sexta-feira, 11 de setembro de 2020

AS CAMINHADAS NO ISOLAMENTO SOCIAL

     

Arte - Ana Branco 

Cuidados. Tarefas doméstica. Horários de medicação. Leituras de notícias rápidas. WhatsApp/postagens recebidas e respondidas. Lives familiares. Lives de aniversários. Lives de programação temática. Lives de estudos. Lazer= filmes, seriados, minisséries, leituras. Isolamento social a dois = tarefas duplicadas.

Esses são alguns pontos da situação que tem sido vivida há seis meses. Algumas pessoas têm como mudar essa rotina pela lógica da necessidade de trabalhar fora de casa ou do acesso aos supermercados etc. Somos do grupo de risco e de uma classe social de servidores públicos aposentados. A sobrevivência alimentar e de medicamentos tem a aquisição de uma pessoa da família e deixados na porta do apartamento. E assim vamos vivendo, convivendo e aprendendo macetes para burlar certas rotinas que cansam e estressam. Lembrar a infância, a adolescência, o ontem nas aventuras relevantes e às vezes incômodas, outras vitoriosas, algumas que se tornaram históricas e sempre vivendo esse reviver da memória onde não deixa de pontuar a presença de pessoas queridas, que hoje estão nas caminhadas em outro plano.

O marcador geracional importa. Os/as idosos/as que receberam educação tradicional em termos de classe, raça, gênero e geração em funções sociais naturalizadas submetidas aos rigores de um sistema patriarcal que subsumia a interseccionalidade e mantinha a naturalização do olhar e o viver para a diversidade sentem o ontem se apagando conscientemente e o hoje se renovando criticamente. Alguns/as percebem que avançaram nas ousadias mesmo ainda crianças, com o olhar crítico mostrando o quanto a educação familiar, escolar e religiosa submetia o conhecimento das coisas e a vivência dos valores, alguns reconhecidos, hoje, como tão discriminadores. Outros/as permanecem no ritmo que acreditam ser um ciclo natural da vida de homens e mulheres. E os reflexos da idolatria pelas regras patriarcais tornadas tradicionais e “naturais” ampliam a interpretação de que os valores sociais são ideologias nocivas à humanidade. O caráter dessa negação do olhar crítico ao desvalor humano renega o sentimento do afeto e toma outro rumo.

Nesta atual conjuntura, o cinema tem sido mais do que companheiro, assumiu uma outra dimensão na vida a dois, embora fosse um eixo básico das conversas e reflexões sobre estética, experiências de vida, foco de captar imagens a serem preservadas. Os filmes que assistimos e alguns em revisão têm contribuído para uma outra configuração nessa arte. E as perguntas surgem: por que gostamos tanto deste ou daquele filme? A atitude dos diretores “por trás das câmeras” tem mostrado a amplitude do sistema de repressão às mulheres, aos povos indígenas, aos negros e negras, aos que são apresentados como “desviados”. E muitas vezes deixa-se de refletir sobre o impacto dessa arte tão reforçadora de comportamentos vis, perversos, sabotadores de ações humanas. Quando iniciamos as exibições no Cine Clube da então APCC sempre discutíamos, no final, o tema e a estética dos filmes. Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes, Orlando Teixeira da Costa, Acyr Castro e os outros cineclubistas jovens, no caso, o Vicente Cecim, José Otávio Pinto, Reinaldo Elleres, Raimundo Bezerra e outros dessa primeira fase sempre contribuíram com esses debates. Alexandrino Moreira deu a força para novos programas com filmes que não eram exibidos comercialmente, em seus cinemas 1, 2 e 3. E passamos a fortalecer a crítica ao status quo ameaçador dos valores humanos. Hoje, Marco Antonio Moreira segue construindo um forte caminho no CC-ACCPA.

Tenho assistido a uma variedade de filmes “noir” e policiais de coleções adquiridas por Pedro Veriano há algum tempo e ainda hoje. Num próximo momento vou tratar das personagens femininas nesses filmes.

O isolamento social precisa ser produtivo para sairmos mais fortes desse embate. Ansiedade, insegurança, estresse não só pelo esforço para fugir ao cansaço psicológico que tem se fortalecido também em tantas políticas de governo fascista, negacionista e genocida. A superação é difícil, mas não impossível. Vamos unir forças e ter esperanças.

 

 

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