sábado, 21 de julho de 2012

ELEITORES/AS & ELEIÇÕES



Nos últimos meses os/as brasileiros/as que têm acesso à midia impressa, televisada ou nas redes sociais, estão convivendo com um sistemático bombardeio noticioso sobre as eleições municipais de outubro/2012. Dos arranjos iniciais dos partidos em torno da escolha de nomes para a composição de uma chapa majoritária (e, também da proporcional) à formação conflituosa das coligações partidárias visando uma série de atribuições para vários tempos (da campanha, ao momento exitoso), das evidências de uma lei da ficha limpa (Lei Complementar nº. 135/2010) tendente a desonerar esse povo de investir seu voto em alguém que esteja numa relação do Tribunal de Contas da União constando dos nomes de todos os agentes públicos interessados em concorrer a um cargo eletivo nessas eleições. Esta relação agrega figuras como os atuais e antigos secretários municipais, prefeitos e ex-prefeitos, secretários estaduais de agora e de outras gestões, ex-governadores e parlamentares estaduais ou federais. É uma lei que atinge a todos os políticos que tiveram suas contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU), portanto, considerados fichas sujas. Nesse plano, a Lei revela-se promissora em criar um novo conceito de democracia no país, enterrando, gradualmente, os nepotismos, os coronelismos, os “jetons” (pra não dizer outro termo) que têm financiado uma grande maioria de governantes e legisladores seja na esfera federal, estadual ou municipal. Houve um recuo dessa situação agora em junho (26/06) quando o TSE reconsiderou a regra editada em março, retomando o entendimento que já estava sendo aplicado desde a última eleição, na resolução que proibia a candidatura de políticos que tiveram as contas rejeitadas em campanhas anteriores. Com a decisão, candidatos "fichas-sujas" poderão disputar as eleições municipais de outubro. O entendimento desse órgão é que não se pode alterar o texto de uma lei que está em vigor (Agência Brasil).

Ficou evidente, conforme vários fatos e imagens que circularam intensamente nestes ultimos meses (também “conversas de bastidores”) que os/as cidadãos/ãs reconhecem que as coligações partidárias em nível de Brasil (e o Pará não fica de fora) priorizaram, em grande sentido, o interesse no tempo de exposição de seus candidatos/as, na mídia. Contudo, essas alianças levaram em conta, também, algumas outras variáveis como as arestas partidárias convividas pós-eleições 2010 (não inclusão de nomes indicados para determinado cargo), além da avaliação, entre lideranças partidárias, sobre a posição atual ocupada pelos seus partidos de se lançarem mais ousadamente no ambiente político (cf. a situação do PSB nacional). Avaliaram seus custos e avanços no processo de crescimento com alianças antigas e resolveram investir em outras com as quais pudessem potencializar a força que ganharam no processo. Por outro lado, alguns “casamentos” históricos se desfizeram em “divórcios” cujos resultados só serão medidos na pós-eleição.

Como o eleitorado ainda reconhece fortemente a ideologia partidária definindo siglas de direita, centro e esquerda, algumas alianças feitas numa agregação singular entre esses níveis ainda tendem a pesar nas escolhas que serão feitas e/ ou nas visões que tem sobre incoerências na definição do jogo político. Contudo, há que se pensar no que dizem Miguel & Machado (2007): “O arranjo institucional brasileiro tem privilegiado a constituição de coligações, independentemente da orientação ideológica dos participantes. A ausência de lealdades fortes, que vinculam parcelas do eleitorado a determinadas legendas, faz com que o ônus simbólico de coligações ideologicamente estranhas seja, para quase todos os partidos, reduzido”. Panebianco (2005: 12) ao enfatizar sua teoria sobre o “paradigma dos fins”, reconhece alguns objetivos dos partidos entre os quais a sobrevivência desta organização que para ele é a meta comum dos diversos líderes, sendo esta a condição continuada da busca individual dos objetivos específicos de cada partido.

O/a eleitor/a ainda vai enfrentar três meses de campanha eleitoral recebendo o bombardeio pelas mídias e redes sociais de nomes de candidatos/as a prefeito e vereador, além do número destes, dos jingles e do palavrório de benesses que mostram as políticas de governo dos que estão no poder e/ ou de seus indicados/as, e as promessas dos neófitos de quais investimentos serão aplicados com recursos públicos num plano de gestão. Embora reconhecendo as partes contrárias do jogo, entre governo incumbente e oposição, essas informações ainda podem se constituir em algo incerto. O que fazer, então, para uma boa escolha? Pesquisar por conta própria quem é quem que se apresenta no horário eleitoral gratuito será um meio de saber decidir se sua escolha beneficiará a exclusão dos “fichas sujas” e a inclusão de novos aspirantes para a arena decisória.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 20/07/2012. Imagem extraída de blogdodudesoares.blogspot.com)


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