Sexta
Feira da Paixão é como se reconhece este dia associado à Semana Santa
representando, para os cristãos do mundo, o período em que Jesus, o líder do
cristianismo, foi martirizado pela crueldade das pessoas que diziam amá-lo e,
também, pelas que supostamente acreditavam que ele tomaria o poder das mãos dos
que estavam nos espaços de decisão política. Essa idéia vinha desde Herodes,
governante de Judéia, que via, no advento de um Messias proclamado por diversos
profetas como uma ameaça a seu poder; e de Pilatos, governador a mando dos
romanos dominadores na época. Os governantes se amedrontavam com a presença de
Jesus na forma de uma força politica subversiva, duvidando que o reinado sobre
o qual Ele tratava em suas aparições públicas onde multidões iam escutá-lo,
fosse um meio de apregoar uma revolta contra os governos estabelecidos. Na
sabedoria do novo líder, a decisão ficava num outro plano, porque os princípios
de seu programa de explanações ao público avaliavam as formas arbitrárias que
submetiam o povo, e a maneira de este ser enganado pelas forças políticas, seja
por parte do governante da Judéia, seja pelo interventor mandado por Cesar.
Suas denúncias eram consideradas agitação popular. Esses principios de
conscientização incidiam, também, na fé religiosa que ultrapassava o conceito
de cidadão, creditando um mundo onde “outra vida era possível para aqueles
sequiosos de esperança por dias melhores” diante dos conflitos crueis e
fanáticos daqueles momentos na Judéia. No caminho para o local da crucificação,
sofreu os horrores da violência que era aplicada aos malfeitores. E por se
dizer o Rei dos Judeus recebeu uma coroa de espinhos. Já na cruz, suas sete
palavras foram proferidas assumindo não só às idéias que pregava em sua vida
pública, mas ao momento presente, aquele em que sofria as piores dores e
humilhações. Nas sete palavras durante as três horas de agonia, o crucificado
revelou momentos de entrega, perdão, compromisso,
queixa, sede, consumação da dor e a nova entrega, agora espiritual.
Deslocando
do tempo, lugar e situação, pensei a “agonia das horas” do nosso momento
político brasileiro. A cada dia um muro é derrubado, uma “excelência” política
é desmantelada de suas bases e fica à mostra a perspectiva do maior lider
político-religioso sobre o “que fazer” com os vendilhões do templo. Com a
expulsão dos mercenários dos domínios do espaço consagrado ao seu nome ele
exclamava: ” Não façam da casa do meu Pai uma casa de comércio!” Se por muito
tempo tem sido dito que a corrupção é uma atitude “cultural” e, com isso,
justifica-se a tendência de um “jeitinho” para certas anomalias promovidas pelo
patrimonialismo e para a arrecadação do bem público como benesse privada,
presentemente algumas mudanças estão sendo aplicadas para criar uma prática
democrática despojada desse círculo vicioso que tem sido apanágio da
decomposição moral e política do nosso sistema
democrático.
O
povo brasileiro tem convivido com as denúncias as mais variadas sobre o modo
como são usurpados, das políticas públicas, os recursos debitados às principais
áreas do governo principalmente educação, saúde, segurança, e necessárias à
melhoria da qualidade de vida da população. Pessoas inescrupulosas assumem uma
cadeira no parlamento e/ ou em setores cuja decisão política passa pela gestão
que lhes foi atribuida institucionalmente e, sem qualquer pudor estabelecem, de
imediato, uma equipe que se transforma em quadrilha que esquadrinha os meios de
extrair lucros sempre crescentes para suas contas particulares e, por suposto,
ter mais benefícios. As ligações de parceria desses “políticos” com
contraventores torna-se, ainda, uma vertente explicativa dessa viciação em
círculo, pois, resulta em situações que eles sugerem, em suas versões, ser
desconectadas da função legislativa ou do poder executivo para o qual foram
eleitos como representantes do povo, mas funções que se contaminam com esse
tipo de relação.
Brasileiros
e brasileiras, hoje, ao lado de certas instituições públicas comprometidas com
o controle social se revestem das sete palavras do Líder Crucificado e procuram
avaliar de que forma podem romper com o status
quo de um processo devastador que macula nossas bases democráticas. A identificação
de fatos de corrupção, a denúncia, as provas, o processo de acusação e aplicação
da pena aos corruptos são elementos que podem mudar o destino dos que buscam,
por exemplo, a melhoria de sua saúde e encontram
as barreiras de hospitais mal cuidados,
sem equipamentos e sem medicamentos, cheios de profissionais displicentes
com a doença e com o tratamento necessários. Ou daqueles que revelam ausência
de escolas em suas comunidades, ou dos que transitam amendontrados pela falta
de segurança pública.Tenho certeza que o eleitorado brasileiro vai estar mais atento às suas escolhas para os cargos parlamentares e majoritários nas próximas eleições. Além da responsabilidade em recorrer à Lei da Ficha Limpa na expectativa de não ser representado por qualquer “ficha suja”, está a consciencia de que se der guarida à corja de ladrões pelo voto vai ter que amargar uma nova fase de desventuras.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal"/PA, em 06/04/2012)
Nenhum comentário:
Postar um comentário