No próximo
dia 29, comemoram-se os cem anos do episódio conhecido como a queda do “velho
Lemos” do poder, no Pará. Embora a crise política entre as forças de Lauro
Sodré e Antônio Lemos tivesse origem anterior aos chamados “sucessos de
agosto”, essa data marcou a história paraense pelos acontecimentos violentos
que levaram os adeptos do laurismo a invadir e saquear a casa de Lemos (no
prédio onde era o antigo IBGE) retirando-o com violência e arrastando-o pelas
ruas de Belém, incendiando o prédio de seu jornal, "A Província do
Pará".
Também em
1912, um grupo de mulheres da elite paraense organizou a Liga Feminina Lauro
Sodré para fortalecer a campanha eleitoral desse líder ao governo do estado.
Mas os conflitos de 29 de agosto tornaram-se expressão maior do período na
deposição de Lemos, com poder local ao longo de 15 anos.
A primeira
informação que se tem sobre a organização da Liga encontra-se numa notícia de
primeira página do jornal "Estado do Pará" em 31/07/1912: "Liga
Feminina Lauro Sodré: As senhoras e senhoritas que tomaram parte nas grandes
manifestações feitas ao Dr. Lauro Sodré, no ano passado, assim como também
aquelas que rendem o preito de admiração ao eminente republicano, estão se
movimentando para organização de uma liga feminina. O fim desta, ao que nos
informam, é fazer propaganda em prol da candidatura do Dr. Lauro Sodré ao cargo
de Governador deste Estado, e associar-se às homenagens públicas, que se
fizerem ao ilustre brasileiro. Amanhã realiza-se a primeira sessão preparatória
para a organização da Liga, às 8 horas da noite, na residência da Srtª Rachel
Israel, à rua Cônego Siqueira Mendes, nº 25 (....)”.
Observa-se,
no texto, que a arregimentação feminina, em torno de Sodré, realizara-se um ano
antes, mas é somente neste período que se oficializa como associação integrada
à política, na campanha do candidato. O fato é ilustrativo das condições em que
se encontram, então, as forças lauristas.
A presença
da Liga Feminina, juntamente a outras agremiações organizadas desde o princípio
de 1912 como a Liga Moral de Resistência, o Centro de Resistência ao Lemismo e
o Clube Democrático Lauro Sodré - atribuindo-se caráter "patriótico"
– constitui um fenômeno de caráter nacional. Objetivam empreender campanhas que
solucionem a chamada "anarquia social" que teria sido estabelecida
desde o período de Campos Sales na presidência da República, com a
centralização do poder das oligarquias estaduais.
A instalação
oficial da Liga realizou-se em 1º de agosto de 1912, na residência de Rachel
Israel, sendo presidida por Hilda Vieira e secretariada por Rachel Israel e
Consuelo Paes. Amélia Israel fez o discurso oficial ressaltando os objetivos
primordiais da organização, aludindo ao difícil momento político que o país
atravessava. Fez referência à mulher que pugna pelo engrandecimento da pátria,
e citou os exemplos de Joana D'Arc e Anita Garibaldi. Justifica a campanha em
prol da candidatura de Sodré ao governo do Estado, com base na imagem dele,
evidenciando o que dele esperavam.
A imprensa
laurista acompanha pari passu as atividades empreendidas pela agremiação
feminina, indicando as novas adesões (sempre em listas intermináveis de nomes
de mulheres), as seções criadas nos bairros, as sucursais organizadas nas
cidades do interior do Estado. O trabalho "patriótico" da Liga é
enfatizado através de artigos, notícias esparsas, num constante incentivo às
atividades dessas mulheres.
Após as
grandes comemorações à chegada de Sodré ao Pará, no dia 25 de agosto, inicia-se
a marcha violenta de acontecimentos. Na noite de 28, quando este se dirigia ao
Teatro da Paz para novas homenagens de seus correligionários, sofre um
atentado. Os lauristas responsabilizam os lemistas, enquanto estes dizem ser uma
simulação dos primeiros. E denunciam, pela "A Província do Pará", as
articulações que estão sendo feitas pelos grupos e associações ligados aos
lauristas para o aniquilamento total dos adversários. A "Folha do
Norte" (imprensa laurista) não só estimula a opinião pública contra o
retorno do grupo lemista ao poder, como faz ameaças veladas a este.
No dia 29,
pretextando o revide ao atentado a Sodré, os membros do Centro de Resistência
ao Lemismo e o grupo liderado pelo Intendente Virgílio de Mendonça encabeçam as
cenas de violência na cidade.
Nestes
acontecimentos, não há clara alusão à presença da Liga Feminina, contudo, é
possível que acumpliciasse as ocorrências, sendo uma das "forças
lauristas". Certamente estão informadas dos fatos, por serem membros da
"família Laurista", ou seja, esposas, mães, irmãs, parentes e
aderentes dos correligionários de Sodré.
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