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Tempo
de Natal. O texto poderia argumentar sobre evento tão singular para a
humanidade que se enfeita interna e externamente, se transforma e reinventa
emoções para confraternizar, agregar energias, agradecer parcerias e perspectivas
de uma nova agenda afetiva e de trabalhos, pedindo a benção pelo que recebeu. Aos
crentes é o tempo de lembrar o nascimento de Jesus esperado por muitos, mas
execrado por outros como o Rei Herodes, o Grande, mandando um exército “caçar” o
“intruso”, por suposto, o Rei de Jerusalém.
Na
verdade, esta semana marcou a humanidade do planeta com mais um massacre de
crianças, não mais sob as ordens de Herodes, mas sob as armas de uma sociedade
cauculista e estimuladora do sucesso de uns sobre os outros. Uma sociedade que
tem sido vista como “terra prometida” de alguns, mas, pela explosão de ódios
tem também “abafado” o número de massacres a crianças, adolescentes e demais
pessoas humanas sem tomar medidas legais sobre isso. O caso que me levou a pensar
no tema deste texto foi o recente fato de Connecticut (EUA) e o quarto episódio de
mortes em massa nos Estados Unidos este ano. No último dia 14, Adam
Lanza, de 20 anos, portando armas automáticas adquiridas por sua própria mãe,
adentra Sandy Hook, uma “elementary school” frequentada por crianças e
pré-adolescentes, e mata 28 pessoas, sendo mais de 20 crianças.
Há um diferencial entre um “serial killers" e os homicidas em massa. No
primeiro caso, o assassino mata pessoas de forma cíclica, ao longo de um tempo,
usando seus artifícios peculiares, daí a vitimologia traçar-lhe o perfil para
chegar até ele. No segundo, o assassino concentra seus crimes em uma única
ocasião.
Em 2007, o massacre perpetrado em 16 de abril por Cho Seung-Hui, estudante do Virginia Tech, na cidade de Blacksburg
matando 32 pessoas e mais de quinze feridas, suicidando-se
em seguida, levou o professor
de Direito Criminal na Universidade Northeastern, em Boston, Alan Fox, e Jack
Levin, diretor do Centro Brudnick para Conflito e Violência, da Northeastern, a
listarem cinco fatores comuns a muitos assassinos em massa: “1) Um longo histórico de frustração e fracasso; 2) Tendência a culpar os
outros e nunca aceitar a culpa por seus próprios erros; 3) Tendência a ser
socialmente isolado e solitário; 4) Passar por algum tipo de "gota
d'água," como ser abandonado pela namorada ou demitido de um emprego; 5)
Acesso a armas de fogo, preferivelmente de alta potência”. (http://g1.globo.com/)
No livro "Extreme Killing: Understanding Serial and Mass
Murder"(2005), esses professores apontam três tipos de vingança para a
perpetração de massacres desse tipo: a) a "vingança específica"
- a escolha das vítimas é, por suposto, terem alguma culpa (em 2000, Michael
McDermott, engenheiro de computação, matou sete funcionários da empresa em que
trabalhava, cujo alvo específico foi o setor de recursos humanos); a "vingança
por categoria" - em que o alvo dos assassinatos são negros, mulheres ou
asiáticos (o caso de Marc Lepine que em 1989 matou 14 mulheres numa
universidade de Montreal, considerando-se ter sua vida arruinada pelas
feministas); e a vingança contra o mundo – a escolha das vítimas ao acaso (a
exemplo, George Hennard que em 1991 entrou num restauranto do Texas matando mais
de 20 pessoas).
Embora
esses massacres também ocorram em outros países, o Prof. Francisco Carlos
Teixeira (UFRJ) aponta os Estados Unidos como o que reune o maior número desses
ataques. Cita estatísticas compiladas pela Secretaria de Estado de Justiça
desse país sendo a mais antiga referência a um ataque em escolas
norte-americanas a de 1764, antes mesmo da independência do país em 1776. “Daí
em diante as ocorrências são quase epidêmicas, com o século XIX marcado por
ataques sucessivos em 1867, 1868, 1871, 1889, 1891 e 1898, perfazendo neste
período pelo menos 19 vítimas infantis. (...) No século XX tais ataques
tornaram-se verdadeiramente epidêmicos, ocorrendo massacres nas “Elementary
School” nos anos de 1902, 1906, 1907, 1909, 1912, 1919 e culminado no terrível
massacre de 1927, quando Andrew Kehoe (...) causa 45 mortes, no maior massacre
escolar da história dos Estados Unidos. (...) Os anos seguintes assistiram a continuidade
dos ataques: 1933, 1940, 1944, 1959, 1960 e 1961, com pelo menos 16 crianças
mortas (...). A partir dos anos de 1970 (...) os ataques se multiplicam e as
“high school” substituem, apenas parcialmente as “elementary scholl”, como
cenário principal dos ataques. Nestes anos temos 7 ataques, com 7 mortes; nos
anos de 1980 são 13 ataques, com 15 mortes; nos anos de 1990 já são 60 ataques,
com exatos 93 mortes de adolescentes. Entre os ataques da década de 1990
inscreve-se o tristemente célebre ataque de 1999 contra a Columbine High
School, no Colorado, matando 15 alunos e professores. (....) Nos anos 2000 até
2012 foram 68 ataques contra High School, com 74 mortes de estudantes. (...) e
no ano de 2010 deram-se 10 ataques, com 31 mortes; em 2011, foram 5 ataques e
16 mortes e em 2012, antes do ataque contra a escola de Sandy Hook (em
14/12/2012), já haviam ocorrido dois ataques, felizmente frustrados (...)” (http://www.vermelho.org.br).
Esses
sucessivos massacres nos Estados Unidos devem ser considerados não como dados
isolados de pessoas insanas, mas algo mais da cultura competitiva da propria
sociedade em que são valorizadas as pessoas de sucesso, enquanto os perdedores
são... os perdedores, e isso envolve outros fatores que levam aos extremos. O
presidente Barak Obama já acenou com a diposição de rever leis e “agir para diminuir a violência armada
no país”. A sociedade global agradece. Que este seja o “presente de Natal” deste
povo.
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