos.
Isto quer dizer que a abolição da escravatura tão
festejada não foi algo dado para eles. Eles lotaram para chegar até ela.
Historicamente se desenvolveu com a transição da Corte Portuguesa para o país e
do Tratado de Aliança e Amizade de 1810, época em que o príncipe regente se
comprometeu com a Inglaterra a abolir o tráfico negreiro. Esse tráfico só foi
extinto quarenta anos depois, com a aprovação da Lei Eusébio de Queiroz e teve
como reflexo a redução gradual da escravidão. Nessa época, o mundo conhecia as
primeiras teorias cientificas de base racista. Surgiu, por exemplo,
o“darwinismo social” e, no Brasil, começou a “preocupação com o branqueamento
da população”. Essa ideia que se desdobrava entre a radicalização da diferença
étnica, afinal um dos fatores da teoria nazista, e o estimulo à miscigenação
como um meio de “diluir a cor negra”, caminhou com seu flagrante confronto na
aceitação dos filhos de proprietários de terra com suas escravas. Segundo a
professora Mary Del Priore em um artigo denominado “Entre a Casa e a
Rua”(Revista “Aventura na História”/Ed. Abril, ), o conde Suzanet ,em 1825,
afirmava que “as mulheres brasileiras (...) casavam-se cedo, logo se
transformando, pelos primeiros partos, perdendo os poucos atrativos (...) e os
maridos apressavam-se em substituí-las por escravas”. Mas sabe-se que não era
só assim. Estas escravas eram estupradas, algumas mortas e a convivência com
as“matronas” brancas submetia-as a uma outra forma de opressão e castigo por
parte destas que se vingavam ao se sentirem em segundo plano na base de sedução
do marido.
O livro “A Cabana do Pai Tomás”(escrito em forma de
série, de 1950 a 1852) da escritora, filantropa
e antiescravagista Harriet Beecher-Stowe teve ampla repercussão no
processo de abolição da escravatura na América do Norte. Há versões de que ele
ajudou na declaração da Guerra da Secessão rebelando, naquele país, o sul
escravocrata. A autora foi uma das fundadoras do Partido Republicano que
abraçou a causa do abolicionismo e o livro, por ser impulsionador da liberdade
étnica, foi muito lido pelos donos de escravos, inclusive no Brasil. As
mulheres desses comerciantes & industriais, especialmente na zona rural,
tinham “A Cabana...” como leitura predileta. Isso valeu uma citação no romance
“Sinhá Moça”(1950), de Maria Dezone Pacheco Fernandes, uma visão romântica do
abolicionismo.
Mas, sabe-se que não foi fácil extinguir o estigma
da escravidão a partir de um juízo de graus de etnia. O movimento abolicionista
surgiu com o Iluminismo no século XVIII. O legado brasileiro da emancipação do
negro contou com a colaboração de nomes famosos nas artes e letras. O poeta
baiano Castro Alves chegou a bradar :”_Não pode ser escravo/ quem nasceu no
solo bravo/da brasileira região”. O pernambucano Joaquim Nabuco impulsionado
pela experiência na infância, com escravos, lançou a obra “O Abolicionismo”, em
1883. José do Patrocínio, filho de um padre com uma negra, fez campanha contra
a escravidão ao lado de Ruy Barbosa, Teodoro Sampaio, Aristides Lobo, André
Rebouças e outros. Mesmo assim, com tantos nomes de vulto, inclusive políticos,
dedicados ao abolicionismo, o Brasil foi o país que mais demorou em libertar
oficialmente escravos. Havia forte pressão, especialmente dos proprietários
sediados no campo. D.Pedro II temia um quadro bélico semelhante ao que
aconteceu na América do Norte do governo Lincoln. Mas a Câmara era a favor da
lei que afinal foi assinada pela filha de D. Pedro, a princesa Isabel, na sua
fase de governante provisória em 1888.
Hoje ainda há luta pela queda de qualquer
preconceito racial. Affonso Arinos lançou a lei que considera crime o racismo.
E muitos espaços públicos, como universidades, abrem vagas para negros, inserção no mercado de trabalho, e valorização da
cultura e da identidade negra.
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