Uma revista nacional, este mês, publica o resultado de uma pesquisa efetuada no University College de Londres que revela o fato de o cérebro das pessoas otimistas rejeitar pensamentos negativos. Parece o óbvio, mas, no mundo de hoje “ser otimista” confunde-se com “ser ingênuo”, carregando com isso a incapacidade de prever desastres “subestimando riscos”.
No plano político, o otimismo ganhou lugar na história em situações como a adoção do New Deal (a política do Novo Ideal), método francamente otimista, mas com base em mudanças na economia, preconizado pelo presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt diante da crise econômica iniciada em 1929. No Brasil cabem muito mais histórias contrárias. Fernando Collor, que assumiu o governo da república brasileira com a grande força da propaganda de “caça aos marajás”, culpou a inflação dos últimos anos da década de 80 pelos que usufruíram de benesses no período. Estariam os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Esta visão simplista do quadro econômico derrotou o adversário que vinha das classes populares (Lula). Deu em que deu. Antes disso, Janio Quadros (eleito pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL) vestiu a camisa de “varredor de bandalheiras”(sic, como dizia a música publicitária), apoiando-se na inflação deixada pelas emissões sucessivas de moeda feita por Juscelino Kubitschek para poder construir Brasília. Uma expressiva maioria apoiou Jânio como o homem capaz de impor um tipo de moral num governo que se espalhava como perdulário, embora todos aplaudissem (num paradoxo que se amparou na pessoa do ex-presidente JK, sempre sorrindo e fazendo o que se dizia e até se predizia se ele voltasse: “50 anos em 5”). Certamente a “vassourada” de Jânio ganhou força porque Juscelino não pôde se manter no poder. Se quisesse o faria. Mas a verdade é que nem sequer apoiou devidamente o sucessor indicado por seu partido (PSD): Henrique Teixeira Lott. O que se viu a seguir foi o presidente eleito renunciar ao cargo no mesmo ano de sua posse (1961) uma vez que assumiu o executivo nacional em janeiro desse ano. Disse o historiador Helio Silva: “Analisada, a renúncia não tem explicação. Ou melhor, nenhuma das explicações que lhe foram dadas satisfaz”. Diziam que a vontade do “estranho”(na figura física) chefe do executivo era a de imitar Getulio Vargas dando um golpe de estado e se transformando num ditador. Lições existiam mundo afora e hoje se tenta entender por aí a condecoração (a maior da nação) dada a Ernesto “Che”Guevara (na época ainda fazendo parte do governo cubano).
O otimismo foi sempre procurado e alimentado pelos seres de boa fé. Os cientistas dizem que não são só os humanos. Animais treinados em laboratório acostumados a ganhar alimento em um labirinto dentro de uma jaula, prosseguem percorrendo este labirinto mesmo depois de serem introduzidos neles determinados obstáculos cruentos (cf. as experiências de Pavlov sobre reflexos condicionados). Só depois de sofrerem dores com os obstáculos introduzidos é que eles mudam de caminho. Mas se o cérebro fosse sempre comandado por atitudes racionais, ou “realistas”, não se poderia afirmar se haveria alguma liderança de classe e conseqüentemente se esta classe fosse beneficiada por mudanças salutares. A formação de lideres passa por etapas que objetivam a conquista de maiorias. Racionalizar essa formação parece não caber na extrema desconfiança (ou na total ausência de otimismo).
Hoje presenciamos situações que desafiam as esperanças. Por isso é que se diz, agora, “melhores esperanças”. O superlativo é necessário, mas se encaixa numa perspectiva irônica. Nem sempre o que de melhor se espera é o que vem a acontecer(veja-se Belo Monte e o significado desastroso para a nossa região).
No Brasil de hoje há uma carência de fé em valores apregoados. Em especial à política. E alguns consubstanciados. Em nome de uma desconfiança muitas vezes plasmada por analistas entrevistados – ou entrevistadores - paira a descrença como o pêndulo de um relógio. Um ministro, por exemplo, passa de bom a ruim num piscar de olhos (para a opinião pública que geralmente segue a midia). Os poderes legislativo e judiciário são os mais visados. Ser otimista diante de tanto alarde contra figuras públicas pode parecer, de fato, ingenuidade. Mas ainda assim, nesta semana, todos desejarão a todos um“feliz ano novo”. É a mais usada “frase feita” do período. Como se Pinóquio pedisse perdão à fada ainda na gaiola do circo. No caso, aloja-se o otimismo. Ninguém quer entrar o ano falando mal de alguém. Obviamente desde que a ferida não seja dolorida ou o obstáculo não faça mudar a rota da cobaia. Mas a época é de verbalizar o bem. “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade”. Um momento para nenhuma Polyanna criar defeitos. Embora otimismo mesmo seja esperar que no tempo a seguir todos se entendam, se conscientizem de suas faltas, peçam perdão e perdoem, e, enfim, que o mundo seja regido pelo lobo frontal dos cérebros, a fonte “da capacidade de planejamento e estimativas”. Espera-se que a Lei da Ficha Limpa passe a marcar uma nova moral prenunciada como o meio eficaz de eliminar os corruptos que pleiteiam cargos. Espera-se que estes creiam que serão punidos por um eleitorado consciente de seu poder de veto nas urnas. E esse, sem dúvida, será o caminho da esperança para os brasileiros e brasileiras que aspiram reconhecer na política uma área que pode mudar o mundo. Como está, ainda é desacreditada embora faça parte do cotidiano das pessoas.
Um bom 2012 para todos/as.
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