Primeiras brasileiras a exercerem o direito do voto
Há
84 anos, no dia 24 de fevereiro de 1932, foi promulgado o 1º Código Eleitoral
brasileiro, através do Decreto 21.076, adotando-se o voto direto, obrigatório e
secreto e o sufrágio universal, onde foi, finalmente, formalizado o direito de
voto das mulheres. Entre essa conquista e as lutas empreendidas para o alcance
desse passo na cidadania feminina, um grupo de mulheres lideradas por Bertha
Lutz e parte da sociedade brasileira se movimentaram desde os primeiros anos da
década de vinte. Sobre essas ações, considerando a presença das mulheres
paraenses em movimentos políticos instigativos extrai fragmentos da história
desse processo no Pará para a minha dissertação de mestrado tornando visível os
avanços que nossas conterrâneas impuseram no processo.
Desde
a década de 1920, a sociedade paraense presenciou o debate sufragista. Em 1923,
Orminda Ribeiro Bastos, advogada e jornalista, posiciona-se através da
imprensa, desenvolvendo pontos positivos e negativos que ela considerava
essenciais nas reivindicações do movimento emancipacionista instalado no sul do
país, através da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Faz conferência
para a Liga Cooperativa das Operárias de Fábricas, enfatizando a necessidade de
instrução como ponto fundamental para a ascensão da mulher na luta pelos seus
direitos políticos.
A
imprensa da época exala um forte anti-sufragismo nos textos que publica. A
ideologia dominante na sociedade reafirma a reprodução dos papéis sexuais,
aprisionando a mulher em nome de uma suposta fragilidade biológica, em um campo
de atividades menos valorizadas socialmente. Mostra-a "imperfeita e
frágil" para suportar a "dureza" imposta pelas condições da
política, enquanto o homem, "forte e perfeito" é "talhado"
para assumir o espaço público e político. Esse discurso reforçava ainda a
concepção sobre a ignorância cultural da mulher apta apenas a mexer
"panelas e mingaus". O confronto atinge as raias do paroxismo, quando
a prática sufragista é invocada para estabelecer dúvidas à honra da
"mulher-cidadã".
O
direito do voto levaria a abertura de outro caminho até ali restrito aos
homens, a atividade político-partidária, concedendo às novas
"cidadãs" o direito de ombrear-se aos "varões" de igual
para igual. No discurso de alguns anti-sufragistas deste período, subjaz, de
alguma forma, a preocupação com essa provável "igualdade", pois estes
desconfiavam que a concessão do direito do voto, levaria, cedo ou tarde, à
efetiva representação parlamentar das mulheres, campo restrito da política
partidária.
Em
1929 as paraenses Maria Aurora Pegado Beltrão e Corina Martins Pegado solicitam
ao Juiz Federal o alistamento eleitoral, mas o arrazoado jurídico contrário à
solicitação arvorou-se na justificativa de uma ruptura com a imagem tradicional
da mulher.
Orminda
Ribeiro Bastos é, sem dúvida, a liderança pioneira do sufragismo paraense da
década de 1920. Sua figura mantém um nível equilibrado no debate jornalístico,
apresentando suas próprias dúvidas sobre a concessão irrestrita do voto à
mulher e à filiação do movimento brasileiro ao movimento norte-americano. Seu
compromisso evidencia maior instigamento ao interesse cultural que deveria
pautar a preocupação da mulher às suas condições de desigualdade com o sexo
oposto. A "anarquia social" vivenciada pelo sistema político
brasileiro e o "mau caminho" que tomaria o voto feminino, nessas
condições, preocupam Orminda.
É
somente em meados de 1931, já instalada, portanto, a revolução de trinta, que
se organiza o núcleo feminista, no Pará. A “Folha do Norte” de 12 de junho de
1931 dá o tom da notícia referindo as principais repercussões do movimento em
nível nacional. Do registro dos nomes das sufragistas paraenses à frente da associação
feminista, identificam-se mulheres com expressão no meio das letradas. O Núcleo
Paraense pelo Progresso Feminino é instalado oficialmente em 21 de junho de
1931, constituindo-se uma diretoria provisória sendo indicada Presidente de
Honra a esposa de Justo Chermont, Izabel Justo Chermont.
O
processo histórico da instalação do movimento sufragista paraense tem uma aura
particular e os dados levantados identificam as personalidades femininas de
mulheres letradas que organizam o movimento. Mas há um ponto dissonante: são
mulheres espíritas que seguem à frente do movimento e, com isso, o sufragismo
inicial neste estado favorece discursos inflamados contra elas do clero
católico, a exemplo, os escritos da Folha do Norte assinados pelo Padre
Florence Dubois.
Deslocando
os avanços da cidadania feminina nacional para os dias atuais pergunta-se: o
que representou a conquista do voto pelas mulheres brasileiras na ascensão aos
cargos eletivos proporcionais e majoritários considerando que esse valor era o
mote da participação feminina nesses espaços de poder?
Num
processo continuo, mas incipiente de avanços, vê-se que a nova legislatura
iniciada em 2015 cresceu muito pouco em relação a anterior. No Senado, 11
mulheres representam 13,6% dos 81 senadores. E nas Assembleias Legislativas
houve o maior número de mulheres candidatas em eleições gerais, mas somente
11,33 % ou 120 parlamentares eleitas. O número de deputadas estaduais e
distritais diminuiu 14,89% ao compará-lo à bancada de 2010.
Quanto
ao Pará, o eleitorado feminino é de 50,21%, aumentando em relação às eleições
de 2010 que era 49,92%. Sobre as candidaturas de representação parlamentar,
vê-se que de um total de 170 candidatos para a câmara federal, 31,76% eram
mulheres. Nesse caso, este estado que apresentava 5,9% proporcional ao número
de cadeiras (17) cresceu para 17,64%, uma vez que elegeu três mulheres, sendo
uma reeleita e duas novas. Para deputado estadual, de 637, havia 182 candidatas
ou 28,57% do total, contudo, em 2010 tínhamos 7 mulheres eleitas, e no pleito
de 2014 reduziu-se para 3.
A
não opção das mulheres por um cargo eletivo tem muitos componentes entre os
quais a cultura sexista, falta de financiamento de campanha e outros itens da
agenda política.
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