Cuidados. Tarefas
doméstica. Horários de medicação. Leituras de notícias rápidas.
WhatsApp/postagens recebidas e respondidas. Lives familiares. Lives de
aniversários. Lives de programação temática. Lives de estudos. Lazer= filmes,
seriados, minisséries, leituras. Isolamento social a dois = tarefas duplicadas.
Esses são alguns pontos
da situação que tem sido vivida há seis meses. Algumas pessoas têm como mudar
essa rotina pela lógica da necessidade de trabalhar fora de casa ou do acesso
aos supermercados etc. Somos do grupo de risco e de uma classe social de
servidores públicos aposentados. A sobrevivência alimentar e de medicamentos tem
a aquisição de uma pessoa da família e deixados na porta do apartamento. E
assim vamos vivendo, convivendo e aprendendo macetes para burlar certas rotinas
que cansam e estressam. Lembrar a infância, a adolescência, o ontem nas
aventuras relevantes e às vezes incômodas, outras vitoriosas, algumas que se
tornaram históricas e sempre vivendo esse reviver da memória onde não deixa de
pontuar a presença de pessoas queridas, que hoje estão nas caminhadas em outro
plano.
O marcador geracional
importa. Os/as idosos/as que receberam educação tradicional em termos de
classe, raça, gênero e geração em funções sociais naturalizadas submetidas aos
rigores de um sistema patriarcal que subsumia a interseccionalidade e mantinha
a naturalização do olhar e o viver para a diversidade sentem o ontem se
apagando conscientemente e o hoje se renovando criticamente. Alguns/as percebem
que avançaram nas ousadias mesmo ainda crianças, com o olhar crítico mostrando
o quanto a educação familiar, escolar e religiosa submetia o conhecimento das
coisas e a vivência dos valores, alguns reconhecidos, hoje, como tão
discriminadores. Outros/as permanecem no ritmo que acreditam ser um ciclo
natural da vida de homens e mulheres. E os reflexos da idolatria pelas regras
patriarcais tornadas tradicionais e “naturais” ampliam a interpretação de que
os valores sociais são ideologias nocivas à humanidade. O caráter dessa negação
do olhar crítico ao desvalor humano renega o sentimento do afeto e toma outro
rumo.
Nesta atual conjuntura,
o cinema tem sido mais do que companheiro, assumiu uma outra dimensão na vida a
dois, embora fosse um eixo básico das conversas e reflexões sobre estética,
experiências de vida, foco de captar imagens a serem preservadas. Os filmes que
assistimos e alguns em revisão têm contribuído para uma outra configuração
nessa arte. E as perguntas surgem: por que gostamos tanto deste ou daquele
filme? A atitude dos diretores “por trás das câmeras” tem mostrado a amplitude
do sistema de repressão às mulheres, aos povos indígenas, aos negros e negras,
aos que são apresentados como “desviados”. E muitas vezes deixa-se de refletir sobre
o impacto dessa arte tão reforçadora de comportamentos vis, perversos,
sabotadores de ações humanas. Quando iniciamos as exibições no Cine Clube da
então APCC sempre discutíamos, no final, o tema e a estética dos filmes.
Francisco Paulo Mendes, Benedito Nunes, Orlando Teixeira da Costa, Acyr Castro
e os outros cineclubistas jovens, no caso, o Vicente Cecim, José Otávio Pinto,
Reinaldo Elleres, Raimundo Bezerra e outros dessa primeira fase sempre
contribuíram com esses debates. Alexandrino Moreira deu a força para novos
programas com filmes que não eram exibidos comercialmente, em seus cinemas 1, 2
e 3. E passamos a fortalecer a crítica ao status quo ameaçador dos
valores humanos. Hoje, Marco Antonio Moreira segue construindo um forte caminho
no CC-ACCPA.
Tenho assistido a uma
variedade de filmes “noir” e policiais de coleções adquiridas por Pedro Veriano
há algum tempo e ainda hoje. Num próximo momento vou tratar das personagens
femininas nesses filmes.
O isolamento social
precisa ser produtivo para sairmos mais fortes desse embate. Ansiedade,
insegurança, estresse não só pelo esforço para fugir ao cansaço psicológico que
tem se fortalecido também em tantas políticas de governo fascista, negacionista
e genocida. A superação é difícil, mas não impossível. Vamos unir forças e ter
esperanças.
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