Repercute
internacionalmente o massacre ocorrido num cinema em Aurora, Colorado (EUA),
semana passada, na pré-estreia de meia-noite de “Batman, O Cavaleiro das Trevas
Ressurge”. O acusado, James Holmes, flagrado saindo do cinema para apanhar seu
carro na confusão gerada pelo pânico que se apossou dos espectadores, foi
descrito como um introvertido, sem amigos (mesmo em facebook), estudioso (já cursava
pós-graduação) e voluntariamente solitário (embora possuísse família). Pergunta-se
o motivo de ter atirado nas pessoas que assistiam ao filme, assumindo a
personagem de Coringa, um dos vilões da série Batman, morto no filme anterior
dessa série (papel do falecido ator Hetch Laeder). Há quem culpe o rapaz por
uma crise paranoica de incorporar o vilão do cinema e achar que atirando no
público estava se “vingando” do fim do personagem, assim como do alijamento do
super-herói no final de “O Cavaleiro das Trevas”, do mesmo diretor, Christopher
Nolan, depois da morte de um cientista que ele poderia ter evitado.
O
problema ganha múltiplos enfoques e não apenas na área psiquiátrica. O primeiro,
evidenciado por jornalistas e cientistas, refere-se à facilidade com que armas
de fogo são vendidas nos EUA. Michael Moore fez um documentário sobre um crime
semelhante (“Tiros em Columbine”) onde ele entrevista o presidente do Clube do
Rifle, o ator Charlton Heston, sobre a tragédia numa escola( próxima do cinema
onde se deu o massacre atual). Heston recebeu o colega cineasta, mas não
demorou na entrevista. Aborreceu-se com a acusação de Moore sobre o uso fácil
de qualquer tipo de arma por qualquer pessoa. E sabe-se ainda hoje que o tema é
tabu em política. Os dois atuais candidatos à presidência da república, o
republicano Mitt Romney e o atual presidente Barak Obama em tentativa de
reeleição, não tocaram no assunto em seus comentários sobre a questão, ambos
expressando, apenas, pesar aos parentes das vitimas do atentado. Eles sabem que
a proibição de armas faz perder votos. Mesmo que se chorem os mortos de tantas
tragédias patrocinadas por doentes mentais (ou não) em momentos de fúria.
Os
psicólogos examinam o jovem Holmes e a população do Colorado pede a pena de
morte para ele. O uso de revólveres automáticos e o modo como ele entrou no
cinema portando mais de uma arma estimulam as conversas sobre a efetivação do
plano diabólico que engendrou. E se de fato pretendia explodir o prédio onde
morava mais alusão se faz ao Coringa, do filme de 2010, morto na fogueira que
provocou com a explosão de um edifício. Todos os detalhes cabem na analise da
mente que os concebeu. E amplia-se esta investigação comparando Holmes com os
matadores de diversos outros cenários não só norte-americanos (os noruegueses
rezaram agora pelo aniversário do massacre no acampamento da juventude
trabalhista em Oslo). Os casos ganham confissões díspares, uns criminosos
afirmam convicção política como o caso da Noruega, outros reclamam de bullyng
sofrido em escola, outros simplesmente se calam (como o assassino atual). O que
se passa nessas mentes só tem um denominador comum: revolta. Contra uma
comunidade, meio de expressar, de certa forma, uma autoafirmação que acham
necessária em meio ao desconhecimento social de sua inteligência. Recentemente assisti
ao filme “Footnote”, produção israelense, candidato ao Oscar/2012, onde um
veterano cientista sempre ignorado em suas pesquisas ao longo de anos, sente
ciúmes do filho que seguiu a mesma profissão e ganha mérito imediato. Ele não
chega à violência física, mas o comportamento introspectivo dá a entender que
tudo poderia fazer para ganhar a fama que estavam lhe devendo.
No mundo moderno, com a rápida
propagação das noticias, os casos de atentados civis (excluindo os terroristas
que se julgam em luta armada por suas nações), podem gerar imitações por
pessoas com distorções neuropsíquicas semelhantes. É muito difícil vigiar quem
entra armado em cinema, em jogos, em acampamentos, em colégios. Mas é certo que
a arma mais usada pelos matadores é de fogo (revolver, rifle, bomba e se
possível até metralhadora). Se a vigilância em lugares públicos é difícil, pode
sair mais en conta o controle da venda de armamentos. Holmes comprou suas armas
e munição pela internet. Esta facilidade pode ser usada pelos seus irmãos de idéias.
Se o mundo alcançou um notável avanço tecnológico pode pensar num meio de
bloquear o alcance de qualquer um a armamentos. Isto sem falar em vendas em
lojas que pedem um currículo muitas vezes sem laudo médico. Assim como há exame
para dirigir veiculo, renovável em períodos que variam de 2 a 4 anos, poderia haver
exigência para os compradores de armamentos. É possivel que isso ocorra em
algumas cidades do mundo, mas a continuidade dos crimes em massa faz sentir que
algo não está funcionando. E há quem pense que realmente não adianta: marginal
rouba arma. Os assaltos nas esquinas das metrópoles indicam a proliferação da
violência como um paradigma do mundo moderno. Então cabe proferir “salve-se
quem puder” e, pricipalmente, a ajuda de Deus.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 27/07/2012)
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