domingo, 25 de dezembro de 2011
O ENCANTO DO NATAL
No filme “Feliz Natal”(Joyeux Noel) recém-(re)exibido em Belém, os combatentes inimigos na 1ª Guerra Mundial recolhem suas armas, nas trincheiras, por um momento, e se confraternizam assistindo a uma cerimônia de Natal. O fato aconteceu, mas só foi relatado em cartas de soldados posto que as autoridades iriam censurar qualquer menção desse tipo se chegasse à imprensa.
O exemplo identifica o que se tem como “mensagem de Natal”. Se ombreado no que a festa representa para o mundo cristão é o momento da paz, o momento em que se devem esquecer as rixas e se relacionar no bem. Mas até no episódio focalizado em 1917, o congraçamento é episódico. O comum é o que se vê em diversas festas natalinas na área política (não só partidária): todos brindam por um Feliz Natal, mas não podem exprimir à sinceridade a frase de Pascal (1623-1662) “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Simplesmente porque as razões emotivas são efêmeras, não são registradas por uma razão moldada no rancor de tanto antagonismo.
Uma revista de circulação mensal publica uma secção que se assemelha ao poema “If” de Rudyard Kypling , onde os versos finais dizem assim:”Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,/e, entre Reis, não perder a naturalidade./E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,/se a todos podes ser de alguma utilidade./Se és capaz de dar, segundo por segundo,/ao minuto fatal todo valor e brilho./Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo, e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!”. No caso, pergunta-se o que seria a política sem o “se” que mascara antagonismos?
Pensem num Natal em que todos os partidos comunguem de reivindicações em prol dos que elegeram seus filiados/as sem macular os preceitos constitucionais. Se os eleitos privilegiarem projetos que não foram de sua autoria e sim de opositores (desde que esses projetos sejam considerados benéficos para a nação e não para suas ambições particulares). Pensem numa hegemonia que dispense debates agressivos a ponto de incitarem reações nervosas e até mesmo físicas. Pensem numa capacidade de renúncia diante da descoberta de uma falta grave com o reconhecimento de que foram indignos do mandato que ocupam (sem a necessidade de investigações ou CPIs), mas pela consciência de perderem a virtude. Imaginem opositores se elogiando em tribuna desde que esses elogios tenham base real. E se as reivindicações populares, se impossibilitadas de serem logo atendidas, mereçam resposta convincente e substanciosa (em argumentos). E saindo dos poderes constitucionais, se nas diversas áreas do relacionamento humano as pessoas passarem a se tratar na dignidade deste relacionamento, ou seja, de forma humana. E afunilando o pensamento, se qualquer ofensa a um, jogada como inadvertida, seja perdoada por quem se sente ofendido e as duas partes se entenderem com doces palavras.
“Se”, como escrevia Kypling em seu poema escrito em 1895, o mundo celebra um Natal perene, cumprindo a promessa muitas vezes feita de que a confraternização em nome de Cristo permaneça pelo ano inteiro, então, como dizia o poeta inglês, o ser humano seria o “dono do mundo”. Não é uma questão de fazer valer a supremacia da inteligência do que evidencia o “homo sapiens” como a obra-prima da criação. Seria a consciência da mensagem que Jesus veio oferecer “aos de boa vontade”. E a forma de homenagear sinceramente o nascimento do Filho de Deus. Mesmo que as consciências num mundo em que as pesquisas científicas cada vez mais evidenciem dados, saiba-se que esse nascimento não se deu em 25 de dezembro, que a data escolhida para comemorar o fato veio da Festa do Solstício, da comemoração que se fazia na época da colheita pelos camponeses de dois mil anos atrás ( e ainda se faz esse tipo de festa).
O Natal é especialmente um momento de reflexão. Chegando o final de um ano é natural que se avalie o que se fez de certo ou errado em um período da vida, nas razões pascalinas que normalmente não são logo compreendidas. E o balanço dessa memória deve ganhar corpo numa postura que sempre é difícil de ter. Sem se julgar santo, homem/mulher devem tentar viver em paz. Reparem agora no fecho da guerra do Iraque. Depois de muitos soldados mortos eles saem do palco dos acontecimentos felizes pelo ato de paz. Mas guerrearam. E valeu a pena? Quem ganhou e quem perdeu (quantas mães, esposas, filhos de combatentes)? Na História isso será apenas um capitulo. E muitos colegiais não vão memorizar o fato.
O voto de um Feliz Natal deve ser substancioso.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" (PA) em 23/12/2011)
sábado, 17 de dezembro de 2011
A ARQUITETURA DOS DIREITOS HUMANOS
domingo, 11 de dezembro de 2011
SEPARATISMO?
domingo, 4 de dezembro de 2011
PRÉ-CANDIDATURAS: NOVAS VARIÁVEIS?
Em que pese a campanha sobre a divisão do Pará estar em ritmo acelerado, com as mídias e as redes sociais se enfrentando em torno dessa situação, os líderes partidários paraenses trocam idéias com sua base de eminências e militâncias ativas para chegar a um nome de consenso que possa converter o capital político e social acumulado de determinado prócer, em votos nas próximas eleições municipais de 2012. Pesam nessa balança de pré-candidaturas os envolvidos em frentes emergentes de ação contabilizada pelas criticas da população. Serviços públicos que cometem deslizes estão na “ordem do dia” para que sejam defenestrados os responsáveis pelo mau desempenho. Se não há indicativo ostensivo de culpados, cobra-se ao partido incumbente uma decisão imediata para resolver o problema e/ou culpa-se aquele que deixou o cargo na situação desastrosa. Outra estratégia refere-se à discussão sobre questões polêmicas do tipo construção da Usina de Belo Monte que tem aglomerado a sociedade civil paraense e até mesmo internacional em torno da necessidade de deter esse programa devido os malefícios que trará quando estiver ativa. Aliás, numa recente reunião (29/11) entre o Ministério de Minas e Energia, o responsável pelo consórcio de empreiteiras de Belo Monte, deputados e a Prefeita de Altamira (do PSDB) responsabilizada pelos atrasos do programa, esta esclareceu que “desde o início do processo de implantação da obra, a prefeitura estaria no apoio ao projeto”. Pergunta-se: esta posição da prefeita vai onerar sua indicação à reeleição e/ou um nome de sua confiança caso não possa mais candidatar-se? Conseguirá votos na cidade de origem sabendo-se que o Movimento Xingu Vivo alarga-se consideravelmente?
As variáveis do processo de escolha, também uma forma de recrutamento partidário aos nomes de filiados/as e/ou à formação de coligações para o tempo eleitoral, têm mantido algumas pré-candidaturas na “boca do povo”. Já me referi aqui, em outro texto, ao PSDB, PTB, PPS, mas outros partidos também estão conversando entre si e seus aliados sobre as pré-indicações de candidaturas à prefeitura de Belém que possam ser exitosas no próximo pleito municipal.
Sabe-se, por exemplo, ao acessar os blogs oficiais dos partidos e/ou em conversas com certas lideranças que, embora algumas organizações mantenham em seu estatuto a realização de prévias para chegar a um denominador comum sobre esses pré-candidatos, se houver essa consulta haverá dissensão entre os grupos que se formam nos partidos e têm opção por um nome. No PT, por exemplo, está previsto a realização de prévias para escolha do nome do/a candidato/a à prefeito/a de Belém. Embora a decisão tenha sido tomada na reunião do Diretório Municipal, votadas duas propostas – se tirada em convenção ou pelas prévias – venceu esta última. Contudo, em conversa com um membro do partido que mantém o “discurso competente”, ele me informou que esse processo é bastante desgastante, haja vista que aquele que for indicado nem sempre receberá o apoio dos que perderam. E essa situação é difícil, disse-me ele, para contornar e levar à unidade do partido. Assim, as“costuras” estão sendo feitas em torno de um nome de consenso e a desistência de prévias. A voz corrente tem apontado para os nomes de Waldir Ganzer, Mário Cardoso, Carlos Bordalo, Alfredo Costa, Edilson Moura e, mesmo, de Ana Julia Carepa. Cláudio Puty já propôs publicamente seu nome “para o bem do partido”(?), considerando sua votação expressiva para a câmara de deputados em 2010. Pergunta-se: em se dando a necessidade de unidade, sem prévias já estabelecidas, quem iria ao pódio da pré-candidatura em fevereiro (data de apresentação do/a candidato/a oficial)?
O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) tem recebido significativo apoio popular à pré-candidatura do deputado Edmilson Rodrigues que está propiciando visibilidade, não só pelo potencial de votos recebidos em 2010, como pelo capital político considerável que tem (p. ex, saiu do governo municipal de Belém, em 2004, no segundo mandato, com 60% de aprovação popular), mas, também, por estar sempre na mídia por seus pronunciamentos da tribuna da AL. A senadora Marinor Brito está sendo cogitada para uma composição com o colega, contudo, de um líder do partido ouvi ponderações sobre essa situação, sem descartar as insinuações populares. Pelo próprio processo programático desse partido sabe-se que dificilmente ele fará composições com outros que não tenham o perfil político assumido.
Outro partido que costura nomes é o PSB, apontando-se a pré-candidatura do deputado Cássio Andrade. Na verdade, esse nome seria mais um “balão de ensaio” visando uma composição com o partido do governo e/ ou a necessidade de sair do jogo caso seja oportuno para o PSDB. Mas o vereador José Carlos também se lançou pré-candidato, em outubro último.
O PMDB cultiva os nomes de José Priante e Elcione Barbalho, aquele com uma avaliação significativa de intenção de votos (pesquisa feita em junho/201s1). O PCdoB ensaia apresentar o ex-candidato a deputado federal Jorge Panzera.
Entre conversas, desconversas e muitas opiniões, o certo é que está entrando nesta fase de decisão de pré-candidaturas, uma nova variável no jogo político que se articula para eleger o prefeito de Belém. Trata-se da questão do separatismo, presente na maioria das postagens entre blogs e demais redes sociais, sentimento de amor pelo Pará unido e Belém governado por quem é fiel à terra. Os nomes dos trânsfugas são citados, suas fotos expostas e as mensagens cada vez mais incisivas procuram desqualificá-los. Creio que depois do 11 de dezembro, chegará por aqui a “terra arrasada” de algum partido que já projetou o nome de seu candidato e supôs imbatível nas urnas. Então teremos a chance de ver o que virá de embates sobre quem abandonou o mastro que lhe deu guarida por tanto tempo e hoje quer levar consigo o naco da terra alheia.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal" (PA), de 02/12/2011)
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
NÃO VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
O dia 25 de novembro foi denominado o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher homenageando três irmãs, ativistas políticas: Pátria, Minerva e Maria Teresa Mirabal, brutalmente assassinadas pela ditadura de Leonidas Trujillo, na República Dominicana. O fato que culminou nesse episódio trágico originou-se de um agravo sofrido por Minerva, assediada por Trujillo durante o “Baile do Descobrimento”, em 12 de outubro de 1949, para o qual fora convidada toda a família. Impulsiva, a jovem repele injuriada o ditador e, então, toda a familia foge do baile antes do final, atitude vista pelos órgãos oficiais como afronta dos Mirabal ao governo. A partir desse incidente as três mulheres e seus familiares passam a sofrer forte repressão. Perdem a casa e os recursos financeiros, contudo, num olhar pelo país percebem o abalo no sistema econômico em geral, com o governo de Trujillo levando ao caos financeiro. Elas formam, então, um grupo de oposição ao regime tornando-se conhecidas como Las Mariposas. Por diversas vezes foram presas e torturadas, mas não deixaram de lutar contra a ditadura. Decidido a eliminar essa oposição, Trujillo manda seus homens armarem uma emboscada às três mulheres, interceptando-as no caminho da prisão onde iam em visita aos maridos. Conduzidas a uma plantação de cana de açucar foram apunhaladas e estranguladas em 25 de novembro de 1960. Esse fato causou grande impacto entre os dominicanos que passaram a apoiar as idéias das jovens, reagindo às arbitrariedades do governo e, em maio de 1961, o ditador foi assassinado.
Em 1981, durante o Primeiro Encontro Feminista Latino-Americano e Caribenho, realizado em Bogotá, Colômbia, o episódio foi relembrado sendo a data proposta pelas participantes do encontro para se tornar o Dia Latino-Americano e Caribenho de luta contra a violência à mulher. A Assembléia Geral das Nações Unidas (em 17 de dezembro de 1999) também declarou o 25 de novembro o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher, em homenagem ao sacrificio de Las Mariposas.
A tragédia que se abateu sobre as irmãs Mirabal há 51 anos se por um lado configura-se um ato de violência política, também pode ser visto como violência institucional (embora esta inclua outros aspectos infringidos às mulheres), haja vista que foi cometido por forças de um governo constituido. E a partir dele fez eclodir entre os movimentos sociais mundiais o combate às demais formas de violência que se abatiam contra esse gênero.
A violência é um termo polissêmico e o seu uso aponta para as formas diferenciadas de constrangimentos morais, coativos ou através da força física explícita, aplicada por uma pessoa contra outra, num ambiente que pode ser tanto público - no contexto social e político – como privado, no espaço familiar.
Esta percepção levou ao reconhecimento de que certos comportamentos nas relações sociais, embora fossem vistos como “naturais” tramavam contra a dignidade humana. A denúncia dos movimentos de mulheres ao tratamento que muitas mulheres recebiam nos locais de convivência, impedidas de participar de determinada atividade, e/ou em casa, quando agredidas pelo marido, pelos filhos ou pais por não fazerem as tarefas domésticas e/ ou por ciúmes, essas atitudes passaram a ser denunciadas como atos de violência recebendo o tratamento devido de entidades governamentais e ONGs ao considerarem essas condutas destrutivas da condição humana.
Conferências, convenções, acordos, cartas constitucionais e demais documentos internacionais foram abrigando discussões e fundamentos legais para a erradicação das formas de violência que acometiam as mulheres. A Conferencia Mundial de Direitos Humanos de Viena (1993) criou o slogam considerando que "os direitos da mulher também são direitos humanos". E em 9 de junho de 1994 foi assinada pela ONU a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência Contra a Mulher, mais conhecida como Convenção de Belém do Pará porque a Assembléia Geral desse órgão foi realizada nesta cidade. O documento levou em consideração “o amplo processo de consulta realizado pela Comissão Interamericana de Mulheres desde 1990 para o estudo e a elaboração de um projeto de convenção sobre a mulher e a violência”.
Os dados sobre a violência doméstica no Brasil são muito sérios. E já são bem visíveis entre a população. As evidências de que os/as brasileiros/as já reconhecem diferentes formas de agressão como sendo violência doméstica são apontadas na pesquisa do Instituto Avon-IPSOS – “Percepções Sobre A Violência Doméstica Contra A Mulher No Brasil” – realizada de 31/01 a 10/02 de 2011, em 70 municipios das 5 regiões brasileiras, entre homens e mulheres com 16 anos ou mais. Segundo o relatório: “entre os diversos tipos de violência doméstica sofridos pela mulher, 80% dos entrevistados citaram violência física, como: empurrões, tapas, socos e, em menor caso (3%), até a morte. Ou seja, a violência física é a face mais visível do problema, mas muitas outras formas foram apontadas. 62% reconhecem agressões verbais, xingamentos, humilhação, ameaças e outras formas de violência psicológica como violência doméstica, assim como a sexual e a moral”. Para a maioria, esses atos são vistos como uma questão cultural (50%), e consideram que o homem ainda se acha “dono” da mulher (41%) (cf.www.institutoavon.org.br )
A REDEH e o Instituto Magna Mater lançaram este ano a campanha “Quem ama abraça” objetivando a atenção da população para o seguinte quadro: “a cada duas horas, uma mulher é assassinada no Brasil; seis em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de violência doméstica; 30% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência doméstica; a cada dois minutos, cinco mulheres são violentamente agredidas no Brasil”. Isso ainda é alarmante.
sábado, 19 de novembro de 2011
PROGNÓSTICOS & (IN) DEFINIÇÕES
Joga-se no google a frase “nomes de candidatos a prefeito no Pará 2012” e saltam mais de três milhões de resultados em apenas 24 segundos. Não se restringem ao nosso Estado, mas aos demais estados da federação que estão na mesma perspectiva de avaliar as possibilidades de seus líderes para lançar, aos cargos majoritários municipais, os prováveis agregadores dos votos de cada partido em cenários diversos do país e em diferentes acordos pré-eleitorais para o próximo pleito. Quando a frase se restringe à cidade de Belém, encolhem os resultados para milhares de evidências de consulta, sejam blogs privados e partidários, notícias jornalísticas, opiniões, reportagens sobre encontros formais de diretórios estaduais e municipais que estão tratando da questão da sucessão municipal. O “agora” tem algum tempo, mas, as comissões para o acompanhamento das próximas eleições só então se constituem formalmente.
O assunto, como se diz, está posto no cenário social e político. Sim, porque hoje, esse tema não é privativo de eminências pardas ou não dos partidos políticos, mas está sendo tratado em todas as conversas sejam particulares ou as de “pé de ouvido” do eleitorado atento quando a troca de informações sobre o “disse-não-disse” das articulações intra e interpartidárias alcança as redes sociais e se transforma em opiniões estilhaçadas entre o “achismo” e as probabilidades que se conjugam em nome de algumas alternativas encimadas pelo jogo das negociações.
A análise política não se restringe ao noticiário da mídia nem mesmo às informações capturadas de conversas informais com lideranças partidárias. Sem dúvida estas variáveis contam entre as demais que devem ser verificadas para uma avaliação do cenário onde estão sendo cunjugados os fatores de indicação e/ou recrutamento das candidaturas aos cargos majoritários municipais. Numa avaliação melhor construida é necessário considerar variáveis internas e externas que agregam: o perfil do partido em eleição anterior, os protagonistas dessa competição, exitosos ou não, o número de votos recebidos (nominais e de legenda), as coligações que se cruzaram nesses pleitos e no processo de governo (partido incumbente), as que se constróem decorrentes da derrota partidária (os não exitosos) avaliando os erros e o que ficou inexplicado no ambiente competitivo. Há outras evidências que se tornam também necessárias para a análise, como, atualmente, as pesquisas internas que os partidos promovem para verificar com quem poderão contar no recrutamento que fizerem de seus/suas filiados/as. Há uma variável importante para todos os que pretendem reeleição e aos aspirantes da legenda do gestor anterior: a perspectiva do voto retrospectivo, ou seja, a conjunção entre os votos obtidos por esse gestor da mesma legenda e os investimentos que fez nos programas sociais. Contudo, há o fato eventual ou ocasional, ou seja, aquele que não é pensado e, por vezes, dá o xeque-mate na expectativa construída.
O noticiário local revela nomes de lideranças partidárias que estão com alta visibilidade diante dos eleitores belemenses. Com a vitória de Simão Jatene ao governo do Estado, o PSDB estaria muito bem na indicação de um membro do partido para concorrer à prefeitura de Belém (e de outros municipios aos quais tem prefeitos no exercicio do mandato). Nesse caso, surgiram especulações aos nomes de Zenaldo Coutinho, reeleito à câmara federal e atual presidente d partido, e de Flexa Ribeiro, o senador eleito com a maior votação ao cargo. A leitura dos votos (nominais e de legenda) dos dois nas eleições de 2010 e os cargos partidários já ocupados podem ser medidas favoráveis ao lançamento de suas candidaturas, entretanto, é possivel que haja tensão intrapartidária que obriga a legenda a constituir-se em grupos que mantém e expõem fraturas pouco saudáveis ao êxito. Há evidências sobre isso: no final de setembro, uma revista nacional divulgou os contatos do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab interessado em aumentar o quadro de senadores do partido, com Flexa Ribeiro, sobre a integração deste ao recém-nascido PSD. O senador ficou de dar uma resposta dias depois, contudo, sabia que no dia 7 de outubro vencia o prazo dado pelo TSE para as filiações dos interessados na competição aos cargos de prefeito e vereador. Nessa reportagem diz Flexa: “Mesmo se me filiar ao PSD, continuarei na oposição construtiva”. Na mesma noticia há o fecho: “Ribeiro pretende disputar a prefeitura de Belém em 2012 – o nome do deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA) também é ventilado para concorrer ao cargo”. Na verdade, houve embate entre os dois líderes pela presidência estadual do partido, que foi parar na mediação do Senador Sergio Guerra, presidente da executiva nacional da legenda, dizendo a notícia: “o clima entre os tucanos (...) foi de pacto pelo silêncio”.
Outro aspecto que tem que ser avaliado é a composição de alianças partidárias feitas pelos líderes do PSDB para eleger o governador. PMDB e PPS estão nesse entorno. E ambos fidelizaram num formato diferente. O primeiro tinha um compromisso firmado nacionalmente com o Presidente Lula, para apoiar o PT e, no caso do Pará, seguir coeso com a candidatura de Ana Júlia Carepa. Ao que consta (noticiários públicos, contatos com lideranças), uma série de intrigas açodadas pelas tendências e por lideranças desse partido, afastaram a sintonia interativa entre as duas legendas antes das eleições. O não-importismo com a aliança nacional, em que pese a ostensiva exposição de imagens entre os supostos aliados configurou a ausência dos próceres do PMDB no estímulo à candidatura de Ana Julia.
Há outro acréscimo de uma variável nesse tom de negociações entre PSDB e seus aliados: o apoio que seria dado à candidatura de Arnaldo Jordy (PPS) eleito com a maior votação à câmara federal e uma das legendas que favoreceu a soma de votos à eleição do atual governador. O que se nota é um esfriamento desse acordo e um excitamento do PPS pelo retorno às negociações internas e externas, além da exposição, na mídia, das atividades do deputado, conversa com prefeitos e outras lideranças de outros municipios, sem que seja ventilada a idéia de Jordy deixar de ser o candidato da legenda.
O PTB, comandado pelo prefeito Duciomar Costa está acenando com a candidatura de Almir Gabriel que pretende concorrer ao cargo por essa legenda. Pergunta-se: não seria essa uma pressão do alcaide ao apoio do governador para a abertura de negociações para a composição do governo? Sabe-se que já houve conversas nesse tom com outras lideranças que já deixaram o partido. Outra questão posta: Almir agrega ou desagrega com a sua candidatura? O que detona com os seus efeitos, considerando que ele mantém um grupo fiel de extração do PSDB: o esgarçamento da sintonia entre PSDB e PPS e a derivação de votos para Edmilson Rodrigues do PSOL?
Há fatos noticiosos que exploram outras candidaturas. O interesse era tratar de variáveis. Assunto a ser retomado.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
MEDICINA SOCIAL
domingo, 6 de novembro de 2011
UMA POLÍTICA DE MUITOS PLANOS
Em junho de 2011 a Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres/PR e Presidenta do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Iriny Lopes, ao assinar a cartilha da 3ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que daria sustentação às discussões nos eventos municipais e estaduais deu uma definição exemplar que nem sempre é levado em conta pelos governos e pela sociedade civil: “A política se constrói a partir do cotidiano das mulheres nas suas comunidades, municípios, estados. São essas milhares de brasileiras que devem pautar o governo e a sociedade. Graças a elas o Brasil tem avançado, mas precisamos ainda mais para reparar séculos de discriminação e preconceito” ( http://www.sepm.gov.br/ ).
Para muitas pessoas essa conclamação às mulheres para apresentarem suas demandas e discutirem suas necessidades nessas conferências ainda se constitui em “coisas de mulheres que querem fazer confusão”, “são feministas”, dizem outros/as, num tom de recriminação. Na verdade, esses eventos são parte das funções de Conselhos criados entre as várias categorias e/ ou grupos que se formam na sociedade, de maneira coletiva, com o objetivo de participação na formulação de políticas públicas. Eles têm uma série de funções discernindo-se, como questão-chave, a inserção à parceria dos governos para pensarem em conjunto o déficit da sociedade civil na vivência da cidadania de qualidade da qual têm direitos.
Até aqui, muitos conceitos se tornaram evidentes. Um primeiro é o de cidadania que todo mundo menciona, mas nem sempre sabe que se trata do exercício ou vivência de direitos individuais, políticos e sociais, que são assegurados na nossa Carta magna, a Constituição Federal.
Quanto ao Conselho de Direitos, ao levar à vertente das políticas públicas, define-se como: “uma reunião de diversos atores vinculados a uma determinada política pública. Juntos, eles refletem sobre a realidade local, discutem e decidem sobre uma política ou uma determinada questão. O objetivo de um Conselho é ampliar a participação popular, garantir a descentralização do poder e exercer o controle social; enfim, a atuação do Conselho fortalece a sociedade democrática” (www.pucpr.br/). Trata-se de órgãos colegiados, permanentes, paritários e deliberativos, incumbidos de formular, supervisionar e avaliar as políticas públicas. São criados por lei federal, estadual e municipal. Contudo, há os criados por iniciativa popular, como o atual Conselho de Segurança Alimentar. Esses órgãos apresentam representantes de uma dada comunidade e, dessa forma é que a sociedade participa da gestão pública. Nesse caso, se o povo tem participação na formulação de políticas, não vindo estas de cima para baixo, pode-se dizer que o Estado tem uma vivência republicana porque o povo é soberano, com possibilidade de intervir nas demandas de políticas, propondo, discutindo, definindo questões prioritárias, além de acompanhar o processo de efetivação das decisões tiradas nas conferências, ou seja, a sua execução e, nesse caso, fazendo a fiscalização e o controle dessas decisões para a implantação das mesmas.
Politicas públicas - que são as ações definidas para o bem-estar da sociedade - conceitua-se de forma estrita como a totalidade de ações, metas e planos (nacionais, estaduais ou municipais) traçados para o alcance desse bem-estar dos/as cidadãos/ãs. Não tratarei das decisões sobre essas políticas, contudo, é importante entender que numa sociedade democrática, as fianças aos direitos humanos se fazem através dessa busca pela melhoria da sociedade pelos diversos segmentos sociais. E, mesmo assim, há ainda, alguns fatores que emperram as decisões para a implementação dessas políticas, vendo-se o que é que o governo vai considerar prioritário ou não, ou seja, os grupos apresentam as suas demandas, mas o Estado é quem decide o que vai implementar. E nessa evidência de quem é quem na decisão política que é possivel avaliar a importância da presença das mulheres e de outros segmentos nos cargos decisórios como os parlamentos representativos, por exemplo.
Há vários segmentos sociais no Brasil que hoje se articulam para apresentar suas reinvidicações como: o Conselho de Educação (o primeiro ocorreu na Bahia, em 1842, com funções análogas aos dos ingleses); o Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente; Conselho das Mulheres; Conselho de Assistência Social; Conselho de Saúde; Conselho de Segurança Pública; Conselho de Segurança Alimentar; Conselho do Idoso etc.
Quanto ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) foi criado no Brasil em 1985, vinculando-se ao Ministério da Justiça. Objetivava promover políticas visando a eliminar a discriminação contra esse gênero, além de assegurar sua participação nas atividades políticas, econômicas e culturais do país. Suas atribuições e funções alteraram-se bastante e, em 2003, integrou-se à estrutura da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres da Presidência da República. Sua representação compósita inscreveu representantes da sociedade civil e do governo, ampliando-se “o processo de controle social sobre as políticas públicas para as mulheres” (SPM/PR).
Avaliando a recente IV Conferência Estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, no Pará, foi produtivo presenciar as questões das conterrâneas que participaram das conferências municipais trazendo para discussão, na estadual, as suas preocuações com a comunidade onde residem, com a familia, com o trabalho, com os meios de enfrentar a violência doméstica, com o direito á terra, à saúde, à educação, à autonomia de gestão, à raça e etnia, aos meios de participação política com ênfase na demanda para incentivos aos partidos para que as reconheçam como líderes e não como responsáveis por “serviço partidário”. Percebi que esse contorno da política partidária é o que trouxe mais tensão para o grupo que privilegiou esse eixo temático.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
XXII CONGRESSO INTERNACIONAL DE CIÊNCIA POLÍTICA - 8 A 12/07/2012
Reshaping Power, Shifting Boundaries
In a globalising world, everywhere power is being reconfigured, creating opportunities for change:
- New players are emerging on the world stage, reflected in G-20, the ‘BRICs’ and in North-South relations.
- Climate change and the financial crisis have altered global dynamics.
- Transnational governance is taking on new forms, such as the reformed EU and Mercosur.
- Within states, there is increased devolution and the recognition of sub-identities.
- State functions are increasingly being shared with non-state actors such as corporations and non-governmental organisations and are affected by the dynamics of an international society.
- Substantial changes are taking place in social life including gender roles and the nature of the family.
- Religious cleavages refuse to disappear, and may be evolving into a major axis of political and social conflict.
- The Westphalian model of inter-state relations is not sufficient to cope with the challenges of global governance. This emphasises the importance of the dialogue between political science and international relations.
The nation-state remains the key crucible of power in terms of elections, public policy and in international negotiations, but it faces new challenges. Territory and power no longer align. Boundaries and borders are shifting.
Boundaries can be geographical, social, cultural, religious or economic. We need to understand how they are created and interpreted. Every boundary is an expression and exercise of power and this raises normative issues, particularly those relating to justice and the divisions between public and private and at the global level between North-South and South-South relations. The debate about the centrality of trust in social and political life has been reactivated.
How we frame these issues depends in part on our disciplinary assumptions and methodologies. We need to think again about how to conceptualise power, for example in terms of legitimacy, sovereignty or questions of global governance/locality. Boundaries within our discipline and with other disciplines are shifting. Space and scale are becoming increasingly important in the thinking of political science. What other tools or multi-method approaches do we need to respond to these changes? Political science can play an important role in informing the choices that come with the reshaping of power.
The main congress themes are:
- Comparative Politics and Political Institutions
- Gender, Religion, Identity
- International Political Economy
- International Relations
- Political Behavior
- Political Theory
- Public Policy
We invite you to share your research on the reshaping of power and shifting boundaries at the World Congress of the International Political Science Association, in Madrid 2012.
http://www.ipsa.org/events/congress/madrid2012/congress-theme
sábado, 29 de outubro de 2011
O ECLIPSE DOS DITADORES
O título de ditador era dado a um magistrado da Roma antiga indicado pelo senado para governar um período emergencial. Na contemporaneidade é o governante que assume poderes absolutos e despóticos de forma tirânica sobre o Estado de direito, faz suas próprias leis sem se importar que haja ou não poder legislativo.
A ditadura foi abandonada em Roma depois do assassinato de Julio César. Com este nome ou não a História revela inumeros ditadores séculos afora. Alguns conseguem se manter no poder por gerarem uma simpatia popular que justifica seus atos e lhes deixa uma aura de “superstar”. Outros, o mais comum, se eternizam submetendo o povo a um regime de opressão, cerceando as liberdades individuais pelo abuso da força. Mas é certo que o tempo geralmente luta contra os ditadores. Os que se mantêm no poder por um periodo muito extenso acabam esvaziando o carisma que lhes assegura o posto e são derrubados pelo proprio povo que os apoiava.
O governo unilateral, prepotente e reconhecido como um chefe de estado que faz da coisa pública um detalhe de seu patrimônio, chegou a ser deificado em algumas regiões onde o sistema de governo é teocrático, ou seja, ligado à religiosidade. Não me refiro aos sistemas tribais, herdados por algumas figuras que adentraram pelas civilizações constituidas. Mas, sem esse halo divino existem exemplos na própria America Latina, o nosso “canto” no mundo, como os casos de Juan Peron, na Argentina, e Getúlio Vargas, no Brasil. Esses ocorrências foram exemplificadas em tom de ironia pelo cineasta francês Claude Lellouch em seu filme “Toda Uma Vida”(Toute une Vie/1974). Em um diálogo de um dos personagens este dizia que “o melhor dos regimes é o de uma ditadura, só que as pessoas inteligentes não querem ser ditadoras”. Dessa forma, Lelouch exemplificava medidas populares atribuidas aos governantes totalitários (criticando a diluição dessas medidas pelo poder legislativo).
Regra geral, os ditadores romanos eram indicados por um consul, sendo investidos de total autoridade sobre os cidadãos, embora com mandatos limitados por seis meses (e sem adentrarem nas finanças públicas). Lucius Cornelius e Julio César aboliram isso e governaram sem restrições. Hoje, muitos ditadores ainda conseguem se manter em seus postos, alguns chegados através de votos populares, outros em revoluções ou simples golpes de Estado.
Atualmente vê-se no mundo árabe um cenário em que se propagam mudanças, com a derrubada de mandantes despóticos. O que não se sabe é se essas mudanças, como a recente na Libia, vão conduzir uma nação à democracia, afinal, as esperanças numericamente expressivas em especial no ocidente. A grande pergunta é se um povo familiarizado com um regime pode, de uma hora para outra, adotar e se dar bem com um outro. Há de se considerar aspectos culturais que não são facilmente cambiáveis. Mas há esperança de que os vencedores de rebeliões pró-mudança de governo adotem regras democráticas depois da vitória.
A nossa presidenta Dilma Rousseff disse bem ao ser inquirida sobre a situação de Kadaffi: “deve-se festejar a instituição de uma democracia não a morte de um lider, seja quem for”. De fato, a propensão do ânimo popular historicamente é festejar a morte de um déspota. Mussolini que era como um deus na Itália fascista (não à toa era chamado de “Duce”), foi retirado da posição em que deixaram seu corpo, dependurado de cabeça para baixo, pela multidão que gritava pelo seu trágico fim. O fim dos ditadores historicamente não é ameno. “A tragédia ronda o espetaculo”. E a estatistica sobre o fim de ditaduras no mundo árabe respondeu da seguinte forma: 39% acham que a internet e a nova tecnologia respondem pela mudança com respaldo do povo; 37% afirmam que essas ditaduras não representam, de fato, a vontade popular; 18% acham que o povo árabe não “é tão leviano ou possivel de ser manipulado como se pensava”; e 5% colocam todas essas opções como verdadeiras.
Do amor ao ódio caminha o governo totalitário e de longo tempo. Salva-se, como já referi, o que apela para a religiosidade da maioria, assumindo a postura de um “indicado divino”. No ocidente do passado, um Henrique VIII rompeu com a todo- poderosa Santa Sé dizendo-se o “dono” da igreja cristã na Inglaterra (até hoje existe a Igreja Anglicana), mantendo-se no poder até morrer. Esses casos, resistem aos avanços tecnológicos. Mas não se pode assegurar que para sempre. A ciência deixou de ser um meio de acesso dos intelectuais e ganhou popularidade nos seus resultados imediatos. Com isso, o mundo ficou menor, chegou o que hoje, comumente, é chamado de globalização. Este processo molda culturas de bases ancestrais e pode mudar posturas que se viam como perenes.
As revoltas com base num espirito democrático não devem se manter às custas de cadáveres. Há de se respeitar o vencido. Quando a Alemanha nazista capitulou, os mandantes dos crimes de guerra foram julgados em Nuremberg. E nem todos foram executados. O mundo moderno aprendeu que se deve olhar a História como um exemplo a ser avaliado e não apenas assumido. Portanto, resta a esperança de que, de fato, a Libia e outros países que depuseram os seus ditadores neste novo século, caminhem para governos de essência democrática (“do povo para o povo”). Os corpos dos derrotados ganham o passado nas tumbas que lhe são devidas. Não expostos à carnificina apoiada pelos que se dizem investidos dos príncípios democráticos.
(Texto originalmente publicado em "O Liberal", Belém-PA, em 28/10/2011)