Aprendi com meus
mestres do IUPERJ (hoje do IESP/UFRJ) no período do curso de doutorado em
Ciência Política, que nem sempre somos versados em multiplas teorias. Se para
alguns essa assertiva configurava repelir problemas polêmicos, a mim me parece
sabedoria. Alguém versado em Marx pode ter lido os teóricos utilitaristas e os
liberais, mas o compromisso dele é com o conteúdo mais acumulativo.
O preâmbulo vem à
conta de meus compromissos neste espaço, por vezes deslocando de um assunto na
“ordem do dia” nem sempre com base em teorias da minha qualificação específica,
mas por reconhecer certo compromisso mais afinado com as minhas origens. Este é
o caso dos 80 anos do Colégio Santa Rosa celebrado em janeiro deste ano. Se por
um lado é um tema afetivo às jovens da minha geração que por lá passaram, não
deixa de ter hoje certo grau de avaliação e análise sobre um cotidiano marcado
por um modelo de sociabilidade para as mulheres daquela época, dificilmente
recuperado pela História devido a falta de incentivo à pesquisa sobre essa
situação vivenciada nos colégios de freiras.
Em 2010, elaborei um
projeto de pesquisa para ser executado por um grupo de colegas, ex-alunas do
‘Santa Rosa”, que àquela altura celebrava 50 anos de formatura nas áreas do
curso pedagógico e de contabilidade. “O
Protagonismo das Mulheres de uma Geração. História e memória das formas de
sociabilidade de paraenses dos anos 1930 a 1950” foi o titulo dado. O
interesse era chegar a uma imagem do que teria mudado para essa geração de
estudantes algumas remanescentes do internato, outras externas, em torno de sua
vida particular e profissional. A justificativa era a seguinte:
A geração de mulheres brasileiras
da classe média dos anos 30-40-50 teve uma formação tradicional cujas marcas
fortaleceram a educação e a sociabilidade das meninas e meninos desse período.
Seguindo os padrões da sociedade da época, mantinham-se submetidas/os a um
modelo que se expressava desde o comportamento na família, na escola, na vida
social, na religião, sendo, os “guardiões” do cumprimento dos costumes e das
normas, os adultos da geração mais velha, podendo ser os pais, avós, tios e
tias, o pároco etc.. O modelo era bipolarizado: o preparo das meninas para o
casamento e a vida privada, e dos meninos para a vida pública com o dever de este
ser o provedor. Às meninas, ensinava-se a manterem os valores sociais que
determinavam o padrão da “boa moça” que deveria conhecer os mais específicos
ditames da imagem
privada e pública de sua condição de mulher. Ou seja, eram “feitas para o
casamento”, deviam conhecer todas as atividades próprias à “carreira doméstica”
cujo percurso deveriam seguir se quisessem ser “bem vistas” socialmente. Seu valor era reconhecido na procriação
e no cuidado com os filhos, com o marido, sendo orientadas para o trabalho
doméstico. Mas, apesar de todo um controle a que as mulheres eram submetidas, nem sempre seguiam esse padrão. Algumas mais ousadas desafiavam as regras e seguiam em frente. Várias situações sobressaiam: enfrentar as crises doméstico-econômicas e/ou por considerarem que esse padrão não se constituía uma imposição.
O Pará, como um Estado muito fortemente marcado pela cultura da Metrópole, em sua fase de formação cultural e política onde se acentuavam os ditames portugueses e franceses, é possível que tenha mantido as normas sociais próprias desse processo da modernização colonizadora. Assim, a pergunta colocada era: as paraenses dos anos 30-40-50 seguiram o processo hegemônico de manter a padronização cultural e educacional das mulheres da Primeira e Segunda República ou apresentaram um estilo próprio em que outras culturas já circulavam quer nas salas de aulas, nas festinhas e/ ou nos encontros sociais?
O que se pretendia com essa pesquisa? Identificar, a partir da perspectiva da história de vida de uma geração, de que forma as transformações sócio-culturais teriam influenciado e/ou mesmo ditado o modelo de gênero nas décadas de 30, 40 e 50 na capital do Estado do Pará e de que forma as “ousadas” quebraram o padrão e se profissionalizaram, compondo um cotidiano entre o lar e o trabalho fora de casa – uma evidência daquelas mulheres protagonistas da pesquisa.
Infelizmente esse projeto não foi adiante. Seria uma maneira de as próprias pesquisadoras se auto-retratarem e assim mostrar a força das mudanças instaurando as chamadas “bad girls” porque não totalmente voltadas para o seu “único destino”.
Hoje, nos 80 anos de fundação do “Santa Rosa” olhando para trás, vejo as diferenças. Na área física, na área de convivencia entre os gêneros, nos namoros que começam na sala de aula, enfim, outras tendências de relacionamento. No dizer de Jessica Mota (20 anos), neta de uma das jovens dos anos 1960 (extraido do facebook): “
Outras imagens dos anos 1960
(Texto originalmente publicado em "O Liberal", em 10/02/2012)
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