Notícias
publicadas pelas mídias mais evidentes levaram-me a pensar na escalada da
violência constatada em nível universal. A posição da Coréia do Norte
alicerçando a ideia de uma guerra de consequências inestimáveis é o primeiro
enfoque. Pode ser que a ameaça se dilua numa tradicional maratona que o governo
desse país anuncia. Mas é evidente que o mundo não se tornou violento a partir
de hoje. Os trogloditas guerreavam para manter seus domínios e caça. Nas
escrituras sagradas cita-se o que seria o primeiro fratricídio. Por outro lado,
daria para pensar que no “século do progresso” como foi chamado o início dos
1900 - e ao se saber de duas guerras mundiais – os fatos e as pessoas mudassem
o tom. Afinal as armas deixaram de ser as primitivas e hoje espalham a morte
com a tecnologia que desdobra o átomo. O roteirista do filme “O Dia em que a
Terra Parou”(The Day the Earth Stood Still-1951), Edmund H. North (1911-1990),
retratou um ser extraterreno que veio à Terra pedir a compreensão dos homens
para evitar um conflito universal. Seria como um novo Cristo a lembrar da
necessidade da paz que este pregava. No filme, que permanece atual, não se sabe
se o sermão do ET vai ser ouvido. Na época corria o processo armamentista entre
EUA e União Soviética embalado pela discordância ideológica. Hoje não se
precisa saber por que a Coréia do Norte quer atirar mísseis com ogivas
nucleares na vizinha Coréia do Sul (fato que assombra posto que os efeitos de
explosões atômicas chegariam às vizinhanças) e também no Japão e EUA. Não se
pode dizer que a ameaça é a “guerra da vez”. Na realidade, não há um dia em que
uma nação em um pedaço do planeta, não esteja brigando (com outras ou entre si).
O conflito interno na Síria permanece alicerçando as estatísticas de óbitos. O
ato violento banalizou-se e chega a espaços que nos tornam participantes.
Sabe-se
que nas cidades brasileiras, inclusive Belém, o maior número de presos é de
jovens. As cadeias enchem-se de rapazes e moças e a escalada de violência
abrange em maior percentagem os de baixo grau de instrução. No recente caso de
estupro de uma turista estrangeira no Rio, o acompanhante da vítima contou que
os bandidos riam ao atacar a jovem. Há um prazer no ato violento e este ato
abrange várias etiologias e cabe em várias formas de participação a satisfazer
ou não condições patológicas algumas perfeitamente diagnosticadas. Persiste,
por exemplo, a violência sexual e étnica, e sobre o segundo caso disse, em
1968, o sociólogo afro-americano Kenneth Clark: “Eu leio o relatório de motins
em Chicago de 1919 e é como se eu lesse o relatório da Comissão de Investigação
das desordens no Harlen, de 1935, o relatório de investigação daquelas de 1943,
o relatório da Comissão McCone sobre os motins em Watts. Devo sinceramente lhes
dizer (...) que se acreditaria em “Alice no País das Maravilhas”, com o mesmo
filme que nos é eternamente passado: mesma analise, mesmas recomendações, mesma
inação”.
No
grupo de homófobos está até mesmo, e paradoxalmente, quem trata de direitos
humanos. Chega-se a observar que em casos onde se exemplifica temas religiosos,
a violência se abriga como valor histórico.
Há
60 anos as notícias policiais figuravam nas últimas páginas de um caderno de
abertura de um jornal de Belém. Mais atrás no tempo, especialmente em 1942, a
sociedade local estarrecia-se com o caso de um assassinato. Dizia a “Folha
Vespertina”: “Ainda não se deve haver apagado do espírito público a lembrança
do bárbaro crime ocorrido no silêncio da casa nº. 6, da Praça da República,
perpetrado com requintes de incrível perversidade, e do qual foi vítima a infortunada
peruana Izabel Tejada y Perez, ou simplesmente Izabel Tejada.” O criminoso era
conhecido como Red Lucier e o motivo foi roubo. Mais adiante no tempo e houve
outro crime bárbaro em que a vitima foi um benquisto comerciante e o criminoso
o seu afilhado. Hoje, os jornais dedicam cadernos a fatos policiais. Não faltam
crimes de morte, furto, estupro, e o que antes era impensado: uso de drogas.
Alucinógenos diversos, provocando a fuga mental de personagens vitimadas pela
pobreza material e intelectual, além de casos nitidamente doentios advindos de
diversas formas de patologia, ganham campo nas diversas classes sociais. A
diferença, no caso, é que os menos abastados vendem o produto e os mais
abastados ou são os compradores ou reforçam seus bolsos empresariando o
comércio das drogas.
A
escalada da violência se faz, portanto, de diversas formas e em diversos cenários.
Se persiste o medo de uma guerra nuclear a alicerçar ideias de escritores que
veem uma regressão da humanidade a ponto de transformá-la em símios numa alusão
apressada, mas ao mesmo tempo irônica da Teoria de Darwin, (“O Planeta dos
Macacos” de Pierre Boule) por outro lado, cresce a guerra interna onde se vê
até crianças usando armas para atacar seus desafetos. Não é difícil achar
exemplo dessa forma de violência observando-se as noticias constantes de alunos
que atacam colegas ou professores em diversas escolas de diversos países.
Assim
como hoje se prega a proteção ao meio ambiente deve-se propagar nesse tom,
posto que faz parte do ambiente, o combate amplo ao que se pode ver como um
tsunami de violência corpo a corpo. Se não se dissipar certo pessimismo em
torno, realmente, a Terra pode parar.
(Texto originalmente publicado em O Liberal (PA) em 12/04/2012)
Ilma. Sra. Luzia Álvares, acho extremamente louvável sua inciativa em propagar a ideia de combate a violência, porém sinto lhe informar, que devemos nos informar melhor antes de citar como exemplo em nossos discursos entusiasmados ocorrências do passado. Como excelente pesquisadora da força feminina na região amazônica, compreendo que a senhora, mais do que qualquer pessoa, deve conhecer o poder e a influência que uma mulher divorciada, conhecedora de artimanhas e “manhas”, por assim dizer, pode exercer sobre um rapaz de 22 anos. Em sua postagem a senhora cita um caso em especial, porém, em nenhum momento cita o nome BEATRIZ COLARES, ao meu ver e como grande conhecedor dos fatos ocorridos, acredito a mesma ser a grande incentivadora e motivadora da prática da qual me refiro. Esclareço que em nenhum momento gostaria de fazer apologia a práticas criminosas de qualquer natureza, principalmente demonstrar concordância com a ocorrência histórica relatada, porém existem muitas informações que a sociedade paraense, pautada na moral e nos bons costumes da época se esforçaram para encobrir. A mesma sociedade que é originária de um povoamento de degredados proveniente da metrópole europeia como sabe todo o bom conhecedor da verdadeira história do Brasil, os quais foram enviados para região amazônica com a finalidade de contrair matrimonio com os nativos e povoar. Existem muitas histórias por de trás das histórias.
ResponderExcluirPrezado Rubens Ramalho. Agradeço seu comentário a um texto meu sobre a situação da violência contra a mulher & humanos onde vc apresenta o nome de Beatriz Colares, uma das pessoas a participar do crime contra a peruana Tejada. Na verdade, não tive acesso às informações completas sobre esse crime de 1942. E não citar Beatriz Colares como parceira de Red Lucier não quis esconder a presença de uma mulher criminosa. Dessa forma, agradeço seu comentário que me fez procurar saber quem era Beatriz Colares ao ler um texto interessante sobre esse crime. Minhas pesquisas não entram nesses casos de violência histórica. E nesse texto o sentido amplo desses casos se deu mais pelo meu conhecimento coloquial. Atenciosamente.
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