sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

CRIANÇAS NA MIRA DA MORTE

marianos.org.br
Tempo de Natal. O texto poderia argumentar sobre evento tão singular para a humanidade que se enfeita interna e externamente, se transforma e reinventa emoções para confraternizar, agregar energias, agradecer parcerias e perspectivas de uma nova agenda afetiva e de trabalhos, pedindo a benção pelo que recebeu. Aos crentes é o tempo de lembrar o nascimento de Jesus esperado por muitos, mas execrado por outros como o Rei Herodes, o Grande, mandando um exército “caçar” o “intruso”, por suposto, o Rei de Jerusalém.
Na verdade, esta semana marcou a humanidade do planeta com mais um massacre de crianças, não mais sob as ordens de Herodes, mas sob as armas de uma sociedade cauculista e estimuladora do sucesso de uns sobre os outros. Uma sociedade que tem sido vista como “terra prometida” de alguns, mas, pela explosão de ódios tem também “abafado” o número de massacres a crianças, adolescentes e demais pessoas humanas sem tomar medidas legais sobre isso. O caso que me levou a pensar no tema deste texto foi o recente fato de Connecticut (EUA) e o quarto episódio de mortes em massa nos Estados Unidos este ano. No último dia 14, Adam Lanza, de 20 anos, portando armas automáticas adquiridas por sua própria mãe, adentra Sandy Hook, uma “elementary school” frequentada por crianças e pré-adolescentes, e mata 28 pessoas, sendo mais de 20 crianças.
Há um diferencial entre um “serial killers" e os homicidas em massa. No primeiro caso, o assassino mata pessoas de forma cíclica, ao longo de um tempo, usando seus artifícios peculiares, daí a vitimologia traçar-lhe o perfil para chegar até ele. No segundo, o assassino concentra seus crimes em uma única ocasião.
Em 2007, o massacre perpetrado em 16 de abril por Cho Seung-Hui, estudante do Virginia Tech, na cidade de Blacksburg matando 32 pessoas e mais de quinze feridas, suicidando-se em seguida, levou o professor de Direito Criminal na Universidade Northeastern, em Boston, Alan Fox, e Jack Levin, diretor do Centro Brudnick para Conflito e Violência, da Northeastern, a listarem cinco fatores comuns a muitos assassinos em massa:1) Um longo histórico de frustração e fracasso; 2) Tendência a culpar os outros e nunca aceitar a culpa por seus próprios erros; 3) Tendência a ser socialmente isolado e solitário; 4) Passar por algum tipo de "gota d'água," como ser abandonado pela namorada ou demitido de um emprego; 5) Acesso a armas de fogo, preferivelmente de alta potência”. (http://g1.globo.com/)
No livro "Extreme Killing: Understanding Serial and Mass Murder"(2005), esses professores apontam três tipos de vingança para a perpetração de massacres desse tipo: a) a "vingança específica" -  a escolha das vítimas  é, por suposto, terem alguma culpa (em 2000, Michael McDermott, engenheiro de computação, matou sete funcionários da empresa em que trabalhava, cujo alvo específico foi o  setor de recursos humanos); a "vingança por categoria" - em que o alvo dos assassinatos são negros, mulheres ou asiáticos (o caso de Marc Lepine que em 1989 matou 14 mulheres numa universidade de Montreal, considerando-se ter sua vida arruinada pelas feministas); e a vingança contra o mundo – a escolha das vítimas ao acaso (a exemplo, George Hennard que em 1991 entrou num restauranto do Texas matando mais de 20 pessoas).
Embora esses massacres também ocorram em outros países, o Prof. Francisco Carlos Teixeira (UFRJ) aponta os Estados Unidos como o que reune o maior número desses ataques. Cita estatísticas compiladas pela Secretaria de Estado de Justiça desse país sendo a mais antiga referência a um ataque em escolas norte-americanas a de 1764, antes mesmo da independência do país em 1776. “Daí em diante as ocorrências são quase epidêmicas, com o século XIX marcado por ataques sucessivos em 1867, 1868, 1871, 1889, 1891 e 1898, perfazendo neste período pelo menos 19 vítimas infantis. (...) No século XX tais ataques tornaram-se verdadeiramente epidêmicos, ocorrendo massacres nas “Elementary School” nos anos de 1902, 1906, 1907, 1909, 1912, 1919 e culminado no terrível massacre de 1927, quando Andrew Kehoe (...) causa 45 mortes, no maior massacre escolar da história dos Estados Unidos. (...) Os anos seguintes assistiram a continuidade dos ataques: 1933, 1940, 1944, 1959, 1960 e 1961, com pelo menos 16 crianças mortas (...). A partir dos anos de 1970 (...) os ataques se multiplicam e as “high school” substituem, apenas parcialmente as “elementary scholl”, como cenário principal dos ataques. Nestes anos temos 7 ataques, com 7 mortes; nos anos de 1980 são 13 ataques, com 15 mortes; nos anos de 1990 já são 60 ataques, com exatos 93 mortes de adolescentes. Entre os ataques da década de 1990 inscreve-se o tristemente célebre ataque de 1999 contra a Columbine High School, no Colorado, matando 15 alunos e professores. (....) Nos anos 2000 até 2012 foram 68 ataques contra High School, com 74 mortes de estudantes. (...) e no ano de 2010 deram-se 10 ataques, com 31 mortes; em 2011, foram 5 ataques e 16 mortes e em 2012, antes do ataque contra a escola de Sandy Hook (em 14/12/2012), já haviam ocorrido dois ataques, felizmente frustrados (...)” (http://www.vermelho.org.br).
Esses sucessivos massacres nos Estados Unidos devem ser considerados não como dados isolados de pessoas insanas, mas algo mais da cultura competitiva da propria sociedade em que são valorizadas as pessoas de sucesso, enquanto os perdedores são... os perdedores, e isso envolve outros fatores que levam aos extremos. O presidente Barak Obama já acenou com a diposição de rever leis e “agir para diminuir a violência armada no país”. A sociedade global agradece. Que este seja o “presente de Natal” deste povo.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário