sexta-feira, 24 de agosto de 2012

MULHERES NA POLÍTICA PARAENSE: CEM ANOS


 
 
No próximo dia 29, comemoram-se os cem anos do episódio conhecido como a queda do “velho Lemos” do poder, no Pará. Embora a crise política entre as forças de Lauro Sodré e Antônio Lemos tivesse origem anterior aos chamados “sucessos de agosto”, essa data marcou a história paraense pelos acontecimentos violentos que levaram os adeptos do laurismo a invadir e saquear a casa de Lemos (no prédio onde era o antigo IBGE) retirando-o com violência e arrastando-o pelas ruas de Belém, incendiando o prédio de seu jornal, "A Província do Pará".

Também em 1912, um grupo de mulheres da elite paraense organizou a Liga Feminina Lauro Sodré para fortalecer a campanha eleitoral desse líder ao governo do estado. Mas os conflitos de 29 de agosto tornaram-se expressão maior do período na deposição de Lemos, com poder local ao longo de 15 anos.

A primeira informação que se tem sobre a organização da Liga encontra-se numa notícia de primeira página do jornal "Estado do Pará" em 31/07/1912: "Liga Feminina Lauro Sodré: As senhoras e senhoritas que tomaram parte nas grandes manifestações feitas ao Dr. Lauro Sodré, no ano passado, assim como também aquelas que rendem o preito de admiração ao eminente republicano, estão se movimentando para organização de uma liga feminina. O fim desta, ao que nos informam, é fazer propaganda em prol da candidatura do Dr. Lauro Sodré ao cargo de Governador deste Estado, e associar-se às homenagens públicas, que se fizerem ao ilustre brasileiro. Amanhã realiza-se a primeira sessão preparatória para a organização da Liga, às 8 horas da noite, na residência da Srtª Rachel Israel, à rua Cônego Siqueira Mendes, nº 25 (....)”.

Observa-se, no texto, que a arregimentação feminina, em torno de Sodré, realizara-se um ano antes, mas é somente neste período que se oficializa como associação integrada à política, na campanha do candidato. O fato é ilustrativo das condições em que se encontram, então, as forças lauristas.

A presença da Liga Feminina, juntamente a outras agremiações organizadas desde o princípio de 1912 como a Liga Moral de Resistência, o Centro de Resistência ao Lemismo e o Clube Democrático Lauro Sodré - atribuindo-se caráter "patriótico" – constitui um fenômeno de caráter nacional. Objetivam empreender campanhas que solucionem a chamada "anarquia social" que teria sido estabelecida desde o período de Campos Sales na presidência da República, com a centralização do poder das oligarquias estaduais.

A instalação oficial da Liga realizou-se em 1º de agosto de 1912, na residência de Rachel Israel, sendo presidida por Hilda Vieira e secretariada por Rachel Israel e Consuelo Paes. Amélia Israel fez o discurso oficial ressaltando os objetivos primordiais da organização, aludindo ao difícil momento político que o país atravessava. Fez referência à mulher que pugna pelo engrandecimento da pátria, e citou os exemplos de Joana D'Arc e Anita Garibaldi. Justifica a campanha em prol da candidatura de Sodré ao governo do Estado, com base na imagem dele, evidenciando o que dele esperavam.

A imprensa laurista acompanha pari passu as atividades empreendidas pela agremiação feminina, indicando as novas adesões (sempre em listas intermináveis de nomes de mulheres), as seções criadas nos bairros, as sucursais organizadas nas cidades do interior do Estado. O trabalho "patriótico" da Liga é enfatizado através de artigos, notícias esparsas, num constante incentivo às atividades dessas mulheres.

Após as grandes comemorações à chegada de Sodré ao Pará, no dia 25 de agosto, inicia-se a marcha violenta de acontecimentos. Na noite de 28, quando este se dirigia ao Teatro da Paz para novas homenagens de seus correligionários, sofre um atentado. Os lauristas responsabilizam os lemistas, enquanto estes dizem ser uma simulação dos primeiros. E denunciam, pela "A Província do Pará", as articulações que estão sendo feitas pelos grupos e associações ligados aos lauristas para o aniquilamento total dos adversários. A "Folha do Norte" (imprensa laurista) não só estimula a opinião pública contra o retorno do grupo lemista ao poder, como faz ameaças veladas a este.

No dia 29, pretextando o revide ao atentado a Sodré, os membros do Centro de Resistência ao Lemismo e o grupo liderado pelo Intendente Virgílio de Mendonça encabeçam as cenas de violência na cidade.

Nestes acontecimentos, não há clara alusão à presença da Liga Feminina, contudo, é possível que acumpliciasse as ocorrências, sendo uma das "forças lauristas". Certamente estão informadas dos fatos, por serem membros da "família Laurista", ou seja, esposas, mães, irmãs, parentes e aderentes dos correligionários de Sodré.

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