No meu tempo de criança, em Abaetetuba, o idoso era respeitado como uma pessoa delicada, pela ação do tempo, que carecia de um tratamento especial seja na comunicação seja na aceitação de sua postura.
Contudo, era voz corrente que o idoso era “caduco”. Oque queria dizer? Esquecimento de fatos recentes contrastando com lembranças de fatos há muito tempo passados era uma característica que se englobava numa só forma de caracterizar a velhice.
No passado não havia qualquer regalia oficial para com a pessoa com mais de 60 anos. Mesmo porque a expectativa de vida era inferior a isso. Quando se atingia a segunda metade de um século o respeito vinha com a educação familiar. Mas quem não conseguia manter ao longo dos anos uma família era um sujeito a lutar com a concorrência dos mais novos para continuar vivendo.
Na escola, aprendi que as pessoas idosas poderiam padecer de doenças degenerativas como o Mal de Alzheimmer. E ainda tinha (e tem) a arteriosclerose, com os danos que a insuficiência de circulação cerebral acarreta com o envelhecimento ou endurecimento (pelos depósitos de gordura) das artérias. Naturalmente um organismo cansado sofre os danos naturais de um desgaste orgânico. E por isso não se pode ver o idoso da mesma forma que se vê uma pessoa mais jovem. Isto foi levado em conta em 1997 (as discussões vêm desde 1983), quando o deputado Paulo Paim (PT/RS) atendeu às reivindicações de aposentados, pensionistas e idosos de um modo geral vinculados à Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (COBAP), como Projeto de lei n° 3.561. Sete anos depois, exatamente em 1º de outubro de 2003(Dia Internacional do Idoso), o projeto foi sancionado pelo Presidente da República agrupando-se à lei nº 8.842 de1994, que dava garantias à chamada Terceira Idade.
A lei n° 10.741 de 1° de outubro de 2003compôs-se de 4 Títulos: Disposições preliminares; Dos Direitos Fundamentais; Das Medidas de Proteção e Da Política de Atendimento ao Idoso. Como Direitos Fundamentais estão: Direito à Vida, á Liberdade, Respeito e Dignidade; Dos Alimentos; Do Direito à Saúde; Da Educação, Cultura, Esporte e Lazer; Da Profissionalização e Trabalho; Da Previdência Social; Da Assistência Social: Da Habitação e Do Transporte. Em outros itens enfatiza-se o atendimento e fiscalização das entidades de atendimento.
Hoje o idoso não paga transporte coletivo, nem ingresso em casas de diversões públicas, não entra em fila e deve reclamar os maus atendimentos em qualquer lugar.
Obviamente as conquistas legais nem sempre são obedecidas numa visão global, ou melhor, na cidade e no campo. Há idosos ainda muito desrespeitados. Mas até porque a categoria cresce com o aumento da expectativade vida, os direitos desse grupo passam a ser observados.
O que difere o idoso do “coitadinho”? Será que a pessoa depois dos 60 anos é incapaz? Ou, como disse recentemente em uma entrevista o ex-governador Almir Gabriel, será que a idade avançada é “uma doença contagiosa”?
Não sou das que acham apropriado chamar “melhoridade” para quem passou da faixa dos 50 anos. Mas é certo que a experiência modula a razão. A vida ensina na prática o que é bom e o que é nocivo. E a bagagem intelectual que alimenta o “disco rígido” da mente é muito importante para um trabalho profícuo, apoiado em experiências pessoais e teorias adquiridas com a leitura e vivência ao longo dos anos.
O poeta romano Juvenal, na Sátira X, deixou a frase celebrada com o passar do tempo: “mens sana in corpore sano”(mente sã em corpo são). Quem conseguiu tratar a mente de forma a que ela permaneça ativa com a idade, não deixando que resíduos orgânicos a deteriorem, o lucro virá com a faculdade de sentir-se apto com o passar do tempo.
São muitos os exemplos de intelectuais maduros que projetaram a sua capacidade ainda com mais veemência ao atingirem uma idade considerada avançada. Por isso, hoje se revê o caso das aposentadorias compulsórias. Há aposentados por idade que podem produzir tanto ou mais do que candidatos mais jovens. É um motivo de se manterem no mercado de trabalho. Se esta medida pode parecer problemática quando se sabe que os quadros deempregados deixam de ser preenchidos posto que os antigos não largam os cargos, a solução não me parece esperar que os mais velhos abandonem seus postos. O produtivo é criar novas fontes desses ou de outros empregos.
O idoso não deve ser improdutivo. Médicos das especialidades básicas nesse setor como geriatria, neurologia e psiquiatria acham que a mente deve sempre estar ocupada. Naturalmente que deve diminuir ou desaparecer a obrigação burocrática que propicie o estresse. A expectativa é ponto negativo na saúde do idoso. Se a ele é dado condições de trabalho que o deixem criar, com certeza a resposta será alvissareira.
Grandes vultos da história universal são formados de pessoas idosas. O que elas fizeram antes de se tornarem anosos é muitas vezes oculto nas biografias. O que resta é um trabalho organizado na maturidade, nos últimos anos sobre a terra. E se deve aproveitar sempre que possível a capacidade intelectual de quem conseguiu atravessar os anos conservando a capacidade de produzir.
No mês de setembro foi comemorado o Dia do Idoso e dessa forma nada melhordo que lembrar que os vovôs e vovós têm muito a dar aos netos e netas de um mundo que se aperfeiçoa em técnica, mas para isso precisa de quem analise essa conquista.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" de 30/09/2011. Foto extraida do blog idadecerta.com.br )
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